segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O País das Nuvens

Temos em nós a pérola do mar da vida. 



Podemos, sim.




É preciso acreditar que somos capazes de mudar, ainda que digam o contrário; é preciso confiar em si mesmo, em nossas possibilidades, no que somos. Meras conjecturas, olhares frios, desconfiança, passos para trás, não fazem parte do homem que quer dar passos rumo ao mistério da vida, rumo a si mesmo.

É preciso ser, antes que digam o que somos; é mais que necessário pensar, antes que pensem por nós; olhar para a montanha, para o alto de seu pico, entender que nuvens sobrevoam seu cimo porque lá se esconde o que queremos ver, tocar, sentir com nossas mãos – talvez seja esse o mistério que nos faz subir em topos, e no fundo acreditamos que seja algo maior que nossa imaginação...  – Mesmo que não seja, temos que subir, com nossos pés medonhos, coração idem, e com uma alma insaciável a ponto de chegar lá, no céu da montanha, antes do corpo... E chegar.

É natural ter medo, é natural chorar, sentir dor; é natural cair e se machucar, pensar em desistir e duvidar daquele sol que brilha em seus olhos, apesar do frio que faz pela manhã... Não seria natural ao homem valente, ao que nascera para concretizar, plasmar ideais, sucumbir à dor, ao pranto, à queda e dizer que nada mais vale senão ficar estirado e não levantar-se mais. Isso é incompreensível, é inimaginável...

Deixe que outros sejam assim, que chorem pelas vestes, pela casa, pelo pão, pela falta de pessoas para afastar a solidão, mas o homem que nascera com o escudo interno, para se defender dos males que o dragão o faz, de um mundo enganoso que se sobrepõe a suas leis falhas, incoerentes e filhas de interesses arcaicos, de tudo que o faz retroagir, se ergue das cinzas, renova suas garras, sacraliza seu caminho, e ama o todo...

É preciso que nos tornemos esse homem, esse novo homem, que edifica gerações, realiza sonhos, nos faz mais humanos – qualidade nata da qual esquecemos – e protege o que mais precisamos, os mistérios.

Quando menino, pensamos em seres estranhos que se escondem por baixo das coisas, e tememos dormir, ou dormimos em pânico, debaixo dos cobertores; e quando não aguentamos mais, corremos para a cama dos pais, em busca de proteção, de abrigo... Essa fase, no entanto, difícil de passar na vida de adolescentes, que se dizem livres do julgo do pai, mas ao sentir que a modernidade o imprime circunstâncias além-corpo, corre para o colo dos genitores, sem saber que se iguala ao pequeno que um dia fez o mesmo numa noite de relâmpagos.

O mesmo acontece ao homem que não sai de sua casa, que se desculpa pelas derrotas sofridas, e que introduz lemas a partir de baixas em sua pobre vida, “o governo é culpado”; “não tenho idade para isso mais”; “sou da época em que...”, fortalecendo mais suas desculpas e seu pavor ante a uma sociedade que ele mesmo acredita que, agora, é feita de pessoas que o colocaram de lado...

É fácil morrer, para quem não sabe. É só deixar de caminhar para aquilo que um dia fora a razão de sua vinda ao mundo: descobrir. Descobrir pelos pequenos passos que aquele monstro debaixo da cama é uma necessidade, uma imaginação, uma forma que criamos em torno de nós mesmos, com receio de dar passos sozinhos; matar esse monstro é a sina do homem, pois, a cada passo que se dá em favor de algo maior, aquele monstro irá aparecer, ou melhor, ele nunca irá desaparecer... Contudo sorriremos com isso, vamos permanecer com isso, e amaremos essa criatura como a um filho que um dia criamos, e foi embora... Esse monstro, ao contrário dele, não se vai.

Até mesmo os grandes homens o tiveram, e os seus, com certeza, foram os governos, ou até mesmo sociedades em que nasceram; foram os pensamentos negativos de suas culturas que, como sempre há, agiram contra suas ideias, filosofia, politica, enfim, mesmo com todas as intempéries que tiveram e passaram, caminharam e conseguiram chegar ao topo do “país das nuvens”.

E nós, rebentos chorões, nos esforçamos para entender o que nos faz presos a valores que há muito se repetem sem nexo e ao mesmo tempo repelem o que realmente somos. E quando o somos, nos discriminam, preconceituam, nos humilham simplesmente porque não somos o Narciso contrário desse mundo tão feio.


É preciso acreditar que haverá um dia um mundo que nos fará bem, de acordo com a nossa natureza e capacidade, abrindo margem aos nossos reais valores pelos quais um dia tanto lutamos e luto.

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