terça-feira, 30 de setembro de 2014

A Fuga dos Ícaros: o último voo.

Final.


A Educação nos faz Dedálos ou Ícaros. Podemos escolher.




Na antiguidade, em tempos dourados, quando reis proclamados pelo povo, eleitos pelos deuses, andavam entre nós, pais e filhos tinham relacionamentos mais maduros e, ao passo, equidistantes, mesmo porque acreditavam que o amor entre os dois não poderia ser algo muito direcionado, mas expansivo, social, de modo que havia escravos professores, amas de leites, dos quais, na maioria das  vezes, vinham o ensino do básico – modos educados, amor pelo país, respeito aos mais antigos, reverência aos heróis...

Enfim, o que ficava aos pais era a prática. Muitos o levavam ao campo de batalha antes que completasse a idade, e outros, iniciados para o devido fim, enfrentavam touros ou leões, com o fim de perder o medo do inimigo. Era a educação de guerreiro.

No entanto, não estamos mais em épocas nas quais se ensina a enfrentar leões, touros ou mesmo cobras como meio educacional seja para a guerra, seja para enfrentar a vida. Sabemos, entretanto, que em países do Oriente Médio pais fomentam uma educação (se é que se pode chamar assim...) com vistas ao jovem enfrentar batalhas em campo.

Contudo, em relação às batalhas passadas, podemos dizer que estas últimas são com finalidades irascíveis, baseadas em premissas radicais, em comunhão com ideais confusos, ao contrário das antigas, nas quais dependiam de fatores menos extremos para a formação do indivíduo... Nas atuais, não se forma o individuo, mas o deformam.

Guerras à parte, podemos dizer que a formação do jovem pode advir de práticas naturais, nas quais ele mesmo pode vir a crescer e se tornar um homem. Na antiguidade, graças às batalhas infindáveis, ficava mais difícil pensar em algo como hoje se pensa no que deveria o jovem fazer, realizar, muito pelo contrário, já havia uma formação, uma dedicação do sistema ao crescimento do jovem – na maioria das vezes, com treze anos – com vistas ao ideal do Estado.

Hoje não se pensa no Estado como um ser ideológico, puro, certo, justo, dentro qual se realiza (ou se plasma) ideias absolutas, claras, como nas reais civilizações do passado, não, e sim a um crescimento individual, sem referenciais, apenas baseados em progressos pessoais, sem qualquer tipo de ordem, organização, e respeito ao que se assume como profissional.

Nas guerras do passado, somente aquele que fosse guerreiro ia para o campo de batalhas, mesmo porque se se nascesse com outras vocações, não seria rejeitado, nem expurgado da face da terra, como se comenta, mas sim trabalharia em função do Estado que lhe daria todos os meios para a realização de sua matéria vocacional. Ou seja, não se era discriminado pelo que fazia, mas tão respeitado quanto a um soldado em campo.

Por que havia um Estado Ideológico?

Porque houve reminiscências mais antigas ainda que diziam que, se o homem seguisse o modelo celeste de educação, plasmando-a em seu viver, contemplaria os deuses em terra. E isso, como em culturas que há hoje, acreditava-se (por exemplo...)  que, se mudamos o sol de lugar, dando-o liberdade para ser o que quer, e às árvores para nascerem de qualquer cor, estaríamos indo de encontro a leis maiores, as quais diriam que, se dermos liberdade para indagar acerca do que queremos, podemos responder a uma personalidade que quer transgredir leis, mudar para pior o mundo, e por consequência o papel do homem no universo.

Então, um rei, ou faraó (governantes), lidava com esses elementos de modo que não desvencilharia do que o homem era no mundo, e nem do seu papel, fosse qualquer um que estivesse em sintonia com as antigas leis. Do mais simples marceneiro ao mais herói dos homens, todos eles trabalhariam em função do Estado, que refletia as leis do universo...

E o jovem, dentro desses valores, aprendia que, desde cedo, viria com o tempo a ser um marceneiro, um guardião, ou mesmo um pai de família, amado por suas ações. Aprendia que o respeito aos deuses, antes de mais nada,  seria a tônica principal para a consecução de seus sonhos, em qualquer nível.

A exemplo seria um jovem (ou uma jovem) com uma vocação mais sutil do que a dos demais: a de ser um sacerdote ou uma sacerdotisa, os quais seriam preparados como se fossem seres de “outro mundo” em terra, levados a ter uma vida mais recolhida, mais restrita ao comportamento social e amoroso, enfim, seriam filhos dos deuses que passariam a vida toda buscando meio de elevar-se por meio de ações simples, mas regadas de muita dedicação.


Bem... O que falta no jovem de hoje?

O texto acima nos faz repensar não somente o papel desses seres maravilhosos, cheios de energia, porém confusos e sem espelhos na vida, mais, nos faz refletir acerca do que somos em um estado que nos retira o que somos, o que temos que ser, ou seja, nada mais que humanos vocacionados desde que nascemos, mas tal é qualidade retirada por sistemas que acreditam ser mais importante eleger qualquer marinheiro (ou passageiro qualquer) do que reais capitães, em alto mar.

O que falta aos jovens de hoje é olhar ao seu lado e ver alguém realmente justo, nobre, ético dentro dos parâmetros naturais e clássicos; o que falta aos jovens é olhar a si mesmo e deixar de querer muitas coisas e simplesmente encontrar algo que esteja de acordo com aquele céu, quando no passado foi espelho de grandes nações; o que falta aos jovens é olhar para o seu Ícaro e com ele conversar, e sentir que nele se resguarda muitos aprendizados, nos quais o respeito aos mais velhos, o ouvir mais atencioso e o compartilhar das ideias são premissas básicas para um belo voo.


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A Fuga dos Ícaros: de pai para filho.

As relações, todas elas, trazem em si uma tônica: aprendizado humano. Entre pai e filho, há sempre um algo mais.




Dédalo e Ícaro, mistérios em cada parte do mito.



A relação entre pai e filho talvez seja uma das mais assombrosas que se tem história no âmbito universal – seja entre animais, plantas e pedras, e humanos; é a forma mais misteriosa que se pode perceber, ver e admirar. Contudo, relações, em qualquer nível, nos ensinam muitas coisas (e somente nós percebemos isso), ao mesmo tempo em que queremos aprendê-las, caso contrário, passamos despercebidos nessa atmosfera natural que os deuses nos conceberam.

Não é nosso dever (mas uma obrigação) deixar que tais relações não se transformem em pontos instintivos eternamente; há um dever moral em nosso meio, advindo de heranças clássicas, das quais não o tradicionalismo, mas a Tradição em forma de conhecimento a espera de ser tocada como água benta.

Filhos...

