“Considerai como crescem os lírios do campo: eles
não trabalham nem fiam, contudo vos digo que nem Salomão em toda a sua glória
se vestiu como um deles.” (Mateus)
Sem palavras... |
Viver a simplicidade, como o
mais humilde do ser, que fia seu trabalho como uma grande agulha que borda seu
destino junto ao tecido, perfazendo todo caminho, com o que pode, com suas
ferramentas. Assim devíamos ser, sem medo de sermos felizes, sem o muito que
nos cobre, sem o muito que nos cabe, de modo a viver como sábios, refletindo o
que buscamos.
No entanto, o egoísmo e a preponderância
em ser o que não podemos, a ganância em ter o que já temos, nos atrapalham em nossas
sendas, pelas quais devíamos andar. A culpa, na realidade, é de um vício
histórico que nos surgiu há milênios, ou mesmo quando descobrimos que podemos
ser melhores do que os animais em conforto, em inteligência, e muito mais...
A questão cai por terra, no
entanto, se observamos bem. A grande maioria dos animais não precisa de
conforto, e possuem suas inteligências voltadas aos seus instintos, não mais
que isso, com exceção de certos animais, um pouco mais evoluídos, que tentam
sincronizar sua existência com a da humana, mas só.
O homem, dessa forma, ao vir
que, ao comparar-se com os animais é algo tão ilógico quanto, tenta se elevar
materialmente mais que o próximo, mais que a si mesmo, quando pode. E ainda não
satisfeito, revela-se dono de incertezas que, repetidas, viram certezas, como “tenho
mais dinheiro, por isso sou mais poderoso e inteligente que a maioria que me
cerca”, e tal premissa percorre as vielas dos morros e cidades, realizando uma
nova educação, a novas gerações.
O filósofo
E a simplicidade de viver bem,
somente com as ferramentas que nos deram do céu, se vai. Não se vai,
entretanto, o homem-filósofo, que, ao buscar a tradição, em nome de um
Sócrates, de um Cristo, de um Epiteto, sabe que tais homens vieram com
conhecimentos nos quais a pérola maior se inicia com a prática de valores
divinos, sagrados, que se iniciam semelhante aos lírios, que não trabalham, nem
se fiam, mas são tão belos quanto qualquer rei...
O homem que busca em si tais
valores releva-se um pouco mais sábio do que aquele, cuja vida é mero instrumento
de consecução de valores materiais, e que não tende à busca semântica da alma,
do próprio espirito que, em seu terceiro andar, tornar-se-á com o tempo um
andar de um edifício desocupado, sujo com o tempo, sem que haja visitas,
principalmente a do dito cujo.
O filósofo, na simplicidade,
olha para trás e sente a necessidade de espelhar-se no pobre, no humilde, pois
esse, pelas forças que obtivera com o tempo, conseguira lidar com o que tem ou
o que tinha. Torna-se forte, e ao passo livre. O desapego voluntário, no
entanto, é mais raro a qualquer homem.
Fernando Pessoa
Como diria Fernando Pessoa, “Se
queres tudo, terá tudo, se não queres nada, serás livre”. Estudioso do
esoterismo, Pessoa sabia que a fórmula humana de felicidade era nada mais que
nada menos que a simplicidade, o sorriso, o abraço, as amizades, a família, o
amor humano e a poesia...
E a todos que estudam e se
apegam a filosofia dos grandes homens do passado sabe que tal vertente está não
apenas no passado, mas em especial, aqui e agora, como diria o salvador cristão “O
reino dos céus está aqui”.
Cristo
E sobre a obediência, dizia
ele, “Não podeis servir a Deus e às riquezas”, ou seja, não podeis seguir dos
caminhos ao mesmo tempo, pois seremos hipócritas conosco mesmos, pois sabemos
que nossa personalidade é e sempre será voltada ao conforto, à matéria, e como
um pequeno cão ela age se a oferecermos mais comida, mais bebida a ela, e,
assim, sem perceber, no mais tardar, esquecemos nossa identidade, o que somos,
nos distanciado de nossos ideais.
A personalidade deve ser
adestrada, educada, trabalhada, ainda que sejamos difíceis de entender o porquê
de nossos caminhos serem tão estreitos. São estreitos porque nossa vontade de
mudar em relação aos nossos valores materiais é pequena.
E assim, em meio a essa
dificuldade de conseguir nos livrar de um mundo que nos cerca de pesos inúteis,
podemos caminhar da maneira mais lenta, gradual e ao mesmo tempo simples, sem
que tenhamos a ganância da simplicidade; assim não a teremos nunca.
Ou seja, não adianta jogar
tudo para cima, como se fôssemos monges loucos ou pretendentes a filósofos tradicionalistas,
pois estraremos usando de artifícios grotescos, tais quais pacientes de
hospitais psiquiátricos, pois não somos mestres, e sim bestas se agirmos dessa
forma.
Machado de Assis tem um poema nos faz pensar sobre a busca sensata do homem, e das coisas, em ser simples, em ser melhor, ou mesmo a busca da paz por meio dessa característica tão natural e bela.
Circulo Vicioso
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
- Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna á gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
- Misera ! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rutila capela:
- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?
Enfim, refletimos acerca desse poema maravilhoso, que nos
toca mais que canção de ninar. Espelhemos nessas palavras sábias desse filósofo
nosso, que, com certeza, o é pelos passos na areia dos grandes do passado.
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