quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Nas Asas da Tradição

FELIZ 2015!!


Voemos de volta ao passado, nas asas da Tradição.




Não sei por onde começar... E isso me faz pensar em como terminar rápido esse texto, o último de 2014. Talvez deva iniciar com a palavra Tradição.  O que vem a ser Tradição?... Nos dicionários, é apenas um substantivo feminino, que significa o ato de transmitir ou entregar... Ou transmissão oral de lendas, fatos, valores espirituais através de várias gerações (Dicionário Aurélio) E em parte, estão certos.

No entanto, quando olhamos para trás e vemos grandes homens do passado, que um dia semearam reais frutos ao nosso conhecimento, temos a certeza de que Tradição, a palavra, tangencia ao que percebemos dela.

No ato do grande soldado romano, que, em épocas douradas de batalhas infindáveis, ficara naquela fronteira somente por ordem do general, se passando por observador, e ao passo quase que um suicida, pelo fato de saber que tropas inimigas iriam vê-lo e não tardariam em mata-lo, mas sabia que a disciplina, a obediência eram tão maiores que o medo, a dor, o desespero, e quem sabe a saudade dos seus entes, nos faz perceber que Tradição, hoje, é apenas uma palavra... Não para eles.

Sabiam que em atos como aquele outros maiores viriam como reflexos, grandes reflexos, não apenas em batalhas físicas,  psicológicas, mas na maior delas, a da guerra consigo mesmo. E por meio de outros atos, tão simbólicos como este, a humanidade percebeu que, em meio a crise de coragem, determinação, somamos mais perdas de valores do que ganhos, mas isso não nos fez pequenos, mas grandes observadores de atos – ainda que frágeis – mas que nos laçariam para um passado que nos fez o que realmente somos – heróis, buscadores, filósofos por natureza, religiosos não temerosos a Deus, apaixonados pela vida, e reflexivos naturais da morte...

Morte... Essa tão desprezada pelo passado, mesmo porque sabíamos que jamais a venceríamos, hoje tão temerosa, que criamos argumentos físicos e falhos para detê-la, simplesmente porque não a queremos compreender. A Tradição vence novamente.

O que nos faz entender a morte é o medo, e o medo nos faz ser mais estrategista com a vida, essa ordem inteligível, que se divide entre o bem e mal, em tudo. Nos faz perceber que nos mínimos detalhes somos ao mesmo tempo parcos figurantes de um cenário divino e ao mesmo tempo únicos em dom para entender que nossa consciência pode se aproximar do sagrado.

Um sagrado que cura as ânsias, que nos faz nos aproximar mais de Deus, por meio de orações, usando como ponte nossas palavras, nossos atos remediáveis, nosso poder de paz, ainda que no meio de guerras desprezíveis...  Um sagrado que vejo, que toco, que percebo, que me transforma em fogo, em terra, respirando um ar tradicional.

Assim é a Tradição. Ela murmura com as palavras de Platão, Marco Aurélio, Cristo, e desencadeiam há milhares de anos vozes que são ouvidas apenas por aqueles que querem escutar. Não tem problema... O ideal dessas palavras não tem dono, pois se arrima na forma de cascatas, de céu azul, de um verde montanhoso, de atos simples, porém regados de magia nas mãos humanas...


Enfim.. A Tradição voa como uma ave que observa a todos, como filhos, percebendo a ordem do homem à eloquência da flor e seu perfume.  Não se pode escapar dela. Querendo ou não, andamos e reverenciamos suas asas – ainda que outro nome a ela damos – e nos resguardamos a espera que o mundo a entenda.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Do Pianista à Música Brega

O Jornalista e o Filósofo.

Aqui ainda discorro um pouco a respeito da história passada, na qual me revelo mais atraído pela religiosidade do afinador de pianos, do que o próprio entrevistador, um ateu convicto. Mas aqui, também, inicio uma nova conversa, essa seria a respeito de um livro que fala dos cantores bregas da década de setenta, os quais queriam reconhecimento por suas letras que, segundo eles, espinhavam tanto quanto músicas de Chico Buarque entre outros...




Após aquela conversa a respeito do afinador de pianos, ficamos dias reflexivos a respeito do velho, e isso me fez bem, mesmo porque nada melhor que respirar um ar à base de condimentos tradicionais, dos quais se pode retirar alguma coisa.

Passei semanas observando meus atos, meus pensamentos (!) – observar pensamentos é fogo! – mas existe uma terceira pessoa se fazendo de consciência para prestar atenção até mesmo no que não prestamos, e usei toda ela. E percebi que somente eu havia lavado a sério a entrevista de meu amigo, o qual teria se sentir mais atraído filosoficamente pelo trabalho do entrevistado do que eu, e nada...

Mas, de alguma forma, em algum lugar de sua consciência, pensara nos instantes, e isso percebi dias depois quando voltara a me falar a respeito do afinador mesmo que eu não tenha o citado em minhas conversas.

Ele dizia.. “Cara, você acredita que o cara tem uma exposição móvel do seu trabalho, e vai a lugares diferentes nos quais pessoas passam a se interessar pelo trabalho dele! Caramba, mano”-- Ele dizia.
Fiquei feliz por suas colocações, mas teria ficado mais ainda se me dissesse o que teria tirado de toda aquela conversa que tivemos. Claro que eu o respeito e o farei sempre, no entanto, estava ele a bater em uma tecla (não a do piano) que o faria moralmente mais respeitador do que simplesmente um freelance em busca de emoções.

“Eu não sou cachorro não”

Semanas depois, voltei a me encontrar com o aventureiro amigo, que desta vez, em nome de seu instinto jornalístico, iniciou uma leitura, ao ver dele, super agradável de um livro com o título “Eu Não sou Cachorro Não”, o que me fez repensar sua cultura afuniladora de tendências atuais. E ele não tinha funil, pelo visto.

Não havia importância. O que eu não poderia pensar era que ele era um referencial, pelo menos em cultura, para que eu pudesse chegar a algo que pudesse me imprimir um ritmo filosófico mais rico em minha jornada quase apagada.

Na realidade, era mais que isso. Meu amigo jornalista sabia que em tudo eu via a filosofia, em todas as coisas, fossem elas de nível natural, sobrenatural, politico, religioso, enfim, em tudo que se mexia ou em tudo que não se via...

No entanto seus argumentos em torno daquele livro foram mais persuasivos do que eu poderia resistir. Ou seja, ele queria que eu tivesse sua visão de música, de época, de história – talvez nesta última ele vencesse, mas não teria ainda os mesmos prismas de um homem que deixa o passado ser o que é...

As discussões em torno desse livro no próximo capítulo.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O Jornalista e o Filósofo em "O Afinador de Pianos".

Publicarei, nessa semana, uma série de diálogos que tive com um de meus amigos jornalistas. Desempregado, mas freelancer de várias revistas, ele, um grande intelectual, e ateu, como gosta de frisar, traz sempre empolgado assuntos sobre quais podemos conversar pelo menos o dia todo, simplesmente porque, segundo ele, muitos há nesse mundo que jogam conversas fora, transformando nosso próprio universo em um lixo sem tamanho.

E ele tem razão.



Podemos encontrar a essência na música e antes nos próprios instrumentos.





Hoje em meio a grandes jornalistas que discutem notícias atuais, que reverberam acerca das operações da Policia Federal, dos escândalos que hora e outra denunciam governadores, deputados, presidenciáveis, enfim, a cúpula do Poder, encontrei um que pudesse discutir  algo mais afunilador comigo, ou seja, que em nossas conversas pudesse tangenciar a esses "dentes de cachorro" e seus "rabos" que nunca se encontram...