Dos filhos, eternos Ícaros, que necessitam de suas asas, ainda que sejam feitas pelo próprio pai, esperamos que nos reconheçam como autoridade eterna, e referencial (como os grandes do passado), e que progridam a partir do momento em que suas ferramentas estejam prontas para enfrentar o mundo...

Hoje estamos passando por uma rara falta de respeito aos valores – sejam eles universais ou básicos, dos quais até o recolher do copo no chão é importante, e mesmo assim não o fazemos --, por isso devemos recorrer ao mais rápido possível ao que um dia nos ensinou e ensina a tradição – desde que tenhamos caráter para praticá-lo. E a juventude não tem.

Ontem, em uma determinada cidade, com determinados guerreiros, jovens, antes mesmo de completar seus quinze anos, já eram preparados para enfrentar a guerra. Por isso, para se ter uma visão clara do que iria enfrentar, como iria lidar com o medo, passava por provas iniciáticas nas quais touros, cobras, além de provas físicas eram lhe dadas a partir do instante em que era perfeito fisicamente. Se nascesse com alguma anomalia, ficava a critério dos comandantes seu destino.

O que me faz lembrar a disposição tenra dos jovens em servir seu país, sua sociedade; o medo de obedecer? O medo de pegar em fuzis? O medo de marchar errado e enfrentar mais provas? – não. Apenas o medo de levantar cedo...!

É o retrato de uma era que tem compaixão aos homens; uma compaixão que leva os jovens a se sentirem eternos filhos não só de seus pais, mas de um mundo que tem pena de vê-lo sair de seu leito sozinho, enfrentar a grande batalha diária (enfrentar filas, ônibus, empurrões, marginais, etc) na qual somente os heróis voltam para casa sorridentes...

É de envergonhar a História! Se olharmos para trás (ou mesmo pelo espelho de nossa alma), vamos colher lendas de jovens que tiveram tantas dificuldades em sua época quanto qualquer um de sua idade; vamos nos indagar a respeito de como saíram em busca de coisas fantásticas, caminharam em favor de seus sonhos, e foram vitoriosos.

No entanto, buscar referenciais a adotar para entender a si mesmo, como faziam no passado, dar seus primeiros passos rumo ao desconhecido ( no trabalho, em uma ajuda humanitária, colher lixos, varrer uma casa, lavar uma louça...) torna cada um menos homem, e às mulheres, a ideia de submissão: é o que o jovem tem em mente.

E os Pais..,

Assim como um herói que claudica em suas ideologias filosóficas, parte para o que lhe vem à cabeça, ensina o que tem, e esquece que a peça humana ao seu lado é um reservatório eterno de seus atos, tanto quanto palavras.

Não adianta ler, sorrir, decorar máximas, querer ser um pastor ou mesmo um professor de filosofia, se não tiver em suas veias a vontade de ir à luta, pegar na terra, plantar, colher, perceber os mistérios, passar lições, percebê-las, ser humilde, recebê-las, e passar de volta a quem ama: seu filho.

O pai, como herói que não sabe que é, iguala-se a Dédalo. Desde o inicio, tenta passar lições involuntárias de si mesmo,  o que decorre de perigos reais, pois, se não sabe o que passa, falta-lhe, assim, referenciais maiores que ele; e quando percebe, encontra a Deus, seu mentor nas orações, e, enfim, reflete acerca de seu papel, que antes não percebia.

Agora que pôs os pés no chão, olha seu filho, tenta resgatar por meio de atos pensados, referenciados no Criador, o olhar da cria, que há muito deixou de indagar a respeito da vida, de tudo, mesmo porque o mundo já o faz por meio de televisões e internets, contudo não sabe de uma realidade que subjaz em nós, a divindade. E o pai deve-lhe ensinar isso.




E disso falaremos no próximo texto...

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Fuga de Ícaros: mistérios que se perdem.

O Mito de Dédalo e Ícaro se expande sobre terrenos mal vistos pelo homem, por isso vamos nos ater somente ao que nos interessa nele, falar um pouco mais acerca de uma juventude presa a valores que ela mesma cria como forma de sol, a voar com asas de seda, ou antes mesmo desse voo, a cair de suas torres tão altas.



"Não voe tão alto".





E por falar em torres, por que que temos em nosso tempo, nessa época tão corriqueira, mais jovens que se suicidam do que em épocas passadas?  Muitos questionamentos podem ser feitos... O que na realidade nos traz à tona respostas claras, e ao mesmo tempo vagas, mesmo porque nesse terreno temos reverberações acima de uma verdade de que nós mesmos fugimos...

Como por exemplo, o fato de que há jovens se suicidando pode ser um fator de responsabilidade social, ou seja, de uma sociedade fria, consumidora, até mesmo desumana e que foge de responsabilidades à criança, ao jovem e ao idoso... O jovem, no entanto, aquele que poderia trasladar seu destino, transformar ser caráter, iniciar um processo de respeito a si próprio, é o que mais nos preocupa...

Em festas, por exemplo, quando brilha em suas roupas de moda, com seu corpo astuto, cheio de energia, e sua mente ávida, ao invés de encher-se de bebidas dilacerantes, dialogar acerca de namoros e paixões corriqueiras, desgastando-se em sentimentos estéreis, poderia conhecer outros licores mitológicos como o próprio ideal, que corre em suas veias; conhecer a saga dos grandes homens, e fazer refletir em seus sonhos um Marco Aurélio, um Júlio César, como conselheiros-mores, na batalha diária de uma vida cuja aventura está apenas começando...

Não menos do que isso, as meninas, tão belas e ao mesmo tempo tão sem rumos, seriam mais belas se entendessem que a feminilidade se esconde no caráter, e o amor, na sutileza, e não na leviandade.
Há saídas modernas se quiserem... Mas sem referenciais a adotar, é como um cometa desgovernado, sem calda, sem brilho: pode destruir famílias e o mundo. Se o próprio jovem soubesse que está entre o céu e a terra, como aquelas espadas que são erguidas e que só tomam decisões bárbaras quando descem, se portaria como futuros homens e futuras mulheres, pois o mundo, este mesmo em que vive, só realiza sonhos a partir do momento em que há pessoas para sonhar... Estamos sendo dilacerados!

O sonho

O sonho do jovem, no entanto, reserva-se em suprir o básico: ter seu computador, seu celular, seu smart phone, ter sua namoradas, sua roupa e tênis da moda, enfim, não há mais grandes sonhos de modificar uma estrutura como a nossa, mesmo porque o próprio sistema, o atual, engana mais que velho babão dando em cima de menininhas... Ou seja, só ele não sabe que está sendo percebido. O resto, na certeza de mudar, podemos fazê-lo, mas o jovem atende muito mais ao apelo do físico (ficar forte, bonito, tatuagens, minissaias da moda, shorts rasgados, chapéus mal colocados em cabeças, etc... ), à vontade (sexo casual, ficar,  beijos demorados em festas; bebidas fortes, etc), a falta de zelo pelo que poderia ser responsável (camas, café da manhã, lavar sua roupa, seus pratos, etc), a auxílios naturais (trabalho, auxilio ao irmão, à mãe, ao pai...)...

