As relações, todas elas, trazem em si uma tônica: aprendizado humano. Entre pai e filho, há sempre um algo mais.
Dédalo e Ícaro, mistérios em cada parte do mito. |
A relação entre pai e filho
talvez seja uma das mais assombrosas que se tem história no âmbito universal –
seja entre animais, plantas e pedras, e humanos; é a forma mais misteriosa que
se pode perceber, ver e admirar. Contudo, relações, em qualquer nível, nos
ensinam muitas coisas (e somente nós percebemos isso), ao mesmo tempo em que
queremos aprendê-las, caso contrário, passamos despercebidos nessa atmosfera
natural que os deuses nos conceberam.
Não é nosso dever (mas uma obrigação)
deixar que tais relações não se transformem em pontos instintivos eternamente; há
um dever moral em nosso meio, advindo de heranças clássicas, das quais não o
tradicionalismo, mas a Tradição em forma de conhecimento a espera de ser tocada
como água benta.
Filhos...
Dos filhos, eternos Ícaros, que
necessitam de suas asas, ainda que sejam feitas pelo próprio pai, esperamos que
nos reconheçam como autoridade eterna, e referencial (como os grandes do
passado), e que progridam a partir do momento em que suas ferramentas estejam
prontas para enfrentar o mundo...
Hoje estamos passando por uma
rara falta de respeito aos valores – sejam eles universais ou básicos, dos
quais até o recolher do copo no chão é importante, e mesmo assim não o fazemos --,
por isso devemos recorrer ao mais rápido possível ao que um dia nos ensinou e
ensina a tradição – desde que tenhamos caráter para praticá-lo. E a juventude
não tem.
Ontem, em uma determinada cidade,
com determinados guerreiros, jovens, antes mesmo de completar seus quinze anos,
já eram preparados para enfrentar a guerra. Por isso, para se ter uma visão
clara do que iria enfrentar, como iria lidar com o medo, passava por provas iniciáticas nas quais touros, cobras,
além de provas físicas eram lhe dadas a partir do instante em que era perfeito
fisicamente. Se nascesse com alguma anomalia, ficava a critério dos comandantes
seu destino.
O que me faz lembrar a disposição
tenra dos jovens em servir seu país, sua sociedade; o medo de obedecer? O medo
de pegar em fuzis? O medo de marchar errado e enfrentar mais provas? – não.
Apenas o medo de levantar cedo...!
É o retrato de uma era que tem
compaixão aos homens; uma compaixão que leva os jovens a se sentirem eternos
filhos não só de seus pais, mas de um mundo que tem pena de vê-lo sair de seu
leito sozinho, enfrentar a grande batalha
diária (enfrentar filas, ônibus, empurrões, marginais, etc) na qual somente os heróis
voltam para casa sorridentes...
É de envergonhar a História! Se
olharmos para trás (ou mesmo pelo espelho de nossa alma), vamos colher lendas
de jovens que tiveram tantas dificuldades em sua época quanto qualquer um de
sua idade; vamos nos indagar a respeito de como saíram em busca de coisas
fantásticas, caminharam em favor de seus sonhos, e foram vitoriosos.
No entanto, buscar referenciais a
adotar para entender a si mesmo, como faziam no passado, dar seus primeiros
passos rumo ao desconhecido ( no trabalho, em uma ajuda humanitária, colher
lixos, varrer uma casa, lavar uma louça...) torna cada um menos homem, e às
mulheres, a ideia de submissão: é o que o jovem tem em mente.
E os Pais..,
Assim como um herói que claudica
em suas ideologias filosóficas, parte para o que lhe vem à cabeça, ensina o que
tem, e esquece que a peça humana ao seu lado é um reservatório eterno de seus
atos, tanto quanto palavras.
Não adianta ler, sorrir, decorar
máximas, querer ser um pastor ou mesmo um professor de filosofia, se não tiver
em suas veias a vontade de ir à luta, pegar na terra, plantar, colher, perceber
os mistérios, passar lições, percebê-las, ser humilde, recebê-las, e passar de
volta a quem ama: seu filho.
O pai, como herói que não sabe
que é, iguala-se a Dédalo. Desde o inicio, tenta passar lições involuntárias de
si mesmo, o que decorre de perigos reais,
pois, se não sabe o que passa, falta-lhe, assim, referenciais maiores que ele;
e quando percebe, encontra a Deus, seu mentor nas orações, e, enfim, reflete
acerca de seu papel, que antes não percebia.
Agora que pôs os pés no chão,
olha seu filho, tenta resgatar por meio de atos pensados, referenciados no
Criador, o olhar da cria, que há muito deixou de indagar a respeito da vida, de
tudo, mesmo porque o mundo já o faz por meio de televisões e internets, contudo
não sabe de uma realidade que subjaz em nós, a divindade. E o pai deve-lhe
ensinar isso.
E disso falaremos no próximo texto...
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