sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Fios de Ariadne. Teseu, Labirinto, Novelo...




Encontrar a nós mesmos. O sentido de tudo.






Na realidade, se dispomos de elementos que nos fazem refletir acerca das saídas de nossos problemas, isso no mito de Ariadne, então o façamos. No entanto é preciso ter cuidado com todos eles, pois tais elementos podem ser relativos demais – ou melhor personais – ao ponto de profanarmos a ideia central. Que é elevar o ser humano, transformá-lo, e ao passo fazê-lo voltar às origens de si mesmo.

Quando Teseu penetra no labirinto, é a Vontade eliminando os resquícios de uma personalidade que se acostumou a viver de restos materiais, como paixões, desejos materiais, pensamentos mórbidos, ou como já dizia Sócrates, do que não interessa à alma.

E por isso Teseu, com o fio, entregue pela amada Ariadne, amarra-o ao inicio do labirinto, vai o desenrolando e passando pelas vias difíceis de nossos eus, o que, para nós, normalmente, não é uma decisão gratuita, e sim sagrada. E quando dizemos sagrada, equivale levar ao cume de nossas possibilidades, de nossa alma, o que ela, como diria a tradição, busca desde reminiscências...

É a juventude. Não no sentido jovem-adolescente, mas puro, ativo, idealista (de ideal), como se realmente fosse um jovem, mas eterno. Entretanto, sucumbimos à idade, e dizemos que somos velhos; à necessidade de descansar, e descansamos mais do que o corpo pede. Damos ouvido ao amor impuro, sujeito a mutações, graças a opiniões, a conceitos frios. E por muito mais, não chegamos ao real objetivo de Teseu, ao centro de nós ou a nós mesmos.

O novelo, como muitos se questionam, é um meio pelo qual o grande herói usa para que não possa se perder, ou seja, se apaixonar pelas nuances do corpo, da mente, e nos perguntamos, o que seria o novelo? Na tradição, assim como hoje é a religião, tínhamos a Filosofia. Meio pelo qual encontrávamos a saída e não nos perdíamos quando entrávamos em confronto com os conflitos da vida, e dela tirávamos o sumo, a essência, a universalidade das questões.

Hoje, o fio de Ariadne, com certeza, é bem relativo. Está sujeito a tudo, menos ao seu objetivo. Mas, como disse, havendo como sair de determinados conflitos, ainda que seja temporário, podemos dizer que é a gota em busca do oceano.

Pois todas as respostas aos problemas sejam eles quais forem têm sempre uma tônica voltada a eternidade. E isso é mais que bom. O que mais nos desespera, no entanto, é que o conceito de eternidade também está desvirtuado, assim como o céu, inferno, universo, razão, amor... E isso nos transforma em assassinos, vigiando a vida.

O labirinto somos nós. Cheios de eus, que se interpõem frente ao que a alma busca desde sua origem, a Verdade. Ele, o labirinto, se confunde com o que achamos que somos, essa personalidade que acostumamos louvar quando acordamos. Confunde-nos tanto que, na maioria da vezes, o medo de perder, de jogar, de sair, de amar... de viver nos atravessa o corpo e vai a uma mente que tem todas as respostas para não participar da vida.

O grande labirinto é tão forte quanto as rochas, e quanto ao maior aço já produzido. Não é de agora, mesmo se quiséssemos, chegar à essência de nós mesmos, assim como o fez Teseu e matar o Minotauro, o maior mal que assola nosso ser. Por ser tão maior quanto nossas possibilidades, o labirinto deve ser visto como a boca de um leão, e nós, o domador. Mesmo que o conhecemos, desde o primeiro dia nossas vidas, um dia pode nos engolir. Assim, se subestimarmos o labirinto, nossas personalidades, podemos ser engolidos, enganados... E quem sabe levados pela correnteza do mal que criamos.

E dentro desse grande labirinto, mora nosso maior mal, o Minotauro, ou seja, a raiz de todo o mal que nos faz sentir velhos, limitados, fracos; obedientes a leis mentirosas, a opiniões, desde a tenra idade, a falta de liberdade, a falta de sol... da Natureza.

O Minotauro se esconde também no maior mal da humanidade. No homem mal, que ama fazer dos outros homens discípulos falsos, escravos de opiniões; do homem que nos separa da Beleza, da Justiça, da Verdade, do real Amor. O Minotauro é aquele sentimento coletivo de ignorância que a humanidade leva para casa e o trata como o cãozinho, alimentando-o, todos os santos dias.

Hoje, ao reunir esses elementos, Teseu, Fio de Ariadne, Minotauro, fico observando a derrocada da humanidade, este grande ser, que se perde no grande labirinto dos ciclos. Mas também vejo ainda na Filosofia a saída para todas as dores do homem.








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