Enfim, como se pode falar em sonhos àqueles que preferem o próprio desgoverno a mudar governos?...

Voltando...

Sei o quando é complexo falar em jovens que se vão dessa vida, por um ato simples, mas que se resume em terror à família e ao mundo, simplesmente porque não há leis humanas ou universais que aceitam esse ato: o de se matar.

Hoje, quando vejo o desgaste de jovens em teclas de computador, ou mesmo na falta de algo que lhe interesse, ainda que seja fútil; mais ainda, a falta de alguém que lhe possa mostrar que há sentido em tudo que se faz. Do momento em que se levanta, do momento em que se dorme, há sentidos extremos de divindade, e que estamos violando a todo minuto tais mistérios se não os aceitarmos...


Por isso, Marco Aurélio diz “largue o livro”, pois sabe que a experiência vital é única, e não somente em batalhas reais se aprende sobre o inimigo, mais muito mais sobre si mesmo. E jogar para o alto tais valores, é jogar para o alto a própria humanidade, e isso não queremos.






quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Fuga dos Ícaros: cegos pelo sol.

A visão distorcida do mundo, sem uma educação à priori, faz os jovens pular de torres metafóricas e se arrebentarem em chãos reais.



O sol também pode cegar.




Não vou expor novamente, aqui, o mito. É colossal. Apenas superficialmente já está de bom grado.


Dédalo, construtor de labirintos, e seu filho, Ícaro, foram aprisionados pelo rei de Creta, em uma grande torre de seu palácio. Para fugir, o pai, com a seda que, não sei como, lá estava, preparou asas incríveis para a clássica fuga.

Do alto da torre, depois de feitas as asas, colocadas em suas respectivas costas, bem amarradas, pularam e conseguiram voar. Uma felicidade só. Contudo, quando temos em mãos duas pessoas e uma delas um jovem rebelde, que, literalmente, tem asas, fica mais fácil entender o que pode acontecer.

Ícaro sentiu-se livre das amarras não só do rei de Creta, mas do mundo; voou bem alto, fez arrastões, mas tudo muito rápido, e Dédalo, seu pai, preocupado, tentava explica-lo quanto ao voo alto... “Cuidado, suas asas podem derreter”,  e ao voo mais baixo... “Cuidado, podes cair no mar e suas asas molhar!”...

Em vão... Ícaro voou alto, bem alto, ao ponto de não ser visto ao fim das imagens de seu pai, que, naturalmente, seguia a reta do voo. E o filho, enfim, caiu. Morreu.


Filos

Hoje, iniciando pela torre, podemos dizer que os jovens estão pulando sem asas a ideologias passageiras (não ideal) e morrendo antes de saber o que significa voar em direção ao caminho correto (me corrijam, se eu estiver errado). Outros, tão espertos, talvez a minoria, com suas asas de seda, não escutam a voz da razão, e voam como querem, independentes, salientes até, como se fossem donos do espaço... E caem.

Estes, mais confiáveis que os primeiros – não que estejam cem por cento corretos --, não conseguem ver em suas possibilidades referenciais, assim como gerações passadas que um dia tentaram nortear o mundo por meio de atos, palavras, canções, enfim, tais jovens, os de hoje, ainda que tenham asas fortes, não acreditam que podem cair se tentarem alcançar o sol...

Conselhos há. Mas a teoria ante a prática é falha ao ver dos Ícaros. Devem, segundo suas filosofias de vida (se é que se pode chamar assim), tentar provar, falar, fazer de tudo, sem nexo de qualquer causalidade (ou seja), sem querer entender que consequências há em tudo que se faz e fazemos...

“Jovens são assim mesmo”, repetem os mais experientes psicólogos. Mas o que dizer de um jovem superinteligente, estudioso, cheio de astucias, entrar no mundo das drogas? O que é isso, pergunto, o que lhe falta? O que dizer de um jovem que sai da faculdade, se embriaga, cai nas ruas, e não volta no outro dia? O que dizer dos mais religiosos que fazem questão de ir às “micarês” (festa de rua), e pedir a Deus que nada o aconteça?... E, como sempre, acontece.



É o mal dos tempos, claro. Isso, no entanto, não explica. Mas o que explica?

Assim como Ícaro não que respeitara as leis, e teve sua chance por meio de seu pai de fazê-lo, jovens, de hoje e de sempre, o tiveram; a questão, com certeza, é que os de hoje se embriagam demais, não somente com a bebida, mas com a própria vida, antes mesmo de criar seus próprios meios de voar.


Liberdade

As asas de Dédalo foram conselhos mal interpretados, e mais, foram ideologias pessimamente usadas, com vistas à liberdade. Mas até mesmo a liberdade precisa de respeito. Não se pode dizer, em nome de uma experiência falha, que liberdade é fazer o que quer, quando quiser, onde quiser.

Se não houver uma educação voltada aos princípios mitológicos (sei lá), os quais, por trazer à tona os valores reais a que devemos ouvir e praticar, os jovens de hoje e sempre nem sequer saberão o que significa vida.








Busquemos novos voos no próximo texto. 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

A Fuga dos Ícaros

Vamos dar uma pausa ao grande Marco Aurélio e falar um pouco da juventude. O que ela quer, para onde irá, e por quê. Sei que o grande filósofo tem algo a dizer sobre esses seres eternos que brilham sob o sol da eternidade, mas vamos devagar, sem pressa, e de repente chegaremos lá...


Ideal do jovem: simples, ao passo complexo.





Sei o quanto é difícil construir dentro de um tema atual uma reverberação filosófica a partir de premissas tradicionais. Fica difícil se aprofundar. As ferramentas que temos, pelo menos as que eu tenho, não são muitas, mas acredito serem o bastante para começar algo.

Eu quero falar dos jovens, de seu comportamento, tentar entrar em suas indagações, seus jogos, seus ganhos, ainda que pequenos; sei que é um tema que geraria outros e mais outros, nos quais me perderia; contudo, dentro do aspecto filosófico, ao que venho martelando há tempos neste blog, posso iniciar alguns devaneios, por assim dizer, acerca do que podemos salientar em termos de mudança necessária a eles, ou mesmo salientar a força que desprezam, a força não física, mas a metafísica... Essa se esperdiça em tempos, a olhos vistos em todos os lugares e momentos...

O que significa a metafísica ao meu prisma? Algo que possa salientar uma busca mais aprofundada por um comportamento digno de um jovem, baseado em premissas educacionais mais humanas, não necessariamente clássicas, ou seja, não precisa o jovem (seja um humilde soltador de pipas ou um revolucionário idealista) saber a respeito de Platão, Aristóteles, etc...

