“Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato
revolucionário” (George Orwell).
“Uma mentira dita várias vezes torna-se uma verdade” (A.D).
Pinóquio e seu Grilo falante: o homem e sua consciência. |
Natural no ser humano é inventar algumas histórias ainda que
pequenas para dissuadir as pessoas a ficarem bem. Mas isso não nos faz melhores,
e sim buscadores de artifícios naturais para enganar a si mesmo e aos outros.
Enganar, com certeza, com finalidade de deixar bem o próximo é deixar de ser o
que somos, não ter instrumentalidade moral para dizer a verdade – e isso,
infelizmente, fazemos bem.
A realidade é que nos faltam princípios, faltam tijolos
fortes com objetivos de levantar o que em nós permeia. A moralidade, a ética, a
verdade... O que nos falta é dar o primeiro passo em função de tudo isso, mas
para isso é preciso sermos verdadeiros, antes de tudo.
E o que mais precisamos, agora, é entender o porquê desse
princípio, o qual nos faz ser reais homens e mulheres, dentro de contextos
sociais, familiares e principalmente políticos, para que tenhamos a verdadeira
autonomia que buscamos.
Sem ela, não há princípio, não há nada. E quando citamos a
verdade como primeiro artigo de nossas leis, é preciso andar em linhas retas, é
preciso saber lidar com as palavras, é preciso ser sábio ao relatar ao mundo o
que somos, sem medo.
O segundo artigo de nossas leis, no mínimo, é demonstrar o
porquê da verdade, o porquê de não mentir; assim, a terceira etapa, consequência,
vem estabelecer a ligação entre as duas, ou seja, porque as explicações em
justificar os princípios – de não mentir.
Enfim, a segunda e a terceira etapas são mais que valiosas,
pois traduzem as explicações necessárias, mas não tanto quanto à primeira.
Simplesmente porque é tão natural mentir que chegamos a ser mentirosos na
tentativa de explicar o porquê de não mentir.
O Dente do Rei
Era uma vez um rei em um país bem distante, desses em que a
solidão quando bate chamam alguns bobos da corte para acalentar com suas piadas
infantis, porém engraçadas. Esse rei, já conhecido por suas ordens um tanto
quanto frias.
Um dia, teve um sonho. E ao acordar, chamou o seu melhor
tradutor de sonhos, um daqueles que não erravam, e não mentiam. E mais, fazia
de tudo pelo seu rei. Contudo, naquele dia, sua majestade tinha sonhado com
seus dentes, todos caindo. E, como todos sabem, esse tipo de sonho quer dizer
algo não muito bom não só aos olhos do povo, mas também aos do rei.
Mesmo assim, chamou o intérprete, que veio correndo e satisfeito
para o acalanto do rei. E quando o rei, todo satisfeito, o viu, lhe
perguntou... “Meu querido intérprete, essa noite eu não dormi com receio de
fechar os olhos, pois, antes, tive um sonho horrível; por isso, gostaria que
você me dissesse a verdade sobre o seu significado...”... De pé como um grande
empregado que era, o pequeno e bom homem, suntuosamente, levantou seu braço,
coçou a cabeça, pensou um pouco, mas disse... “Meu rei. Vossa majestade teve um
sonho realmente terrível, e não me atenho a mentir para vós, por isso devo
dizer que o significado dele é que toda sua família irá morrer!”...
Depois disso, o semblante do rei subiu às alturas, sua
adrenalina o fez avermelhar-se, suas mãos se fecharam, o punho se fez cerrado,
e gritou... “Matem esse safado, acabem com ele, e não deixe sobrar nem mesmo
suas vestes!”...
Dias depois, depois da grande dor que sentira, queria mais
uma opinião sobre o grande sonho que teve, porém, em nome do bom senso, não
queria que fosse traduzido pelos interpretes da Casa, e sim por outros. Assim,
pediu que buscasse em províncias distantes outros, que soubessem melhor dizer o
que significava aquele sonho.
Após ter eliminado pelos menos uns quatro
pseudo-intérpretes, o rei pediu ao último, de uma província bem simples, que o
fizesse sem mais delongas, pois matá-lo-ia mesmo!... Mas o rei havia se
enganado; quando perguntara a respeito do significado do sonho, disse o mero
empregado, “O senhor ficará mais forte,
será o único rei a sobreviver diante de muitas quedas, as quais vos atingirão,
ao passo serão necessárias para a vossa grandeza...”
O rei, depois daquela declaração envernizada, pediu a ele
que fosse o intérprete real.
Moral da História
Muitos eloquentes seres desse mundo se dizem realistas e ao
mesmo tempo verdadeiros humanos, e eu digo que verdadeiros humanos são aqueles
que reconhecem seus erros, são aqueles que fazem o possível e o impossível para
ser mais humano, a partir deles, enfim, não somos humanos verdadeiros se
deixamos pessoas em frangalhos, em dor, mas felizes, por meio de palavras que,
mesmo e apesar do contexto, podem trazer alegria naquele minuto...
É o caso do rei que sabia o tempo todo o significado do seu
sonho, e ao mesmo tempo queria sempre uma segunda opinião, uma chance de ser
feliz, por meio dos intérpretes, os quais não eram bons com as palavras. Até
que um dia encontrou uma pessoa simples, que sabia ser verdadeiro e ao mesmo
tempo lidar com a situação, pois sabia que um rei, ou mesmo outra pessoa que
fosse merecia ser feliz...
Um pouco de Pinóquio
Pinóquio, o menino de madeira que todos conhecem, hoje simbolo do homem que não sabia lidar consigo mesmo, tinha a sua consciência simbolizada por um grilo. Assim como a nossa que roça, o grilo o faz do mesmo modo em sua pernas, a fazer um pequeno barulho, e por fim nos "acordando" na noite. Nossa consciência não consegue dormir quando a verdade nos bate na madrugada, porém vamos atrás dela ao amanhecer.
Pinóquio, simbolicamente, revela-se como a nós mesmos, na tentativa de conseguir o que queremos na base da mentira, e na maioria das vezes nos engrandecemos por isso; no entanto, estamos propensos a cair em fossos profundos, dos quais não conseguimos sair, e se um dia conseguimos é por meio de um princípio que lavamos a sério. O de não de mentir.
Vamos dar o primeiro passo rumo ao nosso princípio maior.
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