sexta-feira, 4 de maio de 2018

O Pai, o Filho e o Medo (fim)

Não se pode medir o amor entre pai e filho, assim como se mede de maneira proporcional a um edifício de centenas de andares, ou qualquer aspecto físico, com vista à matéria que conhecemos. A profundidade de tal fator, mesmo que compreensível, torna a causa subjetiva; ou seja, não é universal em alguns aspectos.

Sabe-se que amor, em nossa linguagem corporal, física e mental, por mais que calemos os deuses nesse momento, cai no relativismo, mesmo porque o limitamos, direcionamo-nos a uma pessoa, e não a várias. Isso, com certeza, ainda que seja fora dos parâmetros divinos, não nos faz homens ou mulheres maus, pois somos humanos! e nascemos para relativizar a coisa, seja ela o que for.

E amor não é diferente. Todo ele, embriagado de palavras belas, revestido do  maior sentimento -- quase tangenciando a alma, às vezes --, não o faz melhor do que um leão pela sua cria, da hiena, do canguru, ainda que seja o único dos animais bípedes que possui placenta, não o faz melhor ou pior do que os outros animais.

O tangenciamento das relações não individuais, e sim coletivas, pode nos trazer benefícios em prol de um entendimento válido em relação ao amor, pois, penso, que a reflexão nos faz mais perto da verdade. Quando Platão (filósofo grego) conceitua o Amor como o primeiro Deus, pode-se perceber que o mestre revela que, antes de qualquer coisa existente, Ele apareceu, esteve entre os átomos ocultos, e fora responsável pela união natural do Todo.

É preciso entender, no entanto, que quando o filósofo se refere ao Amor, ele o faz de maneira abrangente, como se ele, o Amor, fosse o responsável pela União natural da vida, não apenas a da humana. "O amor une, o desamor desune", dizia. E levamos para o nosso conceito caseiro a afirmativa dentro da qual pressupõe-se que o que existe entre mim e a outra pessoa -- seja ela um filho, uma esposa, uma amante, uma namorada, enfim, -- qualquer ser que esteja dentro de uma margem de sentimento acima do grau permitido pelo coração, chamamos de amor, porém, o que entende-se ou se permite entender ao que se coloca é que o Amor une, e a nossa ignorância quanto aos conceitos pode dividir os homens ao seu real entendimento -- o que geralmente acontece.

Amor sempre será um deus, segundo os gregos clássicos; enquanto para os ocidentais de hoje, será apenas um verso, uma pessoa, um objeto, ou qualquer ser que preencha nossa alma interesseira.

Mas o amor entre pai e filho?

Ainda que chamamos de amor, ainda que queiramos que seja algo divino e sagrado, ainda que queiramos que nossas guerras sejam as únicas quando defendemos aquele que realmente amamos... É um direcionamento, não um amor voltado ao Todo. E por isso, pode ser um devaneio profundo dentro do qual não encontramos palavras, verso, dicionários modernos, antigos, para conceituá-lo, e assim chamamos de amor.

Se o fizermos, ou melhor, se o particularizarmos como forma de dizer que estamos sendo mais que muitos, é porque não observarmos muitas espécies que não são humanas, como os animais, pequenos ou grandes, e assim, nos máximo, estamos nos igualamos instintivamente àquele animal, o que, para nós, que buscamos o verdadeiro amor, o mais simples, o mais puro, o mais belo, o mais universal, caímos ao chão...

Na República.

Na educação platônica, mais especificamente quando Platão fala em seu livro acerca da Justiça, nos transfere uma ideia mal compreendida por todos até então. A ideia de que mães e filhos não devem se conhecer no leito, se espalhar entre os grupos, sem a genitora saber quem foi que ela trouxe ao mundo... 

Como todos sabem, é o instinto de mãe que marca a força entre os dois quando do nascer da cria, e para não ficar com esse sentimento direcional em função de uma só pessoa ao longo da vida, ou mesmo distribuí-lo, ao sentimento de que algum pode ser o seu, o mestre idealizou que nenhuma mãe em sua República ideal deveria saber quem seria seu filho.

O direcionamento, assim, nos torna frágeis, apegados à matéria, ao que nos atrapalha "na subida", enfim, ao entendimento do que seria Amor.

Mesmo assim, ainda não havendo outra palavra, digo que não devemos procurar outra. Mas não devemos estacionar em nossos conceitos, pelo contrário, temos que procurar conceitos universais, pois podemos cair no sectarismo antes mesmo que partidários a algo.


Amém,

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