quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Pensemos em Deus

Sou fã de leituras clássicas, como todos sabem, e um dia desses, mais uma vez, me impressionei com um pequeno livro de uma grande escritora ocultista, a quem me refiro aqui, em meus textos, como uma que, apesar do seu tempo, tivera toda  a possibilidade se transformar em um ser normal ou não, como diria Caetano Veloso, mas preferiu não ser. Estou  falando de Helena Blavatsky, autora de vários livros maravilhosos acerca das religiões e ciências, entre eles A Doutrina Secreta, o mais conhecido... 

Entretanto, não queria falar dela ao longo desse texto e sim apenas comentar algo sobre o qual aludiu acerca de Deus, em uma frase que ela mesma diz "ao acordar, em seus primeiros minutos, pense em Deus". Devota de Platão, filósofo grego, sábio, Blavatsky tinha um pensamento um tanto quanto controverso em relação aos demais teólogos modernos, os quais possuíam uma definição, assim como a maioria, a ver dela, deturpada em relação às divindades, então, quando dita essa frase, sabia que desafiava a gravidade.

Não importa. Se nos colocarmos ante às máximas, sejam elas da ocultista, sejam elas de vários homens do presente e do passado, a depender do contexto, podemos leva-las como referenciais, assim como placas que nos iluminam por onde quer que passamos. As placas de Blavatsky tinham um significado profundo, e essa, em minha opinião, é uma das quais devemos mais refletir, pois nos faz pensar, meditar, e nos colocar ante Deus. Não Aquele que possui poderes limitados e possui um inimigo eterno, tanto quanto ele próprio. Mas atos, comportamentos, pensamentos, energias internas, pensamentos direcionados, idealizados...

Blavastsky referia-se ao Todo, ao Parabrahan védico, Brahmam, hindu, o que para nós ficaria mais complicado, mesmo porque se trata de entidades, ainda que possuam nomes, não nos diz nada em nossa imaginação ocidental falha. E ela sabia disso também; então, posteriormente, em vários de seus livros, aos que neles estudaram, sabem que a ocultista nos deixava mais perto de solucionar nossos anseios em relação às nossas perguntas internas, pobres, mas incisivas.

Assim, nos fazia pensar em Deus quando em pequenos atos refletiam o que éramos, o que somos, e seremos sempre: humanos. Histórias nas quais heróis idealistas se fundam em batalhas nas quais mudam a maneira de pensar de um povo em relação à sua liberdade, ao seu comportamento ditado por ditadores, contos que falam de nossa semântica, de nossos ideais espirituais, assim como os mitos, eternizados pelos nobres sacerdotes do passado.

Se assim não conseguirmos, lembrar de ações presentes de homens que, com o pouco que têm, se revelam mais humanos do que outros que podem ser mais que estes, mas preferem não sê-lo. Não precisamos, no entanto, de nos esforçarmos tanto no sentido de "buscar" uma imagem que retrate ou contemple a imagem de Deus, pois estamos nele, somos um pouco dele, e nos revelamos divinos sempre que encontramos algo que nos faz melhor, mais humanos, mais rico internamente.

O Menino da Escadaria

Um dia, uma criança bem humilde, no pé de uma escada, ao longo de seu dia tão cansado, esperava alguém para lhe dar algo, alguma coisa para se comer talvez, porque naquele dia não comera nada. Em uma caixa pequena, semelhante à de sapatos, uma pequena manga que esperava comê-la no fim do dia senão houvesse outro jeito. 

Naquele mesmo lugar, descendo uma escadaria imensa, um figurão desses, que parecia mais um empresário pela maneira como se vestia, se aproximou mui rapidamente do menino, quase o atropelando, se escondendo em seu celular. O menino, no entanto, não perdera a chance de pedir um pequeno favor: um dinheiro para comida.

O suposto empresário, ao olhar para baixo, depois que se "livrou" do celular, foi logo dizendo, com a violência de um um homem desesperado para chegar em sua empresa montanhosa, ou ao seu carro do ano: "se manda, garoto, não tenho dinheiro aqui comigo! e eu também não almocei até agora. Portanto, não me venha me pedir mais nada".

Retirando a manga de sua caixinha, o menino a pegou, estendeu seu braço em direção ao homem e disse, "oh, moço, me desculpe, não quero que o senhor fique com fome, não. Tome aqui ó, essa manga que é minha, mas eu posso pegar outra lá, tá..".

O homem, lentamente, pegou a fruta, levou-a para si, e deu um pequeno sorriso. Devolvendo a manga, o empresário, agora mudo, correu para o seu carro de luxo, nele entrou e começou a chorar.

O que somos nós, para onde nós vamos e por quê? Pensemos nisso, pensemos em Deus.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Caminhos Apagados

A Ciência e a Religião já foram irmãs, compartilharam os mesmos ideais, observaram mais as estrelas e delas retiraram não apenas o sentido cósmico, mas principalmente o sagrado. Uma prova disso foi a época dos faraós, no Antigo Egito, mais precisamente na época de Ramsés II, o grande, que viveu mais de sessenta anos no poder. Muitos até hoje o consideram o "homem-deus" mais direcionado às suas funções políticas e religiosas entre todos os outros que já viveram. 

Houve muitos, entretanto, os quais seguiram a mesma linha, mas Ramsés, filho de Seth I, combinou inteligência, astúcia e sabedoria ao longo de sua História. E não era para menos, todos os dias de sua vida, tinha como meta o Sol, não o sol físico, ainda que o olhasse sem piscar durante horas, era o sol interno, cujos raios fazia questão de direcionar ao seu povo em forma de paz, força -- em nome de suas terras -- e conhecimento, baseado na tradição, que deixara o Egito a nação mais potente do mundo, não apenas estruturalmente, mas principalmente no sentido religioso da questão.

Após sua morte, outros homens que tentaram seguir seus rumos ante ao desconhecido não  o conseguiram, porque não eram iniciados assim como foi o "Filho da Luz", conotação advinda de seus filhos -- não biológicos, que eram mais de oitenta. Mas o que ficou, para nós, depois de séculos de indagações, foi a realização de seus feitos -- mal interpretados à luz de nossa consciência capitalista. 

Assim como todo homem sagrado, Ramsés levantou templos em homenagem aos deuses -- Amon, Ré e Ptah --, auxiliado por seus melhores homens nos quais tinha toda confiança, além de materializada a fé em seus corações. E por onde passava -- em suas viagens naturais de um bom governante que precisava plasmar sua fé nas potencialidades daquela civilização -- fazia questão de construir templos, e um deles, Abu Simbel, fora construído perto do Nilo, rio com o qual sonhava e com o qual se preocupava, pois era nele que seu povo se identificava.

