quinta-feira, 9 de maio de 2013

Fagulhas de Lembranças (iii): A bronca da professora gostosa.


Broncas de professores: como nos são uteis!




Eu ainda era imaturo, chegando a ser desinformado, tristemente desinformado. Parecia mais um cãozinho que havia caído no meio de uma sala de aula, esperando que alguém adotasse minha amizade. Era terrível. Ser sensível demais em uma época em que todos precisam ser duros, era o fim no inicio, ou melhor, talvez fosse o inicio do fim...


Mas só transparecia na realidade, pois hoje, com... q... anos, percebo o quanto foi necessário tudo aquilo, como diria a música de Oswaldo Montenegro, sem “aquela coisa toda”, eu jamais teria sido o que sou hoje, um aluno, quase mestre no que faço... Só não perguntem o que faço, pois não sei rs.

Na realidade, hoje, sou formado, pós-graduado, e possuo especialização em Língua Portuguesa, pela Universidade de Brasília. Mas nada me faz esquecer o dia em que a gostosa professora quase me bateu quando descobriu que eu citava adjetivos sem ajuda dos exemplos que ela havia dado nos livros... É, meu amigo, foi a época da humilhação!

Em sala, com idades de dez a doze anos, a maioria homens, uma professora morena, com a superfície traseira maior que a porta da sala, parecendo mais um contrafilé ambulante, descontratava completamente de seu aspecto psicológico...

Quando entrava, olhávamos para ela, abaixávamos a cabeça, sorriamos, baixinho claro, dávamos um toque no parceiro ao lado que fazia firulas, obrigado a cessar no mesmo instante, e rezar. A infeliz nos dava medo, e ao mesmo tempo tesão... Coisa de adolescente, né?

Quando a infeliz faltava (quase nunca), não sabíamos o que sentir: alivio ou dor... Na realidade, era mais alivio, e eu, dor. Até que um dia...

Abram o caderno, escrevam vários adjetivos, depois me falem o que escreveram!”, isso da maneira mais sutil possível, só se igualando a um general de despedindo da tropa. E fizemos, e passamos horas com cadernos abertos, mesmo porque o exercício era fácil, e não tínhamos o que temos dessa vez.

Quero que todos, agora, falem, um por um, o que colocaram!”... Disse a gostosona-morena, com cintura de Brigite Bardôt, e língua de João Figueiredo (ultimo presidente ditador do Brasil, que mandava bater e arrebentar tudo e a todos), enfim, o fizemos...

O medo só se comparava a de um filme de terror moderno. Desde o primeiro aluno, ao último, a infeliz queria saber se este tinha feito o dever. E mais, todos os adjetivos tinham que ser diferentes um do outro, senão, acredite, a infeliz diria que estaríamos copiando um do outro, não importando a distância do colega...

Era um exercício fácil, e ao mesmo tempo louco. Pois, se o seu dever ficasse quase igual ao do outro lá na frente... Considerar-se-ia mortinho da silva. E eu morri. Não por te copiado, mas, por um detalhe, por  achar – coisa que não podia na ditadura – que meus adjetivos estavam fracos, fechei meu caderno e iniciei meu processo de mumificação... Ou seja, quando a gostosa me pediu para falar os meus... fechei o caderno, sorri para ela – coisa que não podia também, e num ato puro, quase angelical, comecei a falar outros além dos do caderno...Foi a morte.

O que você está fazendo, rapazinho!!”, naquele instante, urinei duas vezes na calça, isso em menos de um segundo. “Quem mandou você fechar o cadernoooooo!!!!”, “Tá pensando o quê????”... – mais uma mijada... sentei-me, chorando intempestivamente, loucamente, tristemente... e haja mente depois disso.

Após o show dos horrores, a cretina ficou pálida por me ver chorar. Todos olharam o rostinho dela, que, apesar de lindo, era do demônio... Foi, para ela, o fim. Depois de meu choro, que levou a todos a tristeza inconteste, fiquei para o fim da aula, para uma conversinha, tipo face a face.... E meu medo aumentou...

Porém, descobri que por trás da infeliz, além daquele enorme bum-bum, havia um coração (no bum-bum, acredito!... ), e se mostrou apenas entre duas pessoas, eu e ela. Constrangida pelo que fez, me vendo com ódio em lagrimas, tocou em meu ombro e disse “desculpe-me, não achei que você fosse tão sensível...”...Acho que nem o exterminador do futuro seria menos!...

E saiu. Eu, com os olhos vermelhos, ensanguentados de choro, com dor no fígado e coração (principalmente...), olhava de soslaio aquele ser que possuía uma beleza anormal, uma bund... anormal, mas também uma fúria que jamais esqueci.

E depois de anos, hoje penso: como eu amava aquela infeliz!

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