Mas trabalhar um Bom-Senso enraizado em algo que ele próprio possa trabalhar, crescendo, em comunhão com evidências nas quais ele mesmo passa. Meros pensamentos... Sim, mesmo porque exemplos há, em experiências – agora, minhas – em que o jovem prefere a politica do “não cabresto”.

Não sei se é a politica, a própria democracia, as revoluções anteriores, as passeatas pós-ditaduras dos estudantes que pediam um governo melhor, os quais passaram a imagem de guerreiros de uma época amarga, porém, ao mesmo tempo, singularizaram a outros a imagem de buscadores da liberdade perdida...!

Será? Não sei. Talvez, tudo isso e nada disso. O que meu prisma permite dizer é que estamos assistindo a uma forma desastrosa de cópia do que fazemos de mal, como se somente o que não fosse válido... Fosse realmente válido!

Exemplos... Na década de setenta, eram músicas românticas e em outro extremo politizadas, geniais. Hoje, um romantismo quente, cheio de sexo, palavras vãs, e quanto à politica, formas aleatórias, às vezes formais e, no outro extremo, desinteressantes... Ontem tínhamos a TV, o Som, a Radiola... E hoje, internet, watzap, etc, em comunhão com o que pensam, fazem e realizam, assim como os instrumentos do passado fizeram aos revoltados de calças com zíper...!

Não sei... De repente estou certo; mas é possível que esteja mais errado, mesmo porque há pessoas que possuem filhos que vão de encontro a tudo aquilo que digo e ao mesmo tempo há outros que singularizam o que eu disse, enfim, nesse quesito é sempre bom pegarmos um pouco da Tradição e tentar encontrar um modo de entender o que idealizam, o que realmente querem e podem fazer a respeito de si próprios.


E para iniciar, gostaria de salientar um dos maiores mitos já colocados aqui, nesse blog, a respeito da juventude e seu caminho. O Mito de Dédalo e Ícaro.





Até amanhã.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Marco Aurélio. Na Obediência aos Deuses.

“Obedeça aos preceitos divinos e os deuses não lhe pedirão mais nada”.







Precisamos de uma placa que nos direcione o caminho quando estamos perdidos. Precisamos de uma bussola quando na selva estamos acampando ou em uma aventura. Precisamos olhar as estrelas, o sol, olhar para alguém, de modo que tenhamos a paz, a tranquilidade, e quem sabe o conforto em pensar que estamos no caminho certo...

Os homens mestres, aqueles de que falamos no limiar de nossas vidas, os quais passaram por diversas aventuras e não se esqueceram do próximo, ou mesmo da humanidade em seus sonhos, em seus ideais, são peças fundamentais para que possamos compreender a lição dos deuses, esses elementos que desconhecemos e ao mesmo tempo realizam seu trabalho independentemente do que somos, e fazemos.

Os deuses, por serem grandes demais em referenciais, nos faz partir para aqueles que são homens, que são mestres, os quais nos ensinam valores que nos fazem andar em direção ao real caminho sagrado. São placas falantes, cheias de setas que nos indicam para onde e porque devemos caminhar; são bussolas que nos fazem, em meio a florestas humanas de ódio e sombras, repensar o que temos a oferecer, ao mesmo tempo nos conhecendo, elevando-nos ao que sempre tivemos no inconsciente.

Marco

Quando Marco Aurélio disse “obedeça aos preceitos divinos e os deuses não lhe pedirão mais nada”, (em Meditações, capítulo V, livro III), fazia alusão a nossas obrigações naturais como seres humanos. E os deuses, como deuses.

Sabemos que tais entidades não pedem e nunca irão nos pedir nada, mas, em nome de uma natureza que nos faz sentir na pele nossos erros, podemos metaforizar e dizer que há “algo” que nos ensina, nos pede, e quase implora para que possamos voltar à linha...

Na Antiga Índia, por exemplo, isso era chamado de Darma. Uma linha imaginária na qual o Universo estaria inserido. Leis, Normas, artigos, parágrafos (não literais, claro), estariam em meio a uma Ordem maior dentro da qual estaríamos dançando como crianças que acabaram de conhecer um parque.

O Universo não é um parque. E o que fazemos diante de nossa evolução para com os deuses também não é uma brincadeira (mas achamos que é). O nascer de um feto, seus problemas; o mal viver de um homem, suas intempéries, tudo é consequência do que fazemos em prol ( ou não) dessa lei, a qual, ao passar dos tempos, foi antropomorfizada, rotulada, mas que sempre tem trabalhado em prol da Ordem.


Na obediência aos deuses, ou seja, com o passar de nossa consciência em relação à Natureza, com os primeiros objetivos em nome de algo maior; na compreensão de nossos ideais; na forma como lidamos com nossos problemas, a coragem (de coração) de ser o que somos, antes de nos transformamos em marionetes politicas, religiosas; no ensinar sem medo, no aprender com ou sem dor, mas nunca perdendo nossas estrelas internas – referenciais; no pensar ao próximo, em nós e em Deus, podemos entender, em alguns momentos, a grande Lei à que devemos obedecer.






Uma sexta-feira cheia de reflexões!

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O Convite de Marco

Um convite a repensar nossos valores em favor de nossa alma, e daquele morador do terceiro andar que nos espera, sozinho, a nos contar histórias acerca de nós.






Um convite para deixar de mão os valores que concebemos no dia a dia. Um convite sincero, baseado em premissas nas quais ele se baseou para relatar suas memórias, em meio às batalhas nas quais, como diz aquela música, ele iria “como se fosse ver a namorada”.  Hoje tal convite, ainda que seja simples, perturba um pouco nossa mente, nosso coração, pois sabemos que estamos lidando com argumentos fortes, profundos, e por isso devemos repensar nossas vidas antes de dar o primeiro passo para aceita-lo.

Em escolas como o Estoicismo, Epicurismo, etc, não havia pensamentos em torno do que fazíamos, mas em torno do que éramos. Epíteto, mestre dessa escola, passou ao grande Marco tais ensinamentos, e o grande Imperador, ao escolher a prática da arte estoica, nos diz que somos capazes, que nunca somos velhos demais, e que nossos sentidos todos podem ser canalizados e direcionados a pequenas evoluções.

Para Marco, que nos impressiona a cada capítulo, não há desarmonias e que nada é fruto do acaso, pelo contrário. Nada é assim. Tudo pode ser visto sob o ângulo de uma filosofia que nos esclarece tudo – até mesmo sobre o mal que possuímos e o bem que praticamos. Nada é aleatório. Há uma organização da qual participamos, na qual nascemos, vivemos, morremos, sobrevivemos até, e não percebemos; por isso, o livro.

