No cochicho das trevas, no estridular dos grilos solitários, a noite se vai. Antes, porém, a observo solitária, e bela, e calma. Nada há de assemelhar-se, nem mesmo o sono da bela mulher que se esconde nas cobertas finas do calor, a desnudar-se na madrugada tão fria.
Contudo... na fatigante noite, apenas o olhar da lua faz um intuitivo poderio harmonizando estrelas, paz, vida, universo, Deus, e eu, num parapeito frio, feito de cimento, fazendo-me refletir acerca dos homens, e para eles, pedindo uma oração, na qual apenas a verdade predomine.
E os grilos, agora, em bando, cantam tão forte, que ensurdecem os ouvidos das árvores, que se remexem ao longe, sem vento, sem alguém para apreciá-las... Não precisam. São seres disciplinados, ordenados pelas leis verticais dos deuses, os quais sopram e formam a dança na terra, nos vegetais, nas pedras, nos animais, nos humanos, em tudo...
Assobio uma canção. Não fecho os olhos. Tenho medo de perder o mundo ao meu redor, de perder esse Amor que une, que independe das formas racionais humanas, ou mesmo canções para embelezar a real Vida...
Não sei o que sai de meus lábios, apenas assobio. Sai dos meus pulmões um ar simples e calmo, sem sequelas da alma, sem a dor pela qual nos acostumamos a passar, porém, sinto meu ser está distante, e não sei como encontrá-lo. Parece que o perdi de vista, mas nela, todavia, perpassa a calma e ao passo a força dos Logus sem meu consentimento. É a energia vital em minha alma.
Quando raciocino em função dessa Calma, penso no Espírito. Esse ser tão falado e amado, e ao mesmo tempo tão mal compreendido, que me faz perceber o quanto somos crianças em relação não apenas a conceitos, mas também aos próprios sentimentos...
Hoje, agora, sou contemplado com a Paz de Deus, mas não posso dizer que sou um iniciado nos mistérios divinos – ou perto disso – pois um iniciado, antes de tudo, diria que os mistérios são parte de um todo, e ele faz parte dele, o que nos faz tão longe de sê-lo. Porém, como diria um grande professor “o oceano está dentro da gota, e a gota está dentro do oceano”.
Posso não ser um iniciado, mas o que tenho fora e dentro de mim faz parte de um grande Oceano chamado Deus, então por que não dizer, sim, eu tenho o espírito em mim, sim, eu tenho o amor em mim?...
Ali, naquela hora, fui ver meu filho, e dentro de minha casa percebi que há mundos nos quais vivemos, criamos e nos subjulgamos por isso, como chefes, reis, donos, deuses... Mas é apenas o racional voltado a uma personalidade viciada em desejos de autoridade, poder, com tão pouco que se tem. Ah, como eu queria entender esses vícios apenas para domá-los, desvirtuá-los de meus caminhos para que eu tenha um pequeno acesso ao grande Espírito do qual tanto se fala, se ama, se adora, se clama e ao passo mudo, pois ninguém o ouve.
Vou cobri-lo. Mas não tem jeito, ele se descobre! Suas perninhas mágicas, no inicio da madrugada, dançam sem música, desfazem a ordem da cama: é sua mente, ainda que pequena em princípios, que sonha com tudo que aprendeu na manhã, no dia, e na noite...
E somos assim, temos que aprender com nossos Dias, e aprender a sonhar, assim como vagalumes sonham com estrelas, estrelas sonham com o sol, e o sol sonha com o vagalume.
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