sexta-feira, 11 de maio de 2012

Corpos, Cavernas e Mistérios...



A Caverna: simbolismo clássico

Já detalhamos inúmeras vezes, aqui nesse blog, acerca do capítulo sete da República, de Platão, no qual o mestre descreve uma a alegoria, a da Caverna, onde, de acordo com as ideias do mestre, se passa uma grande história da qual podemos retirar inúmeras outras, graças ao simbolismo que ela apresenta.

Vamos resumir o resumo...

Segundo Platão, indivíduos nascem e crescem algemados dentro de uma grande caverna. Esta, impregnada de sombras que se movimentam e de várias saídas, possui ao seu fundo sempre uma grande chama da qual emanam tais sombras. Os indivíduos do contexto não sabem disso, e sempre se enganam com suas opiniões quando se referem às paredes móveis, às sombras, ao fogo, acreditando, desde pequeno, que tais emancipações são de puras realidades, as quais tomam conta deles.

Nesse mundo (caverna), homens se confundem e ficam longe do que realmente necessitam: da saída. Um dia, um deles sente que as suas algemas estão folgadas, e começa e remexer. Entende que há a possibilidade de retirar o artefato de metal, de modo que consegue ficar livre dele. Por consequência, levanta-se. E nesse ato, começa a entender que tudo que amava, desejava, obedecia, e sentia, era um grande pano de fundo do qual saiam verdadeiras formas inventadas, outras, refletidas propositalmente com intuito de enganá-los...

Aqui, começa outra aventura. A de perceber a natureza como ela realmente é. E seus passos, em meio às pedras, prosseguem naturalmente para o que sempre nos norteia, a luz, e ele seguiu a luz da fogueira, chegando a ter, em si, um pouco de sua chama. Mais na frente (dependendo da visão) começou a enxergar outra luminosidade, agora, porém, era a mais importante: a da saída.

Depois de passar todos aqueles anos preso às algemas, assistindo a luzes irreais, sombras como verdade, ele se depara com a maior das luzes. A luz do sol. A principio, não consegue enxergar, pois a luz é intensa de qualquer ponto de vista para quem sai de uma caverna na qual ficou até então... Assim, ele prossegue, se entusiasma, sente, vê, colhe!

Depois de várias reflexões, volta para seus irmãos, mas agora para dizer a Verdade.

Aqui, nesse glorioso mito, cabem reverberações grandiosas acerca de tudo que queremos expandir, seja para o bem, para o mal, para nada, para crescer, viver, subir, descer, enfim, Platão conseguiu, assim como em outros mitos dos quais é autor, universalizar a alegoria. E como já aprendemos, todo mito esconde uma realidade da qual somos expectadores, mas, se quisermos, protagonistas. E ele apostava nisso...

Em uma época na qual seu mestre Sócrates fora condenado, nada melhor para relatar a decadência humana a partir de preceitos universais, dentro dos quais jamais sabemos a quem ele se referia, ou a quê, pois, já que temos em mão uma alegoria de nível universal, podemos dizer que se referia à época de Sócrates, que morreu condenado pelos vis jurados de Atenas, os quais, pode-se dizer, eram os donos da “caverna” à época, mas também podemos dizer que, hoje, temos “donos de cavernas”, nas quais somos tão algemados quanto os primeiros...
  
Podemos mais ainda. Podemos dizer que o próprio universo, do ponto de vista deifico (ou divino) é uma grande caverna, dentro da qual tudo que vemos, ouvimos, seja a própria natureza – nas estrelas, nos ventos, nas brisas, nos planetas --, são apenas sombras! E Platão já chegou a dizer em uma de suas obras que o real mundo é o mundo Ideal, esse que não temos acesso, esse cujos mistérios nos batem as portas diariamente e damos o nome de Deus, diabo, fé, José, Maria, etc... O falso mundo seria o palpável.

A universalidade do mito não para por aí...
Ao nos referir a algo racional, ou seja, aquilo que podemos diagnosticar, escolher, ainda que não o vemos, assim como teorias cientificas, sociológicas, históricas, filosóficas, as quais traduzem pensamentos infinitos acerca de algo, pode também fazer parte de uma caverna, pois nada seriam senão fosse aspectos sutis a essas matérias.

Mas não estou aqui para aludir a tamanho de cavernas e relatar de onde vieram ou porque vieram, mesmo porque estamos falando de algo fortemente simbólico. Tentando, com parcas ferramentas, traduzir um mito.

E por meio desta quero demonstrar que somos uma minicaverna em meio a outras e outras, outras, e a saída nada mais seria que conhecer de si mesmo.

(continuo no próximo texto)

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