quinta-feira, 14 de junho de 2018

Leitura Natural

Um dia me disseram que o verdadeiro sábio não se atém a livros, mesmo porque já os lê na natureza, observando-a de perto, entendendo o porquê da existência de cada partícula que consegue vê. Hoje, para se ter essa visão é preciso, antes de tudo, buscar realizar-se, sem qualquer interesse, sentir a matéria, saber qual seu objetivo no mundo, assim como o nosso. "Até mesmo as baratas, seres nojentos -- dizia aquele homem -- é tão fundamental à vida quanto alguém que ainda não se encontrou nesse sentido"... 

Segundo ele, até mesmo os seres invisíveis têm mais estrutura e sombras do que a nós. Significando, é claro, que, mesmo perseguindo nossos objetivos, podemos fazê-los de maneira errônea, indo para o lado escuro da vida. Não da morte. Para o lado escuro. Muito pior. Este, resguardado de princípios escusos, dentro dos quais se esconde o mal, ou mesmo o pior do homem, o pior da matéria, dos desejos desequilibrados, é a prova de que, para muitos, o mal existe em pessoa.

Entretanto, para o sábio, nada mais é que a substância, o elemento corrompedor da alma humana, o qual a faz desvirtuar os segredos mais íntimos do profano. Porém, é, na sua essência, uma grande necessidade em forma de trevas pelas quais devemos, por obrigação, passar. Mas, para o sábio moderno, que se baseia em opiniões, não precisamos passar por nada que nos faça mal, porque a dor mora do outro lado, e que ela, a dor, também é um elemento ruim, pois aniquila toda a possibilidade de continuação em qualquer dos caminhos que escolhermos.

A dor, na religião budista, é um outro elemento que, de acordo com as leis naturais da vida, é vital para prosseguirmos, simplesmente pelo fato de que ela nos faz "voltar" à linha imaginária, dentro da qual nos equilibramos e que graças à queda, somos um pouco mais sábios. À queda, chamavam de Carma; à linha, de Darma.

Mas não sejamos tão sábios assim e evitemos as quedas. Vamos nos centralizar nessa linha dévica, olhar para cima, e para os nossos pés, sentirmos o chão, a grama, o cheiro das flores; saber que as raízes estão nascendo, progredindo, se transformando em árvores, cujas pretensões é chegar ao céu. O mal do homem, talvez, seja esse. Mesmo sabendo que suas raízes são sagradas, que a tradição sempre lhe deu instrumentos para "subir" e alcançar as nuvens, acredita não que pode, e quer conhecer o mal por conhecer, sem entender que pode ser sugado e levado pelas trevas sem volta, individual ou coletivamente.

Devemos entender que a linha existe, que a queda existe, que todos os valores se baseiam nessa grande experiência humana -- de levantar e cair, cair e levantar... -- porém, no cair, a consciência pede que sejamos mais astutos e maduros, caso contrário, não voltamos à superfície.

Por enquanto não somos sábios. Vai demorar um pouco... Então prosseguimos com nossas leituras.



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