quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Um Natal Longe Demais

Que as luzes sempre permaneçam acesas!





Ainda ontem, coloquei uma cartinha embaixo da porta para o Papai-Noel.
Meu filho, de cinco anos, feliz, fora dormir dizendo 'papai noel, me traz 
o presente, viu? Eu fui um bom menino e obedeci à mamãe e ao papai.'
Em gestos como esse, com um coração borbulhoso de lágrimas,
sorri pela pureza de uma mentira tão bela quanto à verdade que o mundo
me mostra.





Lá vem ele, cheio de luzes estampadas nas esquinas, nos prédios, nas casas e casebres; enfeitando o mundo, com seus arrojados símbolos, com suas mensagens fortes, outras piegas, mais algumas simples e baratas. E por falar em baratas... E os presentes?... Que loucura! Caixas e mais caixas coloridas, e, por dentro, a surpresa, ou não, que no dia o acanhado menino vai receber...

A correria do dia a dia, a vontade de rever a família que mora atrás dos pensamentos, dentro da alma. Esquinas lotadas; taxis com suas corridas caras, perfazendo trajetos mais caros ainda, apenas para ganhar o seu décimo... E os ônibus? Agora temos mensagens de Natal onde apenas se mostrava um painel robótico, simples e direto. É o fim ou o início?

Sei apenas que estamos perdidos e desconsolados, estamos confusos e enrolados. Nossas mentes, ao pobre pensamento de ir e vir às lojas, não se comunica com o coração, pois, assim como celulares, a linha parece cortada nessa época. Será sempre assim?

Quando é que o Natal realmente significou realmente o Natal? Não se sabe. Sabemos que o cristianismo o criou com o fundamento de que Cristo, Jesus, teria nascido nessa data, vinte e cinco de dezembro... Claro que não. Todos sabem que tal data é tão simbólica quanto o dia das mães, dos pais o é.

Sabemos que houve várias datas nas quais fora comemorado e vivenciado tanto quanto hoje o é nessa cultura louca de gastos. Não sei, mas acredito que a essência do Natal não é ainda a do peru que se assa no forno, com uma bela salada a sua espera; não é para mim a reunião de uma família que se desconjura todos os dias; não é.

E quando observo o mundo indo ao encontro de seus entes queridos, fico a pensar... “por que somente nessa data o fazem?”, e ao mesmo tempo, revela-se importante, mesmo porque tal gesto o é, não por ser Natal, mas por ser um gesto humano... O que nos falta.

Falta praticarmos um Natal fora do dele. Presenteando nossos entes, dando mais vazão à nossa intuição de que precisamos nos reunir e nos abrir um com o outro, sempre quando nossas naturezas o querem. Perfazendo caminhos tortuosos, mas que, pelo ato, sabemos que será ao encontro de algo definido...

O que vejo é que há luzes em demasia e pouquíssimas dentro do homem. Há uma correria em prol do presente barato e bonito, mas, como em todos os natais, braços precisam se abrir, receber pessoas; mãos precisam se esticar para o aperto inicial, que dará inicio também a uma grande amizade... No entanto, como diria o sábio... “os deuses choram pela hipocrisia humana”.

Existe sempre, entretanto, a célula no universo, que o faz voltar a ser ele mesmo; a célula do mundo, escondida em algum deserto, na mais profunda areia; há a célula nas sociedades, a qual nasce com o idealista, pronto para modificar o pensamento do povo; há a célula dentro da família, que é o homem que trabalha, que paga suas contas, e que humildemente perfaz seu caminho em busca por respostas para um mundo melhor...

Há a célula biológica, que responde às tensões diárias, e que nasce, cresce, morre, e dá lugar a outra, até uma certa idade; há a maior delas, a da alma. Esta que alimenta todas as células em nome de algo maior e melhor dentro homem, que se aproxima de uma sociedade por meio de suas leis, e as enobrece quando a elas obedece; uma célula que não envelhece, não emudece, e modifica nossos dias, sem sabermos.


A essa célula eu daria o nome de Natal. 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A Filosofia do Mito (final)

Retire-me, se puder.





Artur, assim como os grandes avatares, representava a Terra, o Universo. Em momento de Manvanthara movimento de ação, do rei, tudo era passivo de mudança. As flores se abriam, o sol se levantava, os pássaros esvoaçavam sem parar, as nuvens se abriam, a fé dos homens voltava. Por isso, o mito arturiano se parece muito com o de Cristo. Não somente. Há outros, até mesmo budistas, os quais se parecem com este mito, principalmente quando da partida de Artur após a guerra... Em muitas culturas, assim como o rei, esperam a volta do seu avatar.

Em movimento de Pralaya, quando universo entra em retração, a natureza esfria; as flores não se abrem, os pássaros se escondem, o sol não nasce, os homens se corrompem e são corrompidos; as trevas misteriosas refletem em cada passo, em cada gesto da natureza...

Enfim, pede-se a luz, pede-se que a alma universal volte, se torne maior e forte, reluzente, com um sol eterno, no qual a figura do grande rei jamais deixará de brilhar. É o cálice sagrado, que está ao lado do rei, e não se encontra; é a simplicidade e espiritualidade dos homens que, embora esteja ao seu lado, não se vê, pois a cortina do desamor e da guerra está fechando os olhos dos homens de bem...

Contudo, apenas um homem pode levar os seres da terra a enxergar o sol novamente, apenas um homem-deus, assim como outros que o foram, tem o comando, a beleza de ver o que está dentro do próprio homem. Artur. E na empreitada de encontrar nas terras destruídas, assim como em universos vazios, o sentido da vida, envia seus homens, cavaleiros sagrados, nascidos para serem os braços e pernas de um rei que ainda não acordou graças às injustiças do mundo, criada pelo humano...

Seu maior cavaleiro, Lancelot, feito sob media desde criança para assegurar sua divindade na terra, está descrente, e corre o mundo em nome do nada, da dúvida que o assolou, da corrupção que fora mais forte, da paz que o abandonou. No entanto, criou à sua imagem um escudeiro que por sua vez se tornou tão fiel a Artur quando o primeiro.

A sabedoria do grande escudeiro, graças às experiências colhidas nas terras sem fim, o fez entender (iniciar-se nos mistérios) que Artur era a ligação entre os homens e o Céu. Deu a Artur (homem) o cálice, sabendo que este estava ao seu lado.

