quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Fuga dos Ícaros: cegos pelo sol.

A visão distorcida do mundo, sem uma educação à priori, faz os jovens pular de torres metafóricas e se arrebentarem em chãos reais.



O sol também pode cegar.




Não vou expor novamente, aqui, o mito. É colossal. Apenas superficialmente já está de bom grado.


Dédalo, construtor de labirintos, e seu filho, Ícaro, foram aprisionados pelo rei de Creta, em uma grande torre de seu palácio. Para fugir, o pai, com a seda que, não sei como, lá estava, preparou asas incríveis para a clássica fuga.

Do alto da torre, depois de feitas as asas, colocadas em suas respectivas costas, bem amarradas, pularam e conseguiram voar. Uma felicidade só. Contudo, quando temos em mãos duas pessoas e uma delas um jovem rebelde, que, literalmente, tem asas, fica mais fácil entender o que pode acontecer.

Ícaro sentiu-se livre das amarras não só do rei de Creta, mas do mundo; voou bem alto, fez arrastões, mas tudo muito rápido, e Dédalo, seu pai, preocupado, tentava explica-lo quanto ao voo alto... “Cuidado, suas asas podem derreter”,  e ao voo mais baixo... “Cuidado, podes cair no mar e suas asas molhar!”...

Em vão... Ícaro voou alto, bem alto, ao ponto de não ser visto ao fim das imagens de seu pai, que, naturalmente, seguia a reta do voo. E o filho, enfim, caiu. Morreu.


Filos

Hoje, iniciando pela torre, podemos dizer que os jovens estão pulando sem asas a ideologias passageiras (não ideal) e morrendo antes de saber o que significa voar em direção ao caminho correto (me corrijam, se eu estiver errado). Outros, tão espertos, talvez a minoria, com suas asas de seda, não escutam a voz da razão, e voam como querem, independentes, salientes até, como se fossem donos do espaço... E caem.

Estes, mais confiáveis que os primeiros – não que estejam cem por cento corretos --, não conseguem ver em suas possibilidades referenciais, assim como gerações passadas que um dia tentaram nortear o mundo por meio de atos, palavras, canções, enfim, tais jovens, os de hoje, ainda que tenham asas fortes, não acreditam que podem cair se tentarem alcançar o sol...

Conselhos há. Mas a teoria ante a prática é falha ao ver dos Ícaros. Devem, segundo suas filosofias de vida (se é que se pode chamar assim), tentar provar, falar, fazer de tudo, sem nexo de qualquer causalidade (ou seja), sem querer entender que consequências há em tudo que se faz e fazemos...

“Jovens são assim mesmo”, repetem os mais experientes psicólogos. Mas o que dizer de um jovem superinteligente, estudioso, cheio de astucias, entrar no mundo das drogas? O que é isso, pergunto, o que lhe falta? O que dizer de um jovem que sai da faculdade, se embriaga, cai nas ruas, e não volta no outro dia? O que dizer dos mais religiosos que fazem questão de ir às “micarês” (festa de rua), e pedir a Deus que nada o aconteça?... E, como sempre, acontece.



É o mal dos tempos, claro. Isso, no entanto, não explica. Mas o que explica?

Assim como Ícaro não que respeitara as leis, e teve sua chance por meio de seu pai de fazê-lo, jovens, de hoje e de sempre, o tiveram; a questão, com certeza, é que os de hoje se embriagam demais, não somente com a bebida, mas com a própria vida, antes mesmo de criar seus próprios meios de voar.


Liberdade

As asas de Dédalo foram conselhos mal interpretados, e mais, foram ideologias pessimamente usadas, com vistas à liberdade. Mas até mesmo a liberdade precisa de respeito. Não se pode dizer, em nome de uma experiência falha, que liberdade é fazer o que quer, quando quiser, onde quiser.

Se não houver uma educação voltada aos princípios mitológicos (sei lá), os quais, por trazer à tona os valores reais a que devemos ouvir e praticar, os jovens de hoje e sempre nem sequer saberão o que significa vida.








Busquemos novos voos no próximo texto. 

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