segunda-feira, 7 de abril de 2014

A Solidão do Sábio



A solidão de Gauthama o ajudou a ser Buda.


Difícil é lidar com determinados assuntos que nos fazem falar de nós mesmos, como se fôssemos abrir mão de um tesouro, ou de uma caixa com nossos pertences mais antigos. Difícil, mas necessário. Principalmente quando tal assunto se desfaz com o objetivo de melhorar ou pelo menos mudar o seu conceito, com vistas ao amadurecimento humano.

Falo da solidão. Desse ser que nos invoca quando a dor vem. Desse manancial de covardias que nos inclina sempre a refletir sempre pelo lado errado da alma. Esse ser, hoje, conhecido como solidão, pode ser, por mais que não vejamos assim, como algo que nos eleve a patamares espirituais jamais vistos. Claro, cada um em seu nível.

E quando falamos em patamares jamais vistos, pensamos em reflexões, em dação prática, em sacrifícios, em tudo, menos em solidão. Nosso vaidosismo nos impede de pensar que ela é uma ferramenta natural que se esconde em nós, e que só se revela quando um ser amado, uma amada, uma mãe ou um pai se vão; ou quando cometemos discrepâncias e nos recolhemos, arrependidos pelo que fizemos. Daí vem o choro, e com as lágrimas nos vem o sofrimento solitário, frio, e às vezes até profundo demais...

Precisamos entender que, assim como muitas ferramentas que usamos para mal (não propriamente dito), a solidão é uma que necessita urgentemente ser transformada em uma espada para aniquilar nossos dragões interiores, nosso Diadorim, ou o que quiserem que seja; mas, de alguma forma, segurar nessa espada, e ir de encontro ao mais secreto mal que nos toma nas horas mais solitárias.

E podemos fazê-lo; não podemos é cair em devaneio pelas pessoas que, a nosso ver, não se importam conosco, ou se se importam ainda não demonstraram, e se não demonstraram ainda não quer dizer que nos acham, ou acreditam que somos seres de outro mundo... E somos seres de outro mundo, refletimos e se o somos... Melhor ainda.

Enfim... Antes de cairmos em outro planeta e iniciar nossos processos imaturos em relação ao que somos ou não, dediquemos nosso pensar, no dia a dia, a formas de lidar com as pessoas – como sempre estamos nos dedicando em vários textos --; porém, nada é tão difícil quanto, mas assim mesmo podemos perceber que todos nós estamos sujeitos a contradições, a desencontros, a momentos difíceis, a conflitos semanais, até diários, e ao ficar preso em pensamentos rudes a si mesmo não nos ajuda a manter nossos caminhos de elevação interna.

Na realidade, o que fazemos é pior do que isso, é cair em batalhas internas sem armas, e quando o fazemos já a perdemos. A solidão, nossa arma para qualquer batalha, seria a maior das lanças, seria a flecha certeira, seria o melhor míssil, enfim, seria a bomba atômica contra o mal que se lança em forma de semente em nossa alma. Não ao contrário.


  
O Filósofo e a Solidão


O homem que busca a felicidade, dentro dos legados tradicionais, assim como Cristo, Buda, Sócrates etc, vai entender que, nas iniciações passadas, quando os grandes homens estiveram sozinhos, em sua solidão, foram atacados por pensamentos materialistas, por desejos humanos normais, os quais todos temos, mas não temos coragem de detê-los, e na maioria das vezes pela fraqueza que sempre nos persegue nas horas mais inconcebíveis.

Os sábios, no entanto, têm histórias de iniciação nas quais somente por meio da solidão conseguiram se livrar do mal real que lhe bebiam o “sangue”. Uma das histórias mais conhecidas fora a de Cristo, quando se isolou nas montanhas, e lá fora ter com o seu maior Inimigo uma luta que só ele poderia lutar e vencer. E venceu. Depois de ter-lhe oferecido um mundo de riquezas, o Anjo Caído saiu de fininho e vira que Cristo era realmente o Filho de Deus. Não menos que isso, há quinhentos anos antes de Cristo, nascera Gautama, o futuro Buda, que daria a várias religiões um novo sentido, uma nova direção.

Sindarta, antes de iniciar-se, sentou-se debaixo da grande Árvore Bodhi, por seis anos, e meditou. A solidão pela qual passou o fez refletir acerca da humanidade, dos seus problemas, das dores, doença e morte. E quando percebera que o Justo Meio era a saída, acabou com seus demônios internos, os quais, latentes em sua alma, serviram apenas para trazer à tona a resolução dos grandes problemas que queria resolver ao contrário dos nossos demônios, que só servem para nos puxar para baixo, nos distanciando de nossos objetivos.

Um dia um filósofo nos disse, “se entrarmos pelo cano, temos que sair pelo cano”. Não adianta dizer que é fácil entrar na solidão e dizer “pronto, resolvi meus problemas!” – não funciona dessa forma. Nossos pensamentos, querendo ou não, são uma constante ameaça, são até mais inimigos que muitos inimigos reais que possuímos, ou pior. Eles tentam nos dizer o contrário de nossas pretensões para com aquilo que queremos intuir.

Nesse caso, sabemos que, quando há noventa e nove por cento dos pensamentos indo de encontro ao caminho do espirito, peguemos aquele um por cento e o transformemos em uma célula, investimos tudo que temos nela, de modo que fique maior e se expanda. Quando menos percebemos, estamos sorrindo por dentro, e iniciando nossa pequena iniciação.

E depois de termos vencido nossos pensamentos inúteis, façamos um tour em nossas vidas, a começar pelo dia que se foi, que está se indo, e colhermos o que fizemos de bom. Coloquemos em nossos objetivos a realização de outros atos, como se plantássemos, todos os dias, uma semente por vez.


E assim por diante...


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