Assim, em nome de um mundo que precisa, por meio da grande alma, o cálice, no qual continha a essência vital dos seres de bem – ou a própria eternidade – Artur, agora divino, e seus homens, abrem a terra, abrem o céu, e o universo, com a maior de suas estrelas, volta a pulsar.


Excalibur

Peça fundamental para compreensão do universo significaria a retidão. Inquebrantável. Ninguém, nem mesmo o grande Artur, poderia usá-la para o mal. E quando o faz, ela se quebra, mas volta pelo lado vertical – a rainha do Lago – e volta a ser o Darma.

Quando fora colocada por Merlin na pedra, já existia. Fora usada diversas vezes para fins escusos, no entanto, o místico homem fizera com que ela voltasse a ser símbolo natural e referencia dos homens. Quem a possuísse teria o poder; quem a retirasse da pedra seria rei. E por ser a espada que representava a leveza da Vontade e da Espiritualidade universal, não poderia ser retirada por outros senão por Artur, ainda escudeiro, que, ao correr em busca da espada desaparecida do irmão, a encontra presa na rocha.

Sem qualquer sentimento interesseiro, imaculado, puro, embebido de espiritualidade e harmonia, Artur a tirou tão facilmente quanto alguém que colhe uvas. Assim, os segredos do universo voltaram, a sacralidade dos homens voltou; os olhos do universo se abriram, e a paz, tão complexa ao ver dos ignorantes, se tornou o maior dos objetivos.


A Alma de Artur

Embora tenhamos força para mover o mundo, nos questionamos sempre a respeito de coisas porque nossa alma pede. Uma alma que nunca se sacia, por mais que conseguimos responder a maioria de nossas perguntas. Uma alma que, embora tenhamos tudo, ou apenas o que queremos, vive a trabalhar em sentido oposto ao que conseguimos, ou seja, nunca está saciada dos desejos humanos.

Assim, como em vários mitos, entendemos que questionamentos são poucos para a consecução de nossos fins, seja qualquer meio que usamos. Estamos sempre com sede! E lemos, e lemos, e buscamos, e vamos atrás, e choramos, e imploramos por mais sabedoria, e nada...

E descobrimos o cálice. Há muito pede para ser encontrado ali do nosso lado – ou melhor, dentro de cada um de nós. Como um ser esquecido que levava seus braços para o alto quando nos via, o cálice, aquilo que mais subjaz em nós, se revela. Não há palavras para dizer o quanto nos sentimos – se há sentimentos! – quando a peça principal das respostas aos segredos de Deus está ao nosso lado...


Não há palavras. Sabemos, no entanto, que tudo se ilumina, volta a ter cor e iniciamos um processo de paz interna que somente os grandes, um dia, puderam iniciar. O cálice, para nós, é o conhecimento da tradição.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Experimentando o Mito

"Meu Rei, o cálice por que procuravas sempre esteve ao seu lado". 

Cálice sagrado. Tão antigo quanto às escrituras cristãs.



É sempre bom citar as civilizações passadas quando falamos de algo que não conseguimos dissertar baseando-nos em premissas modernas. Principalmente quando falamos em mitos. Digo isso porque, no livro de Dan Brow, o Código de Da Vinci, há um professor de simbologia que dá aulas maravilhosas acerca dos símbolos arcaicos, retratados apenas em épocas como a dos faraós, dos grandes imperadores romanos, gregos; dos grandes reis persas, enfim, nos fazendo viajar no tempo e no espaço.

Foi impressionante o que o autor fez. Contudo, na mesma linhagem, podemos dizer que ele nos enganou ao tentar narrar um grande mito, o Mito do San Graau, o qual, antes mesmo de Cristo, já se era pronunciado e relatado por outras culturas. Então, o autor, para que ficasse com um tom mais eloquente, fictício e ao passo intrigante, levou a lenda a se misturar com Templários, incluindo Maria Madalena, a tão polêmica mulher, que teria, segundo a bíblia Cristã, sido a prostituta que se rendeu ao salvador do Cristianismo.

É coisa de intelectual que não tem o que fazer. O que seria o Santo Graal? Tudo começou com os Celtas, uma tribo indo-europeia, que fora, há muito, conquistada pelos romanos, e que já possuía a chamada lenda do Rei Artur, em sua cultura (para muitos, não teria sido uma lenda), o qual, na história, em um determinado tempo, teria pedido aos seus soldados para procurar um recipiente místico, mágico, no qual haveria porções de alimentos – na verdade, era muito mais um caldeirão! --, com a finalidade de dar fortaleza interna aos guerreiros.

Parece que o caldeirão foi-se afunilando, se tornando um copo, um... Cálice. E como tudo no passado que se cristianizou, a própria lenda de Artur não fora diferente. Segundo conta a lenda Cristã, Cristo teria ido à última ceia antes de subir aos céus, o que fez com que fosse atencionado seu comportamento ante os discípulos.

Cristo teria brindado com pão e vinho – “esse é meu corpo, e meu espírito”, teria dito, dando margens a várias interpretações, nas quais bíblias de várias facções se dividem até hoje. Uma delas é que o cálice teria sido o recipiente em que o sangue dele teria sido colocado, após uma lança de um soldado tê-lo ferido. Ual!

Mas uma coisa ficou clara aos olhos do Ocidente, que Santo Graal estava nas “mãos” do criador do Cristianismo e que teria que ser feita uma história, uma lenda ou qualquer coisa com finalidade de encontrar o recipiente, baseando-se na lenda do grande rei. E pegou. As duas histórias, no entanto, possuem a mesma essência, a mesma finalidade...



Artur e a excalibur. Um mito atrás do outro.


Artur, o Rei

Artur teria sido um rei vencedor, que, ao nascer, teria sido cuidado pelo grande mago Merlin, um homem misterioso, que teria feito daquele que, mais tarde, na tenra idade, fora escudeiro, e um grande rei. Sábio, justo, verdadeiro, seguidor das tradições, Artur, ainda, teria se casado com uma camponesa, Guinevere, a qual, mais tarde, tem um romance perigoso com o seu melhor guerreiro, Lancelot...

Artur, segundo conta a lenda, teria sido rei após a retirada de uma espada colocada pelo próprio Merlin (sem que soubessem), e que, em todos os anos, guerreiros se confrontavam em duelos não mortais, dando ao vencedor o privilégio da retirada da espada da pedra... (há mitos que se igualam nessa passagem...).

