E uma das filhas em pranto, tão morena quanto à matriarca, não sabia o que dizer, mas se viu diante das circunstâncias em fazer-lhe a última pergunta. E fez:
- Mãe, agora mais do que nunca,
sabemos que não teremos a senhora como parte física de nossa família, mas
tere-mo-la como uma estrela firme em nossos corações que jamais se apagará
ainda que de dia, como esse sol que nos açoita agora. Mãe, por isso e por mais
que sejamos fortes, olharemos ao horizonte e choraremos a sua partida, e quem
sabe, ódio desse barco que nos vos retira tão friamente; não me lembro de tanta
angústia, como a que passo agora, mas sei que, em mim, faltar-me-á seu
alento... Por isso, minha querida e eterna mãe, responda-me a mim, essa que
tanto vos questionou acerca de meus inflamáveis problemas... O que farei sem
ti?
- Minha querida filha do meio, és a
justeza em pessoa, e por isso sabes o que fazer, por mais difícil que o tempo
é, senão o fosses não estaria tão forte nesse momento mais do que a sequoia do Norte,
mais que a pedra que ornamenta a mais alta pirâmide do alto Egito. Não temais.
Por onde passarei, vais passar como ninguém mais o fará, pois estarás se
preparando para o início da nova vida.
- Quanto ao que farás, eu digo,
minha bela filha. Vais buscar em seu casamento a força para recriar seu mundo;
buscarás em teus filhos a renascença oculta em seus olhos, o brilho em suas
inteligências, por meio da sacralidade em suas palavras de mãe. E quanto ao seu
esposo, vos digo, não deixei que sua natureza esteja perdida, nem mesmo que o
desamor reine em tua casa, pois nesta és a rainha de teu rei, teu esposo.
- Não se esqueça, jamais estarão
desunidos, mesmo porque o universo se integra em vós, como fios ocultos por
meio de atos e palavras de perdão e amor.
E não faltaram mais lágrimas aos
próximos que falariam. E nesse rio de partida, um dos homens se fez ouvir, e
como se fosse um rei perdido, queria entender o porquê das dores que nada
ensinam a ele, e que, em vez de o fazerem forte, naquele instante, sentia-se
tão frágil quanto uma criança.
- Mãe, agora que não estarás entre
nós, graças ao grande Navio que chega ao cume daquela serra, vos pergunto...
Fale de nossa dor, da nossa alimentação, de nossos filhos, e o que devemos
fazer..?
A voz da mulher sábia recolheu-se
um pouco, mas em tom maternal dirigiu-se ao filho, que baixava a cabeça como se
não contivesse a amargura das palavras que viriam depois.
- Meu filho, hoje tu és um grande
pai, um grande homem, um ser que jamais igualar-se-á nessa terra em que vos
deixo. Sabes o quanto vos amo a todos, e sei o quanto aprendeste com esta; mas
sabeis que aprendi tanto quanto vós a lidar com a vida, principalmente quanto
aos filhos, com vocês. Foste meu expoente, desde o dia em que vos tive, e hoje,
que vos deixo, irei tão feliz quanto o dia em que vos tive, pois ama os teus filhos
tanto quanto vos amo. Mas não se esqueça, seus filhos são flechas de um arco,
que és tu. E quando jogas tua flecha ao mundo, estás jogando o pouco do que és.
E não se esqueça, filho, eu fui o arco que te jogou ao mundo.
Quanto à alimentação, vos digo que
o mais importante, hoje e sempre, é o alimento
que vem do céu, no qual se cultiva a melhor das uvas, faz-se o melhor
dos vinhos, e cultiva-se o melhor da família, que é o amor, o qual, sempre,
será o responsável por semear a paz, o bem e a vida em sua alma.
A
sua dor é como a de todos, nem mais nem menos. Apenas não a use como a
uma tartaruga que se esconde do mal em seu casco quando se tem perto dos olhos.
Mantenha-se mais forte, mais irmão, mais família, e pai, e sua dor será levada
pelas brumas da manhã, e se transformará no mais belo do sol.
continua..
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