Não iremos falar, no entanto, de suas obras, sobre as quais pairam contentamento, paz, poder e ao mesmo tempo sacralidade. Era a religião dominando aquele aspecto, de modo a todos se encontrarem e a se espiritualizarem, não graças à presença física de cada uma -- o que é importante -- mas sim ao que representavam. Pois os egípcios acreditavam que toda obra tinha uma finalidade celeste -- ao contrário de algumas, que mais tarde trouxeram descontentamento ao povo, mesmo porque os faraós já não eram mais os mesmos.

Hoje quando se fala em sacralidade, em obras gigantescas, nossa educação só nos permite refletir limitadamente e às vezes cientificamente acerca delas e de outras que quebraram o formato tradicional, buscando entender como fizeram, quem fez, para quê, e quando nos respondemos, não acreditamos e acabamos por ficar com o que temos: nada. Natural. A História humana foi bem desvirtuada de lá para cá, e não conseguimos explicar os mitos, a profundidade do objeto das nações clássicas, e por fim, nos distanciamos do sentido divino e humano com o tempo.

Hoje, a Ciência tenta entender a maldição das tumbas, o porquê que faraós eram enterrados debaixo das pirâmides, com a perfeição dos tijolos, com a centralidade cósmica de cada templo, e não entram em acordos com o lado religioso da questão, a qual fica a critério da Igreja, que trabalha com hipóteses mais engraçadas, mais impotentes, ao mesmo tempo com tanto afinco em suas convicções "inconvictas" que gerações se vão em caminhos feitos em grandes matagais, sem conhecer reais caminhos já feitos no passado.




quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Fábrica do Prazer

Não tem como não cair no modismo, nos prazeres materiais a que somos destinados a gostar desde a nossa primeira aparição no mundo... (calma, dá-se um jeito), não tem como fugir deles, assim como fugimos de pessoas que não nos agradam, e quando pensamos em fazê-lo, lá estamos, imitando aquele modismo, advindo de alguém ou de algum filme, novela, animação, entre outros, os quais são apenas teatros nos quais personagens imitando uma realidade copiada, e quando menos se percebe a realidade imita a "arte".

Nesse rabo de cachorro que não se alcança, nos aparece, para tangenciar, nossas reflexões -- pensamentos acerca do que estamos fazendo, para onde estamos indo, e na maioria das vezes, porque estamos fazendo aquilo... Como diria uma pessoa amada, a que tanto preso, "se os índios correm ao redor da fogueira com propósito, por que eu tenho que fazer tudo sem propósito?"...

Nosso único propósito, talvez, seria, naquilo que fazemos, imitamos, mesmo sem reflexões, é encontrar algo que nos dê prazer, ainda que não o encontramos. É estranho, é humano. Mas também é humano, tentar entender nossa natureza interna, tentar ir a fundo naquilo que somos, no que somos capazes, eficazes, se trabalharmos, nos dedicarmos e enfim saber o que estamos fazendo.

O modismo não nos ensina isso. Ele trabalha com sensações, com vontades mal direcionadas, embricadas de valores externos, inventados, sempre com finalidades materiais, físicas, mesmo que demos graças a Deus por conseguir chegar à metade do caminho humano. Ou seja, trabalhamos apenas a parte fácil, que almejamos desde que nascemos, como crianças insatisfeitas eternamente, mudando apenas o querer -- do carrinho de plástico ao sedan da moda, e deste ao jatinho, e daí por diante.

Para muitos, entretanto, é difícil, mesmo porque nosso sistema, esse que abarca os valores inventados, faz questão que tenhamos dificuldades na consecução de nossos bens e valores, justamente pelo fato de que não nos quer com os olhos voltados a nós mesmos, ao que realmente nos interessa, aos pequenos detalhes que fazem diferença no sistema inteiro, e que, se ao contrário for, vão nos taxar de loucos, de viciados, de talibãs...

E a fábrica de prazeres continua com sua grande finalidade em nos dar.... prazer, paixões, alegrias, aventuras, políticas, religiosidade máxima de deuses frios e violadores de princípios sagrados; continua o drama em ser o que somos, baseados em premissas mentirosas, oferecido pela mídia -- no "seja você mesmo" americanizado --, em terrenos em que eles mesmos não sabem nem meso pisar.

Um dia um mestre sábio nos ensinou a esquecer os sentidos de alegria, de paixão, de morte, de maneira que os aceitássemos como ondas que vão e que vem. Sabia, pois, esse mestre, iniciado debaixo de uma árvore na Índia, que todas as sensações que nos passa, se vão, assim como as ondas, que vêm, e que vão, eternamente. Assim, teríamos que agir de acordo com a nossa maior Vontade, aquela que nos impulsa ao ser interno, o indivisível, o oculto, a deixar, sem apego, compreendendo profundamente o papel de cada um em seu devido lugar, sem dar nomes, e ao mesmo tempo apreciando cada um, como pequenas estrelas -- detalhes que não nos ensinam a observar, desde a tenra idade. A paz reinaria por fim.




quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Coisas da Idade

Sei o quanto que são bobos meus comentários a respeito de minha vida, mas, às vezes,  acho singular determinado momento e gosto de compartilhar com alguém, sei lá, com você, leitor -- se é que alguém lê alguma coisa nesse blog!.. -- me colocar como um ser humano que se coloca diante de um espelho, assim como qualquer um que tem problemas, que passa por situações difíceis, as resolve, por meros detalhes, que, para mim, não são apenas detalhes, mas o que me move, devagar, ao meu ideal -- será que o tenho?

E uma das situações é aquela em que eu sempre me refiro à minha família, em especial ao filho, do qual sempre amo falar algo, me expressar da melhor maneira, a buscar palavras, ainda que não rebuscadas, porém, traduzem, ou tentam traduzir o que posso dele dizer. Nunca, jamais, de forma alguma, dizer que ele será igual aos demais em comportamento, em educação, em formação. A gente sempre espera que nosso filho seja um gentleman, ou como diria no passado, um cavalheiro de uma távola que virá com o rei Arthur, prontinho, a menear os diálogos. É o sonho dos pais -- o meu, posso dizer.

