Cavernas: semelhanças infinitas |
Somos todos corpo, mente, alma e muito mais, todavia o que nos faz mais humanos não é um nem outro e sim o que fazemos destes, assim como instrumentos necessários a seus fins, assim como um fruto destinado a ser doce, belo, macio, e ao mesmo tempo... Semente. Assim somos nós.
Destinados a ser humanos, no entender mais humilde do ser – não da forma como compreendemos, mas da forma como nos passaram há milênios, nos voltamos sempre em nossos atos para simbolizar o que somos, o que pretendemos, e quais nossos objetivos perante a vida. Mas será que nossos atos são reflexos do que realmente somos?
Por que essa divagação?
Platão, um dia, nos disse “temos tudo para sermos humanos – pernas, braços, corpo... – mas ainda não somos”. É perfeita a divagação do sábio, pois o que entendemos como humano é apenas uma parte ínfima do que aparentamos ser, ou seja, todas as formas de amor, que nos direciona ao abismos ou mesmo ideais; todos os desejos que da alma surgem para a realização física, ou mesmo para a realização emotiva. Tudo poderia terminar em “tudo isso são coisas humanas”, e há de ter razão quem o diz, contudo, há no mundo vários níveis de comportamentos, dentro dos quais podemos assimilar apenas com base em referenciais animais, ou seja, há que se conhecer para saber se o que sentimos pode ou não se assemelhar a algum comportamento de outra raça sem ser a nossa, pois é possível que há.
Claro que sim...
O elefante, por exemplo, ao ver um de seu grupo morrer, ‘sente’ a falta daquele que um dia fez parte do bando; o cachorro, quando vai embora sem rastro, se vai pelo fato se sentir falta de carinho do seu dono ou mesmo porque já é velho demais; alguns desta raça, vale dizer, lembram mais a nós do que a eles propriamente... Para quem tem um, sabe o que digo. Outro exemplo é de uma ave que observa o humano a pescar, e que o faz da mesma forma, com seu bico (não da tradicional), e se alimenta.
Enfim, há vários exemplos nos quais podemos dizer de animais que se assemelham à raça humana. E o mestre sempre deixou claro que, embora nos pareça mais uma evolução natural da espécie animal, é muito mais uma involução humana...
Ou seja, quando nos referimos a golfinhos tão inteligentes quanto nós, ou mesmo a macacos quase humanos, não estamos apenas a valorizar determinadas espécies naturais, mas declinando naturalmente a nossa, pois, querendo ou não, teríamos que ter elos voltados ao mais alto dos níveis... Teríamos que ter atos que fossem mais que quase-humanos, não apenas os básicos que nos fazem sobreviventes nesse mundo – mas muito mais – a fim de que pudéssemos nos diferenciar de cada espécie.
Para isso, é preciso entender que o conhecimento de nós mesmos é mais que cultural, mais que necessário. É humano. Não há outra espécie no mundo que reflita, ou como diria um grande professor “que eu saiba, nenhum cachorro, por mais inteligente que seja, até hoje, nunca ficou parado ante ao sol para uma breve reflexão” . E nem vamos ver. Isso é nosso.
O receptáculo vital
E o corpo onde entraria aqui?
Esse receptáculo de que cuidamos como se fossemos nós traduz um emaranhado de incoerências em que vivemos ou pela qual vivemos. Hoje, ainda que caminhemos no meio a corpos dentro de um cemitério, por mais que nos passe pela mente que somos passageiros de uma grande nave chamada vida, e que um dia temos que saltar, seja em forma de saltos ornamentais, suicidas, heroicos, ainda não estamos prontos para entender o objetivo dele.
Marcus Aurélius, grande general filósofo, disse um dia “(...) Se até mesmo os grandes que vieram antes de mim, com toda sua importância, imponência, se foram, por que eu não iria?”. Na realidade, era apenas uma forma de enfrentar a vida. Pensando na morte. O contrário não é válido, ou seja, pensando apenas na morte, acreditando que nela existe vida. Bem... Dependendo do ponto de vista de algumas culturas, há; no entanto somos pequenos diante delas, então que ensaiemos pensamentos também pequenos, mas que sejam suficientes para saber que somos mais que um veículo perfeito, ao mesmo tempo perecível, e mais, que somos algo mais profundo até mesmo do que aquilo que não pensamos... Somos divinos.
Epíteto, mestre estoico, dizia em seu livro eterno “comecemos a pensar assim, se uma pequena tigela cai no chão e se quebra, nosso corpo também se quebra; se a mesma tigela vira pó, nosso corpo também vira.” E vai com mais pensamentos... “ao abraçarmos alguém que amamos, diremos para nós mesmos ‘esse alguém um dia também se vai’”...
São ensinamentos necessários e simples, porém de difíceis práticas, graças ao nosso grande apego ao que conhecemos e ao medo do mistério de nos conhecer. Não adiantam máximas, ou mesmo grandes homens do passado ressaltarem sempre o mesmo em relação ao que somos. O medo sempre virá.
O que faremos?
Nossa natureza é voltada sempre ao conhecimento interno, seja ele dentro do bem ou do mal. Se dermos sempre valor ao que vemos, no entanto, teremos uma gama de seres racionais discutindo o existencialismo, como certos “filósofos”, ou mesmo nos aprofundando em questões hiperemocionais, tratando-as como problemas sexuais. Assim são alguns psicólogos de alto nível. Pior ainda, teremos grandes cientistas educacionais tratando de questões humanas tais quais robôs!
Eu tenho uma ideia: vamos dar ao corpo o que é do corpo, mas não exageramos. E nas questões inerentes ao nosso mundo espiritual, busquemos aos grandes homens do passado, vamos desenvolver uma personalidade que esteja sempre atenta ao que realmente somos. Pois somos mais que toda essa forma brilhante que reluz aos olhos do vaidosismo extremo.
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