Artur, adolescente, ainda escudeiro, teria saído à procura da espada de seu irmão, a qual fora roubada por um “pivete”, o qual teria se saído muito bem; mas que, em razão desse “roubo”, Artur, ingênuo, teria passado por perto da sagrada pedra, na qual a espada teria sido implantada, e... Por um gesto de pura intuição, vapt!, retira a espada, a grande excalibur. Habemos Rei!

A partir dai, Artur se torna o rei. Histórias de cavaleiros se fazem em torno da lenda. Histórias de batalhas de um homem que se iguala ao salvador cristão.


Uma Távola é construída em seu castelo, com o ideal de reunir homens de bem – seus cavaleiros --, na qual a reverência ao todo, ao universo, a Deus, depois de todas as batalhas era obrigatório; além das grandes histórias de heroísmo. 

Artur vira Mito, no melhor sentido na palavra.


(voltamos mais tarde com o Mito)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O Equilíbrio de Deus

Platão, apontando para cima; Aristóteles, para baixo: equilíbrio entre o céu e a terra..
   



Muitos ainda se questionam ainda o porquê de a Justiça, seja ela de tribunais, de mitos, de contos, ser representada pela balança. O que nos vem à cabeça de pronto, é claro, é o equilíbrio relativo a algo baseado em premissas humanas. Não, não é. É vero que não estamos errados em nossos pensamentos, mas, com certeza, estamos um tanto quanto longe de entendermos o que é que deve ser explanado a respeito do Equilíbrio que a balança simbolicamente representa.

Ainda ontem, quando fui a um templo religioso, juntamente com minha esposa e filho, e ao contrário dos presentes, fui refletir acerca do ano que se passou. Muitas coisas se passaram em minha mente, mas uma ficou: o equilibro do universo. Acho que entrei em uma atmosfera aristocrática com platônica, terminei com máximas budistas em minha cabeça...

Mas por que fui a um templo refletir sobre o equilíbrio do universo?? – sei lá! Sei apenas que me ocorreu de pensar em sorvetes quando caem, de águas que caem de copos, de gritos humanos quando estão fartos de injustiça, de dores que não cabem mais no âmago do ser humano... Tudo transborda. E ali, ao vir semelhantes a pedir e clamar a Deus mais paz, senti que, dentro de cada pessoa, há um equilíbrio a ser sanado..

Meu coração nessa hora ficou estático... Se eu estava ali, unido aos homens de bem, a pedir mais paz à minha família, de alguma forma, eu tinha que equilibrar o que em mim pedia para tanto... E assim, descobri o porquê do inicio de meus pensamentos em relação ao Equilíbrio universal.

Aristóteles e Platão

Discípulo de Platão por vinte anos, Aristóteles no legou mais pensamentos científicos do que filosóficos (no sentido platônico), porque, não sei vocês, mas, todas as vezes que nele penso, viso a uma na estrutura universal organizada, como um todo, de modo que, quando percebemos as estrelas, sempre vamos vê-las como um grupo organizado, viciado, preso a uma lei maior da qual, sol, cometas, planetas estão intrinsecamente embutidos.

Isso materialmente. Mas Platão, mestre iniciado, ao contrário de seu maior discípulo, ultrapassa a razão material e encontra u´a outra estrutura, a do Mundo das Ideias, do qual a primeira estrutura, nada mais é que a sombra da primeira, ou seja, o invisível seria tão concreto quanto o segundo, mesmo porque o que vimos, ainda que seja  em grande escala, ou que leve séculos para perceber, tem seus dias contados.

O invisível, que dá a forma a tudo, a árvore primordial, nascida de cabeça para baixo, como diriam os hindus, além das águas Primordiais, das quais nascem as vidas em forma de almas, e delas as primeiras moléculas e que por sua vez se reestruturam por meio de átomos... viria a ser o responsável pelo equilíbrio.

Enfim, o pensamento foi longe.

Mas percebi que todo ele – o grande universo, o cosmo, a Lei, o Brahma, em sua totalidade, nos refletem o Equilíbrio não perceptivo, o Equilíbrio não pessoal, a reta ação, o Darma. E ainda que exista o Karma, leis de ação e reação, universal, é preciso entender que o “lixo cósmico” é feito por escolhas naturais, sem que saibamos o porquê.

Em nosso meio humano, no entanto, na busca intrínseca por tentar entender o porquê de nossos problemas, não percebemos que a realidade acima de nossas cabeças nos revela a maior de todas as realidades, a que há dentro de nós... É por isso que Sócrates diria, “Conheça a Ti Mesmo e conhecerás a Deus e o Universo”... E ao vir o grande Protágoras dizer, “O homem é a medida de todas as coisas”, ele refuta, dizendo, “Deus é a medida de todas as coisas (não o homem)!”.

Por isso, Sidarta, antes de ser Buda, se iniciou quando ouviu o violeiro dizer ao filho, “se as cordas estiverem frouxas, não vão tocar; se estiverem esticadas demais, vão se arrebentar”. E, dentro desse episódio, toda a filosofia budista foi criada.

O sorvete

E quando damos passos além de nossas pernas; quando elevamos vozes além do possível; quando vociferamos com alguém; quando nos sentamos de qualquer maneira e começamos a nos sentir mal; quando a própria luz em demasia nos cega; quando o escuro nos dá medo; quando “voamos em direção ao sol”, ou “quando miramos demais a terra” – assim como Ícaro. Quando nos sentimos deuses ou quando nos sentimos o pior dos seres... Quando encontramos a paz facilmente, ou mesmo quando guerreamos por nada... E quando o sorvete cai...

Não se vê árvore alguma dando frutos em demasia; não se vê o sol nascendo ou se pondo em lugares alternativos; não se vê a criança hipócrita, sorrindo ou chorando por má fé. Não se vê a andorinha pescando, como homens, a espera do peixe certo; não se vê o cavalo reivindicando soldo, e sim o homem. Como diz a bíblia Cristã, o pássaro, ainda tão menos importante que o homem, não precisa cozinhar, fritar ou plantar sua comida... O equilíbrio do homem seria o trabalho?

O equilíbrio humano existe e é real. E sentimos isso na morte, na doença, nos males que nos afligem a alma; na necessidade de buscar respostas internas, externas, na compreensão do Amor maior, da compaixão humana, no perdão sem sentido, na energia que traspassamos sem saber; nos abraços eloquentes, nos excessos da personalidade, na frialdade dos maus, na elevação do homem bom... Na existência do Mestre.

