sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Breves



Nascemos e vemos a luz, e choramos, mesmo sem dor. Pelo desconhecido que se mostra em forma de mãos que nos acolhem, sentimos. E nessas veias primárias que se escondem em nosso pequeno corpo frágil, nesse coração ainda em formação, dessa mente que, como um para-raios se intimida em entender o que está acontecendo... Tudo nos vem como um turbilhão de pequenas, mas significativas emoções, mesmo porque são as primeiras intimidações divinas.

Somos puro instinto. Somos pureza. Somos filhos de uma certeza de que estamos dentro de um mundo que  nos dará o que queremos em forma de alimentos para o corpo e para a alma; nele, questionamentos faremos, cresceremos com eles, seguiremos ideologias, filosofias, seremos perseguidores implacáveis de outras que não nos convém... Seremos preconceituosos; homens que odiarão outros, e amarão muito a outra parte. Amaremos tanto, que morreremos em pé, acima das pontes, acima dos maiores edifícios do mundo – e faremos, como crianças que não se foram, de tudo para serem percebidos...

Sorriremos depois. E em meio a amigos que já tiveram experiências, ouviremos, sorriremos e voltaremos a chorar pela partida do irmão, do amigo, da mãe... do pai, e sentiremos nas veias, não mais as veias físicas, a real dor. E clamaremos aos deuses o porquê de nossa estada nesse planeta, nesse universo, o porquê do respirar, do andar – e para onde? – e mais uma vez, como um bebê, seremos sequestrados por ideias magnificas sobre o céu e o inferno –  sobre os quais jamais tínhamos ouvido falar com tamanha força...

A dor nos fez procurar o que somos. Muitos se encontram. Outros, não.  Passaremos pelos bares, cheio de amigos intelectuais (ou não), os quais leram de tudo, de Maurício de Souza a Platão, passando pela Bíblia e nos irradiará os olhos com suas palavras, mas não dará um só amor a uma criança, ou a alguém quando necessitado... E isso será a divergência, até mesmo a incoerência, a discrepância humana até o fim dos séculos, graças ao que chamamos de livre arbítrio...

Iremos à igrejas sem respostas, cheias de caminhos fáceis para o céu e para o inferno, se não segui-la... seremos manipulados em nossas respostas, por perguntas sem sentidos, que nos deslocarão o coração, e nos farão pecadores por não sermos adoradores de um Deus mal explicado.

Mas a natureza, aquela que nos persegue, aquela que subjaz aos nossos planos, aos nossos questionamentos, ao próprio confronto e indignações, terá sua semente crescida e expandirá até que crie frutos dentro de nós. Vai nos alimentar de uma realidade eterna e pura, casta, e ao mesmo passo segura e bela.

Após anos, antes de ir embora, voltar para o lugar de onde viemos, renascer noutro mundo e morrer para esse, nos sentiremos como um Guliver, o homem que embarcou gigante em uma praia, e quando se foi, soubera o quanto era pequeno ante ao que aprendera.


Quanto ao que somos e para onde vamos, e por quê... “em verdade vos digo”,  será um caminho tão longo quanto a própria vida na busca da semente do próprio eu.

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