Saudade das brincadeiras simples.
Há uns dias atrás, um senhor de
renome, pra dizer a verdade, um dos homens mais ricos do mundo, em uma das
palestras mais esperadas do ano, disse aos presentes... “Larguem um pouco a
internet, saiam, se relacionem, conversem mais!” – e o auditório, que estava
superlotado, foi abaixo em palmas.
No fundo, todos, literalmente
todos, sabiam que a realidade pela qual passamos, aqui e agora, é essa. A de
que precisamos nos relacionar mais, viver mais, amar mais, todavia de forma que
haja mais pessoalidade, não por meio de teclados. Sabe muito mais o grande
palestrante que, por ser nada menos que o dono da Google, umas das responsáveis
pelo maior indicio de pessoas nas redes sociais, desde que ela foi criada, que as
redes sociais estão automatizando a todos...
Soou, a meu ver, uma
indiscrepância. Sim, na realidade, o empresário quis dizer o contrário... Ele
está pouco se importando se há ou não pessoas se comunicando, pois a ele o que
realmente importa é o crescimento desordenado de indivíduos na internet além de
suas ações na bolsa de valores... Tanto que, depois que sua palestra terminou,
a maioria foi comentá-la via rede, twiter, facebook, etc... Ele conseguiu!
É lamentável. Contudo, ainda que
esteja em evidencia seu interesse no crescimento da Google, conseguiu levar
alguns a pensar – digo, seres interessados em refletir, sair de suas cavernas,
levantar-se, de ganhar o sol. A maioria jamais pensa ou reflete de forma
independente, apenas alguns. Exemplo disso é o numero de heróis, de idealistas,
de seres que saem em prol daqueles que precisam de voz.
Depois que foi criada, a internet
não para de aumentar o número de internautas (navegantes da rede). É certo que
é uma ferramenta excelente. Todos, com certeza, já ouviram ou já entraram na
rede. Propagandas há de idosos “feras” em jogos baixados pela rede; ainda, a
aclamação de empresas que “criam” modelos mensalmente com o propósito de
afincar mais o usuário na telinha...
Já sabemos do propósito de tudo
isso. Há coisas pelas quais lutar, sem que precisemos ficar amparados pelos
pais da informática, coisas do tipo... Nosso caráter, nossa independência –aquela
que nos faz ver o sol todas as manhãs, a mesma que nos faz ver a lua nas noites
de céu estrelado; aquela que nos faz compartilhar segredos com o amigo, com o
irmão, dialogando pessoalmente, e criando perspectivas para a vida.
Sabemos que querem nos tirar a
comunicação primária, a dos tempos em que olhávamos na face do outro e reconhecíamos
as suas intenções. Querem tirar o sorriso do filho à mãe, as saídas do filho
com o pai para um dia (ou dias) em frente a um rio, pescarem. Querem retirar as
saídas em campo dos ativistas ecológicos, das passeatas em nome da paz. Se
ainda não tiraram, com certeza, o caminho está perfeito.
Até hoje me lembro dos dias em
que meu pai fazia carrinhos de rolimãs velhas, e colocando sobre quatro ‘rodas’
uma caixa de madeira como cabine, com direito à direção, feita com volante de
um carro antigo. Nesses dias, grandes e belos dias, corriam para me
empurrar meus amigos, que hoje têm famílias
próprias, como eu. As ruas se infestavam de crianças, jogando ‘bilocas’ – as bolinhas
de gude --, brincando também de esconde-esconde, salve-latinha, salve-latinha,
etc, etc.
Nossos olhos se enchem de água ao
saber que participamos de tudo isso, e fomos contemplados com tantas amizades
sinceras, e, por causa das brincadeiras,
sinônimo de integração, não desconfiamos de nenhum deles, graças ao olhar de
cada um que pudemos ver no passado...
Atualmente, sinto que as ruas
andam lotadas de adolescentes, a maioria com más intenções – paqueras com
objetivos sexuais, e me dá medo em ver grupos, ainda que pequenos, juntos ao pé
de um edifício, de um pé de árvore nas tardes de domingo. Parece-me que não
somente as brincadeiras interativas se foram, como também os esportes em geral,
os quais se tornam tão preciosos, que os governos se enchem de orgulho quando
uma quadra deteriorada é organizada em meio a tantas desqualificadas, assim,
virando plataforma eleitoreira... absurdos.
Hoje, as poucas mentalidades
inteligentes que se têm noticia giram em torno da internet, transformando-se em
filhos desgarrados dentro da própria casa. Todavia, por mais lindo que seja ver
um filho ao lado, em frente a um computador, protegido pela mãe, é preciso
repensar essa proteção, pois, em algum nível ele é um marginal – que fica à
margem de algo – pois há um universo a se descobrir, há uma vida lá fora a
espera de comunicação, de relação a dois, de interação com milhares, enfim, de
redescobrir um mundo com o qual descobridores ainda nem sonham.
Livros...
A internet está a nos retirar os
grandes livros, a possibilidade de uma viagem aos grandes centros do universo,
das batalhas espartanas, dos descobrimentos, dos contos eternos dos quais viviam
os filósofos e até ontem nós; querem nos retirar a prática dos ensinamentos de
nossos pais, avós, e nos afundarem em uma luz falsa que vem de uma tela que nos
faz pensar que somos tão inteligentes quanto aquele que dialoga, e busca, em
poucas bibliotecas que há, a tradição, a educação.
Penso que a internet, como um
todo, é uma grande faca. Se souberes usar, não vai machucar ninguém.
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