Sou fã de leituras clássicas, como todos sabem, e um dia desses, mais uma vez, me impressionei com um pequeno livro de uma grande escritora ocultista, a quem me refiro aqui, em meus textos, como uma que, apesar do seu tempo, tivera toda a possibilidade se transformar em um ser normal ou não, como diria Caetano Veloso, mas preferiu não ser. Estou falando de Helena Blavatsky, autora de vários livros maravilhosos acerca das religiões e ciências, entre eles A Doutrina Secreta, o mais conhecido...
Entretanto, não queria falar dela ao longo desse texto e sim apenas comentar algo sobre o qual aludiu acerca de Deus, em uma frase que ela mesma diz "ao acordar, em seus primeiros minutos, pense em Deus". Devota de Platão, filósofo grego, sábio, Blavatsky tinha um pensamento um tanto quanto controverso em relação aos demais teólogos modernos, os quais possuíam uma definição, assim como a maioria, a ver dela, deturpada em relação às divindades, então, quando dita essa frase, sabia que desafiava a gravidade.
Não importa. Se nos colocarmos ante às máximas, sejam elas da ocultista, sejam elas de vários homens do presente e do passado, a depender do contexto, podemos leva-las como referenciais, assim como placas que nos iluminam por onde quer que passamos. As placas de Blavatsky tinham um significado profundo, e essa, em minha opinião, é uma das quais devemos mais refletir, pois nos faz pensar, meditar, e nos colocar ante Deus. Não Aquele que possui poderes limitados e possui um inimigo eterno, tanto quanto ele próprio. Mas atos, comportamentos, pensamentos, energias internas, pensamentos direcionados, idealizados...
Blavastsky referia-se ao Todo, ao Parabrahan védico, Brahmam, hindu, o que para nós ficaria mais complicado, mesmo porque se trata de entidades, ainda que possuam nomes, não nos diz nada em nossa imaginação ocidental falha. E ela sabia disso também; então, posteriormente, em vários de seus livros, aos que neles estudaram, sabem que a ocultista nos deixava mais perto de solucionar nossos anseios em relação às nossas perguntas internas, pobres, mas incisivas.
Assim, nos fazia pensar em Deus quando em pequenos atos refletiam o que éramos, o que somos, e seremos sempre: humanos. Histórias nas quais heróis idealistas se fundam em batalhas nas quais mudam a maneira de pensar de um povo em relação à sua liberdade, ao seu comportamento ditado por ditadores, contos que falam de nossa semântica, de nossos ideais espirituais, assim como os mitos, eternizados pelos nobres sacerdotes do passado.
Se assim não conseguirmos, lembrar de ações presentes de homens que, com o pouco que têm, se revelam mais humanos do que outros que podem ser mais que estes, mas preferem não sê-lo. Não precisamos, no entanto, de nos esforçarmos tanto no sentido de "buscar" uma imagem que retrate ou contemple a imagem de Deus, pois estamos nele, somos um pouco dele, e nos revelamos divinos sempre que encontramos algo que nos faz melhor, mais humanos, mais rico internamente.
O Menino da Escadaria
Um dia, uma criança bem humilde, no pé de uma escada, ao longo de seu dia tão cansado, esperava alguém para lhe dar algo, alguma coisa para se comer talvez, porque naquele dia não comera nada. Em uma caixa pequena, semelhante à de sapatos, uma pequena manga que esperava comê-la no fim do dia senão houvesse outro jeito.
Naquele mesmo lugar, descendo uma escadaria imensa, um figurão desses, que parecia mais um empresário pela maneira como se vestia, se aproximou mui rapidamente do menino, quase o atropelando, se escondendo em seu celular. O menino, no entanto, não perdera a chance de pedir um pequeno favor: um dinheiro para comida.
O suposto empresário, ao olhar para baixo, depois que se "livrou" do celular, foi logo dizendo, com a violência de um um homem desesperado para chegar em sua empresa montanhosa, ou ao seu carro do ano: "se manda, garoto, não tenho dinheiro aqui comigo! e eu também não almocei até agora. Portanto, não me venha me pedir mais nada".
Retirando a manga de sua caixinha, o menino a pegou, estendeu seu braço em direção ao homem e disse, "oh, moço, me desculpe, não quero que o senhor fique com fome, não. Tome aqui ó, essa manga que é minha, mas eu posso pegar outra lá, tá..".
O homem, lentamente, pegou a fruta, levou-a para si, e deu um pequeno sorriso. Devolvendo a manga, o empresário, agora mudo, correu para o seu carro de luxo, nele entrou e começou a chorar.
O que somos nós, para onde nós vamos e por quê? Pensemos nisso, pensemos em Deus.
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