quarta-feira, 2 de maio de 2018

O Pai, o Filho e o Medo

Em muitas tradições, principalmente a Cristã, há várias conotações entre pai e filho, nas quais a bipartição de algo, o inicio de algo, a simbologia perfeita da linha inquebrantável entre os dois, a força da matéria em sua profundidade, ou, a meu ver, a mais cruel das formas de demostrar o amor entre pai e filho.  A mais conhecida, com certeza, é de Abraão, personagem bíblico, citado no Gênese, que teria -- ainda que não fosse encontrado nada que o houvesse existido dele, -- sido pivô do nascimento de várias das religiões mais polêmicas do mundo: cristianismo, judaísmo e islamismo...

Se eu não me engano, Deus, em sua forma mais tradicional, antes do Novo Testamento, agindo como um grande Senhor dos exércitos, teria, segundo o livro cristão, pedido a Abraão que sacrificasse seu filho, em um sinal de fé. Talvez uma das provas mais difíceis do ser humano, a qual, por mais palavras que usemos, não conseguimos detalhar a dor de fazê-lo, como se fôssemos escravos de vontades de um grande senhor feudal. Mas não. Era o grande Deus a pedir que o líder judaico levasse seu melhor filho ao abate, assim como um cordeiro.

A ato não se realizou, nem mesmo se houvesse a necessidade de fazê-lo, pois Abraão, assim como um grande pai, teria que levar para si a dor universal em sua alma, se uma vez o sacrifício fosse realizado, e isso, a meu ver, destrói toda realidade entre dois seres que nasceram para harmonizar um mundo, uma sociedade e principalmente uma família. E ainda não falo do Amor.

Se Abraão o fizesse também morreria. Pois estaria a realizar em si mesmo o sacrifício maior, que era o de matar seu filho Isaque, o qual nascera de sua real mulher, após anos de espera.


Cenas simbólicas ainda se repetem nesse sentido quando Davi, grande guerreiro judeu, vence várias guerras e é "testado" pelo seu senhor com o mesmo ato ao seu filho. O mesmo ocorreu. Não houve mortes, mas o grande líder, que exterminara com o grande gigante Golias, soube que a partir daí tudo devia ter um preço, o do coração.

Nas páginas da Mitologia grega também houve semelhanças a esse ato quando da Guerra de Troia. Segundo nos conta o mito, Ifigênia, filha de Agamenon, foi sacrificada em meio a um altar para que pudessem os guerreiros de Agamenon tivessem acesso ao mar e fosse para Troia combater contra os gregos, na grande muralha. 

Os deuses, assim como o grande Deus cristão, não pensaram duas vezes, e fizeram com que o grande líder espartano colocasse a filha a morrer em suas mãos no altar em troca de ventos para as velas dos grandes navios que iriam singrar nas águas imortais da tradição.

Segundo Eurípedes, o contador de histórias, os deuses perceberam a fé daquele que já estava pronto para a demanda, e por isso pediram a ele, graças ao seu sentimento puro e humano, o corpo ainda vivo da jovem, que teria pelo menos uns seis anos, dizem, e que antes que morresse nas mãos do pai, fora substituído pelo de um cordeiro.


Reflitamos sobre esses mitos, que nos pedem mais que compreensão, mais que intuição, pedem que reflitamos sobre o que é o Amor.

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