Em tudo.


Eu, Célula do Universo

Viver, uma arte.

Somos e temos um universo.




Não somos uma entidade isolada, assim como autores famosos pensam. Somos parte única e insubstituível do cosmo. Assim como uma célula de um corpo que vive, somos um microelemento perfeito desse conjunto chamado humanidade. E cabe a nós nos perguntar, “onde é que nos encaixamos? A quem estamos ligados”?

A célula do coração, a mais perfeita, que nasceu entre milhões, já lavada a fazer seu papel, de se ligar a outras milhões, e por sua vez a mais outras, que conjugarão mais ligações e assim perfazendo todo o corpo, em um só ritmo, em um equilíbrio mais perfeito ainda, estará em perfeita harmonia com o seu universo.

Na parte humana, devemos nos questionar a respeito de nosso papel dentro desse grande corpo que nos sustenta, do qual fazemos parte como aquele elemento do coração, que, ligado ao seu último vizinho, sustenta uma rede harmônica e natural.

Trajeto

Em nosso trajeto, devemos observar as pessoas com que nos relacionamos: pai, mãe, filho ou filha; amigos, vizinhos; amigos do trabalho. Se identificamos a realidade de nosso trajeto, das pessoas com as quais lidamos, com o nosso mundo, percebemos a ordem natural de nosso universo.

Dai por diante, a parte que nos cabe é de desenvolver nossa potencialidade em relação a essas pessoas, verificar e tentar entender nosso papel e nosso dever perante a elas. Se soubermos quem somos e a quem estamos ligados, saberemos o que fazer.

Podemos colocar em prática isso, ao tentar observar o papel daquele que pode ser nosso pai ou mãe. Verificaremos que há uma relação emocional, mas ao mesmo tempo não podemos acreditar que todos os pais possuem relações afetivas com seus filhos – enfim, torna-se uma questão relativa. E pensamos, “todos nascem com caráter diferentes e não podemos mudar isso”, então, para nós torna-se secundário.

O mais importante é o que sentimos, o nosso caráter, pois estamos a buscar a felicidade, dentro de valores os quais nos diz que devemos seguir nosso papel, seja de filho, de pai, de mãe. Ou seja, não importa se há irmãos que nos trate com reverência ou respeito, se há pais que nos reconhecem ou não, temos que manter sempre, em nós, a cordialidade e o carinho, e o mais profundo respeito a eles. Não importa, nossa meta é nos harmonizarmos com a natureza.

E sabemos que esse caminho nos dará uma visão de um outro caminho, o da liberdade, no qual há a integridade para com o próximo, a dedicação às leis naturais e sagradas, e o que pensam acerca dessa palavra não importa, pois nos parece uma série de comportamentos instintivos sem controle. Não somos assim. Os estoicos, como já citado, assinalaram com seus passos na areia, dizendo, “liberdade é como Deus”, ou perfazer caminhos naturais baseando-nos em premissas divinas.

E se estamos fortes em nosso caminho, tudo ao nosso redor se torna uma cortina de papel, exceto quando temos que confrontar fisicamente com alguém, ou psicologicamente, se permitirmos. Por isso, não devemos levar em consideração provocações, pois elas não nos levam a lugar algum, a não ser para caminhos insensatos, dos quais não conseguimos sair tão facilmente.

A mostarda e a montanha

No simbólico Sermão da Montanha, Cristo disse, “se eu tenho um grão de mostarda em minhas mãos e vejo a montanha. Se minha fé for maior que esse grão, posso mover a montanha”... (Belíssimo!).

Se eu acredito, realmente, em meus princípios; se ele me faz maior e melhor, e por meio dele posso me harmonizar com a natureza, e alcançar o espirito, então, sim, posso caminhar e viver em comunhão com o universo, como uma célula que sou.


Se eu sou homem, possuo Deus em mim, e acredito que todas as forças em mim são latentes, e que nada para mim é impossível; se sei que o amor é tudo que une, e o mal é o que separa; se a justiça é o termo vocação tingido mais forte em seu tom; se eu sei que há potencialidades divinas e que elas estão em mim, assim como estão meus sentimentos, minha emoções, meus desejos, e que minha alma se eleva no mais alto dos montes quando atinjo essa fé, então estou perto de entender meu papel no mundo.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O Ecletismo da Mente e da Razão

Razão. Sempre de acordo com os princípios universais.






Desde que iniciamos textos com vistas à compreensão do significado filosófico de felicidade, nossas pretensões têm sido a de realmente sermos felizes, no sentido mais filosófico possível. E ser feliz, como já foi citado, é ter uma vida plena de satisfação interior, com princípios  voltados ao Bem, ao Verdadeiro, à Beleza, enfim, aspectos que só encontramos na natureza, em nós.

Fácil dizer, no entanto. Difícil é manter-se no caminho com nossos propósitos, como se fôssemos andarilhos solitários em busca de algo ilusório, sem inicio ou fim. Mas sabemos, graças à tradição, que há valores a serem regados em uma terra, em um mundo que necessita ressuscitar a partir da sabedoria dos homens que um dia nasceram, cresceram e morreram na tentativa de dizer algo a respeito do ser humano – e muitas vezes deixando, em forma de ideal, esse que permeia na natureza, a resposta para que buscamos, como eu disse, a felicidade.

É mais que preciso. Urge que sejamos fortes – não fisicamente, mas – lá dentro de nossas possibilidades, de nosso âmago. Como um grande filtro, devemos usar o que temos, e nos aferrarmos em proteger nossa razão, e mais, prezar, com o que temos, nossa mente.

Um dia (lá vem ele de novo!) um professor nos disse, “Por que aceitamos tudo em nossas mentes, se não aceitamos qualquer coisa em nossa casa? Será que baratas e ratos podem andar à vontade em nossa sala, como se a casa fosse deles? Acredito que não. Assim devemos ser homens e mulheres que protegem nossos princípios a partir do que vemos, escutamos, até mesmo de amigos que temos. Vamos pensar em ecletismo. Vale à pena ser eclético?”...

Realmente, foi uma aula e tanto, na qual pude refletir a partir daquilo que escutava, via, sentia, tudo em nome de um ecletismo que me dava qualquer amigo, com qualquer conversa; de músicas que escutava, apenas para o prazer de escutar, e nunca com proposito algum.

