Encontrar a nós mesmos. O sentido de tudo. |
Na realidade, se dispomos de
elementos que nos fazem refletir acerca das saídas de nossos problemas, isso no
mito de Ariadne, então o façamos. No entanto é preciso ter cuidado com todos
eles, pois tais elementos podem ser relativos demais – ou melhor personais – ao
ponto de profanarmos a ideia central. Que é elevar o ser humano, transformá-lo,
e ao passo fazê-lo voltar às origens de si mesmo.
Quando Teseu penetra no
labirinto, é a Vontade eliminando os resquícios de uma personalidade que se acostumou
a viver de restos materiais, como paixões, desejos materiais, pensamentos
mórbidos, ou como já dizia Sócrates, do que não interessa à alma.
E por isso Teseu, com o fio,
entregue pela amada Ariadne, amarra-o ao inicio do labirinto, vai o
desenrolando e passando pelas vias difíceis de nossos eus, o que, para nós,
normalmente, não é uma decisão gratuita, e sim sagrada. E quando dizemos
sagrada, equivale levar ao cume de nossas possibilidades, de nossa alma, o que
ela, como diria a tradição, busca desde reminiscências...
É a juventude. Não no sentido
jovem-adolescente, mas puro, ativo, idealista (de ideal), como se realmente
fosse um jovem, mas eterno. Entretanto, sucumbimos à idade, e dizemos que somos
velhos; à necessidade de descansar, e descansamos mais do que o corpo pede. Damos
ouvido ao amor impuro, sujeito a mutações, graças a opiniões, a conceitos
frios. E por muito mais, não chegamos ao real objetivo de Teseu, ao centro de
nós ou a nós mesmos.
O novelo, como muitos se
questionam, é um meio pelo qual o grande herói usa para que não possa se
perder, ou seja, se apaixonar pelas nuances do corpo, da mente, e nos
perguntamos, o que seria o novelo? Na tradição, assim como hoje é a religião,
tínhamos a Filosofia. Meio pelo qual encontrávamos a saída e não nos perdíamos
quando entrávamos em confronto com os conflitos da vida, e dela tirávamos o
sumo, a essência, a universalidade das questões.
Hoje, o fio de Ariadne, com certeza,
é bem relativo. Está sujeito a tudo, menos ao seu objetivo. Mas, como disse,
havendo como sair de determinados conflitos, ainda que seja temporário, podemos
dizer que é a gota em busca do oceano.
Pois todas as respostas aos
problemas sejam eles quais forem têm sempre uma tônica voltada a eternidade. E
isso é mais que bom. O que mais nos desespera, no entanto, é que o conceito de
eternidade também está desvirtuado, assim como o céu, inferno, universo,
razão, amor... E isso nos transforma em assassinos, vigiando a vida.
O labirinto somos nós. Cheios de
eus, que se interpõem frente ao que a alma busca desde sua origem, a Verdade.
Ele, o labirinto, se confunde com o que achamos que somos, essa personalidade
que acostumamos louvar quando acordamos. Confunde-nos tanto que, na maioria da
vezes, o medo de perder, de jogar, de sair, de amar... de viver nos atravessa o
corpo e vai a uma mente que tem todas as respostas para não participar da vida.
O grande labirinto é tão forte
quanto as rochas, e quanto ao maior aço já produzido. Não é de agora, mesmo se quiséssemos,
chegar à essência de nós mesmos, assim como o fez Teseu e matar o Minotauro, o maior
mal que assola nosso ser. Por ser tão maior quanto nossas possibilidades, o
labirinto deve ser visto como a boca de um leão, e nós, o domador. Mesmo que o
conhecemos, desde o primeiro dia nossas vidas, um dia pode nos engolir. Assim,
se subestimarmos o labirinto, nossas personalidades, podemos ser engolidos,
enganados... E quem sabe levados pela correnteza do mal que criamos.
E dentro desse grande labirinto,
mora nosso maior mal, o Minotauro, ou seja, a raiz de todo o mal que nos faz
sentir velhos, limitados, fracos; obedientes a leis mentirosas, a opiniões,
desde a tenra idade, a falta de liberdade, a falta de sol... da Natureza.
O Minotauro se esconde também no
maior mal da humanidade. No homem mal, que ama fazer dos outros homens discípulos
falsos, escravos de opiniões; do homem que nos separa da Beleza, da Justiça, da
Verdade, do real Amor. O Minotauro é aquele sentimento coletivo de ignorância
que a humanidade leva para casa e o trata como o cãozinho, alimentando-o, todos
os santos dias.
Hoje, ao reunir esses elementos,
Teseu, Fio de Ariadne, Minotauro, fico observando a derrocada da humanidade,
este grande ser, que se perde no grande labirinto dos ciclos. Mas também vejo ainda na Filosofia a saída para todas as dores do homem.
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