Ainda que estivéssemos pacíficos em algum lugar isolados, ao ar puro de uma brisa levíssima, em uma ilha paradisíaca, ou mesmo plantados dentro de casa, com medo do mundo lá fora; ainda que estivéssemos debaixo da cama, empoeirados, calados, escondidos da vida... ainda sim, estaríamos a nos movimentar, rodando, à merce dos movimentos da terra.
Não adianta; mesmo "imitando" estátuas gregas, estáticas, em meio ao comércio, com fins lucrativos ou apenas por vaidosismo, sua pessoa estaria presa à inércia, algo que, confesso, levei um tempo para entender. Não a palavra, mas o nosso papel ante ela, que, querendo ou não, não nos seduz. E advinha por quê? Porque mexe com nossas fragilidades internas, nos fazendo ver, com nossos olhos de dentro, o olho mais biônico do ser, que estamos parados, e ao mesmo tempo obrigados a nos movimentar contra a nossa vontade...
Que vontade? uma vontade personalística, egoísta, medrosa, que não pensa em ter sonhos, realizá-los, e que, há muito, foi domesticada, como um pequeno cão, a ter tudo, menos ir atrás do que realmente lhe interessa como vontade. Isto a faria ter dormência nas pernas, levantar-se do sofá, levantar a mão e mudar a água do chuveiro, abrir a torneira, escovar os dentes... como se fosse uma batalha diária...
E como um menino que não cresceu, desenvolve tumores racionais, buscando razões para que fique estacionado na vida, no universo, no cosmos! Pois quer ser um deus, inamovível, observando, como paralíticos dos pés aos últimos fios de cabelo, pessoas, e, o pior de tudo, as criticando por não fazer-lhe nada, trazendo à toa lágrimas naturais de um ser que morreu antes do enterro próprio.
É preciso enxergar além da vida, das pessoas, de si mesmo, do próprio interesse, em querer tudo, mesmo porque tudo tem existência própria, e ainda que não assistimos ao tal encanto, se mexem, trabalham, vivem e se harmonizam com outras partículas, não visíveis. Estas, mais fortes, pois são a força das primeiras, das segundas, e daquelas que ainda estão por surgir. E se observarmos bem, estamos vivos pelas partículas da alma, e esta pelas partículas de outra, a maior delas, a Alma maior que faz o Cosmos respirar, em movimentos aos quais não temos nem sombras de acesso.
A importância reside no fato de que tudo trabalha para algum ideal, desde o átomo mais indivisível, à partícula que ainda será descoberta. Toda ela se enraíza em funções religadas uma nas outras, como grandes teias, em meio a outras teias e assim por diante. Muitos filósofos já declararam ter visto essa teia, como Nietzsche, que, ao buscar a verdade, preso a sua vontade egoísta, teve, diante dos olhos, não físicos, o universo religado em si, até ele próprio estaria nele... (não é preciso, claro, ser um Nietzsche, para isso)...
É preciso elevar a vontade, sair da escuridão, entender que a vida relativa -- essas nossas opiniões, modos, vida, morte, pensamentos, todos -- tem micropartículas que se vão em nome de uma vontade ainda maior, e que nos conduz para cima, a querer ou não, e por isso não adianta esconder-se, se fechar, sem motivos, pois há motivos: o medo de ver que há, nesse mundo, competições e que nelas podemos perder ou ganhar, mas quem observa com a vontade de cima, sabe que a moeda é uma só, que não existe o perder, nem mesmo o ganhar, existe a beleza de viver aprendendo sempre o que Deus nos guarda, todos os dias.
Aos Jovens que ainda não se foram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário