quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O Convite de Marco

Um convite a repensar nossos valores em favor de nossa alma, e daquele morador do terceiro andar que nos espera, sozinho, a nos contar histórias acerca de nós.






Um convite para deixar de mão os valores que concebemos no dia a dia. Um convite sincero, baseado em premissas nas quais ele se baseou para relatar suas memórias, em meio às batalhas nas quais, como diz aquela música, ele iria “como se fosse ver a namorada”.  Hoje tal convite, ainda que seja simples, perturba um pouco nossa mente, nosso coração, pois sabemos que estamos lidando com argumentos fortes, profundos, e por isso devemos repensar nossas vidas antes de dar o primeiro passo para aceita-lo.

Em escolas como o Estoicismo, Epicurismo, etc, não havia pensamentos em torno do que fazíamos, mas em torno do que éramos. Epíteto, mestre dessa escola, passou ao grande Marco tais ensinamentos, e o grande Imperador, ao escolher a prática da arte estoica, nos diz que somos capazes, que nunca somos velhos demais, e que nossos sentidos todos podem ser canalizados e direcionados a pequenas evoluções.

Para Marco, que nos impressiona a cada capítulo, não há desarmonias e que nada é fruto do acaso, pelo contrário. Nada é assim. Tudo pode ser visto sob o ângulo de uma filosofia que nos esclarece tudo – até mesmo sobre o mal que possuímos e o bem que praticamos. Nada é aleatório. Há uma organização da qual participamos, na qual nascemos, vivemos, morremos, sobrevivemos até, e não percebemos; por isso, o livro.

Bem

Aqui cabe uma mera explicação acerca do Bem. Como estoico, Marco diz... “entende que o Bem possui o bem e o mal”... O primeiro seria a constância de um universo no qual há todas as partículas sobreviventes e, a nosso ver, não. Estas últimas, um mistério que sintetizamos em explicações religiosas cujas premissas estão muito além da realidade (além até mesmo da vã filosofia), o que nos faz confortáveis, ao mesmo tempo temerosos, mesmo porque são explicações não filosóficas sem o respeito ou mesmo sob a luz de deturpações que geram outras e outras.

O Bem, assim, mal compreendido, torna-se subjetivo. E Marco, imperador-filósofo, quando nos revela por uma simples frase seu conceito, deixa-nos a evidência do que podemos enfrentar se nos propusermos a aprender o objetivo de suas palavras. O Bem, aqui, entra em conflito com os nossos conceitos, mas harmoniza-se com os tradicionais, os quais dizem que o Bem é Tudo, e o que o mal é a separação dos elementos que o compõe.

Mal

Um mal que, segundo a história, somente pôde aparecer com o aparecimento do Homem, o qual, com sua histórica ambição, unida a interesses genocidas, e por consequência o aparecimento de sistemas homicidas, realizou e realiza a separação de si mesmo (profano) com a Natureza (sagrado). Dois grandes elementos que, por si mesmos, pelo que sempre foram, nasceriam um para o outro, ou apenas para a formação do Um. Mas, em conflito com nossos ancestrais, na busca desenfreada pelo progresso, ainda que milhões de pessoas sejam a escadaria para tanto, somos responsáveis pela má compreensão do que somos.

A consequência desse mal, assim, vai se alastrando, nos tomando, mesmo assim, no entanto, independentemente disso, o Bem estará lá, em forma de Universo a demonstrar o que temos em nós, mesmo com todo o mal que preferimos externar.

Finalizando

O Bem, segundo Platão, pode ser sintetizado, simbolicamente claro, visto e percebido na forma do sol, esse astro que nos ilumina e não somente a nós, mas a tudo, tendo ou não vida (a luz de nossas opiniões) passa por ele; dos grandes homens que passaram, dos que passam, até o mais criminoso pode ver e sentir seus raios, e apreciar a moldura do Bem.

O Mal, segundo nosso protagonista, pode ser tratado como nossos dentes de baixo, que se harmonizam com os de cima, que seriam o bem; os dois não vivem sem o outro, pois evidenciam que há uma Natureza que os manipula em favor de um Bem maior. A inteligência universal.



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