E de sonhos, dessas palavras inacabadas, eu vivo, persisto e inicio meu processo de criação, argumentação e busca por princípios que me tornam homem que um dia, quem sabe, me tornará um dos mais respeitados até então. Mas é pedir demais, é um sonhar demais, ao mesmo tempo não chega a ser uma quimera, pois o que argumentamos hoje pode ter uma grande finalidade amanhã, e percebo que pode até nos fazer mais práticos com relação à própria vida -- pelo menos a minha.

Talvez, não sei, devo esses devaneios aos livros que leio, aos livros que me fazem, ou tentam, me transformar pela sua fulgralidade ou mesmo complexidade, como é o caso dos livros de Platão; outros, no entanto, não causam tanto impacto, mas me deixam diluir meus pensamentos de forma natural, sem torturas diárias -- mas falham quando tento observar o ponto de vista alheio.

Por exemplo, quando leio livros como A República, de Platão -- já o li umas duas vezes! -- e não compreendo, percebo que racionalmente não se pode perceber o que se está entrelinhas, mas em nossos corações. Todas as vezes que chegamos ao final dele, não sabemos se damos viva pelo término ou pelo encerramento dessa grande obra, que fora feita com a pena de Maât*, com o vício dos anjos e com a sacralidade de todos os homens de bem: foi feita para os homens que buscam seus limites internos, que querem sanar suas respostas quanto ao Absoluto e entender a vida, não da maneira como a entendemos hoje.

E o que isso tem a ver com minha vida?... Não sei, mas o que me faz repensar meus valores ante a mim mesmo, à minha família e a Deus, com certeza, faz um grande efeito na alma de alguém. Outras obras me complementaram, mas todas elas, sempre de algum modo, revelaram cópias dessa última, a qual, repenso, penso, reflito, jamais terá algo melhor para se ler e quando eu morrer pedirei para colocá-la dentro da urna, para, se, caso necessário for, abrir os olhos lá embaixo...

Fúnebre, né?Mas é bom, de vez em quando brincar com a morte, mesmo porque se brinca o tempo todo com o que não conhecemos e relativizamos, assim como todas as divindades que foram frutos, no passado, até mesmo por Homero, de meras brincadeiras na construção de sua Ilíada e Odisseia, tornando-as quase humanas, dando, como dizia minha mãe, pano para manga aos diretores de Hollywood em transformá-las em um bando de heróis ou vilões, da forma como lhe convierem.

A verdade é que estou entro o céu e o inferno.
Em atitudes que nem sempre sei se são válidas ao Deus cristão e outras, entre os mestres do passado, eu me perco, me desconverso, porém, olho para o céu -- interno -- ao qual tento me referenciar, me direcionar, pensando nos diálogos entre mim e professores que me jogaram esse inferno chamado Filosofia, do qual jamais, jamais, graças a ela, deixarei de pensar como antes pensava. 

Um remédio, talvez? uma praga? uma dor ou um céu eterno? acho que depende de mim, de meus atos em relação àquilo que acredito, ou pelo menos penso que acredito, pois, agora, com a idade que tenho, tudo se revela de uma forma meio cientificista, racionalista, cheia de novas dúvidas quanto ao ser humano, a mim, e para variar... a Deus.

Será que estou ficando velho?

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Um Pouco do que Somos

Raras vezes pronunciamos a palavra 'amizade' com profundidade. O espírito dela, me parece, está se indo com o tempo, nos deixando enganados como crianças que aceitam qualquer conceito de qualquer palavra advinda dos pais. Amizade já foi um conceito filosófico, mítico, enraizado em preceitos nobres, puros, dos quais poderíamos aprender como ser um ser humano.

Sem raiz, sem preceitos, apenas com o intuito de sanar algumas horas de desconforto, hoje, amizade se revela mais um remédio de efeito passageiro do que uma coluna mestra em nossas vidas. A culpa não é das estrelas, e sim nossa. Com a correria do dia a dia, com tantos compromissos, com tantas loucuras a fazer, que, nesse ínterim, não pensamos em comungar ou fazer com que nossas vidas tenham sentido. A amizade é a essência da vida. Ela que nos faz ter sentido.

Para muitos, no entanto, é bobagem; é algo, inclusive, que não faz sentido, mesmo porque a religião já supre a parte que nos falta, até mesmo aquela ideia, aquele partido, aquele irmão, aquela...Mãe. Entretanto, quando refletimos acerca do que passamos, e lá no fundo necessitamos de alguém que não seja aquele ente conhecido que nos faz companhia diária... Pensamos em alguém, naquele ser que não somente se faz de irmão, de ente querido, mas comunga nossos valores, nossas ideias, e quando não o faz, sorrimos, discordamos, relevamos, e partimos para outra: isso não acontece com um familiar, principalmente com um irmão.

É preciso ter um amigo, não aquele que tapa o sol com a peneira, que nos faz sentir bem e vai embora, como samurais ronins, ao fim da tarde, após vencer uma batalha. Não. Precisa-se daquele ser que emana juventude ainda que seja idoso, que tenha o mínimo saber, mesmo sendo um mero jovem; precisa-se de suas parcas palavras, de seus princípios, de seu reflexo quando não está presente, pois um amigo, vô-los dizer, é um pouco do que falta em nós, ou como posso dizer, daquela parte que procuramos ou imaginamos nos aconselhando nas horas mais difíceis.

Amigo não é aquele que empresta dinheiro para sanar nossas dívidas, mas que nos empresta seu sorriso para que adentremos no dia com o pé direito; não é a pessoa perfeita, mesmo porque não o somos e levará centenas de anos que isso ocorra, e mesmo assim, quando um dia formos perfeitos, quando nos inclinarmos ao sol, todos os dias, nosso amigo não estará lá,

Então, com fins honrosos, com a força natural de um homem que temos, na busca fiel pelo amigo natural, que no-lo dará seu coração e sua alma, nos façamos amigo de alguém com tais características, dentro de nossa natureza, sem forçar, sem pedir, apenas por ser. E quando encontrarmos tais características, saibamos ouvir mais e com nossas palavras de algodão dar a dose suficiente àquele que necessita de mim, de nós.

Hoje, amigo, quando vos escrevo com as mãos de um mero agente da vida, penso naqueles pobres homens que, em redes de computadores, se revelam tristes humanos, pobres em espirito, por contar suas amizades baseadas em nada, ou menos que isso. Penso nos dias que virão, na humanidade que, sozinha, caminha, sem forças, sem ninguém.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Os Quatro Lados da Pirâmide

Quando se está fora dos trilhos, há de pensar não apenas de maneira individual, mas principalmente coletiva, ou mesmo  histórica. Não é de hoje que nos sentimos assim, como indivíduos obrigados sempre a algo, forçados por uma falsa liberdade que nos imprime condições naturais de um "cidadão", caso contrário nossos direitos, tecnicamente, nos são retirados, apenas pelo fato de adotarmos princípios que não sejam aqueles que divulgam na mídia ou mesmo em constituições que nasceram para "todos".

