Toda experiência é válida se soubermos canalizá-la. |
Conversando com uma grande amiga
acerca do bullying, tive a impressão de
que ela havia se enganado ou eu estava enganado sobre o tema. Vamos nos localizar... Segundo os
dicionários, bulliying é um termo que
tenta descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidas,
praticadas por grupos de indivíduos causando dor e angústia... Enfim, é tudo
que sofríamos em décadas passadas, por quadrilhas, ou encrenqueiros que nos
visavam como diferentes em uma sociedade, de modo a sermos reprimidos por isso...
Mas... Voltando, na conversa com
essa querida amiga, ela era a “favor” do que ocorria com as crianças e
adolescentes em razão do aprendizado que tinham (ou têm) como forma de
experiência... Eu, não sei porquê, dei, naquele minuto, razão para ela... Mas depois vi que fui prematuro.
Todas as formas de violência, da menor a maior, evoluem com o tempo...
Todo Mundo Odeia o...
Na década de setenta, por volta
de 1978, quase oitenta, não havia o facebook,
Orkut, e-mails, enfim... A internet.
Aqueles que sofriam de bullying,
ainda que fosse um ato desmedido de marginais ou inimigos de plantão, ainda
estava na gema, ou seja, não tinha a dimensão que hoje tem.
Lembro que amava as salas de
aula, de uma pequena escola em que estudava. Cheia de colunas de madeira, pintada
anualmente com vermelho vinho, com eventos simples e inesquecíveis, porém
resguardava, em razão da Ditadura, professores e alunos que se sentiam os próprios
generais, e não abriam mão disso
.
Não adiantava meu amor todo pelos
estudos, se ali, naquele ninho de aprendizado, eu tinha minhas piores
experiências, ou melhor, quase, porque havia outros grandes amigos que possuíam
a grandeza e o carinho em me proteger
dos anormais que me seguiam apenas para saciarem seus egos.
Não gosto de citar nomes nessa
hora, nem me aprofundar nos males. Mas, para esclarecer o que era a violência psicológica
e física que sofria, é preciso deixar bem claro que não era diferente da de
hoje. O mal de hoje, saliento, são os meios de comunicação criados pela rede
mundial de computadores.
O Pequeno Mal
Ele era magro, muito branco,
corpo não muito forte. Rosto com queixo pontiagudo, olhos de pessoas más.
Situação financeira excelente, irmãs lindas, e com uma mãe que não valia o que
comia... Éramos pré-adolescentes, e queríamos todos a mesma coisa: estudar.
Menos o verme.
No entanto, não sei a causa,
talvez em razão de minha má formação física, que hoje é meu charme, para não
dizer outra coisa, de o desafeto me perseguir todos os dias, menos no dia em
que ele ou eu não íamos à escola. E, quando vejo aquele seriado “Todo Mundo
Odeia o Cris”, penso um pouco acerca do que me ocorria na época, pois querendo
ou não, fica em nossa alma.
Em sala de aula, o infeliz
sentava-se longe de mim, e sempre a espreita de minha pessoa, dizia que eu era
culpado de tudo: do seu lanche que caía, do seu lápis que sumia, da borracha
que acabava, da água do colégio que faltava... Enfim, só sei que, todas às vezes,
meu pescoço era segurado, ao ponto de ser levantado junto à porta da sala. E
ninguém fazia nada...
Minto. Eu, como eu disse, havia
amigos que possuíam um grande afeto por mim (talvez porque morasse perto de minha
casa, ou medo que minha mãe soubesse do fato sem que ele tivesse feito algo por
mim, mas...) a meu ver, um grande amigo que me salvava desse ser que nasceu
para lembrar dele como o percussor do bullying.
O Cris, do filme, não tinha quem o salvasse rs.
A Salvação Real
Minha salvação, na realidade, é
que, na época, os meios de comunicação não possuíam a tecnologia que possuem
hoje. Eu, com certeza, se houvesse, não teria espaço. Não sairia de casa. Estaria
debaixo de uma cama. Estaria sendo massacrado friamente não apenas pelo
imbecil, mas pelos que acreditariam que ele estava certo. Pois o face, o Orkut,
os e-mails, os grupos, e todos os corredores da escola estavam a minha espera a
me dar aquele murro psicológico... É a morte prematura de um individuo e de uma
sociedade.
Fui salvo várias vezes pelo meu
amigo e herói, que, hoje, com certeza, deve se lembrar de suas proezas e de
quantas vezes me salvou do mal que me assolava. Mas, nos dias em que não ia, as
dores faziam parte de mim assim com faz parte até hoje em determinadas
circunstâncias, mas, como disse a amiga do inicio..., foi bom ter sofrido tudo
aquilo. Não sei, na realidade, se posso dizer a mesma coisa desses que sofrem
hoje...
Hoje, trinta anos depois, posso
sorrir e sentir ainda nas veias cada palavra injusta que senti. Mas os de hoje,
daqui a trinta anos, podem não mais existir, pois é de tal maneira tão injusta
a violência, que há suicídios daqueles que sofrem.
Não tem nada de experiência aí. Se houver,
parabéns. Pois passou e sofreu, elevou-se, deu o melhor de si, perdoou, seguiu
em frente, e se transformou em uma grande pessoa. Desse, eu espero que nasça o
melhor dos seres humanos, pois não seria apenas uma experiência normal pela
qual passou, mas algo que a maioria do passado espera vencer.
FILHOS
Observando a prática desse ato inconsequente, penso muito em meu filho, e percebo o quanto meu amor por ele é grandioso, e a cada dia que passa somos afins em diálogos, em comportamentos, em desejos um pelo outro, de modo que jamais gostaria que houvesse qualquer tipo problema relacionado a grupos marginais ou não. Sei também que, se houver, vou até as últimas consequências contra aquele ou aqueles cuja educação não passa de tributo ao mal.
O medo em vê-lo crescer e se transformar em vítima desses algozes adolescentes, filhos de internet e do controle remoto, é ainda pequeno, mesmo porque ainda tem cinco anos de idade; porém, nascer e crescer nesse mundo vil, cheio de vermes nascidos em camas em lençóis de linho, preocupa não só a mim, como a todos os pais.
Combatemos o bullying sim!
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