Nascemos e vemos a luz, e
choramos, mesmo sem dor. Pelo desconhecido que se mostra em forma de mãos que
nos acolhem, sentimos. E nessas veias primárias que se escondem em nosso
pequeno corpo frágil, nesse coração ainda em formação, dessa mente que, como um
para-raios se intimida em entender o que está acontecendo... Tudo nos vem como
um turbilhão de pequenas, mas significativas emoções, mesmo porque são as
primeiras intimidações divinas.
Somos puro instinto. Somos
pureza. Somos filhos de uma certeza de que estamos dentro de um mundo que nos dará o que queremos em forma de alimentos
para o corpo e para a alma; nele, questionamentos faremos, cresceremos com
eles, seguiremos ideologias, filosofias, seremos perseguidores implacáveis de outras
que não nos convém... Seremos preconceituosos; homens que odiarão outros, e
amarão muito a outra parte. Amaremos tanto, que morreremos em pé, acima das
pontes, acima dos maiores edifícios do mundo – e faremos, como crianças que não
se foram, de tudo para serem percebidos...
Sorriremos depois. E em meio a
amigos que já tiveram experiências, ouviremos, sorriremos e voltaremos a chorar
pela partida do irmão, do amigo, da mãe... do pai, e sentiremos nas veias, não
mais as veias físicas, a real dor. E clamaremos aos deuses o porquê de nossa
estada nesse planeta, nesse universo, o porquê do respirar, do andar – e para
onde? – e mais uma vez, como um bebê, seremos sequestrados por ideias
magnificas sobre o céu e o inferno – sobre os quais jamais tínhamos ouvido falar com
tamanha força...
A dor nos fez procurar o que
somos. Muitos se encontram. Outros, não.
Passaremos pelos bares, cheio de amigos intelectuais (ou não), os quais
leram de tudo, de Maurício de Souza a Platão, passando pela Bíblia e nos irradiará
os olhos com suas palavras, mas não dará um só amor a uma criança, ou a alguém
quando necessitado... E isso será a divergência, até mesmo a incoerência, a
discrepância humana até o fim dos séculos, graças ao que chamamos de livre
arbítrio...
Iremos à igrejas sem respostas,
cheias de caminhos fáceis para o céu e para o inferno, se não segui-la...
seremos manipulados em nossas respostas, por perguntas sem sentidos, que nos
deslocarão o coração, e nos farão pecadores por não sermos adoradores de um
Deus mal explicado.
Mas a natureza, aquela que nos
persegue, aquela que subjaz aos nossos planos, aos nossos questionamentos, ao próprio
confronto e indignações, terá sua semente crescida e expandirá até que crie
frutos dentro de nós. Vai nos alimentar de uma realidade eterna e pura, casta,
e ao mesmo passo segura e bela.
Após anos, antes de ir embora,
voltar para o lugar de onde viemos, renascer noutro mundo e morrer para esse,
nos sentiremos como um Guliver, o homem que embarcou gigante em uma praia, e
quando se foi, soubera o quanto era pequeno ante ao que aprendera.
Quanto ao que somos e para onde
vamos, e por quê... “em verdade vos digo”, será um caminho tão longo quanto a própria vida
na busca da semente do próprio eu.
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