segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Sui

Meu filho, minha vida.


Às vezes, em meus pensamentos mais absurdos, mais hediondos, chego a me comparar aos jovens sem ideais, sem futuro, sem questionamentos, sem mente e alma. Alojo-me em meu resto de corpo, fico paralisado dos pés à cabeça e tento imaginar o inimaginável... A última cena do homem no mundo. O suicídio. A morte de si mesmo.

Um outro momento porque passo é a tentativa de resgatar o porquê dessas elucubrações, como um fio de cabelo transparente, entre a realidade da vida e a imaginação do surreal, puxando loucamente a parte que não não traduz nada, a não ser o mal ao coração e à própria alma. São instantes de desespero, dentro do qual fico a me perguntar, como um homem que sou, não um adolescente sem rumo, "por que somos assim?"...

A falta de compromisso com a vida, com as pessoas, e mais ainda com a família, não seja em sua totalidade o bastante para repensar a falta de pensamentos boons, mas talvez o excesso dele. Ou seja, cuidar demais das pessoas,  pensar demais neles e ao mesmo tempo não ter aquele ...feedback da vida quando se precisa.. Enfim, o prêmio por ser tão responsável... talvez.

A imaginação paira entre o que se pode e o que não pode, o que é realizável ou não, entre a possibilidade e a probabilidade... E quando chegamos ao ponto máximo de se obter a resposta, acordamos. Preferimos viver, sorrir, olhar os quatro quanto do mundo, a lua, o sol, os mares, os recantos, jardins, e quem sabe um mundo em paz. 

Mas o que me faz levantar não é o que sou, ou o que fiz para minha família esse tempo todo, nem mesmo os troféus que consegui -- bom emprego, boa família, amigos, -- mas uma pessoa que se reserva somente a mim, para me fazer feliz somente com a sua presença, com seu amor natural, com suas pegadas macias, e seu sorrido contagiante...

Essa pessoa, tão forte e bela, frágil e ao mesmo tempo tão corajosa, me ensina todos os dias que somos meras crianças em relação à vida, e que esta só está se iniciando, nas manhãs livres de conflitos, livres dos noticiários que derramam sangue em nossos olhos assim que ligamos a tv. 

Meu filho.

Dono de um pijama azul que escolhera em uma loja de roupas infantis, na qual havia pouquíssimas opções para pobres, pois cada peça era um trauma para o bolso; ele, no entanto, se encaixa sempre bem tudo que veste, que calça, que tudo. Não por isso, mas por ser o que sempre esperei de uma pessoa, de um menino cujo respeito se traduz não apenas em comportamento, mas em palavras. Fala pouco, mas o necessário para que eu, como pai, posso dar-lhes beijos e abraços.

E na hora das refeições, tudo que aprendera no dia quer passar a mim e à minha esposa como um pequeno computador com pernas e braços, magrelo, e com intervalos entre o que come e o que fala. São momentos que pais devem estar presentes, e eu estou ali tirando o máximo proveito do pequeno ciborgue, que nos ama com todos os nossos defeitos.

Mais pensamentos

Passado o almoço ou mesmo o jantar, me questiono a respeito de minha educação em relação a ele, ao meu filho. Sei que não tenho motivos para reclamar agora do que passo a ele, mas, mais tarde, quando ele estiver com o dedo apontando ferozmente o meu rosto, com suas opiniões acerca do que é a vida -- mesmo sem conhecê-la direito -- não sei se vale à pena tudo isso, penso.

Há pais maravilhosos que sempre estiveram ao lado de seus filhos, mas seu filhos nunca estiveram ao seu lado. Seus pensamentos, voltados ao dragão maior -- internetes, jogos, filmes pornôs, etc -- sempre foram os vilões de um filme cujos pais tentam ser os heróis na tentativa de resgatar os seus em meio a um mundo que não sabe lhes oferecer nem mesmo uma música... muito menos ideias para progredir na vida.

Muitos casos, no entanto, são individuais, ou seja, depende muito da pessoa, mas a maioria, não mais sabe para onde vai, ou por que vai. E quando chega lá, caem da vida e desfalecem como plantas sem água há muito tempo.

A água, a que me refiro, seria ideais baseados em premissas tradicionais, nas quais se aprende a lidar consigo mesmo e com o próximo, e mais tarde com a própria vida. Hoje é ao contrário... torna-se um grande profissional, um grande orador, mas não se sabe nem mesmo de onde veio, ou sequer respeita-se a pessoa do seu lado. 

Sui

A vida, descobri, tem seus dois lados. Este no qual vivemos e o outro, no qual vamos viver. Não adianta "fugir" do que ela nos espera, tentando ir embora antes que ela permita, pois o ciclo que nos espera do outro lado é quase o mesmo, só temos um novo modo de ver e viver, mas a labuta é contínua...

Enfim, se temos -- ou tenho -- preocupações agora com a própria vida, tenho que me limitar dentro de uma ordem na qual eu possa resolver tudo que me é dado, tudo que tenho e que me deram a resolver. Não adianta, repito, fugir. E se temos uma prova maior que nós mesmos, ela não é nossa, mesmo porque tudo que nos aparece é do nosso tamanho, assim como para cada herói existe um vilão proporcional aos seus poderes,

E se nossa prova maior é a família, esse grupo complexo natural e misterioso, e dentro dela nossos filhos, que sejamos os heróis, com vistas a deixar rastros para uma geração que precisa de espelhos para se ver e de muito amor para entender a vida.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....