Problemas não tem tamanho, como diria um grande professor que um dia, em uma pequena aula de filosofia clássica, quando todos até aquele instante estavam ausentes, procurou iniciar a oração (como eu chamava cada aula dele), resolveu sentar-se comigo, e por meio de uma pergunta acerca dos problemas individuais e coletivos, sentado, resolveu conversar com este que lhes escreve, e, iniciando, me disse... "se hoje não assumimos nossas responsabilidades, dentro de nossas possibilidades, há sempre alguém que sofre por isso; pode ser você ou quem estiver sobre sua tutela. Imagine Alexandre (o Grande), de uma hora para outra, largando tudo, e dizendo... 'ah, deixa pra lá', não quero brincar mais disso... Isso, depois de ter conquistado quase toda Europa!"... "Então", continuou, "...O mesmo nos ocorre em nosso nível. Temos que abraçar o problema, enfrentá-lo, como se fosse o último da vida, já sabendo que há pessoas que não vão fazer o mesmo...!"... "Mas o filósofo tem gana por problemas, porque sabe que, somente ele, dentro dele, se esconde os mistérios", finalizou.
Mais tarde refleti acerca de suas palavras, de seu dom, principalmente, em reverter situações anormais em normais, as quais, para ele, dentro de sua natureza, seria mais fácil. Dentro da minha, porém, não era assim. Pelo contrário. Eu sempre acredito que problemas há em todas as esquinas e que dormem nas estradas e vias do mundo, e que somos responsáveis por acordá-los com nossa ignorância. Não desdenho o que o mestre disse, jamais. A questão, por si, é relativa, e possui um viés maduro demais para aquele aluno, imaturo, sentado ao lado dele, no qual pairavam dúvidas quanto o que seria problema e como abarcá-los em sua vida; para aquele aluno, de quase trinta anos, cinco de estudos filosóficos, e nenhum de prática, acredito, tenha sido em demasia o que fora a ele explanado...
Mas, após passados estes anos, dou credibilidade ao mestre, que, mesmo na falta de alunos incríveis, sujeitou-se a me dar toda atenção do mundo, a deixar claro que nada, realmente, era por acaso, e mostrou isso na prática, sujeitando-se a me dar a pérola das pérolas da resolução humana dos problemas...
O tempo passa, no entanto, e nossas mentes ficam fracas, assim como pequenos seres que precisam do sol e se afastam dele por necessidade caseiras. Agora, o sol nada mais é que um elemento físico, amarelo, esférico, belo, do qual não consigo retirar qualquer aprendizado... E quando percebo, em mim, que aquelas palavras, em vários contextos, refletem como solução, meno para mim, tento procurar o mestre em minha imaginação, conversar com ele, e voltar a ter uma nova e madura conversa...
Não tem como. O que me sobra, dentro de minha natureza, é levantar do sofá, agir, trabalhar, sorrir -- o que sempre dissera para os homens que amam a verdade -- pagar minhas contas, buscar nas entrelinhas a sacralidade de tudo, assim como índios em uma dança em busca de chuvas, como vikings, em nome de deuses nórdicos, em batalhas almejando o céu, com honra e dignidade.
O arame é farpado, dói em nossas mãos, em nossas pernas e alma; ultrapassa o que chamamos de possibilidades internas procurando ferir o que ainda não feriu; nos faz voltar conceitos, esquecê-los, desfazer planos, ser crianças em vez de homens. O arame é sujo, bacteriano, profundamente perigoso, e ao tocá-lo percebemos que entramos em mundos diferentes, como portais a outro planeta... Mesmo assim, temos que nele tocar, sentir a dor, procurar não ferir-se e se o for não para a luta, até que esteja completamente esticado, organizado, assim como tudo deve ser.
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