Aqui, com 8 anos. Pura energia e amor. |
...Minha esposa quando grávida, não sabia que estava. Eu, diante das experiências pelas quais tinha passado, observando minhas irmãs com suas feições lisas, rosto redondo, gestos meio raivosos, sabia de tudo. Quer dizer, quase tudo.
Há exatos doze anos, eu comia um cachorro quente em uma barraquinha dessas acabadas, com o agravante do preço, que não era nada frio. Minha esposa, sem saber do seu estado, sem gostar do lanche, também o comeu. Tava uma droga, dizia. Mesmo assim, ingerimos, sorrimos, e fomos pra casa -- casa, não. Dormíamos num quarto separado, dentro da casa de minha mãe.
Lá, minha esposa começara a ter dores na barriga, e eu dizia, "você tá gravida, amor", e ela, teimosamente, ria, e dizia, "para como isso!", eu sei que não, mesmo porque eu é que estou sentido a dor... Ela, em sua defesa, ainda que teórica, tinha razão, porém o fato era tão claro, que eu fui para meu quarto e lá orei à deusa Ísis, que eu amava e a qual me referia sempre nessas horas de angústia. Pedi paciência. Coisa que eu não tinha. Pedi um desfecho da situação, ainda que fosse mais dolorido para mim ou para minha esposa, pois eu não aguentava discutir se ela estava ou não grávida...
A 'coisa' pegou, como dizem nas horas em que tudo se cala e não tem saída para respostas ou perguntas. As dores dela aumentaram, e se seu pudesse dar uma nota para a dor dela, diria que era dez. Tivemos que ir para o hospital. Corremos, quer dizer ela correu, e muito. Nosso carro, um corsinha vermelho-vinho, meio acabado, se transformou no F5 do Speed Racer, ultrapassando até a própria sombra. Foi imperceptível!
Entramos no hospital, sem pressa, sem solavanco de ambos, sem depreciações verbais. Muito pelo contrário. A deusa Ísis estava em tudo. Sorridentes, com sorrisos de Capitu e Bentinho traído, adentramos no consultório que já nos esperava, entretanto, não pude entrar, mesmo porque era uma especialistas em mulher, uma genecologista na qual minha esposa ia sempre.
Esperei pelo menos uns vinte minutos. De repente, uma senhora, com um ar 'nem sim nem não' -- mais sim do que não --, abre a porta da clínica e me chama,,, "O senhor é o senhor Reginaldo?" - balancei a cabeça indicando positivo. Se eu estivesse em um tribunal, talvez indicasse ao contrário, mas as razões que me fizeram dizer sim eram muitas, e uma delas o fato de que, no fundo, eu estava certo quanto ao estado de minha esposa. Que suas dores não eram apenas dores de "cachorro quente" ruim, e sim,,,
Entrei vagarosamente naquele espaço meio escuro, no qual havia uma senhora de branco sorridente, assinalando com o dedo uma imagem pequena e sutil de um ser que se debatia para sair daquele corpo lindo de minha esposa, a qual, deitada, em uma cama meio estreita e confortável a dizer "você tinha razão, amor!Estou grávida"... A sorte é que, até para desmaiar sou inteligente. Alguns pais caem, outros berram, a maioria sai correndo dando charutos até para crianças na sala de espera, enfim, de tudo passou pela minha cabeça -- e me arrependo de não ter feito tudo isso --, e me saiu, assim, uma pequena lágrima tímida dos olhos, e disse "Já sei, o nome dele vai se 'hot dog'" -- e ela, claro, sem jeito, sorriu.
Naquele dia, talvez, não sei, foi o Dia do Pai, não dos Pais, e o dia mais feliz da minha vida. E hoje, com doze anos, cheio de vida, depois de tantas intempéries pelas quais passou, nosso primeiro e único filho honra o nome dele e da família. Seu nome, Pedro Achilles. Pedro, a mãe que escolheu; Achilles, o grande guerreiro mitológico, natural das entranhas espirituais de um passado glorioso, foi meu,
Se me perguntarem, hoje, o que é ser pai, não sei responder bem. Mas, como diria uma grande professora de filosofia, "tente ser pai, não tente ser irmão ou amigo, mas sim, pai". E comungo com ela essa verdade, pois Pai é o ser que transforma, não destrói, é o ser que repassa a tocha aos filhos, sejam eles espirituais ou não. Pai é o referencial até mesmo do próprio homem, que quando ora eleva seus pensamentos ao grande pai interno ou ao pai cósmico, fora de si, em um simbolismo concreto de que podemos observar a nós mesmos pelas obras do grande Pensamento divino.
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