Há dias que fico pensando... A natureza se repete? Não sei. Heráclito dizia que não nadamos no mesmo mar duas vezes. O filósofo pré-socrático, nesse sentido, expõe a sutileza natural das coisas em mudar o tempo todo sem que percebemos. Tudo muda, dizia. Nada fica estático e não há uma partícula no universo que não se estabilize como um árvore ao sol. Nem mesmo ela, segundo a doutrina, estaria parada em meio a tudo: nela, várias átomos estariam se modificando, e com o tempo, a matéria se mostraria aos olhos humanos.
E nossos atos, por que será que se repetem tanto? O que me passa pela mente é que temos uma natureza mutável, mas biologicamente. Internamente, nossas semânticas com vistas ao evolucionismo devem, por caráter, se repetir, mesmo porque não se repete aquilo que é perfeito, assim como nosso espirito. Fora dele, deve haver repetições.
Nossa personalidade, a exemplo, vive se debatendo com detalhes nos quais se sente um Ícaro, um Prometeu, um Narciso, mas na maioria das vezes um Hermes, deus que fora ao inferno e voltara para o Céu de Zeus, graças a problemas que dificultam a elevação da alma. Não é teórico o que digo, por mais poético que soe. Realmente repetimos, repetimos e repetimos... Assim como aquele que tropeça inúmeras vezes em uma pedra e não a tira do meio, e quando acontece é porque entendeu o sentido da vida.
Nossas pedras são nossos problemas? Não há como sabê-lo. Um dia um grande filósofo nos disse que, a partir do momento em que se nasce, já temos duelos a travar, vícios a derrubar, desejos ferozes a estabilizar, ou seja, nossa luta se inicia dentro de um mundo que vastamente conhecemos, porém dele nos esquecemos. Segundo a Tradição, nascemos com vistas a sermos melhores um pouco a cada encarnação, entretanto não temos condições naturais de lembrar do que aprendemos ou mesmo passamos na anterior, o que significa que, ao tomar consciência de nossos conhecimentos a priori, antes do fato em si, temos que buscar a iluminação, assim como pequenos budas.
Nesse contexto, dize-se que mestres que aparecem em épocas diferentes, assim como Zoroastro, Sócrates, Platão, Buda e até mesmo Cristo, entre outros do passado clássico, foram formas evolutivas humanas que chegaram ao ponto de realizarem-se sem a pretensão nossa de cada dia em serem melhores. Deixaram o simplório, em forma de palavras, ensinamentos teóricos, práticos, simbólicos, mitológicos, enfim, só não fizeram chover... Ou fizeram?
O que nos fica de ensinamento, no mais profundo do termo, é a repetição. É preciso, em nossa natureza humana, mítica ou não, que voltemos, tenhamos entendimento acerca do que somos, para onde vamos e porquê; é preciso repetir, assim como um grande professor, um guardião, como pensamentos que nos martelam, assim como tudo que é certo e sagrado para que possamos subir, evoluir e entender os questionamentos mais profundos do céu e da terra.
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