quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A Tensão dos Homens

Reflexão



A tensão das árvores, das folhas, do vento que as assopra não é a mesma tensão que nossas almas sintetizam quando escutam o sinal da ventania... Ah, se tivéssemos a leveza de ser como a folha que cai, do sol que se ergue, das teclas de um piano, que nascem nas mãos de um instrumentista que nascera para acariciar o piano, com intuito de trazer a música... Não temos.

Temos medo do sol da manhã, dos restos de frio, da noite que vem... Da paz limitada em nossas tardes... Enfim, temos a dor antes mesmo se senti-la. Não a mais teríamos se houvesse um olhar ao céu nosso de cada dia, plasmado em forma de natureza, de belezas nas quais esconde o porquê de tudo...

Por que nos escondermos da vida, se não há como fazê-lo nem mesmo na mais subterrânea das cavernas? Por que sentir medo do mistério, se em nosso mundo pequeno, temos tanto a resolver, e nem o fazemos! Não vale a pena correr, olhar para baixo, se infiltrar dentro de si mesmo, como toupeiras, avestruzes, as quais metaforizam o pânico ao sentir a aproximação do predador natural...

Temos a tensão do leão, do animal solar que predominara em culturas como o imperador das selvas, e nós, como reis do nosso mundo, desse micromundo que se esconde nas vésperas da noite mais escura, do inimigo mais ausente, porém que nos deixa sua frialdade como perfume do mal.

A tensão das colinas, das pequenas e belas flores que em seu pico se encontram; a tensão da brisa que nelas bate, do aguar dos pingos que lhe chegam, do silêncio das brumas quando a manhã vem... É o mais idílico dos mundos, em que moramos como seres que saem do corpo e se alimentam de virtudes naturais, sem subjugações, meras palavras, interesses... Temos a tensão das esferas.

E quando olhamos o céu, estrelas nos perseguem em questionamentos confusos, e como crianças, respondemos mais confusos ainda, encantados com tanta beleza. E o manto se abre à lua, e cometas se arriscam, meteoros se fazem, rios de escuridão atravessam nossos olhos, e a tensão se faz, se ergue, e nos faz refletir que temos o que queremos, desde que seja  em direção ao céu...

A terra dos homens, essa em que pisamos, desfaz a tensão natural das coisas, do coração, e o faz acelerar a ritmos quentes ao ponto de morrer em nosso corpo, como um ser que se vai ao nada. Nessa terra de ninguém, pisamos como donos e morremos como vermes; nela nascemos como sacerdotes e nos vamos como faíscas ao mar.

A terra, essa mesma terra, é o elo do homem ao seu corpo, às suas pretensões físicas – o que é diferente de apegar-se ou morrer pelo que pensamos em ser, terrenos.  O ar, que se inclina a entrar em nossos pulmões, é um pouco de nossa alma,  ao que ela objetiva – o alto; as águas, o mistério da energia, desse prana, do levantar de nosso sol interno, é a calmaria... E o fogo, esse elemento indestrutível, sempre vertical, produz a vontade, a força, a eloquência de todos os elementos voltados a maior das naturezas.

Temos a tensão de Deus.


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