Bem

Aqui cabe uma mera explicação acerca do Bem. Como estoico, Marco diz... “entende que o Bem possui o bem e o mal”... O primeiro seria a constância de um universo no qual há todas as partículas sobreviventes e, a nosso ver, não. Estas últimas, um mistério que sintetizamos em explicações religiosas cujas premissas estão muito além da realidade (além até mesmo da vã filosofia), o que nos faz confortáveis, ao mesmo tempo temerosos, mesmo porque são explicações não filosóficas sem o respeito ou mesmo sob a luz de deturpações que geram outras e outras.

O Bem, assim, mal compreendido, torna-se subjetivo. E Marco, imperador-filósofo, quando nos revela por uma simples frase seu conceito, deixa-nos a evidência do que podemos enfrentar se nos propusermos a aprender o objetivo de suas palavras. O Bem, aqui, entra em conflito com os nossos conceitos, mas harmoniza-se com os tradicionais, os quais dizem que o Bem é Tudo, e o que o mal é a separação dos elementos que o compõe.

Mal

Um mal que, segundo a história, somente pôde aparecer com o aparecimento do Homem, o qual, com sua histórica ambição, unida a interesses genocidas, e por consequência o aparecimento de sistemas homicidas, realizou e realiza a separação de si mesmo (profano) com a Natureza (sagrado). Dois grandes elementos que, por si mesmos, pelo que sempre foram, nasceriam um para o outro, ou apenas para a formação do Um. Mas, em conflito com nossos ancestrais, na busca desenfreada pelo progresso, ainda que milhões de pessoas sejam a escadaria para tanto, somos responsáveis pela má compreensão do que somos.

A consequência desse mal, assim, vai se alastrando, nos tomando, mesmo assim, no entanto, independentemente disso, o Bem estará lá, em forma de Universo a demonstrar o que temos em nós, mesmo com todo o mal que preferimos externar.

Finalizando

O Bem, segundo Platão, pode ser sintetizado, simbolicamente claro, visto e percebido na forma do sol, esse astro que nos ilumina e não somente a nós, mas a tudo, tendo ou não vida (a luz de nossas opiniões) passa por ele; dos grandes homens que passaram, dos que passam, até o mais criminoso pode ver e sentir seus raios, e apreciar a moldura do Bem.

O Mal, segundo nosso protagonista, pode ser tratado como nossos dentes de baixo, que se harmonizam com os de cima, que seriam o bem; os dois não vivem sem o outro, pois evidenciam que há uma Natureza que os manipula em favor de um Bem maior. A inteligência universal.



segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Em Comunhão com os Deuses.

Marco Aurélio, como um bom estoico, é prático, claro e coerente em suas afirmativas quanto ao deuses, ao universo e ao homem. Para ele devemos deixar o arcaísmo barato de lado e partir para o conhecer  a si mesmo, de modo que sejamos fortes e ao mesmo tempo nunca deixemos de ser humanos e divinos.








Marco Aurélio, em sua mais perfeita alusão ao comprometimento aos deuses em nossa vida, cita no parágrafo terceiro as seguintes palavras... “Os deuses sustentam e guiam todas as suas obras. Nem mesmo as vicissitudes da sorte são contrárias à Natureza ou à providencial ordenação do Universo...”

Estamos interligados. Deuses, mundo, pessoas, tudo. Nada nos acontece por acaso. E dentro dessa premissa viviam os iniciados nos segredos do universo e tinham, de alguma forma, realizar, como pessoa, não comum, mas como um ser humano cuja natureza era de caminhar de acordo com os ventos da tradição, em direção ao céu, seus ideais espirituais.

Pois, assim como a grande Natureza o é, o homem, em seu micro-espaço, deveria ser. Passivo de mudanças, realizações internas, ideais acima de si próprio, ou pelo menos em tentativas, a partir de suas experiências, nas quais a sintonia pelo Todo far-se-ia, e nada seria vão.

Marco, não apenas em seus estudos, práticas, mas principalmente em suas experiências – em batalhas, nas quais aprendeu a honrar a si mesmo e aos inimigos; em família, na qual os exercícios de aprendizado com seus pais, entre outros parentes – sabia que seus atos eram tão importantes quanto livros, teorias, particularidades, enfim, que nada mais era tão sensato do que buscar em si mesmo a paz tão almejada pelos filósofos.

Paz essa para nós um tanto quanto complexa, mesmo porque acreditamos que seja uma questão relativa ao prisma nosso de cada dia, mas não é. Somos humanos! E isso é o que nos conduz a pensar e refletir acerca de nossa consciência pessoal e divina. Os deuses, como diria Fernando Pessoa, “podemos até deles duvidar, mas eles assim mesmo existem!”, e não desejaríamos outra coisa porque há em nós o sentido da hereditariedade, o qual se mostra na Natureza, em forma de cores, de princípios resguardados naquele que corre do leão, e no próprio leão, que comanda a selva...

Os deuses, segundo a tradição, para ilustrar, estariam acima de nós assim como humanos estão acima dos cães, ou seja, estamos na condição de humanos, mas dentro de nossa evolução podemos um dia ser deuses, ou como diria Platão “Já o somos e nos esquecemos disso” – talvez em relação a outras raças, e isso é real.

E se assim o for, de alguma forma, raças anteriores a outras também o são, enfim, há, na realidade, uma junção de formas concretas, abstratas – como em todas as raças – a divindade, e quando nos referimos ao homem, aos deuses, há uma relação de obediência (de mudança), de hereditariedade, dentro da qual não há como desligar-se, pois a lei da causalidade não permite, e nessa lei o que fazemos em relação a nós mesmo e à Natureza é tão importante quanto o dia em que nascemos ou morremos.

Marco Aurélio, assim, deixa implícito que devemos agora, mais do que nunca, nos elevar baseados no que somos e fazemos a partir de agora. 




sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O Escravo de si Mesmo

"Compete a você!".







“O que sou além de um pouco de carne, uma respiração pequena e uma parte que governa o todo? Esqueçam-se dos livros! Eles não fazem parte de vocês. E assim como quem está morrendo, você deveria fazer pouco caso da carne: ela nada mais é do que sangue e os ossos e uma rede de tecidos musculares, nervos e artérias...”

Para um homem que não tinha nada a perder, a não ser um império (!), Marco inicia um ensinamento baseado em premissas fortes, advindas de uma tradição que dizia... “mata a persona”, ou simplesmente... “somos o que subjaz ao que mais conhecemos ou desconhecemos”... Ou, como diria o Diógenes, “saia da frente do meu sol!”...

