Seu rosto pacífico, gestos maestrinos, voz de um condutor de homens, olhos caídos, cabelos da cor da vida, paz inerente a dos mestres que citava a cada palavra. Sentado, com seu rosto rosado, em tom eterno-pacificador e ao mesmo tempo rígido, o rei pronunciava-se. A cada verbo, uma expressão; a cada expressão, um símbolo. Ele existe.
Ali, naquele instante, meus olhos e ouvidos, atentos ao seu universo que comungava forças para unir outros universos, tentavam unir o caos do momento ao som de sua voz, que burlava a alma de quem o ouvia, e não perder um instante do significado dos pequenos atos que o rodeavam. O mundo teria que parar naquele momento, sentir as forças naturais que eram por ele reveladas, trazidas à tona em forma de um homem que estava perto do mais íntimo do nosso ser, sem ser convidado. Lá estava ele.
Queria dizer que, às vezes, é preferível calar-se a tentar dizer o que sentimos quando o Todo somos nós e nós, o Todo. Ficar estático, a refletir "o que é isso que eu sinto?", e "por que não sentia antes?"... São questões internas, sei, e devem ser respondidas ao 'som' do silêncio, ou como diria há milênios 'ao deus Silêncio".
Ele, aquele cuja paz adentrou em meu âmago, introduziu a semente, de novo, no que eu chamo de inconsciente relativo, nota minha. Ou como pudera chamar no termo junguiano, inconsciente de uma personalidade que necessitava ressuscitar ao inconsciente coletivo, não muito longe da perfeição humana (em termos psíquicos), esmerada em arquétipos, cuja memória -- como já havia dito anteriormente -- preserva-se a essência das ideias que um dia serão práticas ao nosso olhar.
Para isso, no entanto, é preciso fechar os olhos, sentir as palavras que vêm da alma, comungada com o espírito humano, de modo a nos trabalhar internamente, sem medo, seja dar dor, seja do mundo que nos cerca. Pegar os instrumentos necessários, os quais nos foram dados desde o início, trabalhar em função da Arte, ou melhor, de técnicas que nos que fazem nos aproximar dela.
Não podemos ser conformistas com nosso estado de ser, mesmo porque não nascemos pronto (apesar de receber todas as ferramentas para tanto), e trabalhar o que em nós se desfaz das harmonias com as quais vivemos, sentimos e, sem querer querendo, deixamos de lado. Ou seja, procurar Ser e não Estar.
É uma tarefa de ouro, dada somente àqueles que se sentem fortes o bastante para dizer Não às opiniões que vem de fora, revertendo processos que há muito foram levados como verdades para dentro da humanidade, na maioria das vezes, com fins de nos fazer frios, estáticos, passivos, ao contrário do sábio, que nos transpassa seu valor, não suas ideias, retirando a chave que se encontrava dentro de cada um, e a fazer abrir o que há muito foi fechado pela Idade Média natural do homem.
Eu vi o Homem Novo
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