Que as luzes sempre permaneçam acesas! |
Ainda ontem, coloquei uma cartinha embaixo da porta para o Papai-Noel.
Meu filho, de cinco anos, feliz, fora dormir dizendo 'papai noel, me traz
o presente, viu? Eu fui um bom menino e obedeci à mamãe e ao papai.'
Em gestos como esse, com um coração borbulhoso de lágrimas,
sorri pela pureza de uma mentira tão bela quanto à verdade que o mundo
me mostra.
Lá vem ele, cheio de luzes
estampadas nas esquinas, nos prédios, nas casas e casebres; enfeitando o mundo,
com seus arrojados símbolos, com suas mensagens fortes, outras piegas, mais
algumas simples e baratas. E por falar em baratas... E os presentes?... Que
loucura! Caixas e mais caixas coloridas, e, por dentro, a surpresa, ou não, que
no dia o acanhado menino vai receber...
A correria do dia a dia, a
vontade de rever a família que mora atrás dos pensamentos, dentro da alma. Esquinas
lotadas; taxis com suas corridas caras, perfazendo trajetos mais caros ainda,
apenas para ganhar o seu décimo... E os ônibus? Agora temos mensagens de Natal onde
apenas se mostrava um painel robótico, simples e direto. É o fim ou o início?
Sei apenas que estamos perdidos e
desconsolados, estamos confusos e enrolados. Nossas mentes, ao pobre pensamento
de ir e vir às lojas, não se comunica com o coração, pois, assim como celulares,
a linha parece cortada nessa época. Será sempre assim?
Quando é que o Natal realmente
significou realmente o Natal? Não se sabe. Sabemos que o cristianismo o criou com
o fundamento de que Cristo, Jesus, teria nascido nessa data, vinte e cinco de
dezembro... Claro que não. Todos sabem que tal data é tão simbólica quanto o
dia das mães, dos pais o é.
Sabemos que houve várias datas
nas quais fora comemorado e vivenciado tanto quanto hoje o é nessa cultura
louca de gastos. Não sei, mas acredito que a essência do Natal não é ainda a do
peru que se assa no forno, com uma bela salada a sua espera; não é para mim a
reunião de uma família que se desconjura todos os dias; não é.
E quando observo o mundo indo ao
encontro de seus entes queridos, fico a pensar... “por que somente nessa data o
fazem?”, e ao mesmo tempo, revela-se importante, mesmo porque tal gesto o é,
não por ser Natal, mas por ser um gesto humano... O que nos falta.
Falta praticarmos um Natal fora
do dele. Presenteando nossos entes, dando mais vazão à nossa intuição de que
precisamos nos reunir e nos abrir um com o outro, sempre quando nossas
naturezas o querem. Perfazendo caminhos tortuosos, mas que, pelo ato, sabemos
que será ao encontro de algo definido...
O que vejo é que há luzes em
demasia e pouquíssimas dentro do homem. Há uma correria em prol do presente
barato e bonito, mas, como em todos os natais, braços precisam se abrir,
receber pessoas; mãos precisam se esticar para o aperto inicial, que dará inicio
também a uma grande amizade... No entanto, como diria o sábio... “os deuses
choram pela hipocrisia humana”.
Existe sempre, entretanto, a
célula no universo, que o faz voltar a ser ele mesmo; a célula do mundo,
escondida em algum deserto, na mais profunda areia; há a célula nas sociedades,
a qual nasce com o idealista, pronto para modificar o pensamento do povo; há a célula
dentro da família, que é o homem que trabalha, que paga suas contas, e que
humildemente perfaz seu caminho em busca por respostas para um mundo melhor...
Há a célula biológica, que
responde às tensões diárias, e que nasce, cresce, morre, e dá lugar a outra,
até uma certa idade; há a maior delas, a da alma. Esta que alimenta todas as
células em nome de algo maior e melhor dentro homem, que se aproxima de uma
sociedade por meio de suas leis, e as enobrece quando a elas obedece; uma
célula que não envelhece, não emudece, e modifica nossos dias, sem sabermos.
A essa célula eu daria o nome de Natal.