Estamos chegando às eleições, e os lençóis do racionalismo exacerbado, a cada dia que passa, nos cobre, nos sufoca como edredons em dias de calor. Falas, pensamentos, ideias se propagam de maneira como gafanhotos em pé de feijão, desfazendo nossos sonhos ou mesmo pretensões de um dia melhor.
Cheia de candidatos frios, quando não, com sorrisos férteis, como palhaços em festas infantis, os quais, sem vocação, ainda fazem alguns incautos se alegrarem, se levantarem e até dançarem sua musiquinha. Sempre o mesmo.
Talvez a analogia melhor de tudo isso cabe a um filósofo moderno que sempre teve a tradição em suas mãos, assim como sementes belas, a serem jogadas em terras tão férteis quanto o dia em que nascera para tanto, e ele dizia... "Somos como passageiros de um trem ouvindo sempre aquele que quer ser o maquinista, mas, enquanto isso, o trem, desgovernado, trilha sozinho para um abismo que é certo que vai cair", e completa, "Não se importando com o caminho, muitos falam em demasia, outros, com luxúria, mas nenhum com vocação para nos trazer de volta ao trilho".
Já nosso filósofo preferido, Platão, já questionava o sistema semelhante ao nosso junto a seus pares, "o que você faria se o capitão de um navio falecesse, e nesse navio houvesse uma eleição para trazer de volta o comandante? como seria escolhido esse novo capitão? Com a maioria dos votos, ou pelo amor à profissão?"-- uma crítica ao sistema, que havia sacrificado seu mestre Sócrates, o qual veementemente trazia ideias luminosas a um mundo em que a escuridão já era o manto dos tolos.
Não é preciso, entretanto, ser sábio para entender ou tentar entender as pretensões dos homens atuais com relação mundo de hoje, dentro de sistemas nos quais ele se sobressai, com seus interesses nada humanos. A prova está em nosso cotidiano, quando se configuram estatísticas terríveis mesmo em países de Primeiro Mundo: corrupção, desleixo na saúde, na segurança, na educação, ou seja, sempre em colunas básicas em que se escora a humanidade.
Não há outro meio senão... votar, ou tentar alimentar esperanças em homens que falam demais, prometem demais, nos alimentam com seus pseudo-sonhos, nos arrebanham como animais em pastos, nos colocando dentro de quintais psicológicos dos quais não saímos, até nos tornarmos iguais a eles -- caso contrário, vamos para o abate.
Se iniciarmos o mínimo de pensamento quanto ao que fazem ou pelo que podem nos fazer; quando nos questionamos acerca de nós mesmos, e partimos para outro produto além daquele que nos dão diariamente; quando deixamos de lado a medalha mentirosa da vitória fácil; quando nos inclinamos a falar em conhecer a si mesmo, sem sistemas, sem combinações sócio-religiosas, ou quando sorrateiramente pegamos nossas cognições e como Shakespeare a dizer, "ser ou não ser, eis a questão", no nosso caso, "entrar ou não no pasto, eis a questão", somos observados e taxados de qualquer ser, menos de humanos... Os valores se inverteram propositalmente graças aos racionalismo político..
Se tivéssemos em mãos o conceito prático de Política, almejaríamos ser um pouco de suas características: Platão, no mito da Caverna, diz que o político é aquele que sai da caverna, descobre o sol -- o Bem --, sabe que estava errado junto aos seus irmãos, mas volta para dizer que a Verdade não é aquela que vemos, mas algo mais profundo e inimaginável.
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