sábado, 9 de maio de 2015

A Mulher Sábia (ii)




E uma das filhas em pranto, tão morena quanto à matriarca, não sabia o que dizer, mas se viu diante das circunstâncias em fazer-lhe a última pergunta. E fez:

- Mãe, agora mais do que nunca, sabemos que não teremos a senhora como parte física de nossa família, mas tere-mo-la como uma estrela firme em nossos corações que jamais se apagará ainda que de dia, como esse sol que nos açoita agora. Mãe, por isso e por mais que sejamos fortes, olharemos ao horizonte e choraremos a sua partida, e quem sabe, ódio desse barco que nos vos retira tão friamente; não me lembro de tanta angústia, como a que passo agora, mas sei que, em mim, faltar-me-á seu alento... Por isso, minha querida e eterna mãe, responda-me a mim, essa que tanto vos questionou acerca de meus inflamáveis problemas... O que farei sem ti?

- Minha querida filha do meio, és a justeza em pessoa, e por isso sabes o que fazer, por mais difícil que o tempo é, senão o fosses não estaria tão forte nesse momento mais do que a sequoia do Norte, mais que a pedra que ornamenta a mais alta pirâmide do alto Egito. Não temais. Por onde passarei, vais passar como ninguém mais o fará, pois estarás se preparando para o início da nova vida.

- Quanto ao que farás, eu digo, minha bela filha. Vais buscar em seu casamento a força para recriar seu mundo; buscarás em teus filhos a renascença oculta em seus olhos, o brilho em suas inteligências, por meio da sacralidade em suas palavras de mãe. E quanto ao seu esposo, vos digo, não deixei que sua natureza esteja perdida, nem mesmo que o desamor reine em tua casa, pois nesta és a rainha de teu rei, teu esposo.

- Não se esqueça, jamais estarão desunidos, mesmo porque o universo se integra em vós, como fios ocultos por meio de atos e palavras de perdão e amor. 

E não faltaram mais lágrimas aos próximos que falariam. E nesse rio de partida, um dos homens se fez ouvir, e como se fosse um rei perdido, queria entender o porquê das dores que nada ensinam a ele, e que, em vez de o fazerem forte, naquele instante, sentia-se tão frágil quanto uma criança.

- Mãe, agora que não estarás entre nós, graças ao grande Navio que chega ao cume daquela serra, vos pergunto... Fale de nossa dor, da nossa alimentação, de nossos filhos, e o que devemos fazer..?

A voz da mulher sábia recolheu-se um pouco, mas em tom maternal dirigiu-se ao filho, que baixava a cabeça como se não contivesse a amargura das palavras que viriam depois.

- Meu filho, hoje tu és um grande pai, um grande homem, um ser que jamais igualar-se-á nessa terra em que vos deixo. Sabes o quanto vos amo a todos, e sei o quanto aprendeste com esta; mas sabeis que aprendi tanto quanto vós a lidar com a vida, principalmente quanto aos filhos, com vocês. Foste meu expoente, desde o dia em que vos tive, e hoje, que vos deixo, irei tão feliz quanto o dia em que vos tive, pois ama os teus filhos tanto quanto vos amo. Mas não se esqueça, seus filhos são flechas de um arco, que és tu. E quando jogas tua flecha ao mundo, estás jogando o pouco do que és. E não se esqueça, filho, eu fui o arco que te jogou ao mundo.

Quanto à alimentação, vos digo que o mais importante, hoje e sempre, é o alimento  que vem do céu, no qual se cultiva a melhor das uvas, faz-se o melhor dos vinhos, e cultiva-se o melhor da família, que é o amor, o qual, sempre, será o responsável por semear a paz, o bem e a vida em sua alma.


A  sua dor é como a de todos, nem mais nem menos. Apenas não a use como a uma tartaruga que se esconde do mal em seu casco quando se tem perto dos olhos. Mantenha-se mais forte, mais irmão, mais família, e pai, e sua dor será levada pelas brumas da manhã, e se transformará no mais belo do sol.



continua.. 

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