quinta-feira, 28 de junho de 2018

As Correntes de Fenryr

As imortais nações sempre mantiveram o assombro maravilhoso dos seus símbolos, porque no passado tiveram aqueles que resguardavam o núcleo mágico que continha as sagradas informações acerca do Todo. Assim foi o Egito, com suas pirâmides, templos iniciáticos, a céu aberto, nos trazendo não somente a Beleza, mas enigmas ocultos a desvendar, e nós, como nossas visões, com o pouco que possuímos, além da pobreza espiritual, os relativizamos, e criamos outras pirâmides, feitas com nossa ignorância.

Na Grécia, quem passeia pelas ruas, pelas vilas, fica surpreendido com seus coliseus, com suas estátuas, além da própria cidade, que, ao Ocidente, significou muito, pois foi a responsável pela existência de uma educação, ainda que diversificada, porém, respeitada, religiosa, a qual, se abrirmos espaço para para fazer alusão ao que nos representa, não terminaríamos hoje.

A questão, no entanto, sobrevoa no fato de que não somente essas grandes nações, mas outras e assim por diante, nos deram possibilidades de refletir não somente no que eram, mas no que somos. Muitas se refletiam no grande Céu para desenvolver e erguer estruturas materiais, outras, apenas a essência, porque sabiam que no Infinito se escondiam perfeições as quais jamais poderiam entender, mas plasmar em forma de Conhecimento, e o fizeram por meio dos sábios, sacerdotes, faraós, de homens e mulheres que possuíam realmente vocações para trazer elementos sagrados do alto e mantê-los, em forma de energias, as quais mais tarde seriam deificadas, interligadas até o coração humano.

Tudo, talvez, possa ser explicado por meio da vocação filosófica humana em trazer à tona elementos não só teóricos, mas práticos. Ou seja, se sei que nada é por acaso, elejo um certo elemento que "pode" ser o responsável pela formação daquele que me protege, me satisfaz, ou satisfaz ao próximo, de modo que esteja dentro do meu leque de possibilidade ocorrer, e quando isso ocorre sei que é a entidade, a divindade, ou o que eu nomear de acordo com a minha cultura...

E quando penso nisso, reflito muito sobre a cultura nórdica, uma das mais belas do mundo, a qual foi sucumbida por outras violentas culturas, mas que sempre deixou elementos naturais e claros ao que devemos ser ou não, compreender ou não, sempre à luz de um Universo em movimento, com Thor, Loki, Freya, Odin, entre outros.  E uma breve história posso contar a esse respeito. Fala das correntes de Fenrir, o filho cão de Loki, que um dia nasceu em Jötunhein, lar dos gigantes, onde também teriam nascido Hel, Jörmongund, a serpente que fora deixada em meio ao mar.

A Hel, Odin deu o submundo, do qual jamais sairia de lá pelo aspecto frio e pálido que apresentara desde cedo, e ela aceitara; a Fenrir, o deus do conhecimento, Odin, por ser em forma de lobo, e esperto como o pai Loki, não sabia o que fazer com ele. Além do quê, crescia muito rápido dando preocupação aos deuses Thor, Tyr e Odin, os quais sempre que puderam davam-lhe atenção, mas não poderia fazê-lo sempre, e assim tentaram providenciar-lhe correntes grossas para que ficasse preso, mesmo porque ninguém estava conseguindo detê-lo.

Foram inúmeras vezes que correntes de todos os níveis, da mais forte, da mais preciosa, feita com elementos mais diversificados, poderosos, incríveis, mas não seguravam o filho de Loki, que se gabava com sua fortaleza. Entretanto, Odin, em sua preocupação, voltou-se aos deuses de Asgard e teve a ideia de consulta-los em como lidar com aquele lobo, que só crescia e se tornaria, com certeza, um grande problema para o grande deus de Asgard.

Foram aos anões, que, de alguma forma ou outra, faziam de tudo para os deuses, e, quando ouviram de Odin que teriam que fabricar a mais forte das correntes, propuseram os seguintes requintes... 

"O som dos passos de um gato; 
A barba de uma mulher;
As raízes de uma montanha;
os tendões de um urso;
o fôlego de um peixe;
e o último, a saliva de um pássaro"

E como se sabe, tais elementos ao ser humano são impossíveis de obter, mas aos deuses, não. Nos remete mais, ao que sentimos e ao que pensamos acerca do que é simples, detalhadamente puro e ao mesmo tempo misterioso. O significado talvez seja que tais correntes possuem elos e devem ser presos um ao outro não como reais correntes, elementos físicos, materiais, como ouro, prata. "vibrânio", mas pelo mais simples de todos, pelo oculto que não percebemos ante nossos olhos físicos, os quais, acreditamos, responsáveis pelo real que adentra em nossas almas. Não. O que está em meio ao mundo, ao cosmos, ao infinito, é o que não vemos, mas não é o que não podemos compreender. 

Olhem ao sol, escutem uma poesia, observem os primeiros passos de uma criança, assistam ao nascer da alegria, do assobio de uma mãe, o suor de um pai. Não se esqueçam de perceber seus ossos frágeis, suas articulações, o que há dentro desse corpo que não para jamais de se movimentar, ainda que não queira, e questione o porquê. Por que nos tornamos estáticos diante do Belo, Justo e Verdadeiros?...  As correntes de Fenryr precisam ser fechadas em nós.

Como diria a bíblia cristã, Deus está nos detalhes.


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