É chato fazer parte de uma Imprensa na qual se fala o tempo todo das mesmas coisas sem se quer observar o que está por trás de tudo, não apenas das notícias, mas das pessoas, de suas intenções, além do próprio objeto em que se referenciam... E, com esse grande amigo jornalista, posso discorrer sobre tudo, até mesmo do que não se pode discutir...

Um  dia, ele, assim como sempre gosta de iniciar, o grande amigo me trouxe uma matéria que fazia a respeito de um grande afinador de piano, solitário, que morava junto com sua esposa, no entanto, não estava sempre com ela e sim com seus amores, os pianos. E com toda simplicidade, o jornalista, free lancer – meio pelo qual se trabalha sem prestar serviço a empresas específicas, mas a pedido de donos de revistas – enfim, foi à casa deste grande afinador e me revelou detalhes, como sempre o faz, quando se empolga (ou que deve amar com fins lucrativos...) com um assunto deveras de interesse da revista...

Lá, ao encontrar o afinador, tão simplório quanto ele, sentiu-se à vontade, e com o passar das horas, iniciou o que ele chamou de entrevista espiritual. Não por que os dois tinham qualquer afinidade religiosa, muito menos meu caro amigo jornalista, que se julga ateu. Mas diante do que me dissera, sentia, nas palavras do senhor de mais ou menos sessenta anos, uma distância imensa entre seres normais que afinam pianos ou qualquer instrumento daquele que sentia nas veias, na alma e no coração, não somente uma determinação búdica, mas uma paz irrefreável  no que fazia...

“Meu amigo...” – dizia o jornalista, ao me contar, “sabia que o velho nem mesmo sabia tocar piano? E aprendeu por si próprio?”... Foi um dos primeiros pontos que salientara após a entrevista. “Cara, ele possui pianos de gente do exterior, que sabia de seu trabalho de afinação era um dos melhores da cidade!”..

Até aí, tudo bem. Mas quando me dissera que o velho tinha uma paz tão profunda, uma simplicidade invejável, e ao mesmo tempo um zelo oriental pelos instrumentos, fiquei mais atento ao que o jornalista traduzia do velho.

Eu, enfim, estava pronto para dar o bote – transformar aquela conversa em algo nutritivo à nossas almas, de modo que não tivéssemos que adentrar no vulgarismo...

“Acho que ele é um neoplatônico “– disse eu... E sem saber o que eu havia colocado, meu amigo indagara o que eu queria lhe dizer. Fui mais profundo... “Nas pequenas coisas encontramos Deus, e acredito que ele (o afinador) saiba disso”. “Na República platônica, parte-se do principio que o individuo tenha vocação, ante de assumir seus afazeres, e isso, pode-se dizer, é valioso em pessoas que ainda o fazem atualmente...”

Depois de atencioso ao que eu dissera, o jornalista não se apegou muito em minhas palavras, mas sabia o que eu queria dizer. Para mim, já teria ganho o dia, mesmo porque pessoas há em minha esfera amistosa que ainda não gostam de ouvir algo parecido com filosofias, sejam elas teóricas, práticas, antigas ou modernas...

E continuou, “Ele, antes, olhava para o piano, ficava maravilhado com o instrumento – tudo isso antes de ser o que é.  Um dia, vendeu seu carro, e em comum acordo com a esposa, comprou o seu próprio instrumento de teclas... E enfim, pôde... des-mon-tá-lo...!”

Fiquei abismado. Será que era uma tara antiga aos instrumentos de teclas? Será que tudo começou na infância, quando quebrou seu primeiro órgão e não soube remonta-lo?.. Claro que não. Segundo meu amigo, o afinador precisava fazer aquilo para conhecer, reconhecer, voltar a conhecer,  e começar a entender como funcionaria sua paixão – o piano.

“Aqui, me parece – eu disse – que Aristóteles tomou sua alma, e de inicio, e o fez tentar entender, a partir do motor ou mesmo da primeira partícula daquele instrumento, Deus”... Um sorriso me veio ao rosto e ao dele também, pois estávamos chegando a algo mais palpável, mas ao mesmo tempo, afunilador.

Mais na frente, suas palavras foram detalhistas em relação à beleza com que o afinador fazia seu trabalho, na religião que se mostrava sem dar as caras, falava do amor prático aos instrumentos clássicos com os quais trabalhava, e na paz que transmitia ao vir pessoas felizes pelo que fazia.

Naquele dia, pensei: estou aqui, perto de um homem que não acredita em Deus, pelo menos a que se refere as religiões atuais, de um pessoa que tenta, de todos os modos, encontrar sentido na vida no trabalho de quem se mostra tão forte e ao mesmo tempo tão belo quanto qualquer sectarista religioso que o mundo dele pode mostrar.

Naquele dia, percebi que não consigo mais sair de minha esfera religiosa, aquela em que Deus está em todas as possibilidades, sejam elas boas ou más, e me leva como um raio para o céu, de baixo para cima, ao contrário dos raios comuns, e me faz tocar as vestes de um espaço que, a cada dia, me faz entender que estou no caminho certo ao meu céu.

O afinador?
Ah, esse estará sempre em minha mente como mais um real profissional ao qual Platão sempre sonhou na sua ideológica República

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Justo Plotino

Plotino. 



Depois que terminamos o curso de Filosofia, eu e meus amigos, pelo menos uns seis, concordamos em nos encontrar mensalmente para discutirmos temas religiosos, políticos, familiares, profissionais, enfim, tudo, sempre com aquele prisma filosófico (claro), do qual não poderia se esperar outra coisa senão discussões maravilhosas...

Já no primeiro encontro, Mauro, um senhor cuja esposa é devota da igreja Católica, e seus filhos, um casal, idem, sempre com aquele porte natural de comando, misto com simplicidade e cativo, nos fez refletir acerca de algo importante... De nossos nascimentos.

Depois de inúmeras reverberações de altíssimo nível, o comandante disse, “nascemos porque não somos perfeitos, porque temos ainda que nos aperfeiçoar, e muito”. Ele foi Plo-ti-no! Um filósofo neoplatônico cuja filosofia de vida se refletia em seus atos, em suas falas e em sua consciência, da qual nos fazia refletir acerca do que somos a partir de nossas estruturas internas.

Ele, Plotino, com razão, “levantou a bola” há mais de dois mil anos, e Mauro no fez lembrar dele, quando um dia o filósofo expôs... “Se um homem justo ainda sofre intempéries, é porque, no passado, causou danos a pessoas ou a sagrados, os quais refletem em si. Por isso – conclui – a vida post-mortem existe”...

Diluindo o que dissera no final para não ficar algo tão demasiado logo, falemos apenas das ações e reações às quais subtende na sua máxima acima. Plotino também era grande mestre iniciado, e quando se referia às ações e às reações humanas, não se limitava ao que somos capazes de entender, porém, ao dizer que “um homem justo também sofre suas intempéries”, referia-se ao Uno, ao todo, que em nós reflete, ainda que não percebemos.

Dentro dessa realidade, está o nosso nascimento, simplesmente porque a tendência universal das coisas nada mais é que transformar tudo em Belo, Verdadeiro e Justo, e se há algo (e estamos dentro dessa variável) que necessita desses três elementos, um dia, virá, de forma natural e experiente, ainda que sob espinhos.

Assim, em meio a essa Lei, nascemos, crescemos, desenvolvemos nossos corpos, nossa mente, nossa alma (um pouco), e tentamos entender o espírito por meio dela, e por meio do racional na maioria das vezes quando acreditamos que somos realmente filósofos, mas nada mais somos que meros interlocutores de uma realidade que criamos, desenvolvemos e morremos acreditando ser ela a correta.

Plotino tinha ferramentas para nos alertar ao que somos. Assim como seu mestre anterior, Platão, o qual, mais iniciado ainda, dizia que tínhamos que tomar cuidado com nossas reverberações racionais, porque fabricam deuses imaginários. Os Deuses, segundo Platão, independiam de nossas realizações, imaginações. Sua razão tocava o céu.

E, nós, segundo o mestre, seríamos mais que corpos e mentes, e alma. Nada seríamos se não ligássemos nosso alerta em relação ao que somos, ao nosso Eu. Mas a tendência é entender essa filosofia, mesmo sob a pobreza, riqueza, frieza, maldade, bondade.. Contudo seria melhor se nos infiltrássemos o quanto antes nessa ideologia (de Ideal humano), e buscar por meio do que somos, nessa carne bamba, ou esse corpo bombado, ou mesmo por meio dessa vida lastimável, ou para alguns maravilhosa, entretanto, cheia de mistérios tão naturais quanto o que nos faz nascer e crescer com vistas ao nosso aperfeiçoamento..

É humano tudo isso. Não há aquele que “não pode”. E Plotino mescla em sua filosofia tudo isso quando coloca o justo em meio àqueles que não são, em meio àqueles que nunca serão, e torna a vida daquele tão desesperadora que a qualidade de justo pode, com o tempo, deixar de ser.

Mas o justo, por si só, tem elementos fortes para sê-lo. E quando há o justo, quando se é justo, pode-se viver até mesmo no meio de uma sociedade injusta. Para isso há o elemento que o norteia: o Eu.

Na Evolução

Assim, quando pregamos a evolução, pregamos a verticalidade, que vai de cima para baixo, não a espiral, na qual, como diriam as tradições, crescemos, desenvolvemos, nos tornamos homem, e (mas) por causa de nossas lições que não fizemos, voltamos para baixo. E se repararmos bem, essa lei está em tudo, em toda natureza, não somente no homem...

Há os ciclos universais, históricos, sociais, grupais, e o humano, o qual, por dentro, como uma essência (que é) passa por todos eles, norteando a todos.


E na filosofia de Plotino, quando o justo nasce, o ciclo aparece. 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Presente de Anjo

Obrigado, filhão.





Ainda ontem fui presenteado pelo meu filho com uma pequena pasta, cheia de exercícios que fizera durante o ano inteiro. Eram pastas, na realidade, que continham deveres – como ditados, pinturas de desenhos didáticos, enfim, tudo que uma criança de primário tem como obrigação de fazer, e ele fez da melhor maneira possível.

Por que ele fez isso, me dando como presente? Meu filho tem um pequeno problema de inteiração com as pessoas, e por isso claudica um pouco nas palavras, nos atos e fica recluso quando pequenas coisas lhe acontecem. Mas ele sabe que nós dois, o ano inteiro, juntamente com sua mãe, trabalhamos esse lado dele, por várias vezes, e sabíamos que não seria fácil, principalmente a ele, que, assim como pai, de vez em quando sabe que o mais certo é ficar sozinho a digladiar em meio a palavras maldosas, sem sentido...

Contudo, ele, com seis anos de idade, teria que iniciar um processo de fala, de integração o mais rápido possível se quisesse criar alguma catapulta para seus sentidos, e conseguiu. Naquelas páginas que me presenteara, cheias de palavras bem feitas, de ditados com palavras corretas em cada sequencia, Pedro dizia... “obrigado, pai”.

Mais que isso, saltitante, por conseguir lidar com seu jeito menino de encaixador de palavras rápidas, porém com algumas consoantes mal fadadas, meu filho mostrara que nossa didática, nosso jeito pai-e-filho funcionara muito mais que professor-e-aluno, que colégio desestruturado versus revolta, que doença versus objetivo, que tudo que um dia nascera para nos frear ao nosso ideal... Que era desfazer de suas pequenas desconfianças puras, de seu jeito irrefreável de ser nas horas do estudo, e transformá-lo em um menino falante, elegante, educado, e mais, que, entre os vinte pequenos alunos de sua sala, fora um dos três que soubera ler e escrever...

Eu, mais uma vez, lacrimejei. Mas desta vez, não muito. Lembrei-me de meu irmão, o que sobrou, que um dia, em sua sala de estar, emocionado, fora questionado por mim acerca de sua emoção que ali se mostrava tão clara... “É meu filho, o Bruno”, disse em prantos, “Ele é tão obediente, tão perfeito...”, e desabou a chorar novamente...

Naquela época, seu filho tinha a mesma idade que o meu, e eu, o mais jovem dos irmãos, guardei aquela cena até então, como forma de me precaver em relação aos filhos, os quais, em meio a elogios profundos, cheios de conotações maternais, paternais, nos aprontam muito, quer dizer aprontam muito... (ainda não a minha pessoa, mesmo porque só tenho o Pedro...).

Precaução por quê?

Depois daquele episódio, um drama à mexicana, muitos se fizeram. Mas dessa vez, com pimentas mais amargas. Houve uma série de infortúnios com muitos de meus sobrinhos, principalmente o Bruno. E após perceber que dentre os treze sobrinhos que possuo, ainda que alguns tenham nascido longe de mim, observei e ainda observo que nenhum deles escapa ao que faz, ou melhor, ao que não faz.

A maioria, cheia de desejos, desfaz de seu pudor antigo, cresce, desenvolve uma mentalidade além-pai, além-mãe, e outros, além-Deus, e acreditam piamente que podem alcançar o céu sem ao menos entender o básico da vida. O respeito.

É natural que cresçam, queiram ser independentes, que tomem conta de suas vidas, se alimentem do mundo, de suas informações úteis e outras, a maioria, inúteis, ajam como homens e mulheres, ou pretendem pelo menos, tomando suas cervejas, seus uísques, vodcas, se rebelando contra os pais, mas se esquecendo de que, se querem ser diferentes,  sejam coerentes. 

Meus sobrinhos, independência, na maioria dos casos, rima com inconsequência, demência, imprudência... Jamais com respeito!

Se houvesse respeito a si mesmo, entenderia que suas vidas nada mais que nuvens breves, e que quanto antes encontrarem um lugar ao sol – ou como diria dona Josefa, “se lutassem por sua sombra”, amariam, respeitariam e ouviriam a voz da vida quando em seus leitos estivessem lacrimejando de raiva dos pais...

E Hoje, após aquele presente de anjo que recebi, olhei meu filho, dei-lhe um grande abraço, um grande beijo, e a ele também agradeci porque sei que, depois de tempos, pude perceber que estou no caminho certo, e se Deus quiser, ele também.


sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A Falta de Luz


Encontrar meios para lidar com as situações é a nossa vida.




Marco Aurélio, imperador filósofo, disse em seu único livro, Meditações, “ao se deparar com problemas maiores que ti, tente imaginar-se saído da esfera, vá ao mais alto que puder, e se puder alcançar a lua, melhor”.

Hoje em meio a problemas razoáveis já nos sentimos perseguidos por entidades secretas, que, segundo nossas intuições, foram feitas para nos vigiar... Bem, na realidade, cada um pensa da sua maneira, quando o problema explode, ou mesmo quando ele nem sequer se inicia...

