Todos sabemos o que são os rituais de iniciação. São formas relativas de entrega física, emocional, psicológica, na maioria das vezes para se entregar ao espiritual ou simplesmente para compreendê-lo. Muitos o fazem com o sentido de tangenciar seus referenciais e adotá-los na prática, como no passado, nas grandes potencias sagradas, que sabiam lidar com os ritos.
Na Inglaterra Medieval, a exemplo, muitos se autoflagelavam, de preferência em silêncio, no porão, ou em seus quartos particulares, na tentativa de pedir perdão a Deus pelos erros irreversíveis que cometiam, e que, para serem perdoados, teriam que se castigar, na maioria das vezes fisicamente -- como chicotadas em si mesmo, nas costas! -- Esse autoflagelo, para muitos, é uma forma de iniciação porque representava a necessidade de o homem voltar-se a Deus ainda que de forma contundente, o que fazia dele um pouco melhor antes de cometer outro "pecado".
Nas Escolas iniciáticas, na Grécia clássica, antes de qualquer aula com o mestre Pitágoras, muitos dos seus discípulos tinham que se preparar não para a dor, mas para se reter em seus vícios, como, por exemplo, falar em demasia, o que para o mestre era um problema humano, para outros ainda hoje é algo natural e bom, mesmo porque somos os únicos a portar essa característica -- falar demais. O discípulo que assumisse o compromisso ante a seus mestres naquela Escola teria que entender que não era um processo democrático onde poderia se expressar e debater opiniões, e sobre as quais fazer alusões interessantes ou não... Era uma Escola na qual aprenderia acerca do espírito, e por isso, segundo regras, teria que ficar calado - ou falar apenas quando lhe era permitido -- por cinco anos!
No exército dos exércitos, quando espartanos iam para batalha -- fosse na Guerra do Peloponeso, fosse contra os persas, atual povo iraniano, todos os inimigos, antes de entrar em batalha contra eles, tinham seu momento de emoção, pois, ante aqueles que brilhavam em batalha, não era apenas homens que portavam escudos prateados, ou lanças, ou martelos, machados, enfim, não eram simples guerreiros que ganhavam lutas em campo, eram espartanos, dos quais saiam somente homens com finalidade de luta, de entrega, de dedicação, não a batalha, mas aos deuses da guerra, aos quais obedeciam, e por eles viviam.
Na infância, espartanos de sangue eram cuidados pela mãe ou pela ama, mas sempre com vistas a melhorar seu caráter frente a um mundo frio e ao mesmo tempo sagrado, contra o qual teria que guerrear eternamente, ainda que não houvesse inimigos visíveis. Na Adolescência, após o corpo está bem desenvolvido para determinadas provas, o pai, guerreiro maior, lhe apontava a objetivo: às vezes, um leão, outras vezes, um touro, e assim por diante.
O rapaz, depois de entender que era preciso viver em meio a linhas imaginárias das leis, e que agora soubera encarar as provas, parte para a maior delas, respeitar os símbolos, e por meio deles entender que há uma outra luta, a de se manter com o sagrado. Não entendendo essa última não poderia respeitar as lei ou a grande Lei. Porém, como na maioria das vezes compreendia, substituiria o grande pai nas batalhas, e se tornaria, assim como muitos em Esparta, um grande guerreiro.
No Antigo Egito, antes de um grande faraó ser o maior representante do povo -- ou o homem-deus -- teria que entender, desde a infância, rituais internos dos quais aprenderia a viver, praticar e levar para seus protegidos o sagrado. Na adolescência, a depender da leitura que fazemos a respeito do simbolismo, teria que se abster do vaidosismo, da desarmonia, do egoísmo, enfrentando, "face a face", um animal de grande porte.
Era um ritual necessário, pois um governante não poderia assumir com tais desejos, pois se absteria de lidar com o real, que seria, no caso egípcio, com os deuses. O compromisso com estes se revelaria em seus atos, na busca por um Estado melhor, sempre com vista ao Espírito, por isso, a consulta ao universo interno, dentro dos templos, dentro de si.
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