quinta-feira, 10 de abril de 2014

O Peso de Uma Virtude


Epíteto: alma leve nos leva a virtude.

“Não te digas filósofo nunca, nem fales em máximas na presença de ignorantes, mas age de acordo com essas máximas. Assim, num banquete, não ensines com é preciso comer, mas come da maneira conveniente.”


Uma corrente presa à parede, e ao mesmo tempo presa em nossos pés. Anos se passam, e nos acostumamos a ela, ou àquele peso, àquela circunstância; talvez, semelhante aos filmes mudos, quando prendiam um mero ladrão de galinhas, e nele colocavam as famosas roupas listradas em preto e branco, acompanhada daquela grande bola negra, com intuito se segurar o protagonista. Será que tudo isso ilustra o peso que temos do mundo em nossas vidas?

O problema, no entanto, é quando nos referimos ao aspecto psicológico, ou melhor, quando nos embriagamos de problemas sociais, familiares, conjugais e outros, que, por ventura, nunca falharão em nossa caminhada. Aqui, nesse quesito, não só neste, como ao de cima, quando nos amarramos a algo, ficamos presos involuntariamente, e somos obrigados a lidar com a situação como crianças que nasceram amarradas em algemas.

Presos, ou caminhando como personagens mitológicos, a carregar pedras eternas em suas costas, com vistas à construção de seus objetivos, são mais que formas metafóricas, para muita gente, é real, é natural.

Mas até que ponto podemos (ou temos que) caminhar com todo esse peso, seja na consciência, seja no corpo – nas costas, na cabeça --, enfim, por que temos essa natureza de sempre carregar algo acima de nossas possibilidades, se em nossos objetivos está a virtude, a moral, a ética...?

Chega a ser estranho, e no mínimo incoerente, da nossa parte quando nos referimos a esses valores e ao mesmo tempo trazemos em nossas almas o peso de nossa consciência, que, ainda que reflexiva, pensante, dotada de direções ao racional, prefere portar pesos os quais, desde a tenra idade, nos fazem acreditar que é preciso tê-los pelo resto de nossa existência...

Epiteto Pensa Diferente...

Desde que buscamos valores internos dos quais podemos tirar uma boa vivência, seja ela aqui ou acolá, temos que ser coerentes com eles. Não podemos simplesmente citá-los de forma didática, relativizando-os, colocando em xeque o que são, pois, apenas a maneira de praticá-los é cultural, eles não são.

São a essência humana caminhando dentro de uma alma que pede a primazia da calma, de andar sem peso, da necessidade de elevar-se sem dificuldades, sem exageros, como fazemos atualmente... E assim, a virtude o é; ao mesmo tempo a moral, a ética, inexoravelmente, como diria uma mestra de filosofia, a qual um dia nos disse... “Inexoravelmente significa cuidar de uma planta com um pouco d’água, todos os dias, e por isso vai crescer, dar frutos.”

A virtude não difere de uma planta, apenas em seu aspecto físico claro, quando presa ao chão; pois ela, a grande virtude que queremos, não se prende a nada, nem mesmo às raízes humanas, mesmo porque ela é inata ao ser humano, isto é, está ao lado do homem como uma prece, uma brisa, uma mera forma de ser.
A virtude, como Epiteto vê, não é o peso que procuramos no dia a dia para sermos de Bem. Não é a força interna latente, muito menos a física, com objetivos espirituais. Nada disso...

A virtude, segundo o filósofo, tem tudo a ver com a harmonia interior, com a vida moral, com aquela sensação de alivio coerente. Ao contrário, seria o mal nos confundindo, deixando-nos ambíguos.

Temos que Ter Um Código Moral

Para isso, temos que reconceituar liberdade, aceitar seu modo de ser. Como ele próprio, Epíteto, dizia... “Libertat et Dium”, Liberdade é Deus. Ao contrário do que debatemos em torno de conceitos modernos, arrastados pelo tempo como corretos. Além disso, o bem-estar, ou seja, o ficar bem consigo mesmo e com as pessoas ao nosso redor...

Para terminar, o que se pede é que escolhamos melhor, não tanto quanto escolhemos hoje, como útil, mas revisar nossas escolhas, deixá-las de lado apenas por um tempo, e entender que, quanto mais escolhas, mais peso, mais dores, mais problemas... A sensação é de um saco de lixo ambulante a escolher o que lhe cabe até o fim de sua jornada.

Nossas escolhas mais significativas devem ser de cunho moral, ético, virtuoso, dentro das quais a simplicidade deve reinar.



O filósofo tem razão.

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