As mulheres, não sei se isso é geral, mas possuem os sintomas do problemas só de falar dele. Outras, quando uma atividade que pode envolver força, emoção, até mesmo o psicológico, já sofrem antecipadamente uma ou duas semanas, antes!

É natural? É. Porém, ao vir a máxima de nosso amigo Marco, percebo que em outra época éramos mais sábios quando da resolução dos problemas. Não era preciso, segundo analiso, esperar sentado aquilo que nos atingiria naturalmente, segundo as leis cármicas; era mais que isso. Tínhamos ao nosso favor (ou ainda temos) instrumentos naturais para lidar com cada conflito, seja pequeno, seja grande.

Mas as batalhas são imprescindíveis, as guerras, os conflitos humanos, até mesmo os cósmicos, são mais que naturais em uma visão mais universal... Por isso, não podemos achar que somos exclusivos nesse aspecto, e sim, mais um entre vários outros que se sucedem em esferas absolutamente desconhecidas pelo humano.

Contudo, o que nos faz enjaulados não é a falta de percepção dessa ideia universal de conflitos, mas a prática diária em relação a eles... “É complicado”, sempre dizem... E realmente o é. Não há, em lugar algum, como educar, desde o inicio de nossa vinda à terra, em relação aos nossos problemas diários, os quais sempre desaguam no oceano sujo, cheio de interrogações acerca do que podemos fazer para exterminar o problema...

Não podemos fazer. É como pelo em um cão. Vai aonde nós fomos. Está preso em nossos corpos, em nossas mentes, em tudo que, biologicamente, psicologicamente, somos aparentemente somos donos.

Aparentemente, porque, querendo ou não, acreditamos que conduzimos o envelhecimento, o rejuvenescimento, e na verdade não podemos. Somos medrosos expectadores de um mundo que corre em nossas veias, em nossos emocionais, que entram em pânico quando os dedos começam a falhar, quando nossos pensamentos nos entristecem por nada, quando tropeçamos por muito menos, e ao saber que, mesmo com toda tecnologia do mundo, não só nos adoentamos, mas envelhecemos e morremos...

Sim, morremos, perdemos a força das pernas, dos braços, da mente, cabelos começam a ficar grisalhos, mãos e pernas flácidas... E nos vamos para o desconhecido para sempre. Será tudo isso causa de nossos problemas ou a falta de uma filosofia para lidar com isso?

Nesse aspecto podemos dizer... Nos falta mais que uma filosofia. Falta-nos observar em que lugar estamos, o que podemos fazer nele, retirar de nossas camas, ou debaixo dela, aquele animal imaginário, o qual só aprendemos respeitá-lo, e amá-lo.

É preciso mais que uma filosofia, é preciso levantar da cama, olhar dentro de si mesmo e entender que somos todos humanos, portanto o que nos vai ocorrer nada mais é que algo humano! Não adianta achar que o que nos acontece é algo maior que nossas possibilidades, é divino, é sagrado, é tudo isso e mais alguma coisa...

Marco Aurélio já dizia... “O Que ocorre ao cavalo será sempre inerente ao cavalo”, nada mais... Que interessante, né? E por mais que repitamos essa máxima, teremos sempre a certeza de que somos os escolhidos pelo bendito Deus para “abrir mares”, “repartir pães” do nada, ajudar ao próximo, levar grupos ao céu, morrer pelo mundo...

Pensem o que for, mas não esperamos que um animal faça o mesmo, muito menos uma planta... Então, entendam, por mais que não acreditamos, estamos fazendo algo inerente a nós mesmo, humanos! E nossa tônica jamais será aceita por entidades atuais que, em meio a conflitos internacionais, com tanta necessidade de auxílios aos civis, falam em céu, paraíso, de um Deus salvador, que irá tirá-los de um mundo decadente...

É fácil fugir dos problemas ainda que sejam pastores, bispos, papas, com suas colocações quentes, aos seus fiéis. É fácil falar de fuga quando há um mundo inteiro em guerras e um sistema em que possamos pensar se podemos ou não colocar nossos pés na linha de batalha com vistas a complementar a ajuda aos mais necessitados.

Acho que voei um pouco...

Finalizando...


Claro que Marco Aurélio sabia que, ao nos imaginarmos saindo para outra esfera, teríamos mais facilidade de lidar com o que temos. O problema em si não vai deixar de existir, nem voê vai se tornar maior ou maior quando pousar sua consciência nele. Vai ter a sensação natural de confronto, ou seja, vai resolver da melhor maneira possível, ao ponte de criar meios claros dos quais vai querer sempre usá-lo quando aquele pequeno ou grande problema vier.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A Batuta de Von Karajan

Sem palavras...



Ontem, antes de dormir, seguido de um bom vinho, escutava Tchaikovsky, orquestrado por nada mais que nada menos que Herbert Von Karajan, um dos mais sensíveis maestros de todo mundo, conhecido, principalmente, pela sua leveza, sua paz e harmonia com que rege as obras dos grandes mestres da música...

A primeira vez que o vi, a reger os atos da Nona Sinfonia, de Beethoven, fiquei estático, preso às imagens daquele homem que sintetizava em seus atos a beleza do ritmo que a música trazia. Não era algo...normal por assim dizer, pelo menos dentro de meus contextos nos quais posso imaginar, mas era um sonho cheio de brisas mansas, das quais nasciam flores em todos os lugares... Era um manancial de vida brotando, se transformando, crescendo e me fazendo acreditar que existia algo muito mais valoroso que o chão que naquele momento eu pisava...

Von Karajan quebrava destinos, sufocava a imperfeição, renegava, com sua baqueta, pensamentos, e nos deixava, mais uma vez, embriagados de sensações as quais nem mesmo ele sabia que nos estava passando... Assim ele foi.




No tocante à beleza do ato que nascia, transbordava em forma de harmonia, gestos que subiam, desciam, com uma violência livre de dor, com uma paz tão sufocante, que poderíamos subir aos céus sem sair do sofá... Eu apenas observava, me calava, e tentava soltar uma lágrima fiel a momentos como esse, mas eu teria que amar primeiro, sentir no fundo de minha alma, romper com minhas forças físicas, adentrar em outro mundo para, depois, exibir minha emoção...Que veio.

Não sabia que era tanto, nem pensei que era menos. Pois não se pode esperar de pequenos microuniversos outra coisa senão a perfeição na beleza a que Platão diria, “temos direito, desde que somos humanos”, mas também não morri de amores, mesmo porque minha parte racional viajava nas mãos, nos sopros, nos gestos dos músicos, na eloquência que pedia o grande momento...

E nesse racional, imbuído de Alegro, iniciei pensamentos acerca de outro mundo... o nosso. Esse cheio de imperfeições, regido por maestros frios, sem caráter, por um povo, orquestrado por ditadores revestidos de democratas, os quais, em nome de seu ego, nos faz perceber que precisamos rever nossos conceitos sobre sistemas...



Não precisamos. Estamos percebemos que nos faltam regentes, assim como um grande Karajan, que sinta a vontade do povo, dessa humanidade que caminha em nome de seus objetivos básicos, e que se esqueceu do amor verdadeiro, da paz real em suas vidas – graças ao buraco enorme em que caímos..

A credibilidade nos sistemas se foi, naqueles que o comandam, em sua bases, em suas palavras, em seus espíritos, na voz aguda do palestrante que se julga coerente com princípios maiores que ele... Em Deus.

Talvez nesse deus inventado, mas não naquele que não subjuga, castiga, sobrepõe-se, e necessita, urgentemente, de reverências, mesmo porque não estamos à sombra de nenhum outro homem e sim de belezas perdidas, harmonias presas, ritmos esquecidos, de uma paz interna, de amores universais que nos esperam para praticá-lo, de mestres que sintetizam essa grande verdade, e que nos asseguram a Beleza eterna.

