segunda-feira, 28 de maio de 2012

Vidas: União e Sepação

União e Separação: uma questão emblemática
Quando a Igreja se refere à Bíblia no tocante à união de homens e mulheres no dizer “O que Deus une nenhum homem separa” ela está correta, ainda que não saiba o simbolismo, a profundidade que carrega essa máxima. Eu, que sempre ia a casamentos, me perguntava sempre quando a ouvia “não entendo... Deus é tão poderoso e, mesmo dizendo isso, como pode deixar que casais que se amam separarem-se?”...

No limiar de meus questionamentos acerca do comportamento cristão, esse foi um dos mais fundamentais o qual me fez buscar uma realidade que se escondia (até então, a meu ver) por detrás dessa máxima, a qual resguarda, desde os primórdios das tradições, o que de mais belo há na vida...

Quando dizemos “O que Deus une...”, tradição se refere não a um deus pessoal, mas a um deus infinito, do qual somos partícipes desde que nascemos, crescemos e morremos – e mesmo depois da morte. Alude a um manancial ao qual egípcios (muitos mais que outros), gregos, romanos, arianos (Índia), celtas, maias obedeciam, transfigurando em forma de deuses, os quais representavam a natureza fosse ela concreta ou mítica – leia-se: oculta aos olhos humanos – na tentativa de levar o homem sua identidade como Homem, ou seja, não como um ser excludente da vida, dos meios, de deus, mas sendo vida, sendo deus.

Casamento

Um homem quando se casa não quer dizer que vai pela primeira vez fazer parte de uma vida, comungar valores, respirar, entender, ou mesmo ser par daquele ser de sexo oposto, pois, segundo a tradição, já estão ligados pela vida, ou melhor, por uma linha imaginária de vida a qual os deixa sempre em sintonia com eles mesmos e com o Todo, com a cúspide divina.

Prova disso são as tríades. Há o Logus feminino e o masculino como parte do maior dos Logus, a Inteligência sobre a qual nem mesmo Parmênides soube explanar coloquialmente. Mas Platão chamou de Nous, o espírito maior. E em nós, como parte desse grande nous, estaria o nous no homem, para o qual ascende a alma evoluída. Abaixo deste, a psique, nossos valores psicológicos, e soma, os mais terrenos.

Contudo, como diria os arianos (de uma antiga Índia): “Tudo está em Deus, e Deus está em tudo”, ou seja, qualquer partícula humana não estaria fora do contexto vital, apenas em evolução, por mais lenta que fosse, ou seja, por mais terrenos que somos, por mais tortos em relação ao sagrado, ainda sim somos ligados ao grande espírito.

Então, de certa forma, há um casamento de tudo com tudo, não apenas do homem com a mulher. Se todas coisas são um, e um são todas as coisas, não podemos restringir ou mesmo excluir por meio de vontades humanas, pois a grande natureza já une naturalmente tudo a tudo.

O Casamento II

Mas o grande Prometeu, personagem mitológico, que roubou o fogo dos deuses, nos deu a vontade, o livre arbítrio, como presente. O que lhe rendeu o pior dos sacrifícios por Zeus. Após isso nenhum ser humano foi o mesmo, pois usamos todas as nossas chamas declinadas para uma personalidade vaidosa e quase animalesca, da qual tiramos lições boas e ruins, ou seja, nos tornando revolucionários internos ou mesmo externos, exploradores de sentimentos seja alheios ou primatas na maneira de lidar consigo mesmo.

Enfim, o casamento humano – o pessoal – que devia ser uma ponte simbólica ao sagrado, tornou-se uma outra com ideal personalistico. Ou seja, atualmente, não há mais compromissos tais quais no passado, quando a palavra casamento era sinal de respeito maior entre homem e mulher, ao sagrado.

Na Grécia antiga, por exemplo, quando se casava, com todas as pompas, não se pensava em outra coisa senão respeitar a grande lei que era representada por meio de um fogo que ardia no meio da praça, tão simbólico e perfeito quando o fogo real, a representar o fogo maior do universo. Além disso, havia, claro, a “burocracia”  das leis da época às quais jamais eram desobedecidas... A união, que já estava escrita entre os deuses, apenas se concretizava nos corpos e sentimentos de amor mútuo.

Amor...

O amor desses casais gregos era regido pelo grande deus do amor Heros, o qual significava a abrangência da vida no seu sentido mais profundo. Significa a união das coisas, e de tudo, alem do homem e da mulher, o que difere “um pouco” da realidade a que passamos atualmente com relação a essa palavra tão pequena e de teor simbólico imenso – Amor.

A nossa visão é de um amor restrito, apegado ao outro, em meio a sentimentos direcionados, horizontais, não verticais, ou seja, para o alto, para os céus. Além de falha, nossa visão estaciona em princípios arcaicos e mal interpretados advindos de civilizações que manipularam a alma humana, e que até hoje possuem resquícios na nossa.

O amor, no entanto, ainda rege nossas vidas. Ele é o único do qual ainda, por mais errado que seja, por mais mal interpretado que seja, possui nuances maravilhosas nas quais o homem e mulher, ainda que separados fisicamente, estão unidos tão fortemente quanto como por vontade própria.

É verdade... "nenhum homem separa".

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