quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A Filosofia do Mito (final)

Retire-me, se puder.





Artur, assim como os grandes avatares, representava a Terra, o Universo. Em momento de Manvanthara movimento de ação, do rei, tudo era passivo de mudança. As flores se abriam, o sol se levantava, os pássaros esvoaçavam sem parar, as nuvens se abriam, a fé dos homens voltava. Por isso, o mito arturiano se parece muito com o de Cristo. Não somente. Há outros, até mesmo budistas, os quais se parecem com este mito, principalmente quando da partida de Artur após a guerra... Em muitas culturas, assim como o rei, esperam a volta do seu avatar.

Em movimento de Pralaya, quando universo entra em retração, a natureza esfria; as flores não se abrem, os pássaros se escondem, o sol não nasce, os homens se corrompem e são corrompidos; as trevas misteriosas refletem em cada passo, em cada gesto da natureza...

Enfim, pede-se a luz, pede-se que a alma universal volte, se torne maior e forte, reluzente, com um sol eterno, no qual a figura do grande rei jamais deixará de brilhar. É o cálice sagrado, que está ao lado do rei, e não se encontra; é a simplicidade e espiritualidade dos homens que, embora esteja ao seu lado, não se vê, pois a cortina do desamor e da guerra está fechando os olhos dos homens de bem...

Contudo, apenas um homem pode levar os seres da terra a enxergar o sol novamente, apenas um homem-deus, assim como outros que o foram, tem o comando, a beleza de ver o que está dentro do próprio homem. Artur. E na empreitada de encontrar nas terras destruídas, assim como em universos vazios, o sentido da vida, envia seus homens, cavaleiros sagrados, nascidos para serem os braços e pernas de um rei que ainda não acordou graças às injustiças do mundo, criada pelo humano...

Seu maior cavaleiro, Lancelot, feito sob media desde criança para assegurar sua divindade na terra, está descrente, e corre o mundo em nome do nada, da dúvida que o assolou, da corrupção que fora mais forte, da paz que o abandonou. No entanto, criou à sua imagem um escudeiro que por sua vez se tornou tão fiel a Artur quando o primeiro.

A sabedoria do grande escudeiro, graças às experiências colhidas nas terras sem fim, o fez entender (iniciar-se nos mistérios) que Artur era a ligação entre os homens e o Céu. Deu a Artur (homem) o cálice, sabendo que este estava ao seu lado.

Assim, em nome de um mundo que precisa, por meio da grande alma, o cálice, no qual continha a essência vital dos seres de bem – ou a própria eternidade – Artur, agora divino, e seus homens, abrem a terra, abrem o céu, e o universo, com a maior de suas estrelas, volta a pulsar.


Excalibur

Peça fundamental para compreensão do universo significaria a retidão. Inquebrantável. Ninguém, nem mesmo o grande Artur, poderia usá-la para o mal. E quando o faz, ela se quebra, mas volta pelo lado vertical – a rainha do Lago – e volta a ser o Darma.

Quando fora colocada por Merlin na pedra, já existia. Fora usada diversas vezes para fins escusos, no entanto, o místico homem fizera com que ela voltasse a ser símbolo natural e referencia dos homens. Quem a possuísse teria o poder; quem a retirasse da pedra seria rei. E por ser a espada que representava a leveza da Vontade e da Espiritualidade universal, não poderia ser retirada por outros senão por Artur, ainda escudeiro, que, ao correr em busca da espada desaparecida do irmão, a encontra presa na rocha.

Sem qualquer sentimento interesseiro, imaculado, puro, embebido de espiritualidade e harmonia, Artur a tirou tão facilmente quanto alguém que colhe uvas. Assim, os segredos do universo voltaram, a sacralidade dos homens voltou; os olhos do universo se abriram, e a paz, tão complexa ao ver dos ignorantes, se tornou o maior dos objetivos.


A Alma de Artur

Embora tenhamos força para mover o mundo, nos questionamos sempre a respeito de coisas porque nossa alma pede. Uma alma que nunca se sacia, por mais que conseguimos responder a maioria de nossas perguntas. Uma alma que, embora tenhamos tudo, ou apenas o que queremos, vive a trabalhar em sentido oposto ao que conseguimos, ou seja, nunca está saciada dos desejos humanos.

Assim, como em vários mitos, entendemos que questionamentos são poucos para a consecução de nossos fins, seja qualquer meio que usamos. Estamos sempre com sede! E lemos, e lemos, e buscamos, e vamos atrás, e choramos, e imploramos por mais sabedoria, e nada...

E descobrimos o cálice. Há muito pede para ser encontrado ali do nosso lado – ou melhor, dentro de cada um de nós. Como um ser esquecido que levava seus braços para o alto quando nos via, o cálice, aquilo que mais subjaz em nós, se revela. Não há palavras para dizer o quanto nos sentimos – se há sentimentos! – quando a peça principal das respostas aos segredos de Deus está ao nosso lado...


Não há palavras. Sabemos, no entanto, que tudo se ilumina, volta a ter cor e iniciamos um processo de paz interna que somente os grandes, um dia, puderam iniciar. O cálice, para nós, é o conhecimento da tradição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....