Depois disso me questionei. “O que devo ouvir para seguir o meu propósito? O que devo assistir? Que amigos devo ter?... Por onde devo ir?...” – E passei anos a ser radical, sem mesmo saber  porque limpava minhas veias internas, e dispensei amizades, de um dia para o outro, e comecei a ouvir clássicos... Eu queria enlouquecer em nome de algo que ainda não se formava em minha mente...

Assim, passado o radicalismo, percebi que a felicidade é uma planta que ainda vai nascer em nós. Vai ser robusta, verde, bela, e se tornará uma árvore com o tempo, não com radicalismos. E deixei se formar, em mim, as primeiras sementes, e até hoje rego, não todos os dias, mas, ao me lembrar, continuo, bem devagar, a sobrevoar meu futuro jardim, que um dia será tão belo e perfeito, quanto qualquer outro.

Mais tarde ainda, por meio de atos que me levassem a pensamentos que fortificavam meu ideal – de ser feliz – iniciei o verdadeiro processo de escolhas do que realmente eu queria para me fortalecer. Agora, não era aleatório. Eu sabia o que era ideal, sabia de suas nuances, de sua perfeição; começava entender que poderia fazer parte dele como a um ser dentro de uma grande engrenagem, como uma peça fundamental em meio a outras peças – todos nós.

E comecei a entender a sua essência, por meio dos mitos, dos deuses, desses que só eram prezados no passado, mas que são tão engrenagem quanto nós, em um universo tão maior quanto o nosso; porém, de algum modo, mostrou-me que somos um pouco deles.

A razão, essa faculdade de filtrar o que é justo ou não, estava em mim como uma ferramenta maior e melhor, trazendo do céu, a verdadeira música, a das musas, as quais se harmonizam, por meio da brisa fina e sagrada, com tudo que se move – árvores, humanos, flores, voos, estrelas, nuvens... Em uma dança jamais vista por algum homem, ou por ele apreciada.

E quando se está em Ideal, palavras são pronunciadas no sentido de trazer  o amor, a paz, a beleza, a fé no invisível, em Deus. Quando se está em ideal, amigos desaparecem, e amigos reais, coesos, tão fortes quanto irmãos, nos aparecem. É um período difícil, mas nos torna um pouco melhores, pois sabemos que o passado não estava errado no tocante ao que devemos ser.

Quanto ao que devo assistir, penso em filmes que nos elevam por meio de exemplos heroicos de homens que viveram por algo maior que eles, como a liberdade de uma nação; como um general que, apesar de tudo que tem, abre mão para salvar seu país. De épicos que nos fazem recordar o que devemos ser em humildade, em sabedoria, como se tentássemos buscar o que éramos antes do que somos hoje, homens de bem, porém sem finalidades.

E tento, por meio dessas águas, ser o que sou, sem abrir mão de minhas origens, nas quais penso sempre que acordo: um garoto pobre em tudo, e ainda me considero assim, com uma diferença apenas, rico por saber o caminho da felicidade.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O Mal fabricado

Viver, uma arte.


Anjo Caído. Em todas as culturas.



A natureza humana é bela por excelência. É divina. Todas as vezes que penso na vida como um todo, fico orgulhoso em participar desse manancial chamado Deus. Penso no universo, em seus ciclos evolutivos, nos movimentos de Manvanthara e de Pralaya, os quais na antiga Índia significavam ação e retração.

Por sermos humanos, no entanto, na maioria das vezes – ou como poderia dizer, sempre que possível acreditamos ser donos do mundo, do universo, e por isso, nos nomeamos deuses. Mas, mesmo os deuses, pelo menos aqueles que são citados por Platão, são elementos invisíveis que compõem a grande natureza, ou como diriam os estoicos, o Grande Espírito. Sem eles, não há Deus.

Alguns, por assim dizer, baseados em premissas divinas, tentam se conectar com o Todo, por meio de uma busca humana, quase divina. Tentam elevar-se, tornarem-se melhor, mas isso involuntariamente, de modo que olham para si mesmos e não se reconhecem como sábios – estes o são.

Por outro lado, após séculos no espelho racional da nossa história, voltado para baixo, o homem se torna parte de um jogo infindável da matéria, observando apenas o que está em sua volta, e tudo que simbolicamente é horizontal, ao ver da natureza. Não consegue olhar para cima, reconhecer quem ele mesmo é, pois não tem instrumentalidade para isso. E vem o mal.

O Mal, cuja característica é separar o homem de seus ideais, se torna evidências irreais, nas quais o homem acredita tal qual fosse parte dele mesmo. Nessa ilusão fria, surgem mitos, como o da Caverna; do Voo de Ícaro; do Espelho de Narciso, que o reflete nas águas, e quando se depara com ele mesmo... Morre.

O mito maior, no entanto, que predomina nas culturas, como todos sabem é do Anjo Caído. Segundo a própria bíblia cristã, Deus teria expulso um dos seus anjos do céu, e a partir daí, por vingança, este último faria mal aos homens. Enfim, nas culturas Maia, Hindu, Persa, Grega este mito se revela com esse teor, com essa particularidade de modificar a vida humana, por meio de suas ferramentas...

Explico. O próprio mal é uma necessidade, mas ao mesmo tempo induz o homem a caminhos tortuosos dos quais ele jamais pode voltar, na maioria das vezes. O mal, em si, não é um elemento natural do mundo, nos acontecimentos ou nas pessoas. O mal só é necessário quando possui características didáticas, ou seja, quando se pode tirar algo dele...

Ao me referir às guerras, às negligências, à preguiça, à distração, entre outros males fabricados, estou aludindo acerca de forças que nos retiram da retidão, de nossos caminhos. E o filósofo, em meio a uma sociedade de pedra, que não acredita em labirintos, em saídas por meio de mitos, de grandes homens que foram modelo de virtuosidade, e que conseguiram, apesar do pouco que tinham, realizar façanhas espirituais, desenha sua natureza, tentando com a maior delas se harmonizar, sendo humilde, honesto, disciplinado, virtuoso, e ao mesmo tempo, pai, filho e homem.


E, nós, meros filhos desse grande Espírito, na tentativa de compreender o Pai, nos empenhamos, assim nas pequenas coisas da vida, em seus mistérios, tentando nos aprimorar, além de manter o mal à distância. Desse modo, a face da felicidade estará em nós tão evidente quanto a nossa no espelho.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Crianças, heróis de hoje e de sempre.

Crianças, heróis do dia a dia.