Esse grande mestre, filho de outros mais místicos, anda com sua baqueta, dentro de seu coração, em busca do discípulo perdido, ou este em busca de algum mestre que o ensine matérias da alma. Enfim, os dois se buscam, e quando se encontram, é como um sol que nasce, uma chuva que adormece, uma alvorada alaranjada ao entardecer, é a filarmônica (Philos>Harmônica), a amor à harmonia!

Após meu levantar daquele sofá, pude perceber que dormiria mais leve, e sonharia os sonhos dos justos, o de ver o mundo como uma orquestra: cada um com seu instrumento, dentro de sua vocação, amando e trabalhando... em nome daquele que nos rege.





quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Ecos do Fim do Mundo

As Guerras Atuais são ecos de uma grande incompetência.


Gostaria de terminar de falar sobre esse assunto tão vasto que, se eu fosse me restringir a ele de modo ‘enciclopédico’ , não terminaria hoje, muito menos daqui a dez anos. É algo que nos impressiona pela sua vastidão de significados quando nele tocamos, quando a ele nos referimos – é o Eco.

Antes, eu lhes disse que era como se fosse um grito dado, fosse ele literal ou simbolicamente, frente às montanhas ou mesmo ante nossas obrigações, deveres, vida. Toquei um pouco nas asas dos mestres, que um dia gritaram no passado, e que, até então, nos fazem ouvir, de todas as formas, o ressoar de suas vozes – em algumas culturas, esse grito pode-se ouvir tão alto quanto um grito real. Como um eco.

Trazendo à tona aos nossos dias, o eco de nossas lhanuras passadas pode ser visto no grito de uma criança que pede socorro, em uma senhora sem os seus direitos, ou mesmo um homem perdido em meio ao caos urbano, a fazer das pontes sua morada, o eco, mais que uma voz que se arrebenta nas montanhas, e volta imediatamente em tom grave, hoje, sintetiza imagens de um tempo que se esvai em guerras de nações que se digladiam politica e religiosamente; é mais que isso, o eco, friamente, nos vem em forma de desumanidade...

Uma característica de homens que se esqueceram de levar em conta leis humanas, antes mesmo das leis materiais-morais a que, de forma inata, temos direito. Esqueceu-se de alimentar a lealdade, a honra, a moral, a ética – isso de forma atemporal, universal – assim como um dia os clássicos nos ensinaram... E hoje, essa falta de zelo por si mesmo, pelo que mais se sobreporia, clama a Deus soluções rápidas, pelo que um dia fez. 

Acredito que não é possível. O que temos é uma avalanche de situações  das quais o homem não conseguirá sair por um bom tempo. A exemplo disso, temos o conflito entre palestinos e israelenses, o qual representa gritos de um passado cuja ferida não se fecha há séculos, graças a interesses além-religiosos (políticos), talvez mais, contudo tal conflito não tem, em si, a razão de existir, mesmo porque, historicamente, fazem parte de uma mesma tribo.

Outro conflito, o da Ucrânia e Rússia, se estende por motivos mais claros, e ao mesmo tempo difíceis de trazer resoluções imediatistas, principalmente porque um ditador, ex-membro da KGB russa, eleito “democraticamente”, o qual, às escusas – ou quase – pratica homicídios naquela região, que, no passado, fizera parte da antiga União Soviética, busca de forma fria e calculista tomar-lhes o poder. O grito foi dado.

Na Coréia do Norte, após anos de miséria na parte esquecida do país, um grande ditador faz de conta que é um dos melhores do mundo em termos bélicos, sustentando riquezas em determinadas regiões daquele país, nas quais o povo sofre desde a última ditadura imposta pelo pai do primeiro genocida. Nesses dias, as Nações Unidas incitaram a ira do ditador revelando-se contra os tratamentos dado – há séculos – pela ditadura coreana...


Enfim...
Quando alguém ou alguma coisa, ou mesmo um conjunto se rebela contra ou a favor de algo, é porque o som do desespero está a ressoar tão forte quanto qualquer grito, seja ele do passado ou do presente. É preciso tapar frestas, buracos, crateras! Enfim... Recomeçar.

E hoje, com tantos conflitos, com tanto ódio em meio a uma humanidade feito ponte na qual passam por cima com saltos altos, machucando nossas costas, fica quase que impossível repensar um futuro.

Assim como os persas no passado, que um dia quase tomaram o mundo ocidental, temos que cortas as asas do mal que assola diversas nações, como se estivéssemos a entrar para uma terceira guerra. No entanto, nosso passado (não das grandes civilizações) não é feito de grandes heróis, com grandes ideais, que ressoam em nossas almas até hoje.


Nossas almas, atualmente, sentem a necessidade de iniciar um processo de renovação, de elevação a partir de um passado harmônico, no entanto esquecido. Temos, por assim dizer, refazer nossas heranças, aquelas em que "filhos enterram pais, não nas quais pais enterram filhos", e refazer nossos ideais dos quais retiramos a beleza que nos fez feliz, um dia.





terça-feira, 18 de novembro de 2014

Ecos

O reflexo de Narciso. Um eco.




Quando em montanhas estamos, ou à beira de um precipício, damos aquele grito em direção ao nada, e ouvimos o ressoar nosso que vem de dentro, a bater nas paredes rochosas dos deuses de pedra e voltar em questão de segundos, deixando-nos maravilhados por ouvir a nós mesmos, quase que literalmente... É o eco.

É um aprendizado eterno. Do que fazemos, pensamos, refletimos, amamos, nos apaixonamos, enfim... Vivemos, seja em prol de ou contra algo, alguém... Com todos e com tudo. É a lei da ação e reação...

Ao gritar, a voz bate nas montanhas, e como ondas que batem nas rochas volta de forma “mágica”, quase grave, contudo, percebe-se nitidamente que é a nossa voz, a repetir nosso grito. Não é metáfora, é real.

No concreto

Ou seja, o que vestimos agora, o que bebemos nesse instante, onde estamos nesse exato momento, o que fazemos aqui, nada mais é do que nosso grito a curto ou a longo prazo, de um passado em que demos um berro em forma de decisões, das quais saíram, hoje, o que temos e o que somos.

Reflitamos... O que estamos a fazer agora como um grito? O que desejamos ressoar para nós? Coisas boas ou ruins? O certo ou o errado? As mesmas coisas, ou coisas diferentes? Estamos trabalhando? Pensando no bem, no mal, em nada, vivendo em função de algo, de alguém, esperando, andando...?

Não importa... Com certeza vem de forma justa, e claro, na maioria das vezes, não com os mesmos elementos do  grito, mas sempre com um tom mais grave, divergente – a dar dúvidas ao nosso entender se somos ou não os culpados pelo ele... Não adianta, sempre o somos.

 Grito dos grandes

Quando Sócrates, em seu último dia, bebera seu veneno, não se deixando contaminar pelo maior deles, a Democracia ateniense, vivendo sua filosofia mais branda possível, tanto quanto a qualquer outro depois dele, deu seu Grito. E hoje, séculos depois, ressoa em forma de caráter àqueles que apregoam a busca pela Verdade e Justiça...

Assim o foi Cristo, após sua morte – a qual não sabemos como foi, depois de tanto séculos! – dizem que foi crucificado, mas outros dizem que não, e sim o foi Judas em seu lugar, mas que não soa como mera importância, e sim o que fora em vida, articulando caminhos, a gerar formas de sementes das quais nasceram grandes cristãos, homens de bem, os quais, de algum modo, tentam aproveitar desse Grito, que fora dado há mais de dois mil anos.

