A solidão de Gauthama o ajudou a ser Buda. |
Difícil é lidar
com determinados assuntos que nos fazem falar de nós mesmos, como se fôssemos
abrir mão de um tesouro, ou de uma caixa com nossos pertences mais antigos.
Difícil, mas necessário. Principalmente quando tal assunto se desfaz com o
objetivo de melhorar ou pelo menos mudar o seu conceito, com vistas ao
amadurecimento humano.
Falo da
solidão. Desse ser que nos invoca quando a dor vem. Desse manancial de
covardias que nos inclina sempre a refletir sempre pelo lado errado da alma.
Esse ser, hoje, conhecido como solidão, pode ser, por mais que não vejamos
assim, como algo que nos eleve a patamares espirituais jamais vistos. Claro,
cada um em seu nível.
E quando
falamos em patamares jamais vistos, pensamos em reflexões, em dação prática, em
sacrifícios, em tudo, menos em solidão. Nosso vaidosismo nos impede de pensar que ela é uma ferramenta natural
que se esconde em nós, e que só se revela quando um ser amado, uma amada, uma
mãe ou um pai se vão; ou quando cometemos discrepâncias e nos recolhemos,
arrependidos pelo que fizemos. Daí vem o choro, e com as lágrimas nos vem o sofrimento
solitário, frio, e às vezes até profundo demais...
Precisamos
entender que, assim como muitas ferramentas que usamos para mal (não
propriamente dito), a solidão é uma que necessita urgentemente ser transformada
em uma espada para aniquilar nossos dragões interiores, nosso Diadorim, ou o
que quiserem que seja; mas, de alguma forma, segurar nessa espada, e ir de
encontro ao mais secreto mal que nos toma nas horas mais solitárias.
E podemos
fazê-lo; não podemos é cair em devaneio pelas pessoas que, a nosso ver, não se
importam conosco, ou se se importam ainda não demonstraram, e se não
demonstraram ainda não quer dizer que nos acham, ou acreditam que somos seres
de outro mundo... E somos seres de outro mundo, refletimos e se o somos... Melhor
ainda.
Enfim... Antes
de cairmos em outro planeta e iniciar nossos processos imaturos em relação ao
que somos ou não, dediquemos nosso pensar, no dia a dia, a formas de lidar com
as pessoas – como sempre estamos nos dedicando em vários textos --; porém, nada
é tão difícil quanto, mas assim mesmo podemos perceber que todos nós estamos
sujeitos a contradições, a desencontros, a momentos difíceis, a conflitos
semanais, até diários, e ao ficar preso em pensamentos rudes a si mesmo não nos
ajuda a manter nossos caminhos de elevação interna.
Na
realidade, o que fazemos é pior do que isso, é cair em batalhas internas sem
armas, e quando o fazemos já a perdemos. A solidão, nossa arma para qualquer
batalha, seria a maior das lanças, seria a flecha certeira, seria o melhor míssil,
enfim, seria a bomba atômica contra o mal que se lança em forma de semente em
nossa alma. Não ao contrário.
O Filósofo e a Solidão
O homem que
busca a felicidade, dentro dos legados tradicionais, assim como Cristo, Buda,
Sócrates etc, vai entender que, nas iniciações passadas, quando os grandes
homens estiveram sozinhos, em sua solidão, foram atacados por pensamentos
materialistas, por desejos humanos normais, os quais todos temos, mas não temos
coragem de detê-los, e na maioria das vezes pela fraqueza que sempre nos
persegue nas horas mais inconcebíveis.
Os sábios,
no entanto, têm histórias de iniciação nas quais somente por meio da solidão
conseguiram se livrar do mal real que lhe bebiam o “sangue”. Uma das histórias
mais conhecidas fora a de Cristo, quando se isolou nas montanhas, e lá fora ter
com o seu maior Inimigo uma luta que só ele poderia lutar e vencer. E venceu. Depois
de ter-lhe oferecido um mundo de riquezas, o Anjo Caído saiu de fininho e vira
que Cristo era realmente o Filho de Deus. Não menos que isso, há quinhentos
anos antes de Cristo, nascera Gautama, o futuro Buda, que daria a várias
religiões um novo sentido, uma nova direção.
Sindarta,
antes de iniciar-se, sentou-se debaixo da grande Árvore Bodhi, por seis anos, e
meditou. A solidão pela qual passou o fez refletir acerca da humanidade, dos
seus problemas, das dores, doença e morte. E quando percebera que o Justo Meio
era a saída, acabou com seus demônios internos, os quais, latentes em sua alma,
serviram apenas para trazer à tona a resolução dos grandes problemas que queria
resolver ao contrário dos nossos demônios, que só servem para nos puxar para
baixo, nos distanciando de nossos objetivos.
Um dia um
filósofo nos disse, “se entrarmos pelo cano, temos que sair pelo cano”. Não
adianta dizer que é fácil entrar na solidão e dizer “pronto, resolvi meus
problemas!” – não funciona dessa forma. Nossos pensamentos, querendo ou não,
são uma constante ameaça, são até mais inimigos que muitos inimigos reais que possuímos,
ou pior. Eles tentam nos dizer o contrário de nossas pretensões para com aquilo
que queremos intuir.
Nesse caso,
sabemos que, quando há noventa e nove por cento dos pensamentos indo de
encontro ao caminho do espirito, peguemos aquele um por cento e o transformemos
em uma célula, investimos tudo que temos nela, de modo que fique maior e se
expanda. Quando menos percebemos, estamos sorrindo por dentro, e iniciando
nossa pequena iniciação.
E depois de
termos vencido nossos pensamentos inúteis, façamos um tour em nossas vidas, a
começar pelo dia que se foi, que está se indo, e colhermos o que fizemos de
bom. Coloquemos em nossos objetivos a realização de outros atos, como se plantássemos,
todos os dias, uma semente por vez.
E assim por
diante...
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