Tudo isso pelo fato de as engrenagens de uma sociedade não estarem em consonância com seus reais modelos, os quais foram, no passado, mais que modelos, foram colunas históricas que sustentaram nações clássicas, que olhavam para cima, no intuito de evoluir através de seus princípios.

No antigo Egito quando tinham em mente a pirâmide, plasmada de diversas formas em terra, sabiam que seus cantos equivaliam uma coluna da sociedade, e eram em quatro; e ao cimo dessa pirâmide, a cúspide, lá do alto, a revelar o objetivo de cada um, assim como algo maior, melhor, sagrado ou celeste.

O primeiro lado da base seria a Religião, meio pelo qual o homem comungaria seus aspectos internos com o mundo, com o sagrado e com Deus. Estaria voltado ao mais profundo mistério, dentro da mística em cada fase de sua vida, quiçá em tudo que faz; o segundo seria a Ciência que, ao ver do Uno, não seria esse vaidosismo todo, que estaria de encontro à religião, mas a seu encontro, mesmo porque, como ciência, também votar-se-ia à Verdade, ao descobrimento de universos, de meios pelos quais o homem unir-se-ia a ele mesmo; na Política, homens usariam de mística para unir-se ao outro, a Deus, não ao relativo, ao materialismo, não ao espúrio comportamento vigente; seria o homem político aquele que vivenciaria a sabedoria, torna-la-ia prática, vivenciaria os mitos e traspassaria ao próximo... 

A última coluna a Arte, modelo que nos inspiram o Belo, não a debilidade humana, como dores de cabeça, conflitos armados ou não, retratados como se fossem a construção de uma sociedade mostro. O papel da arte é tão importante quanto  o do resto, mesmo porque ela incita a busca pela beleza interna, a qual nos dá a chance de iniciar a externa, por meio de belos poemas, belas falas, pensamentos, e ao nosso comportamento ante ao mundo e a Deus.

Enfim, a cúspide nada mais seria o ideal natural de todos os princípios de todas as quatro bases que a ele buscariam e nela se encontrariam. E nós, homens, com nossos princípios, devemos tentar visualizar uma pirâmide dentro de nós, construir e nomear os seus lados, fazê-los, intuitivamente, buscar a cúspide, ou como diria nosso filósofo Platão, o nows em cada um, com vista a alcançar o maior deles, o qual, mais tarde, fora visto como face sagrada de Deus.

Hoje

Hoje, as quatro base estão distribuídas, sem conexão, não estão presas, ou presas pela opinião, ou separadas por ela, não se sabe. Sabe-se apenas que a grande responsabilidade de uma evolução histórica em cada nação foi esquecida, largada pelos homens modernos, seus vícios, os quais geraram mais vícios e a cada um foi dado o nome... Religião, Política, Ciência e Arte...

Enquanto o homem não olhar para cima, enquanto seus olhos estiverem moldados apenas à base e suas confusões horizontais; enquanto a verticalidade não vem, podemos nos atrever em meio a essa confusão e nos precipitar a iniciar uma pequena busca pela verdade, pela beleza, pela harmonia, pela paz, pela compreensão, pela caridade, pelo amor...





Até segunda!


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Fora dos Trilhos

Estamos chegando às eleições, e os lençóis do racionalismo exacerbado, a cada dia que passa, nos cobre, nos sufoca como edredons em dias de calor. Falas, pensamentos, ideias se propagam de maneira como gafanhotos em pé de feijão, desfazendo nossos sonhos ou mesmo pretensões de um dia melhor.

Cheia de candidatos frios, quando não, com sorrisos férteis, como palhaços em festas infantis, os quais, sem vocação, ainda fazem alguns incautos se alegrarem, se levantarem e até dançarem sua musiquinha. Sempre o mesmo.

Talvez a analogia melhor de tudo isso cabe a um filósofo moderno que sempre teve a tradição em suas mãos, assim como sementes belas, a serem jogadas em terras tão férteis quanto o dia em que nascera para tanto, e ele dizia... "Somos como passageiros de um trem ouvindo sempre aquele que quer ser o maquinista, mas, enquanto isso, o trem, desgovernado, trilha sozinho para um abismo que é certo que vai cair", e completa, "Não se importando com o caminho, muitos falam em demasia, outros, com luxúria, mas nenhum com vocação para nos trazer de volta ao trilho".

Já nosso filósofo preferido, Platão, já questionava o sistema semelhante ao nosso junto a seus pares, "o que você faria se  o capitão de um navio falecesse, e nesse navio houvesse uma eleição para trazer de volta o comandante? como seria escolhido esse novo capitão? Com a maioria dos votos, ou pelo amor à profissão?"-- uma crítica ao sistema, que havia sacrificado seu mestre Sócrates, o qual veementemente trazia ideias luminosas a um mundo em que a escuridão já era o manto dos tolos.

Não é preciso, entretanto, ser sábio para entender ou tentar entender as pretensões dos homens atuais com relação mundo de hoje, dentro de sistemas nos quais ele se sobressai, com seus interesses nada humanos. A prova está em nosso cotidiano, quando se configuram estatísticas terríveis mesmo em países de Primeiro Mundo: corrupção, desleixo na saúde, na segurança, na educação, ou seja, sempre em colunas básicas em que se escora a humanidade.

Não há outro meio senão... votar, ou tentar alimentar esperanças em homens que falam demais, prometem demais, nos alimentam com seus pseudo-sonhos, nos arrebanham como animais em pastos, nos colocando dentro de quintais psicológicos dos quais não saímos, até nos tornarmos iguais a eles -- caso contrário, vamos para o abate.

Se iniciarmos o mínimo de pensamento quanto ao que fazem ou pelo que podem nos fazer; quando nos questionamos acerca de nós mesmos, e partimos para outro produto além daquele que nos dão diariamente; quando deixamos de lado a medalha mentirosa da vitória fácil; quando nos inclinamos a falar em conhecer a si mesmo, sem sistemas, sem combinações sócio-religiosas, ou quando sorrateiramente pegamos nossas cognições e como Shakespeare a dizer, "ser ou não ser, eis a questão", no nosso caso, "entrar ou não no pasto, eis a questão", somos observados e taxados de qualquer ser, menos de humanos... Os valores se inverteram propositalmente graças aos racionalismo político..

