segunda-feira, 6 de agosto de 2018

A Caverna

Um dia um um grande mestre de filosofia nos disse, antes de partir para o Olimpo, "Mais fácil construir uma nave sozinho e lavar séculos até chegar à lua, do que conhecer a si mesmo". Claro que parafraseava a bíblia cristã no tocante filosófico, "Mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu", ou mesmo a Platão na voz de Sócrates, a externar o clássico, "Conheça-Te a Ti mesmo e conhecerás o Universo"...

Hoje falamos de sistemas, de como tentar lidar com suas artimanhas históricas, de seus devaneios junto às sociedades, da formação partidária e de suas ideologias. Esses dias ouvi de um candidato à Presidência do Brasil a reconhecer, "É muito partido e pouca ideologia!". Não só no Brasil é assim, mas a História nos fez montar um mundo assim confiante, baseado em premissas falsas, errôneas, sobre as quais amamos criticar, mas nunca refletimos acerca da verdadeira forma de governo a que os clássicos remontavam em favor do homem: é complicado, dizem.

Claro. O joguete do "perder e ganhar" nas entranhas humanas não deixa que tenhamos qualquer forma de mudança filosófica, no sentido mais humano que se possa tecer. Não. O que nos interessa aqui e agora é reclamar, ir às ruas sem líderes, quebrar bancas, gritar em nome de um povo mal representado dentro e fora de parlamentos, é sentir-se "politizado" em nome de ladrões e morrer de fome por ele...

Mal sabem que política nada mais é que um ato de inclinação à sabedoria, quando se a tem. É levar ao mundo, ou pelo menos ao povo, uma forma de conforto interno, de inclinação ao que somos: aos valores humanos! Não menos do que isso. A culpa, entretanto, não é nossa, não é daquele que se julga dono da situação, do momento, que, como palavras de efeito ou não, desestrutura uma elite, desmonta uma razão que prevalecia há centenas de anos. A culpa se estende à tendência humana em deixar se levar pelo feio, pelo injusto, pela vaidade e mentira, os quais, sem referenciais, são justos, sábios e verdadeiros.

Mal sabe este que "razão" não é apenas uma palavra que dá destaque àqueles que murmuram algo que tem se falado, seja em máximas ou ditados caipiras, mas muito mais uma religação com uma estrutura universal da qual o homem faz parte não como protagonista, e sim como um grão de areia que não tem medo de religa-se com o oceano vital.

E quando inciamos um processo de reflexão semelhante ao dos grandes mestres, parece que somos criminosos, homicidas, donos de organizações criminosas, filhos de pagãos que um dia queriam desfazer, a olhos ignorantes, um império cristão. Quando elevamos a voz e tentamos impor nosso real jogo, o jogo humano, do qual jamais sairemos, somos incitadores de violência espiritual, a tentar violar sistemas -- não o sistema -- pois nos remetem a pensadores que jamais fizeram algo pelo mundo, pela sociedade ou mesmo pelo povo, somos execrados.

A realidade que criaram, com premissas arcaicas, tão infantis, que se revelam ´fabulas do mal', são nada mais que mentiras que, repetidas inúmeras vezes, se tornaram verdade. Verdade do tipo, religião que possui a verdade, políticas necessárias ao povo, salvadores da pátria, ciência sem Deus, associações voltadas ao bem do povo, justiça em tribunais, legislativos legítimos, presidentes humanos, heróis da nação, etc.

Não precisamos ir muito longe para entender o porquê dos dissabores naturais nos quais caímos diariamente, nos quais nos inclinamos e asseveramos como reais à nossa vida. Simplesmente porque não somos voltados àquele pensamento de tentar, como nossas parcas ferramentas, nos conhecer melhor. Porque, mesmo sabendo que houve grandes homens que mudaram o mundo com seus pensamentos e práticas humanas, temos medo de mudar, de buscar o que somos, lá dentro de nossas almas, com fim de encontrar a nós mesmos.

Há vários exercícios internos para que possamos entender que toda estrutura humana necessita se elevar como humano, não como animal, pedra, planta ou mesmo animal político. E um desses exercícios é olhar para a vida como uma grande caverna e saber que todo pensamento que temos tem uma ligação com seu amo, então vamos tangenciar ao que chamam de política, religião, família, educação e criar nosso sistema natural, baseado em humanidade.

Quem é o amo dessa grande caverna?


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