Debaixo dos escombros de um prédio atacado pelos soldados sírios, ressurge uma criança, com aparência tão triste que nossas almas se arrependem de estar em um mundo no qual homicídio não é palavra de escolha, e sim de dor. Ali, em meio aos destroços, pessoas de bem, civis, se consomem em lamúrias, como se fosse o fim de um tempo que não precisa voltar.

E na África, em guerras civis, quando massacres são velados, sentimos que as guerras particulares são tão piores do que as que declaradas ao mundo. São milhares de corpos estendidos ao chão, massacrados, queimados, enterrados como cães, e na maior parte das vezes deixados às moscas... E em sua maioria, crianças.

Nelas, em tais guerras, o fuzil, que há muito fazia parte do soldado treinado, pronto para morrer, pois acreditava na política da guerra e exercia suas obrigações de soldado-cidadão, agora estava nas mãos de um menino, filho de alguém que o vendeu, ou levado à força por guerrilheiros suicidas daquela antiga África da qual não gostamos de nos lembrar.

No mesmo país, após as guerras coloniais europeias, muitos deixaram seus resquícios lamentáveis, e até hoje cidadãos sofrem com restos de minas explosivas, que, deixadas ao léu, mutilam ou matam. É a geração que já nasce com as consequências das bestialidades anteriores. E aqui, pequenos seres que nascem para exercer sua natureza em meio aos campos de trigo, ou na terra que lhes resta, são as maiores vitimas.

E o racismo?

Não há muito tempo, negros e brancos se matavam por identidades, e faziam isso dentro de ônibus, de casas, em praças, em terras férteis, nas quais a maior preocupação era o lugar onde poriam os pés, e não o que comer. Mas a miséria se estendia aos quatro cantos do mundo, se arrastando a países conformados, a maioria, não.

A notícia de mortes lentas, de uma guerra sangrenta, chegava do outro lado, mas não poderiam os países do ocidente, naquela África terrível, envolver-se de modo particular, assim como o fez os americanos do norte, em várias nações. Não poderiam dar um basta nas mortes, tomar o governo, incutir uma democracia, e sentir-se como herói.

O problema era mais embaixo. Ao sair do campo dos olhos dos países, a situação era pior do que se aludia, pois, após o termino da época dos massacres, a noticia de que crianças foram o principal alvo dos massacres revoltou o mundo....

Assim o foi e assim o será. Enquanto houver o sentimento bestial de guerras, crianças serão usadas como artifício final para a realização de tarefas horrendas. E não muito longe estamos quando deseducamos uma criança, mesmo porque, se sabemos o que é educação, por que não levamos a sério a concretização daquilo que acreditamos? Será que somos pequenos o bastante para entender que as guerras reais são apenas o produto elevado de nossa ignorância, e que não é preciso que ela exista para que possamos eliminar a possibilidade de uma criança ter seus direitos e obrigações?

Não podemos ser crianças, temos que fazer algo. Exercer nossos papeis de pais e de seres humanos, principalmente. Não nos contentar com a frialdade de um mundo que nos leva a pensar que está tudo bem, tudo certo, e que há programas educacionais em prol do pequeno que nasce e se revela um louco nas horas vagas...

Não podemos nos deixar levar pelas propagandas de artistas, jogadores, empresários que lucram sua imagem quando abrem a boca e dizem, “eu tenho uma instituição para crianças carentes”... É preciso que tenhamos em nós o que é educação, o que é cultura, o que é amor. Todos eles se fundem e se revelam em uma viga de aço quando unidos pelas mãos do homem que segue a tradição.

E quando me refiro à tradição, ponho-me aos pés das civilizações que um dia nos deixaram legados em todos os aspectos, de modo que, até hoje, somos agradecidos em realizar algumas tarefas que tenham algum traço, alguma forma, dos olhos do passado.

De volta ao passado

No antigo Egito, a criança já nascia voltada ao respeito direcionado ao monarca dono das duas terras – o faraó. Nele se concentrava a figura dos deuses que estavam, em essência, nos dia a dia dos pequenos. Para eles, a dedicação ao Egito, desde a tenra idade, era o maior dos prazeres; entender a função de cidadão e saber o que significava cada um dos deuses dentro dos mitos, era como se enraizasse, em sua alma, um pouco do homem-deus.

Na Antiga Roma, a grande república, crianças tinham suas amas, e por elas eram cuidadas com rigor e disciplina, o que era mais afincado quando crescidos e levados por pedagogos que tinham a obrigação de passar-lhes o que era, primeiramente, a ideia Roma.

A disciplina, a honra, e o amor a sua Senhora, como era conhecida, eram quesitos que se aprendiam como o ar que se respirava, pois isso todo o cidadão amava aquela cidade, amava seus heróis, e faziam o possível para que a criança se tornasse um.

Em Esparta, ainda que fosse em meio a um mundo cheio de guerras, já teria a singularidade de ser ou não um patriota das batalhas. Não poderia nascer com defeitos, pois, a depender da debilidade, seria morto. É claro, se fizéssemos hoje isso, seria assassinato, pois não somos uma civilização, não somos norteados por princípios de guerra, mas, mesmo assim, indiretamente, crianças são mortas ao nascer, por pessoas que têm medo de responsabilidades, e assim as jogam em lixos, em rios, etc. Não há propósitos claros.

Nesse mesmo país, a criança, a completar seus doze anos, teria que se iniciar, ou seja, passando por provas que antecederiam seus sentimentos em relação ao que iria encontrar nas batalhas. Era coisa de leão. Ou melhor, na maioria das vezes, tinham que enfrentar o olhar do touro, e se pestanejassem, não estaria pronto para a guerra – ou para o touro.

Educação Hoje

Longe se sermos uma potência em educação, confundimo-nos muito quando nos referimos a universidades, faculdades, cursos... como se fossem meios educativos. Não são. São meios informativos, os quais nos preparam para enfrentar um mundo externo, não interno. E deste mundo, viviam os generais, os faraós, na maioria das vezes, educados por escravos, os quais eram mestres iniciados. Alexandre,  grande, fora educado por Aristóteles; Marcos Aurélio, por Epiteto, etc. Estes homens não eram apenas generais, pois possuíam a real educação.

E hoje não temos noticias de que há professores que possuem relativo saber filosófico no sentido de ensinar qualquer pessoa, desde os doze ou quinze anos. Pelo contrário. Só temos noticia de que filosofia é bom depois de questionarmos as religiões atuais, mesmo assim ainda temos dúvidas acerca do que é filosofia.

