sexta-feira, 11 de maio de 2012

Corpos, Cavernas e Mistérios... (ii)

Caverna: um grande corpo.


Corpo

Já perceberam o quanto somos ligados ao nosso corpo? A esse ser que nos prende a desejos formais, informais, a coisas simples e complexas, pois é... Já devem ter percebido o quando somos identificados com esse líquido concreto, em forma de braços e pernas, cabeça, pescoço, olhos, boca, no qual nos apegamos desde o dia do nascimento ao dia de nossa morte.  Esse grande computador natural pode ser uma caverna.

Uma caverna que, só de pensar em perdê-la, em machucá-la, quebrá-la, nos faz reduzidos a meras peças de museu antes de ser história. Mas sabemos que o que nos faz maiores e menores é o que possuímos internamente, e temos vários exemplos disso. Mesmo assim, com o passar dos anos, nada nos faz desapegar desse “individuo” forte, às vezes, frágil, às vezes, reduzido em frangalhos, que, mesmo e apesar de grandes exemplos na história, ou mesmo aqui ou ali, será parte, veículo, identidade, será uma combinação de esferas biológicas, químicas e espirituais em nossa visão tão curta.

Por isso, e para isso, é que temos sempre que ressaltar os valores mais internos, mais fortes, para que possamos, em nossas batalhas, se não nos entregarmos totalmente, pelo menos nos dar parcialmente, de maneira que vençamos parte delas. E vencer a ideia de que o corpo somos nós é uma das maiores batalhas da vida.

A guerra


Quando me refiro aos grandes do passado, não quero que sejam ou que eu seja parecido, mas que temos que nos basear em referenciais nos quais pilares de ferro existam para a consecução de nossos fins, dentro de nossa própria capacidade e natureza, ou seja, sendo o que nós somos, e ao mesmo tempo encontrando os mesmo valores que fizeram daqueles homens (ou mulheres) heróis ou homens de bem em sociedades que, um dia, precisaram deles. E a sociedade, hoje, é diferente, e os heróis idem, porém, os valores podem ser os mesmos, a partir de uma busca mais aprofundada, ou pelo menos parcial, de modo que realizamos, dia após dia, um pouco desse ideal: o de que somos algo mais profundo, mais interno, mais precioso.

Um ideal que nos faz dizer “eu não sou o que vejo, o que sinto, o que penso, o que desejo?”, é realmente fantástico e ao mesmo tempo dantesco, pois claudicamos ainda em psicologias que nos dizem, todos os dias, que precisamos cuidar mais do corpo do que do espírito! E quando nos dizem o inverso, soa até meio estranho, já perceberam?...

Cuidar do corpo, o que significa? Passar o dia fazendo ginástica, academia, ou, nas horas vagas, correr feito louco para nos satisfazer física, psicologicamente? Talvez sim. É notório do ser humano cuidar-se. Todavia, sem um fim natural, nos torna homens e mulheres com finalidades distintas das quais, a depender de quem as consegue, não há atrativo nenhum.

Sem delongas, acima me refiro aos jovens que hoje, sem uma educação interna, cuidam muito mais do físico do que até mesmo da mente. Não apenas os jovens. Há senhores de idade que se sentem na necessidade de elevar-se fisicamente para conquistarem o que não conquistaram no passado, assemelhando-se a ridículos jovens-velhos-anciãos.

E nessa cultura fisiculturista, academias(1) se formam, e homens e mulheres de níveis estáveis se mostram donos de uma outra cultura, a de que apenas os de melhor nível financeiro podem fazer academia, aparecendo, a qualquer hora do dia, em vitrines, tais quais produtos humanos à venda, em esteiras, em bicicletas ergométricas (estáticas!), com malhas coladas ao corpo... Põe ridículo nisso!

Referenciais


A de se buscar um referencial em tudo que fazemos. Desde a placa que nos serve de indicador para uma grande viagem, até mesmo a um ser que nos espelha confiança para prosseguir espiritualmente. E precisamos dessa dualidade vital para atingirmos nossas finalidades, assim como precisamos dos pais para uma grande educação que nos firme em um mundo vazio de conceitos e práticas.

Os referencias são tão fortes que, ao pensar em máximas no inicio do dia, nós as vivenciamos em nosso meio quase sem querer. É a força e o poder dele que nos atrai. Contudo, há referenciais contrários que atraem tanto quando os bons, o que nos faz acreditar que não há referencias nobres, então não há o que seguir senão elementos opinosos de uma sociedade que indica o que você deve vestir – a chamada moda; outros elementos que produzem as suas próprias falas – as chamadas opiniões midiáticas (TV Rádios, Revistas, Internets, etc) – e, dentro desse quadro, os grandes referencias dançam em forma de imagens, não como referenciais...

 Por que estamos falando de referenciais, mais uma vez?
A história dos grandes impérios sempre nos trouxe grandes homens que sempre fizeram de sua vida um espelho eterno, ainda que tivessem suas poucas falhas vitais. Mas então por que sempre nos baseamos em seus atos, em suas máximas, e, de algum modo, nos deixamos levar pelas suas palavras mansas que nos tocam o coração? Simplesmente porque o que nos vale, na realidade, é o som da música e não o instrumento; o que vale é a paz que cristos, platãos, sócrates, zoroastros, plotinos, os quais nascem e crescem nas manhãs de domingo, como um sol que nos perturba para nos levantar, buscar, pesquisar e entender esse mundo que nos desloca em favor de mares bravios ao nosso gosto.

O corpo, para esses grandes homens, esses iniciados, homens, é apenas um regador para a grande planta. A alma.



(continuo no próximo texto...)




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(1)A palavra academia, para quem não sabe, vem de Academus, um dos deuses homenageados pelo mestre Platão, o qual usou pela primeira vez esse termo para intitular o lugar em que daria suas aulas de filosofia... Não de musculação.

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