Retire-me, se puder. |
Artur, assim como os grandes avatares, representava a Terra,
o Universo. Em momento de Manvanthara movimento de ação, do rei, tudo era
passivo de mudança. As flores se abriam, o sol se levantava, os pássaros esvoaçavam
sem parar, as nuvens se abriam, a fé dos homens voltava. Por isso, o mito
arturiano se parece muito com o de Cristo. Não somente. Há outros, até mesmo
budistas, os quais se parecem com este mito, principalmente quando da partida de Artur após a guerra... Em muitas culturas, assim como o rei, esperam a volta do seu avatar.
Em movimento de Pralaya, quando universo entra em retração,
a natureza esfria; as flores não se abrem, os pássaros se escondem, o sol não
nasce, os homens se corrompem e são corrompidos; as trevas misteriosas refletem
em cada passo, em cada gesto da natureza...
Enfim, pede-se a luz, pede-se que a alma universal volte, se
torne maior e forte, reluzente, com um sol eterno, no qual a figura do grande
rei jamais deixará de brilhar. É o cálice sagrado, que está ao lado do rei, e
não se encontra; é a simplicidade e espiritualidade dos homens que, embora
esteja ao seu lado, não se vê, pois a cortina do desamor e da guerra está
fechando os olhos dos homens de bem...
Contudo, apenas um homem pode levar os seres da terra a enxergar
o sol novamente, apenas um homem-deus, assim como outros que o foram, tem o
comando, a beleza de ver o que está dentro do próprio homem. Artur. E na
empreitada de encontrar nas terras destruídas, assim como em universos vazios,
o sentido da vida, envia seus homens, cavaleiros sagrados, nascidos para serem
os braços e pernas de um rei que ainda não acordou graças às injustiças do
mundo, criada pelo humano...
Seu maior cavaleiro, Lancelot, feito sob media desde criança
para assegurar sua divindade na terra, está descrente, e corre o mundo em nome
do nada, da dúvida que o assolou, da corrupção que fora mais forte, da paz que
o abandonou. No entanto, criou à sua imagem um escudeiro que por sua vez se
tornou tão fiel a Artur quando o primeiro.
A sabedoria do grande escudeiro, graças às experiências
colhidas nas terras sem fim, o fez entender (iniciar-se nos mistérios) que
Artur era a ligação entre os homens e o Céu. Deu a Artur (homem) o cálice,
sabendo que este estava ao seu lado.
Assim, em nome de um mundo que precisa, por meio da grande
alma, o cálice, no qual continha a essência vital dos seres de bem – ou a
própria eternidade – Artur, agora divino, e seus homens, abrem a terra, abrem o
céu, e o universo, com a maior de suas estrelas, volta a pulsar.
Excalibur
Peça fundamental para compreensão do universo significaria a
retidão. Inquebrantável. Ninguém, nem mesmo o grande Artur, poderia usá-la para
o mal. E quando o faz, ela se quebra, mas volta pelo lado vertical – a rainha
do Lago – e volta a ser o Darma.
Quando fora colocada por Merlin na pedra, já existia. Fora
usada diversas vezes para fins escusos, no entanto, o místico homem fizera com
que ela voltasse a ser símbolo natural e referencia dos homens. Quem a possuísse
teria o poder; quem a retirasse da pedra seria rei. E por ser a espada que
representava a leveza da Vontade e da Espiritualidade universal, não poderia
ser retirada por outros senão por Artur, ainda escudeiro, que, ao correr em
busca da espada desaparecida do irmão, a encontra presa na rocha.
Sem qualquer sentimento interesseiro, imaculado, puro,
embebido de espiritualidade e harmonia, Artur a tirou tão facilmente quanto
alguém que colhe uvas. Assim, os segredos do universo voltaram, a sacralidade
dos homens voltou; os olhos do universo se abriram, e a paz, tão complexa ao
ver dos ignorantes, se tornou o maior dos objetivos.
A Alma de Artur
Embora tenhamos força para mover o mundo, nos questionamos
sempre a respeito de coisas porque nossa alma pede. Uma alma que nunca se
sacia, por mais que conseguimos responder a maioria de nossas perguntas. Uma
alma que, embora tenhamos tudo, ou apenas o que queremos, vive a trabalhar em
sentido oposto ao que conseguimos, ou seja, nunca está saciada dos desejos
humanos.
Assim, como em vários mitos, entendemos que questionamentos
são poucos para a consecução de nossos fins, seja qualquer meio que usamos.
Estamos sempre com sede! E lemos, e lemos, e buscamos, e vamos atrás, e
choramos, e imploramos por mais sabedoria, e nada...
E descobrimos o cálice. Há muito pede para ser encontrado
ali do nosso lado – ou melhor, dentro de cada um de nós. Como um ser esquecido
que levava seus braços para o alto quando nos via, o cálice, aquilo que mais
subjaz em nós, se revela. Não há palavras para dizer o quanto nos sentimos – se
há sentimentos! – quando a peça principal das respostas aos segredos de Deus está
ao nosso lado...
Não há palavras. Sabemos, no entanto, que tudo se ilumina,
volta a ter cor e iniciamos um processo de paz interna que somente os grandes,
um dia, puderam iniciar. O cálice, para nós, é o conhecimento da tradição.
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