terça-feira, 8 de novembro de 2016

A Essência do Inferno



... Ainda que eu busque os corais das grandes catedrais, com seus ornamentos, suas torres, sinos e belezas sem fim, não conseguirei deter-me em minha maldade ao sair pela porta de mármore, e sentir a brisa de uma realidade tão violenta.

Ainda que eu escute, em uma sala solitária, o cheiro do perfume da solidão, um Bach, um Mozart, em sua mais triste lacrimoza, unido a mais íntima paz, que levei anos para juntar, como cacos de um vidro que se quebrara com o som do sol... Não terei a verdadeira paz ao me levantar em direção à escada em direção à terra, na qual seres como eu se principiam em chorar as dores que se foram anos atrás, além de rebuscar outras mais amargas, em que residem o mal maior, que é a falta de fé humana.

Ainda que eu chore uma lágrima bela em direção ao sol, escute um poema drummondiano, em que eu encontre Deus em minhas entranhas psicológicas e me levante  como uma pedra filosofal, em nome dos monstros sem cabeça que criamos em nós, há sempre o mais amargo a se ver, há sempre a nuvem que se faz em nome da modernidade que nos tapa os direitos naturais, nossa essência, nosso real amor divino, do qual nasceu todas as essências que percebemos...

Por quê, Senhor? Por quê, senhores do Darma e do Karma? Por que as essências humanas não podem ser mais apreciadas, tocadas...? A realidade dói. O mundo em si nos destrói e nos devasta intensamente como folhas ao vento sem nos perguntar nada, sem palavras, sem avisos, sem piedade... 

Por que, por mais que eu encontre Deus em minhas possibilidades, tenho que voltar ao inferno, lidar com o Capeta, e suas formas mais hediondas e dizer que estamos aprendendo com ele... Parece-nos uma contradição, um falácia, uma controvérsia, uma prolixidade divina em que homens de bom senso, com vistas ao crescimento, em sua máxima sabedoria, diriam que a dor pela qual passaram foi algo bom...

Talvez a escuridão seja necessária, a beleza de algumas dores também; talvez a falta de sol por alguns dias, algumas palavras de amor sem nexo, mas a guerra indiscriminada, as mortes frias de seres que nem abriram os olhos ao mar, ao sol, à flor, ao próximo... seja a maior das dores da vida, e por isso nos surgem mais dúvidas quanto ao alto, às suas razões de existir, simplesmente pelo fato de ser bom por alguns instantes,,,

Sei que estou confuso quanto ao que esperamos dos mistérios, mas eles se não o fossem assim a vida seria uma junção de palavras e contos literais, mitos literais, unidos à simbologias falsas, nas quais o próprio homem teria que rever o sentido da vida de outro ponto, sem que fosse à sua origem. E isso nos afastaria do que realmente somos. 

E o que somos? alpinistas em busca do pico da montanha mais alta, sem se importar com o próximo, apenas com a subida, e por isso tudo perde o sentido, mesmo porque o que buscamos é a essência humana regada de humanidade.






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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....