Não menos ressoados saíram os gritos de Platão, em sua ideal República, da qual homens de ideais fortes retiraram ecos enormes do que realmente somos e para onde devemos ir. Os gritos que até hoje ressoam de sua lendária Caverna talvez espelhem melhor o que foram – pois coadunam o que somos e fazemos nessa escuridão  histórica.

Sem eles, sem esses gritos, seríamos apenas meros simpatizantes de outros que batem e voltam como pequenas ondas que não saem de suas margens, sem ir ao encontro de seu manancial.

Sem esses grandes gritos do passado, nada teríamos em nossos corações, em nossas almas, em nossa vida, apenas gritos de formigas modernas vislumbradas pelo pouco que criam em forma de palavras, de artes, tão deturpadas de sua origem, além da música, hoje tão fria de sentido quanto o amor real, esquecido nas ruas, confundido com paixões rápidas, ou não, sem mesmo deixar rastros de humanidade... E humildade.

No Espírito

Não somente em aspectos visíveis nos sentimos vítimas ou donos desse grito, que há muito existe em forma de atos. Nossos princípios, na maioria das vezes, baseados em castelos de areia, que caem com qualquer brisa, podem ser a maior prova de que, no emocional, o grito bate e leva anos para sair de nós...

Ele, em forma de dor interna, nos faz buscar vinganças, ou mesmo ficar solitários, em meio a multidões, ou mesmo desabar em prantos sem saber o porquê – é o  eco se fazendo em forma de sentimentos caídos.

Contudo, quando temos a força em forma de ideais, sejam eles fortes ou fracos, mas que nos façam levantar do sofá em que estamos, pode-se dizer que o grito está-se por fazer, pois a consequência é andar em águas turvas ou calmas a depender de nossa força, a qual na maioria das vezes atravessa-nos naquele grande mar mitológico de Moisés, no qual vários idealistas não sucumbiram a outros ideais e atravessaram o mal, com seus próprios princípios...

Fim..

O Grito deve ser dado por todos. Até a criança que chora, ao gritar, sabe que seu grito vai bater no ouvido da mamãe e ela vai escutar. Vai amamenta-lo. E a mãe ficará atenta...  Nós, não como crianças, mas como seres conscientes que somos, damos gritos e acreditamos que seu ressoar não existe, e, quando há, colocamos culpa em divindades extra-sensoriais, ou mesmo no cunhado...


Ser conscientes é gritar em nome do que é Belo, Justo e Verdadeiro, não esperando a volta do que fazemos. E se voltar, vamos caminhar em nome desses valores, os quais num passado tão distante eram vistos, falados, ouvidos, praticados e graças a estes andamos, falamos, pensamos, refletimos e subimos degrau por degrau na escala da evolução humana.



sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Presos pela Pressa

"O homem criou a época da velocidade e sente-se enclausurado dentro dela" - Charles Chaplin,



“Já beijou seu filho hoje?”, dizia um adesivo no vidro traseiro de um carro. Por que será que essa frase faz tanto sentido no mundo atual, ou melhor, hoje, aqui, agora? Há dez anos, ou menos, há cinco anos, não era assim. Pais acordavam sem a loucura diária, observavam sua cria ainda dormir, davam um doce beijo no menino e iam trabalhar...

Hoje, no mesmo mundo de sempre, deixam seus filhos na porta do colégio  -- hoje temos as vãs (ou ônibus) escolares – que minimizam nosso sofrimento, mas nos deixam com saudade de um abraço forte e longo. E nessa correria, sobra o amor relativo aos casais, no qual beijinhos e abraços rápidos são permitidos, mas usufruir de um momento pertinho um do outro, a assistir um bom filme sem dormir, é raro.

Atualmente há casais que não conseguem se ver mais e se amar, muito mais, graças a essa pressa descabida que se cria em meio a trânsitos de problemas que nós mesmos geramos. Digo nós porque, no fundo, a realidade a que nos acostumamos é a mesma de antes, porém, hoje, em nossa filosofia apressada, precisamos de mais ritmo, acreditando que solucionaremos todos os problemas tão rápido quanto antigamente... E, por fim, descansaremos o quanto antes.

É pura falta de respeito a si mesmo. Se temos uma vida a ser vivida, ela nunca vai se resumir em trabalhos, em escolas, em até mesmo no fim de semana articulado para se descansar... Mesmo porque podemos, antes desse descanso, refletir ao que estamos fazendo, o modo como estamos fazendo, ajustando nossos horários internos, harmonizando-nos com o que nos dão atualmente – horários de verão, outono, etc... – de modo que possamos transformar nossas pressas em algo prazeroso, e por fim, olhar o rosto do filho, conversar com ele, e nele dar um grande abraço.

Imagine um soldado antigo quando dizia... “obedeça à sua mãe. Seja homem!”, e ia para a guerra fazer o que mais amava, defender a liberdade de sua família, sociedade e de seu país. Contudo, não precisamos ser soldados diários, nos despedindo de nossos filhos ou esposas a defender seja qual for o idealismo, mas nos parece que o somos.

Colocamos nossos ternos e gravatas, nossos sapatos, como se fossem parte de uma armadura semelhante a dos grandes cavaleiros, e entramos em nossos carros, saímos sem olhar para trás, e a batalha diária se inicia. De alguma forma somos cavalheiros modernos, mas o que vamos defender é algo que um dia o cavalheiro Idade-mediano, dentro de suas possibilidades, defenderia... Conseguir proventos para alimentar sua prole.

E ao conseguir, ter o direito de ver o sol, sair com a família, brincar com seu filho, ir à casa de seus amigos, respirar um ar diferente, absorver novos ares, viajar... No entanto, os dias desse cavalheiro moderno vão diminuindo à medida que seu mundo vai se tornando uma bola de problemas, na qual ele mesmo entra e dela não consegue se livrar.


É a bola do desespero por não conseguir realizar seus sonhos – já citados – em tempo hábil, e nesse andar, vê-se preso, quase que enjaulado pela ignorância de não saber lidar consigo mesmo, ou seja, mal ele sabe que tudo começa com ele, esse pequeno e significante ser do universo que não consegue lidar com as leis naturais da vida.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Vontade como Criança

Claro que não é fácil. Se houvesse um caminho de pena  e um grande mestre ao nosso lado – idem, literalmente em ambos os casos; se houvesse somente maravilhas em nossa vida, sem guerrilhas pessoais, batalhas imensas nas quais não pensamos em outra coisa senão fugir, seria divino – literalmente divino.

Embora eu acredite que até mesmo os deuses tenham problemas conosco rs,  eles não têm. Nós, em relação a eles, com certeza, o temos, mesmo porque há uma vontade dentro de nós, sobre a qual já discorremos, que se tangencia de suas “obrigações”, que é elevar-se... Por isso, o sofrimento humano.


Dizem que os animais a têm, mas suas leis são paralelas a nossa e não podem ser combinadas com outras, nem mesmo com as dos minerais. Funcionam, vamos dizer assim, de maneira diferente, e no principal, ao que tocamos há pouco, muito menos.

Direcionar algo, em direção ao seu objetivo, fisicamente é quase impossível. A exemplo de uma criança que nasce, começa a lidar com aspectos naturais, como pássaros, árvores, enfim, a tudo que se refere a meio ambiente, pode sofrer, no limiar de sua vida, reverses que a retiram de seu inicio.

Imaginem algo subjetivo para se dar credibilidade total, assim como a vontade. Ela, até então, vista como ‘algo que o ser humano possui’ e que é tão natural jogá-la às traças quanto jogar qualquer criança no lixão... Ou seja, algo que se foi criando com o tempo e se tornou assim, natural, se torna o animal no homem.

A criança, envolvida em um manto puro, mais tarde vai criando uma consciência informativa em relação à sociedade, ao mundo; e a vontade, essa, como criança, vai perdendo sua natureza maior, a de reivindicar o alto, o cimo, o espírito...

E por ter sua natureza desviada, a vontade, assim como a criança, é corrompida pelos valores inventados, pequenos, corrosivos, filhos dos falsos mestres que nascem todos os dias.


Mas nem sempre houve falsos mestres. Platão, Aristóteles, Plotino, Cristo, Pitágoras, entre outros, nos deram, em sua magnitude,  a filosofia do pensamento, ou seja, o que podemos fazer além de pensar, falar, imaginar, sonhar... Nos deram armas contra o medo, a dor, o desespero, guerras, conflitos, enfim, tornaram nossas vidas melhores dentro de ideias advindas de práticas tão antigas quanto andar pra frente...


Mas seria muito fácil, repito, se tais armas fossem como as físicas, que pegamos, olhamos  e sabemos lidar com elas de pronto. Não. Não é bem assim. É preciso uma Vontade, em meio à vontade, dentro, modificando, aos poucos, nossas vidas. É preciso... Acreditar. Esta uma ferramenta talvez mais forte, maior  e bela para se iniciar qualquer modificação interna.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

O Olimpo Nosso de Cada Dia

Deuses: reflexos de uma natureza interna e externa.




Os deuses sempre fizeram parte da cultura universal, não somente aos gregos e romanos, egípcios, mas sempre, em todas as culturas, bárbaras ou não, todas as potencialidades coexistiram entre nós, e a cada ano, cavernas, templos e montanhas demonstram isso, quando escritas, sejam em relevo, por meio de desenhos ou escritas cuneiformes, hieróglifos, os deuses, no altar máximo do cimo celeste, serão sempre vistos como Pais incriados pelo homem...

Por que pais incriados? O homem, desde sempre, observou a natureza, sonhou e os realizou na terra, baseado em orações nas quais pedia forças para o trabalho, para a sua colheita, com vistas a se alimentar ou não perder o seu rebanho, e assim o será sempre... E os deuses, potencialidades naturais, foram "canalizados" pela vontade humana.

No entanto, sabemos que os deuses, a existir em olimpos imaginários e ao passo tão concretos quanto o próprio sonhador – o homem – revelam-se necessários não somente ao homem, mas a tudo. Sem eles, o universo não haveria. Sem eles, nem mesmo o espaço com suas estrelas, o céu com suas nuvens, o sol com seu brilho poderiam sequer pensar em existir... Apenas o Nada.

E como em culturas até o Nada é uma forma existencial de uma potencialidade adormecida, como o Caos, retiramos lições naturais de que nem mesmo deixando de existir eles deixam de existir.

Assim pensava o grego, que, harmonicamente, trabalhava em função de Ceres, deusa da Agricultura, e em Roma, de Marte, um dos mais incríveis deuses, que, para muitos, seria apenas o deus da Guerra, da batalha, do sangue, mas Marte também seria o deus de uma organização intrínseca, dentro da qual a batalha não somente a sanguinária seria mister de existir.

Marte, assim, como as pequenas lutas que temos fazia parte do dia a dia romano, e não somente ele, mas todos os deuses tinham uma finalidade, e cada um “pedia” um pequeno sacrifício para coexistir entre os homens.

Os mais iniciados – aqueles que cultivavam a crença em um universo formado por vários deuses, -- sabiam de um deus maior, do qual todos aqueles viriam. Não eram, no entanto, os gregos, romanos e egípcios, entre outros, homens que incitavam os mistérios mais sagrados com relação a essa inteligência maior, simplesmente porque acreditavam que os mistérios mais sagrados deviam ficar em seu lugar... E conseguiram.

Para compreender essa Magia, contudo, recomendam os antigos, buscarmos em nós esse sagrado, dentro de nossa alma, tão prática em desejos e sentimentos os quais podem se elevar e encontrar seu próprio Olimpo. E neste, o topo do mistério máximo, como forma Ideal.

Contudo, de tanto externar nossa busca, temos receios internos do que podemos encontrar em nós – mesmo porque somos humanos! – e claudicamos até mesmo na hora de dar “bom dia”, e isso nos transforma em seres propensos a desacreditar que temos mistérios, deuses e que podemos ser felizes com o que temos – dentro e fora de nossas possibilidades.


Os deuses, quando externados, nada mais são do que um espelho que o homem possui em si. Os filósofos sabem disso...

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Fuga de Si Mesmo

Há momentos em que não suportamos o outro, porque sempre acreditamos que "o inferno é o outro", não o que trazemos em nós, como ferramentas, em circunstâncias nas quais não nos importa quem é ou o que realmente importa -- apenas fugir do outro.


"a fuga na maioria das vezes é um mal"




Não adianta fugir, correr, fechar portas, janelas, “que o problema entrará pelas portas do fundo”. O melhor de tudo é enfrentar, mesmo com o pouco que temos, “como formigas a enfrentar o fogo”, ou como passarinhos, “a apagar um incêndio”... Devemos enfrentar o convívio.

O teatro da vida, esse excêntrico teatro grego que não se esvai nunca pelas frestas da ignorância moderna, nos desloca para o centro, ou melhor, para o olho do furacão. Essa é a tônica. Participar, falar, ou pelo menos se comunicar com o próximo, mesmo que discuta o nada, se rebele pelo tudo, chore pelo fútil. Tudo funciona como roldanas presas, que com o tempo, se soltarão.

Essência

...A essência da vida, esse pequeno ser que se esconde em nós, e também em todo universo, nos pede, quase que implorando que a ouçamos. Entretanto ouvidos há somente para um mal que se mostra em sociedades, em famílias, em grupos, além – ou antes de tudo – no próprio homem – que é a fuga em razão dos próprios conflitos, os quais geram, por si, necessidades de estar juntos, integrados, seja pelo convívio, conflitos... Não há outro modo.

Para ilustrar, lembre-se de que...“se há problemas no homem, há na família, se há na família, há nos grupos, e se há nos grupos, há nas sociedades e por sua vez no mundo... Mas tudo começa no homem”, o que é uma realidade, seja partidária, social, religiosa, enfim, como lidar com essa questão se fugimos de nós mesmos?...

A Fuga

Um dia me disseram que um grande ator de cinema, que sempre fez filmes fabulosos, entre eles O Poderoso Chefão, Apocalipse Now, entre outros marcantes, com sua fortuna, comprou uma ilha... Motivo, detestava seres humanos. E quem não detesta, às vezes? Eu pelo menos detesto muitos, mas muitos outros, a maioria, eu os amo.

Marlon Brando não queria ficar ao lado de esposas, filhos, amigos, parentes, e sim, solitário, como um ser que nascera sozinho e que queria morrer assim... Sozinho. Não sabia, porém, que sua alma, aquele outro ser que necessita elevar-se (ou necessitava...), não conseguiu cultivar elementos melhores do que uma boa conversa, um diálogo direcionado, um sorriso fértil de uma pessoa feliz por ele está ali, do lado dela...

