Reflexão
A tensão das árvores, das folhas,
do vento que as assopra não é a mesma tensão que nossas almas sintetizam quando
escutam o sinal da ventania... Ah, se tivéssemos a leveza de ser como a folha
que cai, do sol que se ergue, das teclas de um piano, que nascem nas mãos de um
instrumentista que nascera para acariciar o piano, com intuito de trazer a
música... Não temos.
Temos medo do sol da manhã, dos
restos de frio, da noite que vem... Da paz limitada em nossas tardes... Enfim,
temos a dor antes mesmo se senti-la. Não a mais teríamos se houvesse um olhar
ao céu nosso de cada dia, plasmado em forma de natureza, de belezas nas quais
esconde o porquê de tudo...
Por que nos escondermos da vida,
se não há como fazê-lo nem mesmo na mais subterrânea das cavernas? Por que
sentir medo do mistério, se em nosso mundo pequeno, temos tanto a resolver, e
nem o fazemos! Não vale a pena correr, olhar para baixo, se infiltrar dentro de
si mesmo, como toupeiras, avestruzes, as quais metaforizam o pânico ao sentir a
aproximação do predador natural...
Temos a tensão do leão, do animal
solar que predominara em culturas como o imperador das selvas, e nós, como reis
do nosso mundo, desse micromundo que se esconde nas vésperas da noite mais
escura, do inimigo mais ausente, porém que nos deixa sua frialdade como perfume
do mal.
A tensão das colinas, das
pequenas e belas flores que em seu pico se encontram; a tensão da brisa que
nelas bate, do aguar dos pingos que lhe chegam, do silêncio das brumas quando a
manhã vem... É o mais idílico dos mundos, em que moramos como seres que saem do
corpo e se alimentam de virtudes naturais, sem subjugações, meras palavras,
interesses... Temos a tensão das esferas.
E quando olhamos o céu, estrelas
nos perseguem em questionamentos confusos, e como crianças, respondemos mais
confusos ainda, encantados com tanta beleza. E o manto se abre à lua, e cometas
se arriscam, meteoros se fazem, rios de escuridão atravessam nossos olhos, e a
tensão se faz, se ergue, e nos faz refletir que temos o que queremos, desde que
seja em direção ao céu...
A terra dos homens, essa em que
pisamos, desfaz a tensão natural das coisas, do coração, e o faz acelerar a
ritmos quentes ao ponto de morrer em nosso corpo, como um ser que se vai ao
nada. Nessa terra de ninguém, pisamos como donos e morremos como vermes; nela
nascemos como sacerdotes e nos vamos como faíscas ao mar.
A terra, essa mesma terra, é o
elo do homem ao seu corpo, às suas pretensões físicas – o que é diferente de
apegar-se ou morrer pelo que pensamos em ser, terrenos. O ar, que se inclina a entrar em nossos pulmões,
é um pouco de nossa alma, ao que ela
objetiva – o alto; as águas, o mistério da energia, desse prana, do levantar de nosso sol interno, é a calmaria... E o fogo,
esse elemento indestrutível, sempre vertical, produz a vontade, a força, a eloquência
de todos os elementos voltados a maior das naturezas.
Temos a tensão de Deus.
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