Meu filho: regando um grande sonho.
Depois de realizar desejos de meus pares – família, esposa e
filhos, e de alguns amigos – as vezes me sinto pronto para partir – morrer mesmo...
– ir embora, sorridente, no grande caixão (urna como se diz), centro das
atenções das quais um dia jamais queria em vida. Apenas realizar sonhos. E
hoje, quando preso em minha casa, respirando tão bem, preso a meras obrigações
caseiras, faço-me questionamentos do tipo... “será que me realizei também?”..;
É um questionamento natural, daqueles que se fazem quando se
levanta bem, pelo menos, umas cinco ou seis vezes por semana... E no meu caso,
é raro, pois sou uma caixa de preocupações na qual flutuam do menor ao maior
dos casos. E sempre cabe mais quando se nasce com responsabilidades e, com
certeza, morre-se com elas.
Nada fortuito, sempre há pedreiras, assim como ondas em
rochas; do jeito que se vê, as coisas são em minha vida. Nada fictício, nada
romântico ou apaixonante. Assim, sou obrigado a desfazer de meus sonhos, por
enquanto, claro, e resolver, esclarecer, trabalhar, de modo a sanar todos os
problemas de um mundo que ainda bate em minha porta, e eu os resolvo,
esclareço, soluciono e vivo.
Resolvendo, volto para o fim de semana lento e agradável,
porém, necessariamente fechado, pensativo, ou melhor reflexivo, unindo o que se
forma em minha cabeça e as tralhas que colhidas durante a semana... Paro para
ler.
Tangenciado pela leitura, encontro nela a face de uma vida
forte, viva, cheia de confronto dos quais não devo sair, apenas aprender. Tento
trazer toda ela para uma realidade da qual faço parte, dar passos lentos, porém
direcionados, fecho os olhos, penso, encontro meios de refazer o que fiz de
errado, mas...
É uma parede. Um muro, um edifício. Sou obrigado, assim,
dizer a mim mesmo que sou maluco e ao mesmo tempo corajoso, pois não há base
para realizar caminhos baseados em premissas teóricas. Mais um erro meu...
Na realidade, há sim; somos humanos, e esquecemos;
tratamo-nos como seres que apenas andam e se alegram com momentos rápidos, e
esquecemos mais, que há em nós centelhas tão naturais quanto nossas risadas,
nossos bons momentos, há a divindade tentando se realizar em algum ponto nosso,
dentro, bem dentro de nossas almas. Não é mentira.
E tudo isso pode ser buscado pela leitura clássica, aquela
que fala de nós, de maneira profunda, enraizada em preceitos verídicos, ou
seja, sem portas de papel, mas ao mesmo tempo, com chaves bem elaboradas, que
nos fazem repensar nossas origens, e com isso nos fazer buscadores, ou antes
disso pensadores do que somos ou podemos ser. Aqui inicia o sonho deste.
Com o pouco que tenho – sou um mero funcionário público sem
a mínima pretensão ascender a cargos, mesmo porque não tenho a mínima intenção
de dar ordens a ninguém..., um marido feliz, assim como um pai que espera
reeducar-se e passar ao filho a colheita de tudo que plantou, ou apenas um
amigo que gosta de estar com os amigos. Tenho meus defeitos, como beber um gole
de vinho, quando frio; de cervejas, quando o calor resolve dar os ares de sua amarelice, enfim, após a ida de minha
deusa-mãe, não tenho muito o que pensar em fazer, apenas esposa e filhos
sintetizam ouros que devo guardar.
Assim, descobri que muitos encontram sentidos, sonhos nas
alturas, nas igrejas, nos deuses, ou em suas raízes, das quais se projetam
outros e mais outros sonhos. E eu, filho que ficara desolado dos sonhos por
muito tempo, acredito, encontrei razão de sonhar e realizar aos poucos o que
seres humanos buscam em suas viagens, nas montanhas, em países ricos, em buscas até mas profundas... a espiritual.
É... Fantástico. Máximas do tipo... “Não precisa viajar para
encontrar um lugar tranquilo, idílico, calmo. A própria alma tem esse cantinho,
lá dentro”. Não é piada. Sinto-me, aos poucos, como um general que, em meio a
artilharias pesadas, lê um livro, e se aprofunda em relação ao seu inimigo. Eu
me sinto o próprio Marcus Aurélius, general romano, dono da frase acima.
E quando olho as estrelas da noite, antes de dormir, penso
no Nows Platônico, que reside, segundo o autor, acima de nossas almas, e faço
minha oração, como um faraó que pede ao grande deus Num, o deus das águas
primordiais, proteção a todos...
E nessa calmaria, meus sonhos vão se realizando, tornando-se
mais fortes, pronto para resolver e realizar outros.
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