Enfim, não são somente palavras a nos passar uma filosofia comportamental, mas também de tentativas em relação ao que nós realmente somos. E o que somos? Marco nos direciona, o tempo inteiro, desde suas primeiras premissas, até a última que se esgota com sua morte, e em Meditações, ao que somos a partir do que acreditamos ser... Essa carne passageira que se esvai à memória da terra.
Precisamos desse corpo, dessa respiração, dos livros, enfim, precisamos da matéria. Esquecer que somos pequenos é um perigo. Não podemos segui-lo, assim sem mais nem menos. Há que obedecer às leis de nossa persona, antes de qualquer coisa. E ela, querendo ou não, dita as leis, a partir de vontades egoístas ou não.

Porém, em meio a essas vontades, podemos repensar certos valores que nos rodeiam, pegá-los, analisa-los, e a partir de nossas experiências, levar em consideração o que é bem ou mal. Seria maravilhoso, claro, se já soubéssemos, mas a realidade nos diz que temos que passar pelo escuro para dar valor à luz.

E Marco Aurélio, quando se refere ao corpo de maneira secundária, é porque já alcançou, a partir de suas experiências, valores maiores; não nascera sábio, mas nascera com posses, às quais, como ele mesmo deixou claro, não estava muito voltado, e sim às coisas do espírito.

Independente disso, de suas posses, em Meditações, Marco fala ao Homem, ao buscador que se encontra em cada um; não nomeia, não discrimina, não enumera, não extingue valores culturais, sociais, nem humanos, muito pelo contrário. Ele fala de um universo que conhecemos, mas não nos lembramos.

E diz mais... “Agora, que você está velho, chegou o momento de parar de deixar-se escravizar, de ser impulsionado por todo capricho egoísta, reclamando de sua sina atual em dado momento e, em seguida, lamuriando-se sobre o futuro”...

Hoje, voltados às necessidades materiais, inclinados a trabalhar em função do que acreditamos nos interessar de imediato – o pagar das contas, o salário no fim do mês, as comprar do vestido da esposa, enfim, de tudo que nos faz andar e sofrer --, não percebemos que a velhice nos chega, nos envolve, e na maioria das vezes morremos ignorantes, e partimos para um mundo medonho sem saber o porquê de nossa tão rápida estada nesse grande navio de nome Terra.

É preciso, não somente nas palavras de Marco, mas de todos os tradicionais sábios, entender a força das palavras e da realidade que temos que acordar. Temos que deixar de ser escravos, em todos os sentidos, mas principalmente a essa vontade que nos leva para o chão, para o fosso de nossos prazeres quentes, e que nos torna mais frios com o passar dos anos, simplesmente porque nos faz menos humanos a cada encarnação.

Agora, no entanto, como diz o grande imperador-filósofo, estamos velhos, e não somos obrigados a morrer em lamúrias, pelo que fizemos no passado. Há, em cada dia, em cada segundo que se respira, a chance de um dia melhor ainda que acreditemos ser tarde demais.



Ave, Imperador!

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Marco: O inicio do Estoicismo.








..Marco Aurélio sempre zelou pela honra em sua família, agradecendo a seus pais, irmãos mestres, dos quais retirava sessões diárias de aprendizado. Mas foi da profundidade estoica que ressaltou a importância de saber lidar com o ser -- a parte que nos cabe cuidar. Sabe, ainda, Marcos que o mundo não tinha nada gratuito, como jardins nos quais pensam certas facções hoje quando pensam no além-morte, pensava o imperador que nada havia de mais importante do que se cuidar, no sentido mais filosófico da questão, para o agora.

E para isso, lançou seus olhos a um mundo que, há muito, tradicionais no saber (filósofos) lançaram com vistas ao que sempre traduziram em comportamentos, em palavras, em atos, em vida. Provas há que Avathares vieram antes desse grande general, que filósofos como Platão, Sócrates, Plotino, dos quais se conheceu e aprendeu, a partir de textos e mestres estoicos, o porquê e o quê de uma natureza que persistia em se fazer de espelho a humanos cegos.

E quando Marco Aurélio diz, no inicio do segundo livro, “desde o raiar do dia, diga a você mesmo: hoje vou encontrar um intrometido, um ingrato, um insolente, um mentiroso, um intrigante e um grosseirão. A ignorância da natureza do bem e do mal fez deles o que são. Mas sei que o bem é por natureza o bem e o mal”...

Não há mundo perfeito quando nos referimos a pessoas, humanos de plantão; sejam bonitos, feios, ricos ou pobres, não há como trazer à tona elementos que nos faça dizer... “agora meu dia vai ser lindo, belo...”, não. Não dará certo.  E Marco Aurélio, filósofo, quando partia para a guerra sua de todos os dias, não sabia que nos trazia um exemplo do que seria hoje, nós, como guerreiros de batalhas pequenas, e ao passo talvez maiores a que ele, o grande imperador, enfrentava.

Nossas guerras são o próprio ser humano. Cheios de nuances relativas e ao passo absolutamente frias, na maioria das vezes, nos tornam indecifráveis, misteriosos, como espaços desconhecidos, e isso, ao nosso lado. No entanto, outros, na busca desenfreada pelo amor à verdade, até mesmo à verdade humana, ou simplesmente a ela... Se vão em guerras como crianças em quintais, ou namorados a se encontrar um com o outro, enfim, vão como forças de vontade, ou com simples vontades, em meio a depreciações as quais servem-nos de catapultas, não de dor.



E isso incomoda muita gente.



quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Um Marco na Filosofia: o respeito à Família.






Ao mendigo que busca desordenadamente seu caminho, ao sábio que se esconde em roupas remendadas e de linho; nascerão outros e mais outros, naturais dessa terra tão hipócrita e amante do homem vil e celeste, que busca nas entrelinhas da vida, o que se esconde nas ruas, na riqueza, na peste.

Digo que não somente o divino Cristo morreu, mas homens de estaturas tal Prometeu, os quais em cruzes, altares, em guerras, em chamas por cujas ideologias viveu, também o fizeram.  O que com eles se foi, foi um pouco de nós, seres que morrem em busca de compreender a ferida própria, ou a do próximo, do outro...  Realizando o que humanos sempre concretizaram em sonhos, saber o que somos, para onde vamos, e por quê...

Marco Aurélio, dono de uma filosofia que aprendeu a plasmar, não somente foi um desses heróis, mas também nos ensinou, em seu grande livro Meditações, a olhar o céu nosso de cada dia, a respeitar a si mesmo, e por consequência, o próximo, e a humanidade...

Para isso, usou de artifícios tradicionais, os do estoicismo, escola que nascera em III a.C., cujo ideal era de recuperar o sentido da existência humana, e isso em um século em que batalhas eram quase que diárias, e nas quais não havia como refletir acerca de qualquer mundo, apenas aquele que estava se desfazendo em sangue. Era Marco Aurélio, o imperador filósofo.