Se tivéssemos em mãos o conceito prático de Política, almejaríamos ser um pouco de suas características: Platão, no mito da Caverna, diz que o político é aquele que sai da caverna, descobre o sol -- o Bem --, sabe que estava errado junto aos seus irmãos, mas volta para dizer que a Verdade não é aquela que vemos, mas algo mais profundo e inimaginável. 



segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A Diferença que Salva

Já percebeu o quanto estamos enganados quando às nossas ideologias? Sejam elas partidárias, religiosas, capitalistas, terroristas, cultas ou não?... Se olharmos para trás, todas elas possuem uma influência muito grande com o passado, com aquilo que um dia norteou grandes nações, entretanto, nunca moveu nenhum fio de cabelo de barba do Santo. Será por quê? Talvez porque jamais nos questionamos a respeito do que estamos fazendo, acreditando, nem mesmo sabemos para onde estamos indo, e isso nos faz nos redirecionarmos todos os dias, como se estivéssemos seguindo uma moda qualquer.

Temos que tomar cuidado. Temos que nos afiliar a ideias que nos concatenam com o coração, ideias que nos relacionam com o simples, com a face sagrada que se esconde dentro de nós. Parece piegas, mas é isso aí. A vida não perdoa quem está errado, não vacila quem se julga melhor com ideias mentirosas; a vida não possui um "back space", no sentido de nos fazer voltar ao passado e conserta-la, remodelá-la, aperfeiçoá-la. Não. É engano puro.

Porém, somos capazes de reconhecer que erramos, entender que caminhos tortos foram tomados, que a esquina não era esquina, que as placas que eu seguia eram erradas, e referenciar-me em algo que me transforma, me organiza como ser humano, ou seja, aquilo que me faz sentir orgulho de me ver no espelho e bater no peito e dizer, "estou vivo e tenho muito que semear". Tudo isso, no entanto, consciente de meus erros que foram grandes, que os buracos deixados no passado ainda são crateras com as quais terei que viver em minha alma, as quais serão difíceis tapar -- ou jamais serão.

Não é caso daqueles que fazem questão de andar pelas trilhas erradas da vida, ainda que não tenha mestre, que não tenha nem mesmo um irmão ou um amigo para ouvir ou dialogar, pois, acredita, a verdade é dele e de mais ninguém. A verdade, um dia li "A verdade jamais será alcançada pelos humanos", mesmo porque somos humanos, e a cada passo que damos para frente, nossos vaidosismo nos faz dar mais dez para trás. Assim como um montanhista que chega ao cume de uma montanha, somos nós, mas ao saber que estamos preparados para a verdade, um pouquinho que seja, escorregamos no abismo da relatividade, da opinião, do nada.

E por essas e mais outras que saber a diferença entre convicção e fanatismo está cada vez mais difícil, pois somos violados com tremendas loucuras cotidianas todos os dias, e as levamos para nossa formação de caráter como se fossemos crianças em meio a outras, apendendo a falar. Moldamos nossos filhos a partir desses valores, defendemos com unhas e dentes o modernismo impiedoso, reformulando palavras para encaixar modelos do passado, como loucos com armas a defender o homicídio total.

A convicção é a busca do somos, de ideias que nos elevam a Deus, que nos organizam internamente, a deixar rastros somente de amor e vida, caridade e paz. A convicção nos faz ouvir o próximo e o próximo nos ouvir; toda ela é um misto de humanidade e sacralidade, unidos em um território sutil, porém, para nós, majestoso, pois ali podemos ser o que somos, sorrir, assobiar, sem que matemos ideias de terceiros, ou que estes nos mate com suas ideias.



sexta-feira, 10 de agosto de 2018

O Labirinto da Juventude

Ao olhar as estrelas, organizadas fielmente no escuro do céu, penso na grande responsabilidade de todas elas. Ainda que, segundo dizem, algumas estão mortas há milhares de anos, pois seu brilho nos engana por trazer à tona algo que já foi, pois a estrela, a real, não existe mais... Estranho esse mundo no qual nasço, brilho, deixo raios em meio ao céu, morro, mas ainda continuo vivo na mente de muitos que, sinceros, dizem "Nossa, que estrela mais linda!".

É uma grande responsabilidade -- de estrela, e quem sabe, de ser humano. Sim, se observarmos bem, há uma metáfora, assim como em tudo que pautamos na vida como aprendizado, na vida daquela beleza que vai e vem, todos os dias, mesmo que o céu esteja nublado. Ela vai estar lá.

Entretanto, hoje, com a falta de responsabilidade em moda, não apenas em meios humildes, mas principalmente no meio "culto" onde empobrecem a sociedade com suas falas enraizadas de palavras ricas, porém sem destino, sem direção ou caminho -- tão pobres quanto o mundo em que vivem -- a visão real do que somos espelha-se no comportamento "livre", sem compromisso, com dependências emocionais, químicas, os quais, a cada dia, recuam ao seu real ideal: buscar a responsabilidade por meio de suas mãos, coração e mente, sem medo de dificuldades naturais de sua idade.

O que se percebe, no entanto, são jovens voltados ao útero da mãe, morando junto com seus progenitores. Segundo dizem, mães e pais não querem que sofram o mesmo que sofreram até então. As consequências são maiores do que o "amor" em trazê-los de volta ao ninho, pois não sabemos o que estamos fazendo, não sabemos o quanto estamos desmistificando a vida de nossos filhos, os segurando, como se fossem pequenos pássaros que não souberam voar e voltaram para o ninho; ou de pássaros que voaram e não souberam lidar com a floresta, com o céu, com a alimentação, pois eram alimentados no bico...

Temos que empurrá-los desde já, fazê-los reconhecer sua identidade, abrir as portas aos questionamentos que correm mundo a fora com vistas a descobrir quem somos nós -- ou quem são eles. Não ter medo de alimentá-los de esperanças e fazê-los correr atrás de suas próprias dificuldades, sim, pois não há meio termo quando somos levados ao mundo, ao precipício de emoções, de conhecimentos.

"leva-se muito tempos para ser jovem", diz a tradição. Aqui se esconde o mito do minotauro, que fora encontrado por Perseu, herói que, aprisionado pelo rei, teria que entrar em um labirinto e matar a fera. Ele, o mito, nada mais é que a busca pela juventude dourada, eterna, a qual buscamos internamente, sempre regada de muita responsabilidade, temperança, astúcia e coragem. Sim, é preciso mais que um corpo bonito, uma jovialidade natural que os deuses nos deram para ser realmente jovem; é preciso que traspassamos dificuldades, reais problemas, os quais nos ensinam que matar a fera do materialismo, da moda, do efêmero, do egoísmo é nosso ideal.

