quarta-feira, 2 de abril de 2014

"Olhai os Lírios dos Campo"

“Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam, contudo vos digo que nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles.” (Mateus)




Sem palavras...




Viver a simplicidade, como o mais humilde do ser, que fia seu trabalho como uma grande agulha que borda seu destino junto ao tecido, perfazendo todo caminho, com o que pode, com suas ferramentas. Assim devíamos ser, sem medo de sermos felizes, sem o muito que nos cobre, sem o muito que nos cabe, de modo a viver como sábios, refletindo o que buscamos.

No entanto, o egoísmo e a preponderância em ser o que não podemos, a ganância em ter o que já temos, nos atrapalham em nossas sendas, pelas quais devíamos andar. A culpa, na realidade, é de um vício histórico que nos surgiu há milênios, ou mesmo quando descobrimos que podemos ser melhores do que os animais em conforto, em inteligência, e muito mais...

A questão cai por terra, no entanto, se observamos bem. A grande maioria dos animais não precisa de conforto, e possuem suas inteligências voltadas aos seus instintos, não mais que isso, com exceção de certos animais, um pouco mais evoluídos, que tentam sincronizar sua existência com a da humana, mas só.

O homem, dessa forma, ao vir que, ao comparar-se com os animais é algo tão ilógico quanto, tenta se elevar materialmente mais que o próximo, mais que a si mesmo, quando pode. E ainda não satisfeito, revela-se dono de incertezas que, repetidas, viram certezas, como “tenho mais dinheiro, por isso sou mais poderoso e inteligente que a maioria que me cerca”, e tal premissa percorre as vielas dos morros e cidades, realizando uma nova educação, a novas gerações.

O filósofo

E a simplicidade de viver bem, somente com as ferramentas que nos deram do céu, se vai. Não se vai, entretanto, o homem-filósofo, que, ao buscar a tradição, em nome de um Sócrates, de um Cristo, de um Epiteto, sabe que tais homens vieram com conhecimentos nos quais a pérola maior se inicia com a prática de valores divinos, sagrados, que se iniciam semelhante aos lírios, que não trabalham, nem se fiam, mas são tão belos quanto qualquer rei...

O homem que busca em si tais valores releva-se um pouco mais sábio do que aquele, cuja vida é mero instrumento de consecução de valores materiais, e que não tende à busca semântica da alma, do próprio espirito que, em seu terceiro andar, tornar-se-á com o tempo um andar de um edifício desocupado, sujo com o tempo, sem que haja visitas, principalmente a do dito cujo.

O filósofo, na simplicidade, olha para trás e sente a necessidade de espelhar-se no pobre, no humilde, pois esse, pelas forças que obtivera com o tempo, conseguira lidar com o que tem ou o que tinha. Torna-se forte, e ao passo livre. O desapego voluntário, no entanto, é mais raro a qualquer homem.

Fernando Pessoa

Como diria Fernando Pessoa, “Se queres tudo, terá tudo, se não queres nada, serás livre”. Estudioso do esoterismo, Pessoa sabia que a fórmula humana de felicidade era nada mais que nada menos que a simplicidade, o sorriso, o abraço, as amizades, a família, o amor humano e a poesia...

E a todos que estudam e se apegam a filosofia dos grandes homens do passado sabe que tal vertente está não apenas no passado, mas em especial, aqui e agora, como diria o salvador cristão “O reino dos céus está aqui”.

Cristo

E sobre a obediência, dizia ele, “Não podeis servir a Deus e às riquezas”, ou seja, não podeis seguir dos caminhos ao mesmo tempo, pois seremos hipócritas conosco mesmos, pois sabemos que nossa personalidade é e sempre será voltada ao conforto, à matéria, e como um pequeno cão ela age se a oferecermos mais comida, mais bebida a ela, e, assim, sem perceber, no mais tardar, esquecemos nossa identidade, o que somos, nos distanciado de nossos ideais.

A personalidade deve ser adestrada, educada, trabalhada, ainda que sejamos difíceis de entender o porquê de nossos caminhos serem tão estreitos. São estreitos porque nossa vontade de mudar em relação aos nossos valores materiais é pequena.

E assim, em meio a essa dificuldade de conseguir nos livrar de um mundo que nos cerca de pesos inúteis, podemos caminhar da maneira mais lenta, gradual e ao mesmo tempo simples, sem que tenhamos a ganância da simplicidade; assim não a teremos nunca.

Ou seja, não adianta jogar tudo para cima, como se fôssemos monges loucos ou pretendentes a filósofos tradicionalistas, pois estraremos usando de artifícios grotescos, tais quais pacientes de hospitais psiquiátricos, pois não somos mestres, e sim bestas se agirmos dessa forma.

Machado de Assis tem um poema nos faz pensar sobre a busca sensata do homem, e das coisas, em ser simples, em ser melhor, ou mesmo a busca da paz por meio dessa característica tão natural e bela.

Circulo Vicioso

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna á gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Misera ! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rutila capela:

- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?



Enfim, refletimos acerca desse poema maravilhoso, que nos toca mais que canção de ninar. Espelhemos nessas palavras sábias desse filósofo nosso, que, com certeza, o é pelos passos na areia dos grandes do passado.

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