Eu, em particular, se tivesse sido educado dentro desse manancial chamado Filosofia, teria, talvez, tido menos preconceito das nações, das pessoas, do mundo. Teria feito coisas maiores e melhores, teria sido mais decisivo nas horas mais dúbias.

Hoje, com o pouco que tenho, reflito sobre a soberba de um dia ter conhecido a Filosofia e sobrevivido entre pessoas que a detestam. Não importa. A cultura, depois disso, me abriu a mente, as possibilidades, me protegeu, me deu armas, e me fez, talvez, um pouco melhor.

E hoje, com um filho de cinco anos, tenho que ser mais meticuloso, nas horas em que lhe passo algo que, para os padrões de hoje, é execrável. Tento passar-lhe o amor ao país, à política platônica – de ter o bem e passar aos demais; ser aristotélico nas horas vagas, fazendo-o organizar seus brinquedos, deixando claro que cada coisa tem sua finalidade e seu local de origem; tento fazer-lhe entender as ações e reações de seus atos, pequenos ou grandes; e o mais difícil, lidar com seu instinto... E muito mais.

Vai ser uma jornada interessante.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Os Mundos de Hermes

Viver, uma arte



Deus Hermes. A descida do homem ao mistério.




É natural um ser humano ir ao fosso de suas possibilidades, é natural que ele se sinta às vezes sem o poder de lidar com as próprias forças, pois todas elas, a seu ver, já foram usadas na tentativa de não cair; contudo, lá estamos, presos, inertes, tentado entender o que nos ocorreu, para que pudéssemos ir tão fundo.

Na Antiga Grécia, um dos deuses que representavam esse estado era Hermes (ou Mercúrio, na visão romana). Deus olímpico, filho de Zeus e Maia, cuja função era ser mensageiro,  indo ao Hades e voltando, sendo guia das almas dos mortos para aquele reino. Essa, no entanto, é a função que nos interessa, mesmo porque ele possuía várias, entre elas a de ser companheiro e irmão de Apolo, o deus da unicidade, da música. Dizem até que fora assemelhado a Cristo, em sua função de intérprete do Logos...

Hermes, assim como todos os deuses, potencialidades naturais assimiladas em mitos, singularizava um universo do qual o homem se nega a participar para o seu próprio crescimento, evolução. Um universo que se estende do “Céu” ao “Inferno” como meios de lograr a espiritualidade humana e quem sabe a compreensão do Todo.

A humanidade precisa disso. Não há aquele que, por mais sábio que seja, que não tenha passado por ou estado em um lugar psicologicamente sombrio. Nós, em particular, não somos sábios, e nem o queremos, mas precisamos passar pelo nosso inferno, seja em qual nível for. Se levamos algo conosco, não sabemos; se aprendemos com ele, fica de cada um.

A questão, no entanto, vai mais além. Não reconhecemos, às vezes, que estamos no fundo e precisamos de evidências para tanto. Há outros, no entanto, que, mais radicais, não só veem como prova divina, como também querem ser santos no outro dia. Na maioria das vezes, o inferno se mostra como um pequeno estado de dor e lamentações as quais se revelam desagradáveis ao ver do sujeito, o qual desiste das provações e da vida.

Outras vezes, as provas são pequenas demais, como pequenos infernos cujas chamas nem mesmo se parecem com tais, e fica fácil dele sair; mas, na maioria das vezes, saímos, e entendemos, e por vaidosismo humano, ou ignorância, voltamos para um pior. A morte.

Nossos sentidos vão ao chão, e este se abre, e em nosso corpo, uma dor que não dói, mas que arde por dentro, semelhante ao que chamamos erosão rápida. Nossas mentes pesam ao ponto de nos deixarmos estáticos. As mãos, os pés, o coração, tudo se esquece de suas funções... E o pior de tudo. A alma vai ao inferno. Não conhecemos ninguém. Nossos ouvidos se lacram para as palavras de conforto, e desenhos no céu começam a se formar... Chegamos ao Hades.

E para voltar dele é preciso que tenhamos um ponto que reluz frágil, e a depender de nós, tal ponto nada mais é que nossas convicções, nossas filosofia, nosso idealismo em relação a algo maior e melhor. Assim, como Hermes, nossas pequenas asas, presas aos pés, iniciam seu voo, de volta à origem – seja ela psicológica ou não. É preciso entender o lado sombrio do Hades e o lado luminoso do Olimpo, os dois, em nós, tão perfeitos e reais, pedem que nos harmonizamos com eles, e tenhamos as consciência de que não há uma vida somente de céu, mas também não só de inferno.

Hermes, essa consciência grandiosa que vai ao dois mundos, faz seu papel assim como fazemos o nosso materialmente. E nós, que galgamos os dois mundos, o material e o espiritual, temos, em cada âmbito, o céu e o inferno.

Iniciados

Os grandes homens, os iniciados, por exemplo, como os faraós, para quem já leu obras nas quais detalhes há sobre suas iniciações, sabe que nenhuma é gratuita. Todas elas possuem seu preço. Quer dizer, se se quer chegar ao espirito, ou pelo menos à compreensão dele, se aproximando dos deuses, passa-se, primeiramente, pelos deuses dos infernos – na escuridão, no perigo vital, e logo após,  sobe-se, eleva-se, iluminando-se.

Outro exemplo que devo citar é o de Sidarta Gautama, o buda, quando saiu de seu castelo quando todos dormiam, e fora em busca da sabedoria – das respostas do mundo. Mais tarde, embaixo de uma grande árvore, envelhecendo, passou por infernos internos nos quais deuses do mal e do bem se digladiavam pelo seu nome.

O mesmo ocorreu com Cristo, no deserto, quando se despedira provisoriamente dos seus discípulos para conversar com Deus. Lá, passara por provações, por desafios, nos quais o diabo era o coadjuvante na tentativa de reverter seus princípios. Contudo, em sua Vontade, o filho de Deus o espantou e só fora atentado um pouco antes de sua crucificação. Mesmo assim, ele venceu.

Logus

Em nosso Logos, o humano, não tem outro meio de reconhecer quem somos, sem que tenhamos que passar por dificuldades. Marco Aurélio, o estoico, já dizia, “só acontece com cavalo coisas inerentes ao cavalo”, enfim, o que ele quis dizer é que correr de nossas naturezas, por mais difícil que seja, não há como. Temos que correr riscos, passar por eles, vivenciá-los, senti-los de perto, ou como diria um professor, “sentir o cheiro da morte de perto, para que a tenhamos como uma realidade!”.  Eu fico com o general filósofo, mais uma vez, “Se a morte te sorrir, sorria para ela!”.


