Uma lenda viva. |
Para quem assistiu ao filme “Invictos”,
com Mat Damon, um jogador derugbi, e Morgan Freeman, como o presidente recém-empossado
da África do Sul, Nelson Mandela, sentiu a necessidade de tirar algo, um algo
maior que o próprio filme. Apenas em duas ocasiões, no entanto, pude perceber que o autor do filme conseguiu fazer com que a vida do grande líder Africano
fosse entendida... E intuída.
Quando o jogador, branco, líder de
seu time, olhava pela janela de sua casa, com aquele ar pensativo, sua namorada
o perguntara... “Estás pensando na partida de amanhã?”... Eis que ele
responde... “Não... Não estou. A partida pode se ganhar ou perder. O que penso
agora é no que eu ouvi ele (Mandela) dizer, depois de vinte sete anos encarcerado injustamente,
sob os grilhões dos homens que o prenderam: ‘eu perdoo todos eles’”. A outra cena, quando todos, negros e brancos, pela primeira vez, se juntam, em uma integração, promovida pelo esporte...
Mandela era mais que isso, ou se
tornou maior que seu idealismo que fora ponte para a consecução de sua luta
contra o apartaide – regime de
restrição naquele país na década de setenta e oitenta --, sobressaindo-se acima de
valores que eram deturpados em leis, em atos, pela minoria branca.
Hoje, com cicatrizes do sistema
que lhe fora embutido, e a outros de sua época, Mandela é mais consciência,
mais experiência, mais sabedoria. Nada melhor do que olhar o passado, como
paginas em livros velhos, e dizer... como
fomos imbecis! – e foram.
No entanto, não poderia qualquer
que fosse o líder comunitário, líder espiritual, líder de gangue... deixar que
suas crias estivessem sob o manto injusto de uma minoria por muito tempo.
Alguém poderia (e deveria) levantar-se, tomar as rédeas, peitar as armas, torturas, e ser um
notório pelo que fez, mas Mandela, apesar dos pesares, disse “eu pendoo”!...
Mandela talvez, pelo inconsciente
cristão, tomado há tempos, lembrou Cristo, o qual, na
cruz, disse quase a mesma coisa “Perdoe, Pai, eles não sabem o que fazem”. E,
na sua cruz, ou depois que a deixou no chão, após deixar a prisão de vinte e
sete anos, Mandela, assim mesmo, foi sábio.
Entretanto, sabe ele, acredito,
que a consciência maior, a experiência maior que adquiriu o transferiu para
margem daqueles que simplesmente um dia foram sábios, não religiosos – talvez religiosos
no seu sentido mais amplo, o que não acredito – e intuitivamente, com essa
carga, entendeu que, mesmo após anos e anos preso, as coisas serão sempre as
mesmas se continuarmos com nosso espirito de vingança, ódio... enfim, gerações
poderiam perder-se, e milhares de pessoas morreriam à míngua com o desejo de
morte aos brancos... Por isso, talvez, o “perdoo”, de Nelson Madela.
Ainda que haja beleza em seu ato,
podemos dizer que Mandela serviu apenas – desculpe-me a todos – para uma
determinada época. A questão é que o racismo, a discriminação, o preconceito
ainda se praticam, talvez, com mais precisão do que antes, mas escondidos,
formando apartaides em ruas, em
sociedades ricas, em senados, câmaras, em festas... obstruindo vozes de novos
Mandelas. Por isso, até hoje, assim como lutas de Martin Luther King, Steeve
Becow, Malcon X, Mandela nunca será esquecido.
Não era assim, contudo, que queríamos
lembrar dos idealistas, mas de uma maneira na qual pudéssemos retirar de tais
lutas (de todas suas lutas) como um dia lembramos de Júlio César, o grande
General, que, em meio a grandes batalhas, tinha um ato, simples, heroico,
religado às divindades; tal qual Alexandre, o grande, que, após conquistar a
Europa, disse “não tenho mais nada a conquistar”. -mas o tempo é outro, e luta também. A guerra que Mandela travou tinha seu lado mais social do que universal, e a razão, com certeza, era a falta de consciência de determinados grupos em relação ao que chamamos de integração, harmonia, ou seja, o que achamos ter e não temos.
As sociedades precisam de heróis,
sejam eles brancos, negros, amarelos, dos quais possam tirar lições de amor,
respeito, ética, mas também bravuras indômitas, sem o “perdoo” ao inimigo, pois
sabemos que o universo é regido por uma Inteligência Metafísica, dentro da qual
somos abrangidos, e, com a nossa, argumentamos, desejamos e possuímos, com ou
sem respeito, contudo... passamos pelo ônus e bônus universal, pois nada é por
acaso, ou seja, se estamos dentro da batalha, é porque a procuramos de alguma
forma; se estamos sendo presos, enjaulados, tenhamos a compostura de aceitar
nossas dores – isso não vale para a Ditadura! – e saiamos dela com a mesma
ética que nos fez nela entrar.
Os idealistas de plantão, enraizados nesses líderes, podem até serem admirados, e levados como norte para a modificação e na busca pela identidade de um povo, mas em relação ao passado, aos seus grandes heróis, podemos dizer que a energia dispensada por eles poderia ser canalizada, primeiramente, para si mesmo, em um ato revolucionário interno, aprimorando o que muitos ainda não sabem sequer o conceito. Estou falando de Amor, Verdade e Beleza, a partir de atos, pensamentos, seja num combate de luta armada ou simplesmente num abraço ao inimigo.
Os idealistas de plantão, enraizados nesses líderes, podem até serem admirados, e levados como norte para a modificação e na busca pela identidade de um povo, mas em relação ao passado, aos seus grandes heróis, podemos dizer que a energia dispensada por eles poderia ser canalizada, primeiramente, para si mesmo, em um ato revolucionário interno, aprimorando o que muitos ainda não sabem sequer o conceito. Estou falando de Amor, Verdade e Beleza, a partir de atos, pensamentos, seja num combate de luta armada ou simplesmente num abraço ao inimigo.
Mandela, me perdoe.
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