quarta-feira, 18 de abril de 2012

Espelho


Espelhos. O poder de dizer o que não somos.


Quando meu espelho me refletiu,
Vi estrelas castas e cometas quentes,
Sóis vadios, luas gêmeas
A me enlouquecer,

Vi pássaros gigantes,
Homens e mulheres errantes,
Em desertos frios, em mundos e rios,
A me empobrecer.

Vi cavalos galopantes,
Jovens amantes em busca do viver,
Montanhas geladas,
Deuses amados...
Vi o poder.

Vi rios transbordando,
Sonhos se revelando,
Eu me vi perdendo você.

Vi arco-íris e potes de ouro,
Vi piratas em nome do nada,
Em meio à falsa riqueza
Do verdadeiro tesouro..

Vi teus olhos chorando,
E não pude ajudar,
Feito cascatas sozinhas,
Desaguavam na vinha,

E morriam no mar.

Ah, o mar, como eu te vi!
Eram azuis tão puros
E eu tão imaturo,
Morri sem te amar.

Porém, antes, eu vi o meu mundo,
Tão friamente profundo,
Que não quis voltar,

Deveras voltar para o meu sonho,
Me enraizar na realidade,
Ser dono da verdade,
E te amar, amar, amar...
  

Mas não sou.
Sou dono do espelho,
E dele sinto que me vou,
Cheio de preconceitos,
De belos defeitos,
Que um dia o Deus plantou.

E deles tiro minha raiz,
E dela volto como rei,
Cansado das batalhas,
De saltar muralhas,

De saber quem sou,

Do espelho não tiro nada,
Apenas um vazio do que não sou,
E ao cerrar meus olhos,
Corro pelo universo,

E como criança me vou.


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