A importância do Agradecer

No inicio de Meditações, Marco agradece a todos que o educou – seu pai, sua mãe, seu avô, seus mestres, de modo a deixar claro que até ali seu caráter dependia de fatores educacionais ao bem de si mesmo, ao que almejava ou ao que o ensinaram almejar.

Não eram apenas parentes, como vimos hoje, ou apenas complementos de nossa família – cada um por si – mas um núcleo responsável pelo inicio de tudo que sabia ou que aprendera a lidar. Seu mundo começava;  e sua vida a se expandir; sua personalidade forte, e ao mesmo tempo leve, comungava com o respeito humano, e Aurélio sabia que tinha que começar com aqueles que um dia o ensinaram a andar, falar; ser disciplinado e honrado, desde o inicio...


O estoicismo, em suas palavras iniciais, não tinha começado.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Um Marco na Filosofia

"O melhor modo de vingar-se de um inimigo é não se assemelhar a ele"


Tivemos várias figuras no passado com a intenção de nos relatar seus feitos, seu heroísmo, enfim, suas histórias com a finalidade imortal de nos auxiliar no futuro, mas nenhum deles escreveu algo tão profundo e humano, e que servira em todas as épocas, a todos os homens, e se houvesse um semideus em terra, a ele também serviria. Marco Aurélio.




Marco Aurélio. Imperador-filósofo.




Muitos escritores tentam relatar seus feitos, em seus livros, como diários abertos ao mundo, mas nenhum deles, até hoje, como o Imperador-filósofo Marco Aurélio (26/4/121 a 17 marco de 180) o fez. Marco Aurélio foi um dos cinco melhores imperadores romanos, dos quais podemos retirar quase que completamente seus ensinamentos aos dias atuais.

Marco não perseguiu povos; foi dedicado ao seu; era um homem culto – apreciador de clássicos – e tornou-se estoico com a admiração de seu escravo Epiteto. Com tudo isso, escreveu uma obra que servira até os dias atuais como inspiração aos mais elevados dos generais – e ao mesmo tempo, ao mais comum dos homens.

Em suas batalhas, que foram marca de seu reinado, Marco escreveu Meditações, livro esse que fala de coisas profundas, nas quais ele mesmo tenta se pautar como homem coerente em busca de algo que o transcenda, ou que o melhorasse com cada batalha diária... Estas últimas semelhantes às nossas.
Dizem que faleceu em uma campanha, mas muitos falam que seu filho, Cômodus, o assassinou, em razão de Marco Aurélio escolher para o seu trono um general espanhol, o qual não teria o sucedido ante a morte do imperador.

Quando Marco fizera suas anotações, sabia que eram eternas, pois sintetizava valores absolutos ao ser humano, de modo profundo e simples. Eram verdades ditas em experiências e ao mesmo tempo utopias as quais, para muitos, eram vistas com inalcançáveis, mas para muitos forças advindas de um homem que conseguiu eternizar o próprio desejo humano, estoico ou não, em realizar suas vontades espirituais. E ninguém melhor que o discípulo de Epiteto, tão estoico quanto o primeiro, para realizar essa façanha.

Muitos, pelo fato de ser do estoicismo, uma escola pré-socrática, não observam da maneira como deve, ou seja, não dão atenção ao que ele chama de ‘ser’, de ‘alma’... mesmo porque para as seitas atualmente não interessa muito. Pelo contrário. Quando se refere ao estoicismo, ficam à mercê de pensamentos críticos, pois foi uma escola que corria em paralelo ao cristianismo.

Muitos não sabem, no entanto, que discípulos, como Paulo, João, podem ter bebido da mesma água que o imperador-filósofo. Dizem as benditas línguas que até mesmo o comportamento cristão se baseou em duas frentes, a egípcia e a estoica, sendo esta última uma escola helenística, fundada por Zenão de Citio, no século III a. C., e seus ensinamentos baseavam-se na perfeição moral e intelectual.

Ao longo dos textos que serão publicados, colocarei um pouco do significado dessa profundidade estoica, mesmo que não seja tão profunda em alguns pontos; mas, para o nosso dia a dia, assim como até o fim de nossa breve vida – aos olhos de Maya, -- podemos desejar chegar a algum ponto, e que esse ponto seja a luz que tanto procuramos.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Um Pouco Mais sobre o Leão...

Um ser solar, mas também a representatividade de nossos vícios; outras vezes, de nossas forças, de nossas vontades. Esse é o Leão.


Leão. Não somente o rei dos animais.




Todos conhecem a lenda de Hércules, o grande herói grego que fora obrigado a realizar doze trabalhos antes os deuses, os quais serviram de simbolismo aos astros, assim como muitas vezes vimos na história, nos doze discípulos de Cristo, nos doze cavalheiros do rei Arthur, além dos horóscopos, que trazem uma relação quase direta com o semideus.

Contudo, todavia, no entanto... Não iremos tecer relações acerca de qualquer simbologia numérica ou mesmo histórica ao número doze... Iremos, em especifico, observar, mais uma vez, um ponto importantíssimo nesse personagem que nasceu da busca sana de um povo a um grande herói que trouxe esperança e que nos deu mais que isso... A reflexão acerca de nossas forças.

Hércules, filho da mortal Alcmena e de Zeus, realiza grandes proezas com seu talento, como a realização de feitos que colidem com o aspecto geográfico do Ocidente... - matar leão da Neméia; matar a Hidra de Lerna; capturar o javali de Erimanto; capturar;  corça de Cerinia; expulsar as aves do lago Estinfalis; limpar as estrebarias de Aúgias; capturar o touro de Creta; capturar os cavalos de Diómedes; obter o cinturão de Hipólita, rainha das Amazonas; buscar os bois de Gerião; buscar os pomos de ouro do jardim das Hespérides; capturar o cão Cérbero – como se estivesse traçando uma rota no grande Mediterrâneo...

Porém, como todos os personagens mitológicos gregos, Hércules traz em si uma potencialidade natural dos grande mitos, nos quais, ainda mais enraigados de simbologia, fica, não só em seu personagem, mas em seus trabalhos um latente sentido com o sagrado, ou mesmo com o homem. Claro, assim como todos os mitos, o do herói grego nos remete a um pensamento intuitivo, mas muito mais acerca do seu primeiro trabalho...

Por quem em primeiro lugar matar um leão...? Claro que não era qualquer leão; segundo o mito, este “aterrorizava” toda a região de Neméia. Mas era isso mesmo? Não havia dentro mito algo que nos pudesse responder acerca dessa ideia que murmura para ser identificada em nosso consciente?

Claro que sim... E filosoficamente devemos ir atrás dela, dessa resposta que nos incute, com as ferramentas que temos, a trabalhar, nos envolver e por fim revelar o que segreda esse Leão.

