segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Um Pouco do que Somos

Raras vezes pronunciamos a palavra 'amizade' com profundidade. O espírito dela, me parece, está se indo com o tempo, nos deixando enganados como crianças que aceitam qualquer conceito de qualquer palavra advinda dos pais. Amizade já foi um conceito filosófico, mítico, enraizado em preceitos nobres, puros, dos quais poderíamos aprender como ser um ser humano.

Sem raiz, sem preceitos, apenas com o intuito de sanar algumas horas de desconforto, hoje, amizade se revela mais um remédio de efeito passageiro do que uma coluna mestra em nossas vidas. A culpa não é das estrelas, e sim nossa. Com a correria do dia a dia, com tantos compromissos, com tantas loucuras a fazer, que, nesse ínterim, não pensamos em comungar ou fazer com que nossas vidas tenham sentido. A amizade é a essência da vida. Ela que nos faz ter sentido.

Para muitos, no entanto, é bobagem; é algo, inclusive, que não faz sentido, mesmo porque a religião já supre a parte que nos falta, até mesmo aquela ideia, aquele partido, aquele irmão, aquela...Mãe. Entretanto, quando refletimos acerca do que passamos, e lá no fundo necessitamos de alguém que não seja aquele ente conhecido que nos faz companhia diária... Pensamos em alguém, naquele ser que não somente se faz de irmão, de ente querido, mas comunga nossos valores, nossas ideias, e quando não o faz, sorrimos, discordamos, relevamos, e partimos para outra: isso não acontece com um familiar, principalmente com um irmão.

É preciso ter um amigo, não aquele que tapa o sol com a peneira, que nos faz sentir bem e vai embora, como samurais ronins, ao fim da tarde, após vencer uma batalha. Não. Precisa-se daquele ser que emana juventude ainda que seja idoso, que tenha o mínimo saber, mesmo sendo um mero jovem; precisa-se de suas parcas palavras, de seus princípios, de seu reflexo quando não está presente, pois um amigo, vô-los dizer, é um pouco do que falta em nós, ou como posso dizer, daquela parte que procuramos ou imaginamos nos aconselhando nas horas mais difíceis.

Amigo não é aquele que empresta dinheiro para sanar nossas dívidas, mas que nos empresta seu sorriso para que adentremos no dia com o pé direito; não é a pessoa perfeita, mesmo porque não o somos e levará centenas de anos que isso ocorra, e mesmo assim, quando um dia formos perfeitos, quando nos inclinarmos ao sol, todos os dias, nosso amigo não estará lá,

Então, com fins honrosos, com a força natural de um homem que temos, na busca fiel pelo amigo natural, que no-lo dará seu coração e sua alma, nos façamos amigo de alguém com tais características, dentro de nossa natureza, sem forçar, sem pedir, apenas por ser. E quando encontrarmos tais características, saibamos ouvir mais e com nossas palavras de algodão dar a dose suficiente àquele que necessita de mim, de nós.

Hoje, amigo, quando vos escrevo com as mãos de um mero agente da vida, penso naqueles pobres homens que, em redes de computadores, se revelam tristes humanos, pobres em espirito, por contar suas amizades baseadas em nada, ou menos que isso. Penso nos dias que virão, na humanidade que, sozinha, caminha, sem forças, sem ninguém.

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