sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A Fuga dos Ícaros: de pai para filho.

As relações, todas elas, trazem em si uma tônica: aprendizado humano. Entre pai e filho, há sempre um algo mais.




Dédalo e Ícaro, mistérios em cada parte do mito.



A relação entre pai e filho talvez seja uma das mais assombrosas que se tem história no âmbito universal – seja entre animais, plantas e pedras, e humanos; é a forma mais misteriosa que se pode perceber, ver e admirar. Contudo, relações, em qualquer nível, nos ensinam muitas coisas (e somente nós percebemos isso), ao mesmo tempo em que queremos aprendê-las, caso contrário, passamos despercebidos nessa atmosfera natural que os deuses nos conceberam.

Não é nosso dever (mas uma obrigação) deixar que tais relações não se transformem em pontos instintivos eternamente; há um dever moral em nosso meio, advindo de heranças clássicas, das quais não o tradicionalismo, mas a Tradição em forma de conhecimento a espera de ser tocada como água benta.

Filhos...

Dos filhos, eternos Ícaros, que necessitam de suas asas, ainda que sejam feitas pelo próprio pai, esperamos que nos reconheçam como autoridade eterna, e referencial (como os grandes do passado), e que progridam a partir do momento em que suas ferramentas estejam prontas para enfrentar o mundo...

Hoje estamos passando por uma rara falta de respeito aos valores – sejam eles universais ou básicos, dos quais até o recolher do copo no chão é importante, e mesmo assim não o fazemos --, por isso devemos recorrer ao mais rápido possível ao que um dia nos ensinou e ensina a tradição – desde que tenhamos caráter para praticá-lo. E a juventude não tem.

Ontem, em uma determinada cidade, com determinados guerreiros, jovens, antes mesmo de completar seus quinze anos, já eram preparados para enfrentar a guerra. Por isso, para se ter uma visão clara do que iria enfrentar, como iria lidar com o medo, passava por provas iniciáticas nas quais touros, cobras, além de provas físicas eram lhe dadas a partir do instante em que era perfeito fisicamente. Se nascesse com alguma anomalia, ficava a critério dos comandantes seu destino.

O que me faz lembrar a disposição tenra dos jovens em servir seu país, sua sociedade; o medo de obedecer? O medo de pegar em fuzis? O medo de marchar errado e enfrentar mais provas? – não. Apenas o medo de levantar cedo...!

É o retrato de uma era que tem compaixão aos homens; uma compaixão que leva os jovens a se sentirem eternos filhos não só de seus pais, mas de um mundo que tem pena de vê-lo sair de seu leito sozinho, enfrentar a grande batalha diária (enfrentar filas, ônibus, empurrões, marginais, etc) na qual somente os heróis voltam para casa sorridentes...

É de envergonhar a História! Se olharmos para trás (ou mesmo pelo espelho de nossa alma), vamos colher lendas de jovens que tiveram tantas dificuldades em sua época quanto qualquer um de sua idade; vamos nos indagar a respeito de como saíram em busca de coisas fantásticas, caminharam em favor de seus sonhos, e foram vitoriosos.

No entanto, buscar referenciais a adotar para entender a si mesmo, como faziam no passado, dar seus primeiros passos rumo ao desconhecido ( no trabalho, em uma ajuda humanitária, colher lixos, varrer uma casa, lavar uma louça...) torna cada um menos homem, e às mulheres, a ideia de submissão: é o que o jovem tem em mente.

E os Pais..,

Assim como um herói que claudica em suas ideologias filosóficas, parte para o que lhe vem à cabeça, ensina o que tem, e esquece que a peça humana ao seu lado é um reservatório eterno de seus atos, tanto quanto palavras.

Não adianta ler, sorrir, decorar máximas, querer ser um pastor ou mesmo um professor de filosofia, se não tiver em suas veias a vontade de ir à luta, pegar na terra, plantar, colher, perceber os mistérios, passar lições, percebê-las, ser humilde, recebê-las, e passar de volta a quem ama: seu filho.

O pai, como herói que não sabe que é, iguala-se a Dédalo. Desde o inicio, tenta passar lições involuntárias de si mesmo,  o que decorre de perigos reais, pois, se não sabe o que passa, falta-lhe, assim, referenciais maiores que ele; e quando percebe, encontra a Deus, seu mentor nas orações, e, enfim, reflete acerca de seu papel, que antes não percebia.

Agora que pôs os pés no chão, olha seu filho, tenta resgatar por meio de atos pensados, referenciados no Criador, o olhar da cria, que há muito deixou de indagar a respeito da vida, de tudo, mesmo porque o mundo já o faz por meio de televisões e internets, contudo não sabe de uma realidade que subjaz em nós, a divindade. E o pai deve-lhe ensinar isso.




E disso falaremos no próximo texto...

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