A persona primeiro

Na antiguidade clássica, em escolas de iniciação, discípulos aprendiam que todos os animais possuíam um simbolismo profundo que se identificavam com o uno, com o próprio homem. Uma prova disso, como foi salientando varias vezes nesse espaço, era o simbolismo das aves.  Elas, como se sabe, significavam o céu, não literal, mas o céu paradisíaco dos grandes reis sacerdotes, e por isso, estátuas há e em relevos egípcios de faraós com uma ave em seu ombro, a representar Horus, o Deus do Céu, Filho de Isis, enfim, religando o monarca ao mistério celeste.

Na Roma Antiga, aves eram a representação maior da disciplina e honra dos grandes exércitos e da própria cidade, a qual se referenciava simbolicamente, em suas asas, em seus olhos, em sua ordem, em seu brilho... Era tão forte o simbolismo romano da ave que, quando o estandarte com a ponta em forma de ave desaparecia, significava a desonra daquele exército...

Não menos simbólico ao ver das grandes escolas era o Leão, o rei das selvas, como hoje é revelado aos menos informados de sua grandiosidade... Digo, aos menos informados no sentido positivo, pois é muito mais que isso...

O Leão era visto como um ser solar. No sentido filosófico da questão significa possuir uma abrangência maior do que se pode supor, em relação a um grupo, seja ele da mesma espécie ou não... A exemplo disso, é que em certas igrejas chamam a Cristo de o leão de Judá, dando-lhe elementos fortes, dos quais podemos dizer que sua figura tornou-se maior do que ele mesmo; tornou-se solar.

Horóscopo

O Leão, animal, que simboliza esse aspecto o solar, também interfere (entre aspas) no horóscopo. Aquele que nasceu em julho e agosto, de acordo com a astrologia, é de Leão, ou ascendente em Leão. O que significa? Que todos aqueles que nascem nesse intervalo possuem uma personalidade forte, disciplinada; ou como diria uma grande mestre.. “com as jubas a amostra em meio a poucos”. Deu um exemplo... Quem é de Leão, é percebido ou percebida quando aparece, simplesmente porque brilha com sua simpatia, com seu brilho...
Não sei se há razão nisso tudo, mesmo porque tenho uma esposa que é de Leão, e quando penso nisso me dá medo porque sempre a vejo como uma leoa rs.

Brincadeiras à parte, podemos perceber o leão em nós, em atividades fortes e ao mesmo tempo apegados à matéria, ao mal. E quando digo ao mal, me refiro à persona, esse conjunto de elementos que conhecemos, e ao mesmo tempo não, pois há, como diria Shakespeare, “mais coisas entre o céu e a terra do que a vã filosofia conhece...”, e por mais que tenhamos conhecimentos a priori do que estamos lidando, percebemos que não sabemos nada.

Assim, nos perdemos, e confusos, acreditamos que, em certos momentos, conseguimos o céu, o paraíso, enfim, aquilo que sempre almejamos. Mas, no entanto, entretanto...

Escolas há que são contra essa falta de referenciais em encontrar nossos ideais, nosso cantinho idílico em nossa alma. Tais escolas falam em elementos fortes, tradicionais (tão antigos quanto elas próprias) para lidar com o que não somos – essa persona. Elas falam do morador esquecido.


Em nós, há o cume natural do ser, o morador esquecido, e que, graças à tradição, nos lembramos dele com vistas a informações acerca de nós mesmos. E descobrimos que somos aquele que vive no mais sublime dos lugares, no alto de nossas possibilidades, de nosso querer. 

E quando Hércules mata o grande leão, o simbolismo de nossas vontades egoístas, o animal em nós, não só destrói a persona, como diria Blavatsky, ele dá o primeiro passo em direção ao (seu) Pai.



quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A Tensão dos Homens

Reflexão



A tensão das árvores, das folhas, do vento que as assopra não é a mesma tensão que nossas almas sintetizam quando escutam o sinal da ventania... Ah, se tivéssemos a leveza de ser como a folha que cai, do sol que se ergue, das teclas de um piano, que nascem nas mãos de um instrumentista que nascera para acariciar o piano, com intuito de trazer a música... Não temos.

Temos medo do sol da manhã, dos restos de frio, da noite que vem... Da paz limitada em nossas tardes... Enfim, temos a dor antes mesmo se senti-la. Não a mais teríamos se houvesse um olhar ao céu nosso de cada dia, plasmado em forma de natureza, de belezas nas quais esconde o porquê de tudo...

Por que nos escondermos da vida, se não há como fazê-lo nem mesmo na mais subterrânea das cavernas? Por que sentir medo do mistério, se em nosso mundo pequeno, temos tanto a resolver, e nem o fazemos! Não vale a pena correr, olhar para baixo, se infiltrar dentro de si mesmo, como toupeiras, avestruzes, as quais metaforizam o pânico ao sentir a aproximação do predador natural...

Temos a tensão do leão, do animal solar que predominara em culturas como o imperador das selvas, e nós, como reis do nosso mundo, desse micromundo que se esconde nas vésperas da noite mais escura, do inimigo mais ausente, porém que nos deixa sua frialdade como perfume do mal.

A tensão das colinas, das pequenas e belas flores que em seu pico se encontram; a tensão da brisa que nelas bate, do aguar dos pingos que lhe chegam, do silêncio das brumas quando a manhã vem... É o mais idílico dos mundos, em que moramos como seres que saem do corpo e se alimentam de virtudes naturais, sem subjugações, meras palavras, interesses... Temos a tensão das esferas.

E quando olhamos o céu, estrelas nos perseguem em questionamentos confusos, e como crianças, respondemos mais confusos ainda, encantados com tanta beleza. E o manto se abre à lua, e cometas se arriscam, meteoros se fazem, rios de escuridão atravessam nossos olhos, e a tensão se faz, se ergue, e nos faz refletir que temos o que queremos, desde que seja  em direção ao céu...

A terra dos homens, essa em que pisamos, desfaz a tensão natural das coisas, do coração, e o faz acelerar a ritmos quentes ao ponto de morrer em nosso corpo, como um ser que se vai ao nada. Nessa terra de ninguém, pisamos como donos e morremos como vermes; nela nascemos como sacerdotes e nos vamos como faíscas ao mar.

A terra, essa mesma terra, é o elo do homem ao seu corpo, às suas pretensões físicas – o que é diferente de apegar-se ou morrer pelo que pensamos em ser, terrenos.  O ar, que se inclina a entrar em nossos pulmões, é um pouco de nossa alma,  ao que ela objetiva – o alto; as águas, o mistério da energia, desse prana, do levantar de nosso sol interno, é a calmaria... E o fogo, esse elemento indestrutível, sempre vertical, produz a vontade, a força, a eloquência de todos os elementos voltados a maior das naturezas.

Temos a tensão de Deus.


A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....