Não somos iniciados tais quais os grandes do passado, mas nos sentimos um pouco a cada dia na resolução dos pequenos e grandes problemas diários. Querendo ou não, crescemos no confronto diário com os monstros internos e externos. Hermes está dentro de cada um a fazer seu papel diário, de levar seu recado ao mundo mais sombrio do homem; tem a função de lidar com o próprio Hades, de salvar o mundo; de nos fazer conectados com os dois aspectos da vida. E quando ele chega do submundo, sorridente, com a prova de que é apenas algo tão natural quanto o ar que respira, ele representa o homem sábio.

Para o sábio, não há o inferno, mas o mundo do mistério.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

À Sombra dos Degraus do Conhecimento

Viver, uma Arte.


Degraus que nos seguem.


"Se pretendemos encontrar a Deus, já o temos em nossas possibilidades"
L.C.


Homens não nascem sábios, não aparecem do nada e começam a fazer discípulos antes de seu nascimento. Há séculos, antes do aparecimento de Cristo, quando profetizavam a tua chegada, reis acreditavam que assassinar crianças poderia frear a vinda daquele ser tão especial. No entanto, quando veio ao mundo, depois de ter passado pelas intempéries de seu surgimento,  o iniciador do Cristianismo teve que passar, logo mais, por diversas fases naturais, tal qual um ser humano normal. Estudou, educou-se, trabalhou, e quando chegou aos doze anos... Pum! Ninguém sabe o que houve. A Bíblia não diz. Nesse ponto não houve normalidade...

É possível que tenha ido para uma escola especial. Muitas obras acerca de Cristo dizem que ele viveu entre essênios, uma comunidade pacífica na qual se ensinava leis tradicionais acerca do universo, do comportamento humano, e do espirito. Algumas outras dizem que, nesse época, assim como os filósofos Pitágoras, Platão, Anaxágoras, Anaxímenes, entre outros,  Cristo fora para o Egito – mas aí, teria que ter sido com uma idade mais avançada – enfim, iniciou-se por lá.

O que quero dizer é que, se temos propósitos, nos aferremos a ele. Se possuímos uma estrela que brilha intensamente desde a tenra idade, por que deixá-la se apagar com opiniões, reverberações simples, de pessoas que preferem seguir outros caminhos? A verdade é que, hoje, o mundo, ao contrário do mundo passado, tornou-se uma coletividade de opiniões baseadas em preceitos modernos, retos, estanques, sem qualquer ligação com o passado.

É claro que temos que nos perguntar qual é o nosso propósito. Ser materialista, seguindo pessoas com frialdades internas, ou termos uma base, seguindo uma harmonia que a tanto o homem no passado seguia, e graças a ele ainda temos algo a buscar...

Um dia alguém me disse... “Se você quer economizar e comprar um carro, seja qual for, você pode, você o tem”. E, “Se você procura o sol, de alguma maneira, você já se sente iluminado..., então, quando buscamos a Deus, já o temos, aqui dentro, em nossos pensamentos, corpo, e por que não dizer em algumas de nossas práticas?”...

A escolha é nossa. Os degraus estão em nossa frente, a escadaria é grande, talvez até maior que as outras que vimos em nossas vidas, porém se nossos passos nos levam para cima, sentimos em nossos corações se estamos no caminho correto, não importa a velocidade. Aqui, talvez, cabe a história da lebre e a tartaruga, em que a lebre, em uma corrida, por ser a mais rápida, acredita piamente que chegará antes do pequeno, lento, porém correto e sábio amigo. No fim, todos já sabem: a tartaruga vence.

Na maioria das vezes, queremos ser espirituais da maneira mais fácil, isto é, já estando no topo da escadaria – aqui cabe a história dos pequenos pastores cristãos que não têm nada a oferecer, e mesmo que não tenham uma experiência mínima, querem ditar as leis do livro sagrado às pessoas mais simples, porém mais sábias que ele... – e nada mais. A lebre venceu e nada sabe sobre as regras da corrida.

A regra nos diz que há leis a serem obedecidas. Desde o mais infinito até o mais material do ser, há leis. Passamos por elas, realizamos nossos desejos, nos inclinamos a outras, mas nunca deixamos de viver um pouco do que os deuses deixaram desde a primeira manifestação. Desde o ser mais materialista ao mais espiritual, não há como deixar de perceber que somos e estamos envolvidos em algo que nos diz que, se agirmos, teremos uma reação de igual poder a nosso favor ou contra; não há como negar que há uma lei imaginária que se estende em todos os sentidos – tanto horizontal quanto vertical – e que violá-la consiste em duvidar dela, e ao mesmo tempo personaliza-la, como o fizeram até hoje, a criar deuses pessoais – ou um deus pessoal.

Não somos donos da verdade, pelo contrário. Até o mais sábio dos homens disse que nada sabia! Somos inclinados ao Bem, à Verdade, à Beleza. Somos humanos que tentam harmonizar-se com o simples, e nele encontrar os elementos que nos fazem felizes. Somos feios, errados, até meio radicais, mas nossa intenção é entender a beleza da vida, encontrar os caminhos certeiros e sagrados que nos elevem internamente, e mais, temos, por natureza, que sermos fortes, pois pessoas há no mundo que escolhem o desprezo, a dor, a animalidade, a loucura, o fanatismo religioso sem questionamentos; há pessoas que não amam, ou distorcem o amor, e viver na inércia de um mundo que roda em nome da grande lei.

Termino com uma máxima de um homem que batalhou a vida toda debaixo de flechas, e dentro dessas grandes batalhas, aliou o seu amor ao próximo, por meio de uma filosofia tão maior que a própria ignorância dos homens de hoje, tanto que sua obra, escrita sob os ataques inimigos, sobrevive depois muito tempo...

Se a vida lhe oferecer algo melhor que a justiça, verdade, sabedoria e coragem – em outras palavras, melhor que a paz que vem do agir conforme a razão ou em acordo com o destino quando os eventos estão fora de seu controle – se, como eu dizia, a vida lhe oferecer qualquer coisa melhor que isso, acolha-a com todo o seu coração e goze-a plenamente”..

Marco Aurélio.





A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....