sexta-feira, 1 de maio de 2015

O Invisível em nós




Antes de acordar ou de dormir, peço aos deuses que me situem em alguma de suas milhares de direções. Maaat, a deusa de meu coração, representada por uma singela peça adquirida de uma loja de ornamentos antigos, faz parte de uma das várias de meu escritório, mas ela, somente ela, me faz repensar a Grande Consciência, a Inteligência, a Ordem Maior, a Disciplina, a Justiça a que jamais temos como visualizar, perceber, sentir, mas, ao mesmo tempo, refletir acerca do que pretendemos, almejamos como seres idealistas que somos.

Minha oração, tão fria e ao passo tão corajosa, tenta alcançar a sinceridade da morte, ou melhor, a real sinceridade. E por falar nessa palavra, que vem do grego sincerus, significando "sem cera", pelo simples fato de algumas colunas, à época, quando ornadas de materiais específicos, eram deixadas ao vento, sem a cera que as polia... Elas eram sem cera, daí a palavra "sincerus", sincero... 

E quando me encontro em meio aos deuses clássicos, olho para cada um, reverencio um por um, e fecho os olhos, mas para Maat, minha Rainha, olho nos olhos, e sinto a necessidade de ir atrás de um pensamento correto, simples, sincero, que possa me religar a ela... E após a luta comigo mesmo, em busca do que posso a ela oferecer de pensamento, encontro, e percebo que tenho que ser mais leve, como a sua pluma, aquela que, simbolicamente (ou não...), era oferecida pelo Deus da Morte, o Chacal, ao morto, para pesar-lhe o coração na Grande Balança de Osíris, na qual, também, encontrava-se um coração, tão simbólico quanto, a representar ainda o peso da consciência humana, frente ao mundo, à sua encarnação de onde veio..

Observo que o peso da pena, que fica do lado oposto ao do coração, a ser pesado, será mais leve sempre. Maat, a Deusa do Equilíbrio, sabe que o homem terá mais encarnações a realizar, mas luta a se travar, mais formas de vida a desperdiçar, até conseguir um coração mais leve, que tenha sido sincero e ao mesmo tempo divino. Também percebi que a pena pode ser para o homem um grande referencial de consciência aqui e agora.

Mas o mal, esse devaneio concreto, que perambula na mente humana, e na maioria das vezes, fora dela, revela-se fiel aos seu papel. O que nos faz acreditar que somos fracos em nossas tentativas de realizar o bem. O bem, no entanto, em sua forma maior (Bem), aceita o mal como irmão natural, ou como diria Marco Aurélio, "Como os dentes inferiores que ajudam os superiores a mastigar", o que nos traz um certo  conforto...

Todavia, o medo infeliz de fazer nosso papel como idealistas reais, de um bem que nos espera, faz com que tememos e nos recolhemos diante de contextos que necessitam de grandes obras. Caso contrário, o mal, em sua perfeita teoria, se torna tão prático quanto nós. Daí, os filhos da deusa Violência com o deus da Guerra, unidos pelo mundo, a desfazer sonhos, a criar conflitos, a agredir inocentes, pois conseguira fieis tanto quanto o bem o fez.

Depois de meu ato místico, sonho com atos desconhecidos, nos quais sou protagonista, e desse sonho tenho medo, pois, quando temos um ideal, e dentro dele a mão da grande Deusa, sabemos que tudo é real, tudo que pedimos, que vivemos, realizamos, tem fundamentos sagrados e míticos, mas não compreendemos seu papel em nossas vidas, por mais que suponhamos ser. 

Mas a razão de sonhar, e sintonizar-se com algo que pode ser maior, pode ser bom. Pois os deuses estão  no seu rastro, em sua mente, em seus sonhos. E você, esse ser que acreditava só nas brumas de um mundo sem respostas, encontra-se, agora, dentro de sonhos -- o sonho dos deuses -- nos quais deve realizar passos fundamentais em favor do grande Bem.

Meu coração, a partir de sempre, esteve no caminho da Deusa, mas também estivera em dúvidas quanto ao que se referenciava, pois sou muito obtuso em relação ao que é real ou não é. E hoje, vejo que o real não é o que podemos ver, sentir, mas o que não vemos e o que não sentimos. E se o sentimos, é com a parte superior de nossas almas, não dos nossos desejos mesquinhos de ter ou não ter. Não é pedindo, implorando, sendo eloquente em nossas orações. e sim, em nossa sinceridade,,, Aquela que um dia fez parte de nossas vida em pequeno, quando nem mesmo nome tínhamos.

Em minha busca ingênua, vi que Deus existe acima de nossas possibilidades, mas ao mesmo tempo em nossas pequenas e frágeis realizações. nas quais sintonizamos, pelo pouco que somos e temos, e teremos. Descobri que precisamos enxergar  o vazio em nós, em nossas pobres almas, nas quais morre o que pretendemos e o que somos, ou que pretendemos ser. Ou seja, muito morrem acreditando que  mais importante é ser o que é, sem entender o que realmente é, apenas com premissas baseadas em personalidades brutas e outras menos.

Para finalizar, queria dizer que precisamos de algo mítico que nos religue aos deuses, para que compreendamos nossas raízes das quais viemos. E, para mim, viemos do céu, e nos apaixonamos pela terra. Temos que voltar a amar o céu.


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