Epíteto: alma leve nos leva a virtude. |
“Não te digas filósofo nunca, nem fales em máximas na presença
de ignorantes, mas age de acordo com essas máximas. Assim, num banquete, não ensines
com é preciso comer, mas come da maneira conveniente.”
Uma corrente presa à parede, e ao
mesmo tempo presa em nossos pés. Anos se passam, e nos acostumamos a ela, ou
àquele peso, àquela circunstância; talvez, semelhante aos filmes mudos, quando
prendiam um mero ladrão de galinhas, e nele colocavam as famosas roupas
listradas em preto e branco, acompanhada daquela grande bola negra, com intuito
se segurar o protagonista. Será que tudo isso ilustra o peso que temos do mundo
em nossas vidas?
O problema, no entanto, é quando
nos referimos ao aspecto psicológico, ou melhor, quando nos embriagamos de
problemas sociais, familiares, conjugais e outros, que, por ventura, nunca
falharão em nossa caminhada. Aqui, nesse quesito, não só neste, como ao de
cima, quando nos amarramos a algo, ficamos presos involuntariamente, e somos
obrigados a lidar com a situação como crianças que nasceram amarradas em
algemas.
Presos, ou caminhando como
personagens mitológicos, a carregar pedras eternas em suas costas, com vistas à
construção de seus objetivos, são mais que formas metafóricas, para muita
gente, é real, é natural.
Mas até que ponto podemos (ou
temos que) caminhar com todo esse peso, seja na consciência, seja no corpo –
nas costas, na cabeça --, enfim, por que temos essa natureza de sempre carregar
algo acima de nossas possibilidades, se em nossos objetivos está a virtude, a
moral, a ética...?
Chega a ser estranho, e no mínimo
incoerente, da nossa parte quando nos referimos a esses valores e ao mesmo
tempo trazemos em nossas almas o peso de nossa consciência, que, ainda que
reflexiva, pensante, dotada de direções ao racional, prefere portar pesos os quais,
desde a tenra idade, nos fazem acreditar que é preciso tê-los pelo resto de
nossa existência...
Epiteto Pensa Diferente...
Desde que buscamos valores
internos dos quais podemos tirar uma boa vivência, seja ela aqui ou acolá,
temos que ser coerentes com eles. Não podemos simplesmente citá-los de forma didática,
relativizando-os, colocando em xeque o que são, pois, apenas a maneira de praticá-los
é cultural, eles não são.
São a essência humana caminhando
dentro de uma alma que pede a primazia da calma, de andar sem peso, da
necessidade de elevar-se sem dificuldades, sem exageros, como fazemos
atualmente... E assim, a virtude o é; ao mesmo tempo a moral, a ética,
inexoravelmente, como diria uma mestra de filosofia, a qual um dia nos disse...
“Inexoravelmente significa cuidar de uma planta com um pouco d’água, todos os
dias, e por isso vai crescer, dar frutos.”
A virtude não difere de uma
planta, apenas em seu aspecto físico claro, quando presa ao chão; pois ela, a
grande virtude que queremos, não se prende a nada, nem mesmo às raízes humanas,
mesmo porque ela é inata ao ser humano, isto é, está ao lado do homem como uma
prece, uma brisa, uma mera forma de ser.
A virtude, como Epiteto vê, não é
o peso que procuramos no dia a dia para sermos de Bem. Não é a força interna
latente, muito menos a física, com objetivos espirituais. Nada disso...
A virtude, segundo o filósofo, tem
tudo a ver com a harmonia interior, com a vida moral, com aquela sensação de
alivio coerente. Ao contrário, seria o mal nos confundindo, deixando-nos ambíguos.
Temos que Ter Um Código Moral
Para isso, temos que reconceituar liberdade, aceitar seu modo
de ser. Como ele próprio, Epíteto, dizia... “Libertat et Dium”, Liberdade é Deus. Ao contrário do que debatemos
em torno de conceitos modernos, arrastados pelo tempo como corretos. Além
disso, o bem-estar, ou seja, o ficar bem consigo mesmo e com as pessoas ao
nosso redor...
Para terminar, o que se pede é
que escolhamos melhor, não tanto quanto escolhemos hoje, como útil, mas revisar
nossas escolhas, deixá-las de lado apenas por um tempo, e entender que, quanto
mais escolhas, mais peso, mais dores, mais problemas... A sensação é de um saco
de lixo ambulante a escolher o que lhe cabe até o fim de sua jornada.
Nossas escolhas mais significativas
devem ser de cunho moral, ético, virtuoso, dentro das quais a simplicidade deve
reinar.
O filósofo tem razão.
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