No serviço público aprendi, nesses vinte e seis anos, que a matéria prima é o profissional, aquele que se lhe dá por completo em tudo que faz, com competência, eficiência e modernidade, ainda que seja meio ultrapassada se fizer comparações com sociedades, culturas, países, ou seja, vai depender muito daquele que exerce sua profissão com dedicação e força.
Quero dizer, as modificações que fizer, sejam elas boas ou más, terão sempre referenciais adotados por experiências sofridas por ele, pelo profissional que comandará um grupo determinado. E nesse grupo, outros profissionais há, sempre tentando subir as escadas com sua competência adquirida em tempos idos, nos quais era apenas um cidadão comum. O servidor não se considera um cidadão comum. Ele se considera um ser realizado, mas que ainda não alcançara sua estrela maior... a gratificação.
E em nome dela, desse pequeno detalhe que vai reger sua vida, seja ela profissional, familiar, social e religiosa, fará o possível e o impossível para não deixar de sorrir, ainda que seja o sorriso amarelo dos homens sem personalidade, um sorriso belo, no entanto, cheio de carnes do restaurante ou um sorriso belo, limpo, como fralda de neném, antes de ser usada -- graças à escova elétrica, comprada com a gratificação que obtivera...
MAS eu não estou aqui para discernir acerca do que é ou não o profissional, mas tentar entender o porquê que ser o que não é exige uma transformação tão forte ao ponto de fazê-lo esquecer o que foi. E isso já vi muitas vezes, e sei que fui um pouco; mas também sei -- graças às minhas reflexões -- que não sou incoerente com relação aos meus princípios (e como diria meu irmão mais velho, "ao meu princípio, meio e fim!"), e posso voltar a ser o que sou.
Ser o que não é, no sentido mais humano da palavra, digo, mais íntimo do que posso denotar, é uma realidade natural (ou tornou-se uma), como uma cultura do gelo, nas águas do Polo Norte. Uma ótima referência à profundidade do que quero chegar e me expressar.
O servidor se torna um lago gelado, sombrio, sem habitat. Apenas ele e sua ideias para a consecução de seus objetivos: subir e ficar ao lado do chefe, e com ele tornar-se mais frio ainda, como duas ilhas ou mais ilhas, sorridentes e profundas -- no sentido mais perverso.
E nesse jogo eterno de ilhas em busca da medalha, do "parabéns", do tapinha das costas; do jogo sem leis, no qual sou um atento observador, percebo que a dramaticidade é tanta que muitos se julgam marcianos de inteligência superior, de outro planeta, ou mesmo melhores apenas porque conseguiu comprar uma roupa que viu na vitrine da loja sonhada... Mas isso é café pequeno, como dizem nesses bares, o mais cruel é não dar bom dia às pessoas, seguido de um rosto tão reto e sem vida, que percebemos que estamos criando -- aqui mesmo -- qualquer coisa, menos humanos.
Precisamos conversar sobre isso!
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