Ao olhar as estrelas, organizadas fielmente no escuro do céu, penso na grande responsabilidade de todas elas. Ainda que, segundo dizem, algumas estão mortas há milhares de anos, pois seu brilho nos engana por trazer à tona algo que já foi, pois a estrela, a real, não existe mais... Estranho esse mundo no qual nasço, brilho, deixo raios em meio ao céu, morro, mas ainda continuo vivo na mente de muitos que, sinceros, dizem "Nossa, que estrela mais linda!".
É uma grande responsabilidade -- de estrela, e quem sabe, de ser humano. Sim, se observarmos bem, há uma metáfora, assim como em tudo que pautamos na vida como aprendizado, na vida daquela beleza que vai e vem, todos os dias, mesmo que o céu esteja nublado. Ela vai estar lá.
Entretanto, hoje, com a falta de responsabilidade em moda, não apenas em meios humildes, mas principalmente no meio "culto" onde empobrecem a sociedade com suas falas enraizadas de palavras ricas, porém sem destino, sem direção ou caminho -- tão pobres quanto o mundo em que vivem -- a visão real do que somos espelha-se no comportamento "livre", sem compromisso, com dependências emocionais, químicas, os quais, a cada dia, recuam ao seu real ideal: buscar a responsabilidade por meio de suas mãos, coração e mente, sem medo de dificuldades naturais de sua idade.
O que se percebe, no entanto, são jovens voltados ao útero da mãe, morando junto com seus progenitores. Segundo dizem, mães e pais não querem que sofram o mesmo que sofreram até então. As consequências são maiores do que o "amor" em trazê-los de volta ao ninho, pois não sabemos o que estamos fazendo, não sabemos o quanto estamos desmistificando a vida de nossos filhos, os segurando, como se fossem pequenos pássaros que não souberam voar e voltaram para o ninho; ou de pássaros que voaram e não souberam lidar com a floresta, com o céu, com a alimentação, pois eram alimentados no bico...
Temos que empurrá-los desde já, fazê-los reconhecer sua identidade, abrir as portas aos questionamentos que correm mundo a fora com vistas a descobrir quem somos nós -- ou quem são eles. Não ter medo de alimentá-los de esperanças e fazê-los correr atrás de suas próprias dificuldades, sim, pois não há meio termo quando somos levados ao mundo, ao precipício de emoções, de conhecimentos.
"leva-se muito tempos para ser jovem", diz a tradição. Aqui se esconde o mito do minotauro, que fora encontrado por Perseu, herói que, aprisionado pelo rei, teria que entrar em um labirinto e matar a fera. Ele, o mito, nada mais é que a busca pela juventude dourada, eterna, a qual buscamos internamente, sempre regada de muita responsabilidade, temperança, astúcia e coragem. Sim, é preciso mais que um corpo bonito, uma jovialidade natural que os deuses nos deram para ser realmente jovem; é preciso que traspassamos dificuldades, reais problemas, os quais nos ensinam que matar a fera do materialismo, da moda, do efêmero, do egoísmo é nosso ideal.
Se observarmos bem, dentro desse mito, somente os humanos podem entendê-lo e compreendê-lo a fundo, de modo a crescer e desenvolver potencialidades internas, com o intuito de desobstruir o mal em si, em meio a uma sociedade que caminha para o lado incerto, ou ao contrário, pois, se há um grupo que sabe para onde vai, é possível que, com nossos enganos, estejamos indo de encontro ao que somos.
Mas a probabilidade é ínfima, quando temos em mente essa desgovernança, a falta de líderes, de sábios que nos conduzam ao céu. Por isso, assim como em escolas do passado, onde grandes mestres nos ensinaram a falar pouco, a pensar menos ainda, além de enfrentar a idade, pois não aceitamos a velhice, quiçá a morte; onde a batalha era a maneira de enfrentarmos a nós mesmos na prática, e que guerras eram formas hediondas de desorganização humana, dentro das quais, no entanto, jamais recuamos,
E quando penso naquela estrela que se foi, porém nos deixa seu brilho quase por uma eternidade, reflito no que sou, na minha pequena, mas significante responsabilidade deixar, por meio desses textos, um pouco de ensinamento do passado, no qual talvez alguém possa encontrar uma arma e caminhar em nome da juventude perdida, encontrar seu minotauro, e saber que ele, de algum modo, é um pouco de você.
À minha esposa, que a cada dia está mais jovem.
E hoje ficou um pouco mais jovem ainda.
Belas palavras tio!
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