... Assim como a mãe espartana que ficou à espera do soldado apenas para saber notícias do seu pequeno guerreiro – que havia morrido com honra – todas as mães esperam o filho no portão, até altas horas, para vê-lo em segurança, caso contrário, seu coração não bate direito.
Desde o dia em que deixara o acalanto de outrora para trás e começara a sentir os frêmitos na alma, a grande mãe clama aos deuses para que sua cria esteja bem, e nas orações, joga todas as dores, seus sentimentos, seu amor, sua alma a fim de que aquele que um dia saiu de seu útero e agora ganha o mundo de meu Deus, chegue a tempo de pedir sua benção e dormir em paz.
A dor, agora, é maior. É quase um leão por dia. A felicidade, no entanto, se vai. Ele, o menino que um dia ficou no colo, sorriu e brincou, hoje fala bem e se expressa como homem. Ele, de acordo com sua natureza, vai ao encontro do amor perdido – seja ele em forma de mulher, de princípios, de ideais religiosos ou políticos – mas que sabe que, ali no coração, a grande mãe o educou para as bases de um grupo, no qual enfrentará a vida com suas pequenas armas, as quais se tornarão grande à medida de suas experiências...
Contudo, nunca esquecerá daquela que o defendeu desde o dia em que nascera, mesmo nos dias em que estivera errado.
Sim, a lógica do amor materno não se encontra nas veias do universo, ou mesmo na lógica dos cientistas. Dizem os grandes filósofos que nem mesmo o amor perfeito, aquele que une, não aceita o amor de mãe, pois o sentimento voltado a uma personalidade, ainda que de mãe, está fadado a cair no abismo dos abismos. O grande amor de mãe, assim analisando friamente, estaria com aquela mãe espartana, a qual entende que a guerra era necessária ao seu povo, ao seu país, e o engajamento de seu filho, em tempos de guerra, era algo tão inexorável à época quanto o perfume de uma rosa.
Mas o coração da grande mãe espartana – assim como o coração de todas elas –, supondo, poderia cair na complexidade de seus sentimentos personalisticos, e fazer o possível para que seu filho não viesse a participar das guerras. No entanto, estaria fora das leis educacionais de Esparta comportamentos que demonstrassem a dor de ver o filho indo à guerra...
A dor existia, mas existia muito mais a honra acima de tudo, e morrer por ela significava servir aos deuses, ao sagrado, e, como diria o grande general Leônidas “morrer espartano já era o suficiente”.
Hoje,
Muitos sentimentos voltados ao filho (ou aos filhos) tornam-o dependente de fatores psicológicos, como a própria dependência à mãe, ao pai, ou à própria família que o cerca de valores internos e o restringe daqueles que a natureza o chama. A mãe, o centro, a base, a coluna mestra da família, sabe que seu filho crescerá e se tornará um homem, e dentro dos parâmetros nos quais ele foi criado será levado a adotar princípios – fora de casa – os quais nele permearão para o resto de sua vida...
Mesmo assim, a grande mãe se voltará a ele como no inicio, como se ele estivesse preso ao seu colo, e não o deixará crescer, trazendo-o para perto, tão perto que, se estivesse em distâncias homéricas, ainda sim, morreria por ele. Essa é a mãe.
A dependência do filho fica mais evidente quando este aceita a própria dependência, ou seja, a própria liberdade dada pela família (centralizada pela mãe), usa de artifícios básicos para entrelaçar-se mais naquele núcleo, porém, na falta de iniciativas culpará, a todos, menos ele, que não soube criar seus princípios, graças a uma personalidade voltada aos desejos pequenos; graças a uma vida sem sonhos.
A mãe, no entanto, está acima de seus pensamentos e inicia o processo de “uterilização” – de volta para o colo – aproveitando a fragilidade do espírito frágil do homem-menino, que aceita os sonhos da genitora, os princípios dela, sendo, quem sabe, um pastor, um advogado, um engenheiro, mas nunca aquilo que um dia sua vocação queria.
A grande deusa da família traduz isso a todos os filhos, pois dela saíram, e ela os criou, por isso a fácil aceitação das personalidades diversas, a fácil educação, e a fácil imposição...
E os filhos,
Cada um com seu modo de ser, olha sempre para a mãe (ou para o pai) como se observasse uma amostra dos deuses na terra, e respeita, e ama, e tudo porque vive e trabalha será uma grande homenagem aos seus pais – ou melhor, a grande mãe.
E nesse processo de religare psicológico, sobrevoa o amor real, aquele puro ser que mora nos horizontes, nascendo com o sol e se energizando com a chuva, em processo de contínua paz externa, a que obedece às leis maiores que o próprio sentimento humano. Até mesmo aos sentimentos da mãe.
Sabe-se, no entanto, que a Grande Mãe, portadora do Logus, recebe tal amor humano como se fossem as gotas de um oceano que quer chegar ao próprio Oceano, e faz com que as dissidências em famílias não existam, que personalidades diferentes não se conflitem por muito tempo; faz com que a mãe da terra busque, ao olhar para Ela, o amor real, unindo a todos (todos os filhos), sem que se observe seus defeitos, sejam eles externos ou internos e trabalhe, cada um, seu amor em relação ao outro...
Por isso que, quando uma mãe se vai, o amor se vai. E a partir daí, não há mais o pico a que se observar, não há mais o segredo a se segredar, não há mais o norte, não há mais o sorriso sincero, nem mesmo o choro no colo, pois não há mais colo.
O processo de conhecimento individual, agora, é uma consequência e depende de um fator: encontrar, em si próprio, um norte, ou melhor, um caminho, ainda que seja estreito, mas que seja com a finalidade de encontrar o amor semelhante àquele que os fez tão dependentes...
A mãe que se foi deixa sua sombra – que se vai com o tempo --, mas deixa seus sonhos guardados em corações fortes. Deixa aquela educação, suas frases de alerta... Deixa uma pequena ínfima parte de seu amor pairando dentro da casa, o coração maior.
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