quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O Mal fabricado

Viver, uma arte.


Anjo Caído. Em todas as culturas.



A natureza humana é bela por excelência. É divina. Todas as vezes que penso na vida como um todo, fico orgulhoso em participar desse manancial chamado Deus. Penso no universo, em seus ciclos evolutivos, nos movimentos de Manvanthara e de Pralaya, os quais na antiga Índia significavam ação e retração.

Por sermos humanos, no entanto, na maioria das vezes – ou como poderia dizer, sempre que possível acreditamos ser donos do mundo, do universo, e por isso, nos nomeamos deuses. Mas, mesmo os deuses, pelo menos aqueles que são citados por Platão, são elementos invisíveis que compõem a grande natureza, ou como diriam os estoicos, o Grande Espírito. Sem eles, não há Deus.

Alguns, por assim dizer, baseados em premissas divinas, tentam se conectar com o Todo, por meio de uma busca humana, quase divina. Tentam elevar-se, tornarem-se melhor, mas isso involuntariamente, de modo que olham para si mesmos e não se reconhecem como sábios – estes o são.

Por outro lado, após séculos no espelho racional da nossa história, voltado para baixo, o homem se torna parte de um jogo infindável da matéria, observando apenas o que está em sua volta, e tudo que simbolicamente é horizontal, ao ver da natureza. Não consegue olhar para cima, reconhecer quem ele mesmo é, pois não tem instrumentalidade para isso. E vem o mal.

O Mal, cuja característica é separar o homem de seus ideais, se torna evidências irreais, nas quais o homem acredita tal qual fosse parte dele mesmo. Nessa ilusão fria, surgem mitos, como o da Caverna; do Voo de Ícaro; do Espelho de Narciso, que o reflete nas águas, e quando se depara com ele mesmo... Morre.

O mito maior, no entanto, que predomina nas culturas, como todos sabem é do Anjo Caído. Segundo a própria bíblia cristã, Deus teria expulso um dos seus anjos do céu, e a partir daí, por vingança, este último faria mal aos homens. Enfim, nas culturas Maia, Hindu, Persa, Grega este mito se revela com esse teor, com essa particularidade de modificar a vida humana, por meio de suas ferramentas...

Explico. O próprio mal é uma necessidade, mas ao mesmo tempo induz o homem a caminhos tortuosos dos quais ele jamais pode voltar, na maioria das vezes. O mal, em si, não é um elemento natural do mundo, nos acontecimentos ou nas pessoas. O mal só é necessário quando possui características didáticas, ou seja, quando se pode tirar algo dele...

Ao me referir às guerras, às negligências, à preguiça, à distração, entre outros males fabricados, estou aludindo acerca de forças que nos retiram da retidão, de nossos caminhos. E o filósofo, em meio a uma sociedade de pedra, que não acredita em labirintos, em saídas por meio de mitos, de grandes homens que foram modelo de virtuosidade, e que conseguiram, apesar do pouco que tinham, realizar façanhas espirituais, desenha sua natureza, tentando com a maior delas se harmonizar, sendo humilde, honesto, disciplinado, virtuoso, e ao mesmo tempo, pai, filho e homem.


E, nós, meros filhos desse grande Espírito, na tentativa de compreender o Pai, nos empenhamos, assim nas pequenas coisas da vida, em seus mistérios, tentando nos aprimorar, além de manter o mal à distância. Desse modo, a face da felicidade estará em nós tão evidente quanto a nossa no espelho.

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