Se observarmos bem, dentro desse mito, somente os humanos podem entendê-lo e compreendê-lo a fundo, de modo a crescer e desenvolver potencialidades internas, com o intuito de desobstruir o mal em si, em meio a uma sociedade que caminha para  o lado incerto, ou ao contrário, pois, se há um grupo que sabe para onde vai, é possível que, com nossos enganos, estejamos indo de encontro ao que somos. 

Mas a probabilidade é ínfima, quando temos em mente essa desgovernança, a falta de líderes, de sábios que nos conduzam ao céu. Por isso, assim como em escolas do passado, onde grandes mestres nos ensinaram a falar pouco, a pensar menos ainda, além de enfrentar a idade, pois não aceitamos a velhice, quiçá a morte; onde a batalha era a maneira de enfrentarmos a nós mesmos na prática, e que guerras eram formas hediondas de desorganização humana, dentro das quais, no entanto, jamais recuamos,

E quando penso naquela estrela que se foi, porém nos deixa seu brilho quase por uma eternidade, reflito no que sou, na minha pequena, mas significante responsabilidade deixar, por meio desses textos, um pouco de ensinamento do passado, no qual talvez alguém possa encontrar uma arma e caminhar em nome da juventude perdida, encontrar seu minotauro, e saber que ele, de algum modo, é um pouco de você.




À minha esposa, que a cada dia está mais jovem. 
E hoje ficou um pouco mais jovem ainda.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Guerreiro do Norte: meu pai.

Sem tempo para brincadeiras, sem tempo para qualquer liberdade que o fizesse ficar em família, com suas esposa e filhos, meu pai, Luis João de França, seria um dos homens mais carrancudos da história, se não fosse ele um eminente trabalhador que viera de longe (Paraíba), com uma finalidade em comum à sua época, que seria, ao ver de todos, compor uma família, estabilizar-se, trabalhar honestamente e viver do que ganhava.

Com o porte de um paraibano forte, com uma clava do lado -- na verdade, uma madeira em forma de pau --, com uma jaqueta surrada e um relógio dourado da Citzen, ao lado de sua bicicleta incrementada, às vezes, em frente a uma escânea (tipo de caminhão), eu via meu pai como um daqueles que não quisera participar da vida do filho, porque não o interessava à época, e que era muito melhor ter um filho do que uma filha, simplesmente para trabalhar quando a profissão não coubesse mais nas veias, ou mesmo pelo cansaço.

Não cabia a palavra ética no que meu pai fazia, mesmo assim sempre o foi. Determinante, honesto, cheio de forças em seus longos braços, cabeça morena de tanto tomar sol nas ondas do lago Paranoá, onde dava suas mergulhadas invejadas por seus companheiros, os quais o chamavam de "Piaba", Luis, como o chamava minha mãe, dosou sua vida sempre muito bem, até o dia em que seus olhos começaram a virar para o lado do vício do copo que não parava de lhe satisfazer nas horas vagas.

O vício o agarrou, o deixou mais triste, pior, o deixou sem trabalho durante muito tempo, o que o fez traduzir isso em esquecimento de tudo, do mundo, e não mais viver em função de uma família que dependia de sua humildade, ainda que não soubesse. Nunca mais foi o mesmo.

Aos sessenta anos, teve paralisia interna, um AVC, que lhe acompanhara até o fim da vida, além do vício que o fizera incapaz de reorganizar-se, impor-se e tornar-se o Piaba, que um dia nos deu tantos referenciais. E posso dizer isso porque, querendo ou não, eu o amava, pois sempre que me vêm  à memória aqueles carros de rolimãs, feitos com caixas de madeira, sendo empurrado nas ladeiras pelos meus amigos, percebo que meu pai um dia pensou em mim, e meu amou um pouco. Já é o bastante.

Não posso exigir nada de um homem que viera do nada e não conseguira quase nada na vida em razão de seu pouco estudo, de suas falas grosseiras, de sua pouca amizade com as gerações que não nasceram para o trabalho: tipo eu e mais dua irmãs. Acho que os outros irmãos o tiveram mais como pai do que eu, pois pescaram, colheram em hortas, jogaram bola com ele, enfim, eram filhos de um pai que, como outros pais, lhe passaram autonomia, força e um pouco de firmeza nas horas mais difíceis.

Por isso dou graças a Deus o pouco que nele vejo, pois sei que foi muito mais do que vejo.

Todas a vezes que olho para um grande caminhão que leva e trás os produtos de uma empresa ou mesmo de uma construtora, me lembro dos dias em que o velho Piaba me colocava em uma naquelas caçambas e eu, sorridente ao mundo, agradecia a Deus por ser tão rico, pois me sentia livre em todos os sentidos.

Ao contrário de meus irmãos, que veem piada em todas as lembranças do pai, eu apenas o vejo como aquele que tentou nos trazer uma vivência simples, como diria meu filho, "frugal", sem mais patrimônios, sem as dores do passado, apenas  o caminho para o futuro, dentro de suas possibilidades, ainda que não soubesse disso tudo.







Um Abraço do Teu Filho, Guerreiro do Norte!
Onde quer que te encontres.








segunda-feira, 6 de agosto de 2018

A Caverna

Um dia um um grande mestre de filosofia nos disse, antes de partir para o Olimpo, "Mais fácil construir uma nave sozinho e lavar séculos até chegar à lua, do que conhecer a si mesmo". Claro que parafraseava a bíblia cristã no tocante filosófico, "Mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu", ou mesmo a Platão na voz de Sócrates, a externar o clássico, "Conheça-Te a Ti mesmo e conhecerás o Universo"...

Hoje falamos de sistemas, de como tentar lidar com suas artimanhas históricas, de seus devaneios junto às sociedades, da formação partidária e de suas ideologias. Esses dias ouvi de um candidato à Presidência do Brasil a reconhecer, "É muito partido e pouca ideologia!". Não só no Brasil é assim, mas a História nos fez montar um mundo assim confiante, baseado em premissas falsas, errôneas, sobre as quais amamos criticar, mas nunca refletimos acerca da verdadeira forma de governo a que os clássicos remontavam em favor do homem: é complicado, dizem.

