segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O Equilíbrio de Deus

Platão, apontando para cima; Aristóteles, para baixo: equilíbrio entre o céu e a terra..
   



Muitos ainda se questionam ainda o porquê de a Justiça, seja ela de tribunais, de mitos, de contos, ser representada pela balança. O que nos vem à cabeça de pronto, é claro, é o equilíbrio relativo a algo baseado em premissas humanas. Não, não é. É vero que não estamos errados em nossos pensamentos, mas, com certeza, estamos um tanto quanto longe de entendermos o que é que deve ser explanado a respeito do Equilíbrio que a balança simbolicamente representa.

Ainda ontem, quando fui a um templo religioso, juntamente com minha esposa e filho, e ao contrário dos presentes, fui refletir acerca do ano que se passou. Muitas coisas se passaram em minha mente, mas uma ficou: o equilibro do universo. Acho que entrei em uma atmosfera aristocrática com platônica, terminei com máximas budistas em minha cabeça...

Mas por que fui a um templo refletir sobre o equilíbrio do universo?? – sei lá! Sei apenas que me ocorreu de pensar em sorvetes quando caem, de águas que caem de copos, de gritos humanos quando estão fartos de injustiça, de dores que não cabem mais no âmago do ser humano... Tudo transborda. E ali, ao vir semelhantes a pedir e clamar a Deus mais paz, senti que, dentro de cada pessoa, há um equilíbrio a ser sanado..

Meu coração nessa hora ficou estático... Se eu estava ali, unido aos homens de bem, a pedir mais paz à minha família, de alguma forma, eu tinha que equilibrar o que em mim pedia para tanto... E assim, descobri o porquê do inicio de meus pensamentos em relação ao Equilíbrio universal.

Aristóteles e Platão

Discípulo de Platão por vinte anos, Aristóteles no legou mais pensamentos científicos do que filosóficos (no sentido platônico), porque, não sei vocês, mas, todas as vezes que nele penso, viso a uma na estrutura universal organizada, como um todo, de modo que, quando percebemos as estrelas, sempre vamos vê-las como um grupo organizado, viciado, preso a uma lei maior da qual, sol, cometas, planetas estão intrinsecamente embutidos.

Isso materialmente. Mas Platão, mestre iniciado, ao contrário de seu maior discípulo, ultrapassa a razão material e encontra u´a outra estrutura, a do Mundo das Ideias, do qual a primeira estrutura, nada mais é que a sombra da primeira, ou seja, o invisível seria tão concreto quanto o segundo, mesmo porque o que vimos, ainda que seja  em grande escala, ou que leve séculos para perceber, tem seus dias contados.

O invisível, que dá a forma a tudo, a árvore primordial, nascida de cabeça para baixo, como diriam os hindus, além das águas Primordiais, das quais nascem as vidas em forma de almas, e delas as primeiras moléculas e que por sua vez se reestruturam por meio de átomos... viria a ser o responsável pelo equilíbrio.

Enfim, o pensamento foi longe.

Mas percebi que todo ele – o grande universo, o cosmo, a Lei, o Brahma, em sua totalidade, nos refletem o Equilíbrio não perceptivo, o Equilíbrio não pessoal, a reta ação, o Darma. E ainda que exista o Karma, leis de ação e reação, universal, é preciso entender que o “lixo cósmico” é feito por escolhas naturais, sem que saibamos o porquê.

Em nosso meio humano, no entanto, na busca intrínseca por tentar entender o porquê de nossos problemas, não percebemos que a realidade acima de nossas cabeças nos revela a maior de todas as realidades, a que há dentro de nós... É por isso que Sócrates diria, “Conheça a Ti Mesmo e conhecerás a Deus e o Universo”... E ao vir o grande Protágoras dizer, “O homem é a medida de todas as coisas”, ele refuta, dizendo, “Deus é a medida de todas as coisas (não o homem)!”.

Por isso, Sidarta, antes de ser Buda, se iniciou quando ouviu o violeiro dizer ao filho, “se as cordas estiverem frouxas, não vão tocar; se estiverem esticadas demais, vão se arrebentar”. E, dentro desse episódio, toda a filosofia budista foi criada.

O sorvete

E quando damos passos além de nossas pernas; quando elevamos vozes além do possível; quando vociferamos com alguém; quando nos sentamos de qualquer maneira e começamos a nos sentir mal; quando a própria luz em demasia nos cega; quando o escuro nos dá medo; quando “voamos em direção ao sol”, ou “quando miramos demais a terra” – assim como Ícaro. Quando nos sentimos deuses ou quando nos sentimos o pior dos seres... Quando encontramos a paz facilmente, ou mesmo quando guerreamos por nada... E quando o sorvete cai...

Não se vê árvore alguma dando frutos em demasia; não se vê o sol nascendo ou se pondo em lugares alternativos; não se vê a criança hipócrita, sorrindo ou chorando por má fé. Não se vê a andorinha pescando, como homens, a espera do peixe certo; não se vê o cavalo reivindicando soldo, e sim o homem. Como diz a bíblia Cristã, o pássaro, ainda tão menos importante que o homem, não precisa cozinhar, fritar ou plantar sua comida... O equilíbrio do homem seria o trabalho?

O equilíbrio humano existe e é real. E sentimos isso na morte, na doença, nos males que nos afligem a alma; na necessidade de buscar respostas internas, externas, na compreensão do Amor maior, da compaixão humana, no perdão sem sentido, na energia que traspassamos sem saber; nos abraços eloquentes, nos excessos da personalidade, na frialdade dos maus, na elevação do homem bom... Na existência do Mestre.

Em tudo.


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