Esqueceu-se o ator, assim como nós nos esquecemos, de que a melhor forma de fugir dos problemas é ir ao encontro deles, assim como “Teseu o foi em busca do minotauro”, não ir de encontro – como se fôssemos para um conflito armado...

Desconhecido

Para muitos, a vida nada mais é que isso, esse conflito, essa dor louca, que nos subtrai as esperanças a partir da violência que o outro (humano) nos trás por meio da maior de todas, o desconhecido.

O desconhecido, por si só, é uma parte do que somos. É uma parcela do mistério a ser resolvido, e que não estamos, como sempre, nenhum pouquinho favoráveis a essa prática – e quando o somos, nos tornamos psiquiatras ou psicólogos, a angariar fundos em cima de problemas alheios. Não precisamos ser assim. Nem profissionais, nem pacientes de causas das quais não conseguimos descobrir o porquê dos conflitos.

Precisamos, apenas, ter paciência.

Primeiro, recompor as energias frente ao que mais acreditamos como algo superior entre nós. Eu me debruço, na maioria das vezes, frente ao mistério do sol, e peço que sua natureza branda esteja um pouquinho ao meu lado, e assim volto à batalha com o pouco que tenho: minha fé em terminar meu trabalho, minha educação frente às pessoas – na qual acredito tem me feito um homem de bem a cada dia --, meu filho, minha família, e principalmente o tempo, ao me deparar com injustiças...

Pois, “quando, em um banquete sua (a minha) refeição for servida, não se alvoroce, tenha a calma dos justos, nada mais”...

Quando no passado, em uma Atenas maravilhosa, quando seus valores já não estavam tão claros, um homem chamado Zenão, depois de Platão, Isócrates, Aristóteles, Alexandre... , nos veio como um ser que, em seu entender, precisávamos nos elevar, baseados em premissas antigas, nas quais o próprio homem se infiltraria não como político, religioso, filósofo teórico, e sim prático, com ferramentas fortes... E principalmente, como um ser como é sempre foi: Natural, voltado ao seu Eu.
Disse Zenão,

“Não deixai que nada ou ninguém te incomode, nem mesmo as doenças, nada, mesmo porque nada disso faz parte do seu Eu verdadeiro”.






Ficamos aqui, com esse grande estoico.


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Ignorância, o nosso saber.

Ignorância, boa ou ruim?


"Cegos de tudo ou pelo menos boa parte da vida, e isso conscientes"




E os questionamentos não cessam... “Meu Deus, por que tanta seca?”, e mais tarde...”Por que tanta chuva?”, e se perguntássemos, “Meu Deus, por que de tanta ignorância?”... A resposta é difusa, complicada, sem efeito prático, mas que possui uma carga natural de consciência... Uma consciência mínima, que nos faz acordar em segundos, e dormir em milésimos...

Os meteorologistas sabem que, cientificamente, existem razões para as secas e chuvas em excesso, mas também sabem que, por trás disso, há outras que apontam a real razão desse buraco negro em nossas vidas, o qual nos suga como partículas universais que não sabem o porquê de sua existência  ou porquê respiram -- falo da ignorância.

A ignorância, como dizia Platão, filósofo clássico, “É nossa única doença”. Não sei bem, mas se observarmos do ponto de vista dele, nos questionamos acerca do que sabemos e não sabemos, e baseados nessa segunda premissa nos vimos ancorados em hospitais, com aquela cara de sempre, em frente a um neurologista, ou dentista, quando os dentes doem, ou cardiologista, enfim, a terminar a série de “istas” por aqui, digo que, ao se tratar do corpo, sabemos pouco, ou quase nada...

Não apenas. Em leis básicas de trânsito, em outros comportamentos mais básicos ainda, estamos sempre a pedir auxilio a outros que sabem pouco, ou quase nada. Não tem como saber tudo, obviamente, mas é espantoso que queiramos saber coisas do alto, se nem mesmo sabemos como lavar uma... Louça.

Claro que há especialistas em tudo, talvez até em lavar a louça, mas nem por isso deixaremos de tentar lavar um copo, uma panela, enxugá-los, enfim, ajudar um pouco. Deixar as panelas brilhantes, os copos, a pia, passar panos no chão, deixá-lo brilhante tanto como um espelho, faz com que nos sintamos bem, em um ambiente bonito, saudável, assim como o que queríamos estar sempre...

Assim, também, há especialistas em trânsito --,os motoristas de autoescola,  dos quais recebemos a prática voltada ao volante, e como nos portar nas pistas, junto a outros motoristas, de modo que saibamos lidar com aquela lei que nos permite ir e chegar com o nosso veículo, aonde quer que queiramos...

E as consequências do que não sabemos, para onde vão? da louça mal lavada, do carro mal estacionado, do péssimo médico?... Já sofremos o bastante e entendemos que, em nossas leis básicas, se não as respeitarmos teremos a volta.

Para o alto e avante!

Enfim, para entendermos as leis do alto, trazê-las ao nosso convívio, é preciso que saibamos, antes de tudo, algum ensinamento, mas, a partir do momento que nos asseguramos de nossa condição humana, temos, com certeza, a priori, sentidos que nos ajudam a compreender tais leis.

Elas, no entanto, nos aparecem difusas, assim como a primeira vez que temos o comando de uma carro em nossas mãos, mas as leis do alto, assim como sempre o foram, não possuem resquícios físicos, os quais a tornam mais intelectualmente difíceis de entender – adeus a parte prática? – o que nos envolve em situações naturais de busca a seu respeito, na tentativa de desvendar seus mistérios, os quais, quando descobertos, sanam dores mais fortes que a da morte.

Não. Não é adeus a parte prática. Temos, na grande História da humanidade, um passado de civilizações que conseguiram, de forma simbólica, mostrar a parte superior do mundo, da vida, do cosmos, e a nossa parte superior também. Dentro dessa grande e maravilhosa sabedoria a respeito do sagrado, a prática, a grande prática que temos em nós como elementos confusos, dos quais, no passado, conseguiram fazer com que fossem mais que elementos teóricos, fossem, na maior parte de sua existência, tão concretos quanto a louça que lavamos... Eram formas claras de pensamentos, eram Deuses nos quais acreditavam.

Deuses

E dessas potencialidades retiravam o bem-estar de seu povo, por meio práticas sagradas das quais se alimentavam internamente (e externamente), como crianças que brincam e nem sabem a hora de comer. Mas comiam. E quando o faziam, respeitavam cada peça que ingeriam, e pediam bênçãos aos deuses e a eles agradeciam, mesmo porque cada um fazia seu papel no universo – mesmo que fosse seu pequeno universo, -- mas que se interligava junto ao maior e se revelavam educadores dentro dessa religião, a qual estaria tão presente na família, no trabalho, na guerra, no educar, em tudo, tanto quanto nós temos a certeza de que estamos vivos, hoje.

Talvez não saibamos mas o homem sofre mais que do todos os seres na terra, simplesmente porque tem a consciência de seu próprio erro, e sabe que sua obrigação como ser humano é deter as consequências de sua falhas passadas, vigiando as do presente. Talvez não saibamos mas morrer no passado era uma questão da qual não se podia fugir, por isso a tentativa de entendimento acerca dela, da morte, e hoje, milhões de anos depois, ainda tentamos ludibriar a morte e a vida, desfazendo de nossos principais conceitos do saber. É perigoso.


Nesses milhões de anos que se vão seguir, é certo que estaremos diante das mesmas leis que nos impulsionaram a nascer e a morrer, porém não saberemos o que estará em nosso lugar para tanto, pois o homem não é merecedor da vida, ou ultimamente não tem merecido.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....