Claro. O joguete do "perder e ganhar" nas entranhas humanas não deixa que tenhamos qualquer forma de mudança filosófica, no sentido mais humano que se possa tecer. Não. O que nos interessa aqui e agora é reclamar, ir às ruas sem líderes, quebrar bancas, gritar em nome de um povo mal representado dentro e fora de parlamentos, é sentir-se "politizado" em nome de ladrões e morrer de fome por ele...

Mal sabem que política nada mais é que um ato de inclinação à sabedoria, quando se a tem. É levar ao mundo, ou pelo menos ao povo, uma forma de conforto interno, de inclinação ao que somos: aos valores humanos! Não menos do que isso. A culpa, entretanto, não é nossa, não é daquele que se julga dono da situação, do momento, que, como palavras de efeito ou não, desestrutura uma elite, desmonta uma razão que prevalecia há centenas de anos. A culpa se estende à tendência humana em deixar se levar pelo feio, pelo injusto, pela vaidade e mentira, os quais, sem referenciais, são justos, sábios e verdadeiros.

Mal sabe este que "razão" não é apenas uma palavra que dá destaque àqueles que murmuram algo que tem se falado, seja em máximas ou ditados caipiras, mas muito mais uma religação com uma estrutura universal da qual o homem faz parte não como protagonista, e sim como um grão de areia que não tem medo de religa-se com o oceano vital.

E quando inciamos um processo de reflexão semelhante ao dos grandes mestres, parece que somos criminosos, homicidas, donos de organizações criminosas, filhos de pagãos que um dia queriam desfazer, a olhos ignorantes, um império cristão. Quando elevamos a voz e tentamos impor nosso real jogo, o jogo humano, do qual jamais sairemos, somos incitadores de violência espiritual, a tentar violar sistemas -- não o sistema -- pois nos remetem a pensadores que jamais fizeram algo pelo mundo, pela sociedade ou mesmo pelo povo, somos execrados.

A realidade que criaram, com premissas arcaicas, tão infantis, que se revelam ´fabulas do mal', são nada mais que mentiras que, repetidas inúmeras vezes, se tornaram verdade. Verdade do tipo, religião que possui a verdade, políticas necessárias ao povo, salvadores da pátria, ciência sem Deus, associações voltadas ao bem do povo, justiça em tribunais, legislativos legítimos, presidentes humanos, heróis da nação, etc.

Não precisamos ir muito longe para entender o porquê dos dissabores naturais nos quais caímos diariamente, nos quais nos inclinamos e asseveramos como reais à nossa vida. Simplesmente porque não somos voltados àquele pensamento de tentar, como nossas parcas ferramentas, nos conhecer melhor. Porque, mesmo sabendo que houve grandes homens que mudaram o mundo com seus pensamentos e práticas humanas, temos medo de mudar, de buscar o que somos, lá dentro de nossas almas, com fim de encontrar a nós mesmos.

Há vários exercícios internos para que possamos entender que toda estrutura humana necessita se elevar como humano, não como animal, pedra, planta ou mesmo animal político. E um desses exercícios é olhar para a vida como uma grande caverna e saber que todo pensamento que temos tem uma ligação com seu amo, então vamos tangenciar ao que chamam de política, religião, família, educação e criar nosso sistema natural, baseado em humanidade.

Quem é o amo dessa grande caverna?


sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A Riqueza do Hoje

Muitos falam do amanhã como algo que está para além de nossas vistas ou do depois de hoje; é correto, no entanto, dizer "amanhã vou ser alguém", "amanhã realizarei meus projetos", "amanhã você pode cair em uma cilada, se não souber lidar com as pessoas". Enfim, a palavra 'amanhã' não é mais vista como realizações que podem ser trabalhadas de hoje para amanhã... Parece que não temos mais tempo e sempre alongamos um processo que poderia ser concretizado aqui e agora, não no amanhã ou num futuro próximo.

Temos que treinar nossas atitudes, saber lidar com nossos projetos, os quais são pensados de forma que parecem um navio, de tão grande e extenso que são. De tão grandes, podem vir a quebrar antes que sejam feitos, simplesmente porque não pensamos direito, não o projetamos direito: cada peça deve ser pensada, cada parafuso, procurado, de modo que mais tarde não sejamos pegos pelas surpresas do vento forte que nele pode bater.

O amanhã pode nos trazer benefícios, mas a partir do momento que não temos planejamento próprio, temos apenas palavras, esperanças, sonhos, pesadelos, e uma série de debilidades a que nosso corpo e mente se sujeitam quando não conseguem lidar com o planejamento. Planejar é agir em pequenas coisas, como se estivéssemos realizando pequenos sonhos que estiveram em nossas prateleiras internas. Temos que praticar, trazer à tona, na terra, junto com nossos pés, o que temos em mente, ainda que por pouco se estabilizem. Brincar um pouco com o oculto, talvez.

O amanhã, como uma palavra que nos remete daqui a dez ou vinte anos, pode ser uma forma de engano sóbrio e às vezes até necessário, mas brincar com ela, sorrindo, como se tivéssemos todo o tempo do mundo, é brincar com os deuses, digo, com formas que nos esperam hoje, aqui e agora, para sanar o que se pode ser resolvido hoje, nesse minuto. O tempo não é nosso, mas podemos ser irmãos dele.

Quando vejo pessoas embaixo de pontes,  percebo que é um ser humano que poderia sair daquele meio, se levantar, procurar, dentro de suas possibilidades, melhorar seu meio, dando azo a outras possibilidades, enfim, não apenas a este, mas muitos que se encontram em camas, a espera do sol ficar um pouco mais forte para que possa procurar um emprego, se estabilizar, entretanto, ainda dormem, se enrolam em suas cobertas quentes, e ao acordar, sentem que ainda não dormiram o suficiente e voltam para a cama. 

A estes, cujo plano é um dia, no amanhã não muito próximo, melhorar sua vida, penso que a palavra amanhã sempre soará como um conforto, uma cama macia com a qual podem sempre contar. Esses, que ainda reclamam de uma família que não o apoia, de uma sociedade que não o vê como um guerreiro, e mais, reclama de um país que se arrasta para mais um abismo, graças a governantes que fazem questão de produzir pequenos galhos somente para eles, como se somente eles pudessem se salvar... Entretanto, não pensam que também tal governo nada mais é que um amontoado de planejamentos sem critérios, nos quais pessoas sem dedicação, sem amor ao país, sem personalidade, assim como aquele que dormia agora pouco, são os reais culpados pela dor de milhões.

Se tomarmos atitudes no sentido de entender que cada um de nós somos um país, que podemos nos autogovernar, cujo sistema não é democrático, mas ditador, nos sentido mais belo da palavra -- mesmo porque só conhecemos a ditadura com imbecis de farda -- no entanto, a natureza nos deu a força para que a realização interna, a partir de projetos internos, fosse não somente para o bel prazer de uma persona folgada, mas para o espírito que nos subjaz a alma, e nos enriquece a cada gesto em função dele.

E isso não é um projeto para amanhã, mas um ideal para o agora.


quinta-feira, 2 de agosto de 2018

A Paz em Mim

"Não existe um caminho para a paz; a paz é o Caminho", disse Gandhi, a grande Alma da Índia. Normalmente se pensa na paz como um meio pacífico de ser, de aceitação ao próximo e ao que ele nos oferece. A paz, essa que tanto buscamos, é tão complexa que não cabe em explicações subjetivas, nas quais eu acho ou você acha, mas uma busca perfeita entre mim e Deus, isso dentro de meio em que somente eu e Ele sabemos o que queremos e podemos fazer e ser.

É quase um conceito platônico de Justiça, quando o filósofo grego deixa nas entrelinhas que tudo depende na natureza e da capacidade de cada um para ser justo. A paz depende de ser e não de ter, depende da natureza e da capacidade que cada um tem em relação à sua existência e sua busca em relação ao sagrado, à Natureza como um todo. É um princípio complexo, por isso é belo.

Não se pode falar em paz arbitrárias, as quais sistemas comentam e tentar impor. Não. É preciso olhar para si mesmo, de modo mais simples, sem medo do escuro, refletindo sobre seus atos, suas palavras, seu modo de ser. Não olhar para trás com receio de cair naquela cratera que fora feita no passado e  que desfaz qualquer esperança quando com ela nos deparamos...

Não tenha medo da paz, ela faz parte de um daqueles valores naturais ao qual temos direito. Um daqueles presentes que esquecemos na prateleira do subconsciente, dado pelos deuses, quando iniciamos nossa trajetória humana. Sabemos, contudo, que as guerras, os conflitos, todos eles, de todas as formas, ainda nos afastam dessa palavra, nos arremetendo a abismos de pensamentos frios e negativos com relação às nossas pretensões a ela.

Tenhamos paciência. Ainda que haja batalhas, e por serem batalhas, todas elas um dia iram cessar, nos dar um fôlego, e assim, voltemos a pensar em algo que nos incline às divindades, quando não a nós mesmos, a questionar nossa alma, o que ela pretende, além de nosso espírito lírico, com o qual nos enganamos sempre que nele pensamos, enfim, pensar naquele cantinho idílico que tanto nossos filósofos gregos citam quando debaixo de chuva, na guerra, nos pequenos conflitos estão...

E nós, sem a coragem deles, choramos por tudo, corremos por tudo, e nos despimos de humanidade simplesmente porque machucamos a unha de um pé. O que me parece, por isso, é que não merecemos a paz, nem mesmo o sol, a chuva ou beleza da primavera. Mas estão sempre ao nosso redor, insistindo como crianças que sejamos nós, no melhor sentido da palavra, sempre dedicados a ideais que saibam conjugar e Beleza em sermos gêmeos à natureza, justos com o sol, repetidores como as estações e heróis que transcendem essa morte que chamam de vida.

Assim como os grandes falaram e buscaram a paz, em meio a guerras, a praticaram dentro de seus heroísmos, podemos, sim, com nossas poucas batalhas, nos inclinar, ou pelo menos tentar, a encontrá-la. Por que não?





quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Repetição para Evolução

Há dias que fico pensando... A natureza se repete? Não sei. Heráclito dizia que não nadamos no mesmo mar duas vezes. O filósofo pré-socrático, nesse sentido, expõe a sutileza natural das coisas em mudar o tempo todo sem que percebemos. Tudo muda, dizia. Nada fica estático e não há uma partícula no universo que não se estabilize como um árvore ao sol. Nem mesmo ela, segundo a doutrina, estaria parada em meio a tudo: nela, várias átomos estariam se modificando, e com o tempo, a matéria se mostraria aos olhos humanos.

E nossos atos, por que será que se repetem tanto? O que me passa pela mente é que temos uma natureza mutável, mas biologicamente. Internamente, nossas semânticas com vistas ao evolucionismo devem, por caráter, se repetir, mesmo porque não se repete aquilo que é perfeito, assim como nosso espirito. Fora dele, deve haver repetições.

Nossa personalidade, a exemplo, vive se debatendo com detalhes nos quais se sente um Ícaro, um Prometeu, um Narciso, mas na maioria das vezes um Hermes, deus que fora ao inferno e voltara para o Céu de Zeus, graças a problemas que dificultam a elevação da alma. Não é teórico o que digo, por mais poético que soe. Realmente repetimos, repetimos e repetimos... Assim como aquele que tropeça inúmeras vezes em uma pedra e não a tira do meio, e quando acontece é porque entendeu o sentido da vida.

Nossas pedras são nossos problemas? Não há como sabê-lo. Um dia um grande filósofo nos disse que, a partir do momento em que se nasce, já temos duelos a travar, vícios a derrubar, desejos ferozes a estabilizar, ou seja, nossa luta se inicia dentro de um mundo que vastamente conhecemos, porém dele nos esquecemos. Segundo a Tradição, nascemos com vistas a sermos melhores um pouco a cada encarnação, entretanto não temos condições naturais de lembrar do que aprendemos ou mesmo passamos na anterior, o que significa que, ao tomar consciência de nossos conhecimentos a priori, antes do fato em si, temos que buscar a iluminação, assim como pequenos budas.

Nesse contexto, dize-se que mestres que aparecem em épocas diferentes, assim como Zoroastro, Sócrates, Platão, Buda e até mesmo Cristo, entre outros do passado clássico, foram formas evolutivas humanas que chegaram ao ponto de realizarem-se sem a pretensão nossa de cada dia em serem melhores. Deixaram o simplório, em forma de palavras, ensinamentos teóricos, práticos, simbólicos, mitológicos, enfim, só não fizeram chover... Ou fizeram?

O que nos fica de ensinamento, no mais profundo do termo, é a repetição. É preciso, em nossa natureza humana, mítica ou não, que voltemos, tenhamos entendimento acerca do que somos, para onde vamos e porquê; é preciso repetir, assim como um grande professor, um guardião, como pensamentos que nos martelam, assim como tudo que é certo e sagrado para que possamos subir, evoluir e entender os questionamentos mais profundos do céu e da terra.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....